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Running

Running


Autora:
@heydebee_ | Beta: @heydebee_

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Eu estava adorando essa coisa toda de ver meu primo novamente! Fazia um certo tempo que ele não aparecia em Seul mas eu nem reclamava. Amava com todo o meu coração e sabia o quanto ele gostava de estar em um palco, cantando, fazendo pessoas felizes com aquela voz maravilhosa.
Conversava com quando ele abriu a porta e acenou. Dei um pulo da cadeira e o abracei bem forte, perguntando mil vezes se ele estava bem e se estava se alimentando. Eu não engolia uma palavra que ele dizia, porque continuava magrinho. Ia ter que conversar com a minha tia, dizer que ou o trabalho estava consumindo ou ele estava mentindo para a prima predileta dele.
e já se conheciam de "outros carnavais"; Ao que tudo indicava, eles conversavam online há algum tempo, porque ouvi as palavras "msn chinês" e "weibo", o Twitter chinês. Os dois curtem essas coisas então deixei para lá e fui cumprimentar os outros meninos. me ergueu, beijou-me na face e apertou minhas bochechas, me chamando de baixinha.
simplesmente apertou minha mão e beijou-me na bochecha com a própria bochecha. Não sei ele, mas eu ainda não superei o passado. Ainda estava recente e doía muito.
Engoli em seco e tentei sorrir, pipocando para o lado de e Xander que, como os outros membros do U-Kiss, cumprimentavam os recém chegados. Me infiltrei na conversa, apesar de ser a única menina do camarim, fiz algumas piadas. Mas sentia o olhar de na minha nuca. Passei a mão nos cabelos. Coisinha desconfortável...



"Fingindo não ver
Fingindo não me importar
Não dá para evitar, não consigo parar de olhar para você"


Conheci por acaso em uma das minhas viagens para a Taiwan. Estava de férias do colégio e enchi o saco da minha mãe para me mandar para Taiwan, porque sentia falta de tudo. Quando eu era pequena, nós costumávamos passar finais de ano por lá e é lindo. Seria minha primeira viagem sozinha, por isso queria ver tudo o mais rápido possível.
Estava em uma das praias de Kenting mas não me atreveria a entrar na água. Era verão mas devia estar congelando. Uma canga foi estirada mais ou menos perto de onde eu estava e lá estava ele. Só, ao que aparentava. Meu taiwanês era e continua sendo um lixo, assim como meu mandarim. Apesar dos pesares, sei falar Português, Inglês e Coreano fluentemente, visto que passei quase metade da minha vida no Brasil. Quando tinha doze anos, meus pais cismaram em vir para a Ásia e aprendi Coreano na marra. Pelo menos aqui tinha Peppero.
Deitei-me na canga e fechei os olhos, estava meio pálida. Estava terminando o colégio e dava algumas aulas de Inglês para pessoas com dúvidas; assim pagava minhas aulas de Mandarim, sem contar , meu lindo priminho, que me testa desde que chegamos na Ásia, ligando para mim e falando em mandarim. Nunca o culpei: é um anta e não fala mais do que Mandarim e Inglês, e olhe lá. O Português (sim, ele fala Português) dele é tão bom quanto meu Mandarim.
- Com licença, - tirei o braço do rosto e fiz sombra, vendo na minha frente. Claro que eu não sabia que ele era ele. - eu estava aqui do lado e estava me perguntando se você não é asiática.
- Sou brasileira. - respondi, com a voz de minha mãe ecoando no meu ouvido, "não fale com estranhos!".
sorriu, tapando um pouco do meu sol. Não me movi.
- Prazer, meu nome é .
- Oi, meu nome é .
- Seu mandarim é bom.
Ele estava querendo puxar papo. Eu só queria pegar sol.
- Obrigada. - voltei a fechar os olhos e a me ajeitar na canga. Ouvi uma ligeira movimentação do meu lado e reparei que ele havia voltado para o seu cantinho. Mas voltava com a própria canga e a esticava ao meu lado.
- Vou te fazer companhia. - anunciou, se deitando. Fiz-me de surda. - É pecado uma menina tão bonita tomar sol sozinha. - continuei quieta, mas, dessa vez, um pouco vermelha. Não reajo como as outras pessoas quando estas são elogiadas; fico sem graça, vermelha e alguma parte do meu corpo tem algum espasmo. Dessa vez, foi minha mão, que acabou encostando na dele de leve. Me mexi, querendo dar a entender que havia sido um acidente. - Está em férias?
- Estou. - ele deitou-se ao meu lado. - E você?
- Pode-se dizer que também. - ele deu uma risadinha. - Ai, ai... Solzinho quente, não acha?
- Nada comparado ao lugar de onde venho. - comentei. - O Brasil é muito mais quente. Quando era pequena e ia para a piscina, queimava em poucos minutos. O sol desse continente que vocês chamam de Ásia não queima.
- Jura? - ele deu uma risadinha. - Acho que é bastante quente.
Dei uma risadinha: - O sol do Brasil queima cinco vezes mais, criança!
- Como pode me chamar de criança se não sabe quantos anos tenho?
- É uma forma de dizer.
- Posso te pagar um sorvete?
E foi com aquele sorvete que começou a "acontecer" alguma coisa. não sabe dar em cima de uma garota e posso dizer, com todas as letras, que ele só me ganhou com o sorvete. Adoro sorvete.

