Olhei-me no reflexo do espelho e puxei um pouco da minha blusa para baixo. Oh, droga, era a mesma coisa que eu fazia sempre que ia me encontrar com ele. E agora, estava me preparando para nosso “gran finale”.
Não me leve a mal, adoro esse cara. De verdade. Ele é alto, forte, engraçado, doce e divertido. Um pouco viciado em trabalho, claro, como todo e qualquer coreano, mas eu morria de medo de nos descobrirem. Já não é muito legal um famoso circular por uma namorada famosa, imagina quando ela é tudo que o povo coreano não gosta? Para começar, nem famosa eu era; depois, eu não tinha nenhum emprego que seja categorizado como “uma maravilha”; terceiro que ultimamente minhas tpms têm piorado a ponto de eu dormir agarrada a um pote de sorvete. E o pior e mais perigoso de todos os problemas: eu não sou coreana. Meu olho não é puxado, minha pele não é como a dele. Acho que nem se eu colocar uma fita nos olhos, vai ajudar muito. Só para constar: eu já tentei.
Saí do banheiro do restaurante onde WonHo tinha marcado nosso último encontro. Ele sempre tinha uma desculpa new age para que eu voltasse na minha idéia original de terminar e vivesse mais alguns lindos e divertidos momentos com ele. A única coisa que eu não gostava era de como ele tinha que começar e terminar tudo na academia. Às vezes eu só queria assistir um filme ruim na Netflix agarrada a ele, sem que WonHo dormisse pelo cansaço.
Eu adorava Wonho. Tinha medo era das fãs.
Sei que Wonho vive por e para as fãs, tanto quanto ama a mãe e macarrão instantâneo. Mas eu tenho tanto medo! Algumas são bacanas quando estou por perto e não sabem quem sou, mas eu sinto seus olhares me perfurando apenas por estar mais perto do que deveria. Eu tento apagar o máximo de mensagens ruins que trolls deixam no Fancafe, com medo de que ele fique triste e mesmo assim, sinto que não faço meu trabalho direito. Elas são lindas, cheias de amor pra dar quando e na hora que ele quiser e eu... eu só fico ali. Pego as cartinhas e categorizo primeiro por cor e depois por grossura. Guardo os presentinhos com cuidado e observo-as sendo boas pessoas. E ele retribuindo.
Só pra constar: eu não sinto ciúmes do Monbebe. De verdade! Só sinto que talvez ele deva estar com alguém que não tenha um medo irracional da rejeição mundial de milhares de meninas e meninos.
Quando saí do corredor e olhei para o outro lado do cômodo, vi Wonho sentado, com uma camisa escura, que ressaltava seus olhos e seus cabelos sempre bem limpos. Ele era tão lindo! Como alguém poderia dar o fora em um ser tão lindo e maravilhoso quanto Wonho?
Ele levantou o rosto para entregar o menu ao garçom e sorriu ao me ver. Eu precisava ficar calma, mas minhas pernas começaram a parecer duas marias mole, como no dia que fomos oficialmente apresentados. “Olá, sou Ho Seok”, “Olá, sou , muito prazer”, aperto de mãos. Coisa simples. Mas deveria ter visto o que aconteceria no final daquele dia, quando me chamou para tomar um café que ele mesmo havia preparado. Estava um horror.
- Que bom que chegou! – WonHo se levantou de pronto e puxou a cadeira para mim, colocando a mão na minha cintura e levando-a delicadamente pela ponta dos dedos até minha nuca. Esse tipo de coisa era muito mais incrível do que uma caixa de bombons ou um monte de rosas sobre a cama.
Droga, como era viciante ser bem tratada!
Como ia ser difícil largar dele!
Puxei a cadeira e ele se sentou de frente para mim, puxando minha mão e entrelaçando nossos dedos enquanto dava aquele sorriso misterioso que eu tanto amava. Eu precisava me desapegar o mais rápido possível e até a carta de demissão já estava pronta, na bolsa; assim que fizesse o que precisava, passaria na empresa e deixaria a carta. Simples e prático.
- Te chamei para esse jantar porque precisamos conversar. – começou. Abaixei os olhos para o prato vazio na minha frente e já sentia as lágrimas vindo ao meu rosto. Eu precisava me lembrar do motivo de estar fazendo aquilo tudo! Sim, era para o bem dele e de sua carreira. E para isso, eu poderia abrir mão de um sentimento. Claro! Quantas vezes já fiz isso, não é?