.x.

Nossas conversas por QQ (msn chinês) só não eram mais longas porque ele trabalhava como cantor e precisava ensaiar. Poucos dias depois que voltei para casa, descobri que ele participava de um grupo chamado H.I.T-5 com o meu adorável primo .
não gostou muito da idéia de ter um membro do grupo que ele participava de olho na sua priminha, podemos dizer assim. é um garoto reservado mas só Deus sabe o quão safado ele pode ficar quando está só com uma garota. Na minha segunda viagem para Taiwan, ele pegou o primeiro vôo de Beijing e, quando cheguei no saguão do hotel, veio a passos largos e firmes até mim e me beijou. Nessa altura do campeonato, posso dizer que estávamos mantendo uma amizade, apesar de ele gostar muito de mim e eu, dele; não havíamos nos beijado, mas algumas vezes ele segurou minha mão no cinema e disse que gostava de mim. Mas em tom casual. Para ser sincera, às vezes ter um admirador asiático é lutar contra a timidez do próprio. Timidez entre aspas, porque é só dar corda que você acaba conhecendo a real "timidez" do cara. fazia bolinhas com o canudinho do refrigerante e adorava usar batatas fritas para fazer caretas. Coisas bobas me fazem rir, então eu ria bastante. Quando ele queria ser romântico, erguia um dedo e sumia; um ou dois minutos depois vinha com uma flor para mim, ou então trazia um bombom com bilhetinhos como "Obrigado por tudo" ou "Você é linda", o que fazia ter mais espasmos e corar.
Por isso que, depois desse dia do hotel, implorou quase que de joelhos - ok, ele se ajoelhou no meio do saguão do hotel, para que namorasse com ele. vinha logo atrás e soltou um "Que?" tão alto que todo mundo que estava presente previa meu primo dando um soco em . Mas ele apenas se aproximou e disse que se me maltratasse ou magoasse, ele não iria pensar duas vezes antes de defender "o tesouro" dele. Rolei os olhos. Sou um ano mais velha que e adoro o cuidado que ele têm comigo, mas às vezes ele exagerava.




Mamãe adorou ; ele era o genro perfeito. Quando estava de folga, ele corria para o aeroporto e aparecia na porta da minha casa do nada. Minha mãe ajudava, abrindo a porta, pedindo para que ele esperasse, e me chamando para abrir a porta, dando qualquer desculpa culinária. Quando abria a porta, me agarrava pela cintura e colava sua boca na minha. Eu sabia que era ele, mas fingia que sempre era uma surpresa. Meu pai pigarreava lá da sala e me soltava, com um grande sorriso nos lábios. Mamãe me fazia puxá-lo para a cozinha e cozinhava tudo que ele gostava de comer. Ele só não dormia no meu quarto porque meu pai era meio piegas, mesmo que jurasse que não iria acontecer nada. , apesar de safado quando quer, sabe respeitar uma garota. Mas meu pai não acreditava e mandava o menino dormir no quarto do meu irmão mais velho, que estava estudando em uma universidade em Bangkoc.
Eu gostava muito de , muito mesmo. Gostava de quando ele me fazia rir e de como cuidava de mim nas raras vezes que estávamos juntos. Quando estava muito cansada de dar aula, porque combinava terminar o primeiro período da faculdade, e dormia em seu ombro, ele me carregava nas suas costas até uma cama e me deitava lá, ficando comigo até que voltasse a dormir direito. Apertava sua mão, porque sabia que ele tinha que ir embora para a China, mas não queria que ele fosse. Porque seus vôos eram de madrugada e era muito ruim acordar e não ver seu namorado.
A única coisa que eu não gostava nele era suas crises de ciúme. De três vezes que ele vinha para Seul, as três vezes a gente brigava por algum motivo idiota e só ficávamos juntos pouco tempo antes de ele ir embora. E mesmo assim, porque eu assumia a culpa por coisas que não aconteciam.
Primeiro ele encrencou com um cara da minha faculdade, o Joon. Joon era meu melhor amigo e sempre fazíamos trabalhos juntos. Então quando estava com , calhava de Joon me ligar para perguntar alguma coisa sobre a prova. ficava impaciente e de cara amarrada por um bom tempo, até conseguir arrancar dele que estava com ciúmes mórbidos. Dei a resposta de que se quisesse algo com ele, estaria com Joon e não com ele, . Meu namorado se chamava e não Joon, dizia a ele. Mas cabeça dura que era, continuava de bico um bom tempo. Não queria beijo, nem abraço. A situação só ficava aceitável quando pedia desculpas para ele, por Joon ter ligado, e que desligaria o celular sempre que estivesse com ele.
Depois desse episódio com o telefone, descobri que havia mexido no meu e-mail e apagado todos os e-mails do Joon para mim. Eram apenas matérias da faculdade e não tinha razão para tanto! Mas não, ele deletou tudo que tivesse o nome de Joon, sem se importar se fosse ou não matéria de faculdade. Essa foi a gota d'agua.
Sabia que a próxima visita de estava chegando mas, dessa vez, eu me estressei mesmo. Eu já estava trabalhando na minha monografia, por mais cedo que estivesse no segundo quase terceiro período, e Joon tinha me mandado muitas coisas úteis para isso. Terminei de dar uma aula particular, no Sábado, e naquela madrugada peguei o primeiro vôo direto para Beijing. Eu sabia que ninguém estava em casa, mas o porteiro já me conhece, todo mundo naquele prédio já me conhece, então me deixaram subir. Abri a porta e sentei no sofá, e meia hora depois ouvi a chave na porta.
levou um susto comigo lá, perguntou se eu estava bem. trocou um olhar com e só o vi puxando para longe. não moveu uma palha. Claro que ele não mexeria uma palha! Ele sabia a razão de eu estar na casa deles às quatro horas da madrugada!
Me levantei e cruzei os braços, avisando a ele que precisávamos conversar. puxou pelo pulso e pôs a mochila em cima da mesa, vindo até mim para me beijar. Soltei os braços e o empurrei de leve, dando a volta no sofá.
Foi a pior briga que nós tivemos. Ele gritou, eu gritei, ele não chorou, eu chorei. Expliquei a ele que os e-mails de Joon eram de ajuda para a monografia, ele não acreditou, dizendo que estava cedo para monografias. Perguntei como ele se sentiria se eu mexesse no e-mail dele e respondeu que não tinha nada a ver.
Não tinha nada a ver?
Puxei um bolo de papéis impressos de dentro do bolso do casaco e li.