- Eu também... preciso te falar algo. – pigarreei de volta, recuperando um fôlego inexistente.
- Ei, sabe o que a gente poderia fazer? – perguntou, parecendo uma criança. Que droga! – A gente poderia falar junto porque eu sei o que você está pensando e você a mim, somos perfeitos um pro outro!
- Wonho, acho que não seria uma boa idéia...
- Ah, vamos! – ele balançou minha mão. – Tenho certeza de que o que você tem a me dizer também é ótimo! – Wonho balançou minha mão de novo. – Hein, hein, o que me diz?
Ele estava sorrindo. Droga, como odiava aquilo tudo!
Mas fiz que sim com a cabeça. Afinal, se é pra tirar o esparadrapo, que seja de uma vez.
- Acho que deveríamos oficializar.
- Acho que deveríamos terminar.
A minha surpresa só não foi maior que a dele. Wonho se recostou na cadeira e ficou olhando para o prato, atônito. Eu não devia ter feito isso! Eu não agüento os olhos esbugalhados e lacrimosos e... ele estava apertando meus dedos, ele estava apertando meus dedos com muita força e estava ofegando!
- Terminar? Mas por que? – abaixei a cabeça. – Foi alguma coisa que eu fiz, não é? Pode dizer, eu sou um péssimo namorado, eu deveria me jogar naquela lata de lixo fora do dormitório!
- Não, não é isso, pare com isso! – me apressei em dizer. Wonho ergueu os olhos pra mim e agora as lágrimas já não estavam nos olhos, estavam caindo. Quando tive a idéia, mais cedo, não imaginava que poderia ser tão ruim quanto estava sendo!
- Olha, você é incrível e você sabe disso. Mas é que... é que... – eu não conseguia dizer que me sentia muito inferior às fãs dele. Que elas eram lindas e eu não. Que eu era só mais uma staff desorganizada.
Comecei eu mesma a chorar o choro feio da Oprah.
- Quantas vezes vou ter que te dizer que você é incrível, ? – ele puxou a cadeira pro meu lado. Ainda apertando meus dedos mas, agora, sendo firme. Abaixei a cabeça. – Você sabe que não reajo bem a lágrimas.
- Eu não estou chorando pra fazer você ter pena de mim.
- Justo. – ele ficou um tempo em silêncio. Eu não conseguia ver a expressão muito bem pelo reflexo da colher mas sabia que tinha feito algo sério. – Sério, , quantas vezes vou ter que te dizer que eu gosto de você e que ninguém é melhor que ninguém? Que você importa pra mim tanto quanto o Monbebe?
Afundei o rosto ainda mais no pescoço. Estava começando a me sentir desconfortável, como quando ele começava a falar do fandom. Ele amava tanto o Monbebe que me fazia pensar quem eu era na fila do fansign.
- Você vale tanto quanto pra mim. E é por isso que consegui autorização da Starship de levar nosso relacionamento para a mídia. Eu gosto de você. Se não gostarem, paciência, porque eu gosto e eu me importo. E se tiverem algum problema com isso, bom... terão problemas comigo porque eu não vou deixar ninguém te fazer mal. – afundei na cadeira. Como eu conseguira falar aquilo? Estava mesmo com ciúmes do fandom? Só porque iriam me matar e me cortar em pedacinhos e me espalhar pelos oceanos?
- Relaxa. Eu vou te proteger. Como você sempre me protegeu. Afinal, a gente não recebe ameaça só online, sabe!?
- Mandaram cartas? – perguntei, possessa, empurrando a cadeira e me levantando. – Vamos agora naquela sala e você me entrega que vou mandar fazer uma...
- Não, não vai mandar nada, sente aí. – ele me puxou de volta e eu sentei, de testa franzida. – , você aceita ser minha namorada oficialmente? – dei de ombros. Ainda não estava completamente convencida. – Certo, vamos fazer de um jeito melhor. - Nos levantamos e pagamos a conta.
Wonho me empurrou, alguns minutos depois, e eu caí na cama, sentindo a mola levemente macia me empurrando de volta. Ele me ergueu com as duas mãos e começou a pular.
- , você aceita ser minha namorada oficialmente?
O rapaz contratado para desmontar o pula-pula da festa da esquina deve ter estranhado dois adultos se divertindo no brinquedo, com altas chances de ser arrebentado, às gargalhadas. Ele continuou pulando até eu tentar alcançá-lo e o forro rasgar, nos deixando a meio palmo do chão, rindo de doer os pulmões.
- Aceito.