"Oi, , meu fofinho. Como vai você? Me disseram que você foi pra Seul ver a sua namorada. Acho legal. Mas não se esqueça do nosso encontro na segunda! Com amor, Li Mei'


- Por isso você conseguia viagens de madrugada, né! - engoli o choro e perguntei, mais contida. - Quem é Li Mei?
- Minha amiga. - ele olhava para o meu rosto mas não para meus olhos.
- Sua amiga? - virei a página. - "Querido , e aí? Só quero dizer que Quinta à noite foi a noite mais memorável da minha vida. Você é demais! Te adoro. Com amor, Li Mei." Noite mais memorável? Que interessante, o que houve nessa noite?
- Nós fomos a um caraoquê! Um programa inofensivo! - seu tom de voz aumentou. - Pode perguntar para os meninos, eles-
- Eles não são meu namorado, você é! - gritei. - Quem é essa Li Mei, ? Quero sabe e quero agora!

Você não precisa mentir na minha cara ou continuar calado
Com certeza você gosta de mim, mas não dá para esconder
É doloroso de lidar e impossível de esquecer

não respondeu. Só continuou me fitando, os olhos bem abertos. Ele arquitetava uma mentira na minha frente, achando que eu não o conhecia bastante para saber quando estava ou não mentindo. Tudo estava tão mais claro! Enquanto ele achava que eu estava com Joon, o que não era verdade, essa Li Mei estava preenchendo o espaço de namorada na China. Sorri sarcasticamente, abrindo a porta. me amava e eu sabia, mas era orgulhoso demais para vir atrás de mim.
- Qualquer dia desses você vai crescer. No dia que isso acontecer, me procure. Ou não.

Eu te dei o meu sorriso, mas você não me deu tempo...
Seu, meu, meu, seu
Aos poucos a solidão volta a ser minha melhor amiga...
Sua, minha, minha, sua.
Tudo ficou cinza, sem graça, quebrado, arrasado...

Você deu as costas, você se permitiu chorar e silenciosamente me deixou
Um suspiro: nosso destino não existe mais




Meses se passaram. Se eu tinha notícias de , era por internet, porque já que eu não localizava meu primo por celular, iria saber se ele estava vivo por internet. Ele me ligou no meu aniversário, então era meio caminho andado. Ouvi todos os membros gritando parabéns, até . Ao que tudo indicava, ele tinha seguido a vida. E eu era a idiota que alimentava esperanças de que um dia ele iria vir atrás de mim, pedir perdão, iríamos voltar.
A pior coisa do mundo foi tentar seguir a vida em frente. Vários meninos deram em cima de mim, mas eu não conseguia ficar com eles. Sempre que conseguia, o beijo saía com o gosto amargo da traição. não era mais meu namorado mas eu me sentia como se estivesse traindo sua confiança, da forma que ele me acusara de estar fazendo.
No fim daquele período, conheci Alexander no Instituto de Línguas na faculdade que eu fazia. Ele estava esperando na sala da reitoria e quando entrei, ele me perguntou desesperado se poderia ajudá-lo a falar Português fluentemente. Como toda a faculdade sabia que eu era do Brasil, a notícia que eu sabia falar quatro línguas, incluindo o Mandarim, havia se espalhado. , amigo de Xander, estudava na universidade e foi quem deu a dica.
A razão era que Alexander havia recentemente feito um Twitter e tinha várias fãs brasileiras e portuguesas, mas não usava o português por temer falar algo errado. Foi assim que me aproximei dele, de e dos outros meninos do U-Kiss. Em seu primeiro tweet em Português, milhares de respostas chegavam naquela língua e eu ia traduzindo. Eles riam bastante e eu me sentia feliz perto deles. Todos me tratavam muito bem e me faziam sentia a vontade. Não sentia aquela sensação desde que... desde que tinha terminado com .
- Ei, você está bem? - perguntou, quando levantei e fui beber um copo de água. Não era sede. Era vontade de engolir as lágrimas. Mas não adiantava porque meus olhos ainda estavam marejados. Enchi outro copo. - Ei... O que houve? - perguntou novamente, mais baixo. Mas não baixo o bastante para Alexander se levantar de um pulo e ver o que estava acontecendo. Os outros continuaram mexendo no tradutor furreca que eu havia instalado.
- Estou ótima! - tomei outro copo de água.
- Tem certeza? - fiz que sim com a cabeça. Alexander me disse para sorrir. Forcei meu pior sorriso e ele me deu um abraço forte. - Às vezes o que as pessoas precisam é de um simples abraço.
Ele era um amor. Detesto comparações, mas quem me abraçava quando eu estava triste era .
- Pode me procurar, caso queira desabafar. Ok? - disse em Português. Eu sorri, erguendo uma sobrancelha.
- Belo Português!
- Obrigado. Tenho mais confiança graças a uma ótima professora! - riu, confuso com todas aquelas palavras que não compreendia.
Xander voltou para o computador, cada minuto que se passava chegava mais quarenta replies e os outros rapazes pareciam bêbados com o tradutor. Tomei mais um copo de água. tirou o copinho plástico da minha mão.
- Chega, né? - sorri com a boca cheia de água. - Você precisa se abrir com alguém. Vem comigo.
simplesmente deixei que me levasse para o lado de fora da sala, para a cozinha do apartamento do grupo. Ele me sentou em uma cadeira e me perguntou o que havia acontecido. Normalmente eu não sou de contar o que se passa comigo tão livremente, mas ele me olhava de uma forma que me dava a entender que eu poderia confiar nele. Então contei tudo, nos mínimos detalhes. Era a primeira vez desde o fim do namoro que eu falava no assunto então tudo parecia estar bem recente, por mais que se passassem meses. Eu fingia que estava tudo bem, mas lá no fundo, tinha alguma coisa que ainda me prendia à .
As lágrimas caíam abundantes e meu rosto já estava inchado quando terminei de contar tudo. apertou minha mão e me aconselhou a esquecer porque ele estava seguindo a vida dele; eu deveria seguir a minha e encontrar alguém que me desse valor. Era difícil tentar, mas agora eu precisava sair daquele estado e realmente seguir a vida. Move on. já devia ter outra namorada, de qualquer forma, e, além do mais, ele tinha as meninas do S.P.Y, poderia ter uma namorada mais perto.
Era difícil. Mas eu iria conseguir.

"Quanto mais eu amo, menos eu entendo
Quanto mais amo, mais me machuco
Então, bye, bye, bye
Se você for embora, não volte nunca mais
Quanto mais amo, pior meu futuro me parece
Por favor, me deixe em paz
Dessa vez, sou eu quem digo adeus




Dezembro de 2010. Eu já estava trabalhando como professora de Inglês e Português do U-Kiss há quase um ano. Nesse tempo que se passou, não tive um namorado que possa dizer que tinha amado. Meu relacionamento com estava ainda mais forte, e ele agora era meu melhor amigo, junto com Alexander. De vez em quando ele fazia bico porque o Português de Xander melhorava visivelmente e ele se sentia excluído. Os outros meninos eram um máximo, mas eram meninos e às vezes esqueciam que eu era uma menina. Na realidade só lembravam quando tinha alguma premiação e queriam que eu fosse. Daí precisava colocar salto, maquiagem, lentes de contato, arrumar cabelo, usar vestido... A única diferença era essa, mesmo, porque tínhamos todos quase a mesma idade.
me mandara uma mensagem mais cedo, dizendo que estava chegando no prédio em que esperávamos. Fazia muito tempo que não o via e sentia muitas saudades do meu priminho. Eu sabia que o H.I.T-5 e o U-Kiss iam cantar juntos e além de querer ver , , e , queria mostrar para que eu estava seguindo a minha vida e que não tinha mais nenhum vestígio de que um dia eu havia sido apaixonada por ele. Sei que seria horrível, mas se pudesse me ajudar, seria ótimo.
Por isso que quando entrou no camarim, pulei em cima dele. Não só pela saudade. A realidade é que eu estava relaxada, mas eu estralava os dedos e me sentia suando. Eu sabia que ia ficar ansiosa e nervosa uma hora ou outra. Quando ele abriu a porta, me atirei em cima, só fui perceber que era meu primo depois que o abracei. Poderia ser qualquer um. Poderia ser .
O clima só não ficou ruim porque Alexander queria falar sobre tudo com todo mundo. Então me meti no papo, fazendo algumas piadas, apresentando quem não se conhecia. comentou que eu estava bonita com aquela roupa (um vestido estranho, com sapato estranho e antes que pergunte, não gosto dessas coisas. Sou uma menina clean) e concordou, abraçando-me pela cintura enquanto riam. ria também, mas não com aquela espontaneidade de antes. Ele parecia meio incomodado. Mas ficou longe quando Alexander gritou que precisávamos tirar fotos.
Minutos depois eles entraram no palco para cantar. A música era uma velha conhecida minha, meu tio, pai de , adorava cantá-la. Da primeira fileira, pude ver o semi abraço de e . Se eu bem conheço , ele estava achando que era meu namorado. E dessa vez ele não poderia fazer nada, não era mais nada meu. Ele provavelmente achara que eu permaneceria imaculada todos os meses sem ele, e que iria jogar-me em seus braços quando viesse para esse show. Burro!
No fim da performance dos dois grupos, não saí do meu lugar. tinha me pedido enfaticamente para que ficasse e visse a dança e a música que havia ajudado a criar. Ele "se joga de cabeça" quando está empolgado com alguma coisa. Eu sempre torci muito pro H.I.T-5, independente do que tinha ou não acontecido, e só queria que eles tivessem bastante sucesso.
A nova música, "Running", era muito animada e puxada para o rock, no estilo que eu curto. me entregara a letra em uma folha, mas preferia aprendê-la vendo-os ao vivo. A dança e o vocal deles havia melhorado bastante e eu via nos olhos de todos que estavam felizes com o rumo que as coisas estavam indo. E eu estava feliz por eles estarem felizes.
Xander sentou-se do meu lado e comentou o talento dos meninos. Só sorri, erguendo uma sobrancelha, e disse que agora o H.I.T-5 ia ser um HIT. Ele sorriu.
A performance logo chegava ao fim e, com os aplausos, me levantei, aplaudindo de pé. fez uma reverência, tão bobo é, e mandou-me um beijo. riu, dizendo que fora para ele. Mandei-o calar a boca. No minuto seguinte saí correndo até o camarim, mas encontrei-os no meio do caminho, abraçando bem forte.
- Vocês foram incríveis! - comentei. abriu os braços, esperando o abraço dele. - E você é muito abusado!
- E você é linda, já disse que você é linda e eu te amo?
- Cale a boca, ! - dei um pedala nele.
- Se você não estivesse de batom, ia tascar um beijo em você!
- Ei, olha o abuso com a minha prima! - me arrancou dos braços de , rindo. Apertei em um abraço tão forte que ele ficou vermelho. me abraçou e encostou a cabeça em meu ombro. Ele só tinha tamanho e eu dissera a ele que era meu bebê, então às vezes ele agia como tal. Mas eu sentia saudades dele, do contrário...
- E eu não ganho um abraço? - perguntou sorrindo. Vi trocar um rápido olhar com quando o soltei e sorri.
- Claro, por que não?
Foi a pior escolha que eu poderia ter feito. Quando o abracei, senti as lágrimas chegando aos meus olhos e quando pôs as mãos nas minhas costas, senti que ele me apertava. Parecia durar uma eternidade, parecia que se ele me soltasse, eu iria me desmontar. Eu não iria chorar, eu não queria chorar, eu não podia chorar. estava logo atrás e fez um movimento com os lábios que me fez perceber que estava demorando muito naquele abraço, então o soltei e sorriu.
- Bem, acho que vocês devem estar com fome! - Xander interviu, com seu mais ou menos mandarim. - Eu sugiro irmos todos comer besteiras.
- É, mas isso engorda! - rolei os olhos. Xander abriu os braços. - E dá espinhas, é óleo!
- Engordar, todo mundo vira a madrugada na academia. Espinhas, maquiagem cobre. E óleo é bom pra pele! - ele passou a mão no topo do nariz e me mostrou. - Viu? É óleo!
Todo mundo começou a falar ao mesmo, eu não ouvia nem minha própria voz. Em um minuto, todo mundo estava para fora do camarim, falando alto e recebendo reprimendas. Eu fiquei, precisava colocar um jeans e um tênis.
- Posso conversar com você? - uma voz atrás de mim, logo que voltei do banheiro com o jeans azul, uma blusa preta e os pés descalços. Respirei fundo, sentando na cadeira e procurando qualquer coisa que tirasse maquiagem.
- Prossiga. - respondi de qualquer jeito, passando o produto e começando a tirar toda a maquiagem.
sentou-se numa cadeira perto de mim e esperou que eu olhasse para ele. Não me mexi.
- Olha, sobre o que aconteceu-
- Não quero relembrar o passado, , aquilo já doeu demais. - cortei. - Foi muito difícil te esquecer.
- Aquelas coisas que aconteceram foram totalmente absurdas mas quero que saiba que agora me arrependo...
- Deixe o que é passado no passado, .
- Diga que ainda me ama! - ele segurou minha mão livre. - Por favor, não desista...
Ri, olhando para ele, totalmente cética.
- Você acha que destino acontece.. eu não quero esse seu tipo de amor, . Você duvidou de mim, você me traiu! - ele ficou quieto. - Estou muito bem agora, estou trabalhando, estudando e tudo está perfeito!
- Não vem me dizer que essa é a vida que queria... - começou irritado.
- E você continua com essa arrogância. Acha que eu não consigo viver sem você, não é? Por um bom tempo, , eu achei que não mesmo. Mas daí então alguém me abriu os olhos e eu percebi que não devia dar valor a alguém que desconfiasse de mim como você o fazia. Sigo minha vida, você não seguiu a sua? - me levantei, pegando minha mochila.
- Mas eu ainda te amo!
- Não importa quantas vezes você diga isso, não faz diferença. Eu não sinto isso!
Dei-lhe as costas e saí correndo pelos corredores e, quando me vi do lado de fora, chamei um taxi que me levou até o hotel. Era difícil ouvir coisas que você queria ouvir há tempos. Ele dizia que me amava mas não confiava. Terminamos por um motivo tão idiota... Idiota para ele. Eu ainda me sentia raivosa quando lembrava de abrir aqueles e-mails e ler tudo aquilo.
Lá no fundo eu sabia que ainda amava , que não havia esquecido todos os bons momentos que havíamos passado. Se meu pai ainda fosse vivo, diria para dar uma chance a ele. Se mamãe estivesse comigo, diria o mesmo. Um lado de mim queria perdoá-lo, porque aquele abraço só me fez perceber o quanto sentia falta dele e de seus carinhos; outro, mandava-me esquecê-lo de vez. Uma vez traidor, sempre traidor, era o ditado.




Mais alguns meses se passaram, era Primavera. De férias, voltei para Taiwan, para Kenting. me disse que ele não poderia me ver porque viajaria a trabalho para a Tailândia e eu achei até bom que ele viajasse. Só ficar no triângulo China - Coréia do Sul - Japão não era tão legal. Quando falei com , senti que ele estava feliz também. Não dava para ver, mas eu sabia que seus olhinhos deveriam estar brilhando. Ele gostava de coisas coloridas e é claro, garotas diferentes do que estava acostumado.
- Divirtam-se na Tailândia! - comentei, deitando na minha canga. Estava um sol de rachar e era meio espantoso que ainda fosse Primavera. - E me orgulhem!
- Sempre iremos!
- Acho bom, senão nunca mais mimo vocês!
- Ah, não, Jie! - ouvi a voz de . - Não seja tão má!
- Não seja tão má, Jie! - imitou.
- Não perturbe meu bebê! Fiquem bem e usem protetor solar porque aí é muito quente!
Desliguei o celular e o coloquei dentro da mochila que estava do meu lado, me ajeitando na canga, fechando os olhos. Senti um breve movimento do meu lado mas não me movi.
- Posso deitar-me ao seu lado?
Fiz sombra com os olhos e vi na minha frente, sorrindo. Retribui seu sorriso e bati na areia.
- Anda logo antes que o sol se vá!
se deitou do meu lado. - E aí, como vai tudo?
- Muito bem na medida do possível. E você? Por que não está na Tailândia com os meninos?
- O manager concordou em me dar dois dias de folga. - ele se espreguiçou, tirando a camiseta. Não me movi. - Ando meio aéreo e ele disse que talvez fosse estresse. Temos trabalhado muito.
- Fico muito feliz por vocês.
O vento insistia em não mostrar eficiência e o sol queimava ainda mais forte. Por um momento lembrei que não tinha passado protetor solar; normalmente eu não precisava, mas estava tão quente que formava manchas na pele, se apertássemos. Sentei-me de um pulo na canga e abri a mochila. Tirei o protetor e passei até onde minha mão alcançava. continuava deitado na canga, provavelmente dormindo. Cutuquei seu braço; ele abriu os olhos e fez sombra. Estiquei o protetor e ele entendeu que era para passar nas minhas costas.
- Não, babaca! - brinquei. - Estou te perguntando se você passou isso, está muito sol!
- Q- Ah, não, não passei, não. - puxei-o com pouca força e o fiz sentar na própria canga. e sol possuem uma pequena desavença: ele sente MUITO sono quando fica sob o sol, então estava meio lerdo, me pedindo para que passasse protetor nele. O fiz. - Pode continuar, se quiser, não me importo!
- Preguiçoso!
- Meu nome? - brincou, sorrindo de lado e arrancando o protetor das minhas mãos. Olhando diretamente nos meus olhos. Por um momento achei que ele iria... sei lá, que iria me agarrar ou alguma coisa do gênero. Fui ficando vermelha até que ele ergueu o dedo e pintou meu nariz com o protetor. - Já está com o rosto todo vermelho do sol! Vai descascar!
- Nem vou! - ergui uma sobrancelha, tirando os cabelos das costas e prendendo-os no alto em um coque. - Por favor?
- É claro! - esfregou um pouco do protetor nas mãos e passou nas minhas costas. Quando fez isso, prendi a respiração. - Se sente bem? - fiz que sim. - Por que está prendendo a respiração?
- Nada de mais... - comentei. continuou passando o protetor com toda a calma do mundo. Eu poderia até dizer que estava fazendo de propósito. Aquele "eu te amo" de Dezembro ainda estava na minha cabeça.
- Tem certeza?
- Absoluta! - sorri me virando de leve.
As mãos dele passearam até a parte da frente dos meus ombros e eu acabei deixando. Não tinha como proibir, só prender a respiração. se aproximou um pouco e me abraçou pelo pescoço, passando o rosto pelos meus cabelos, na minha orelha. Nunca senti meu coração bater tão forte quanto naquela hora. Era uma situação meio incomum: éramos namorados e tentávamos manter uma amizade. Conversas terminavam em briga ou... ou nisso.
- Me dê uma segunda chance? - sussurrou, ainda abraçado a mim. Não respondi. - Por favor. Eu não consegui te esquecer... eu ainda te amo.
- Você me magoou muito. Duvidou de mim, me tra-
calou-me com um beijo, e eu não pude evitar de retribuir. Suas mãos percorreram meus ombros, seus dedos faziam-me cócegas. Respirei fundo quando ele se separou de mim.
- Você não vai se livrar sempre me beijando.
- Não sempre. - tirou uma mecha do meu cabelo da frente. - Mas na maioria das vezes. Se você deixar.
Fitei-o por um longo tempo. Eu só queria ouvir uma coisa, a única palavrinha para perdoá-lo. Esquadrinhei seus olhos amendoados, em busca de resposta.
- Desculpe - disse ele, me deixando mais calma. - por ser um idiota. Sempre foi você, . Eu te amo demais. A ponto de não ter mais nada em minha mente a não ser você. Sabe quantas vezes os rapazes brigavam comigo? Sabe quantas vezes eu me prometi a mim mesmo de que iria seguir em frente?
- , cale a boca. - franzi a testa, enjoada de tanta ladainha. Tirei suas mãos dos meus ombros e abracei as pernas, observando o mar. - Está um dia lindo e está calor. Fica quieto e aproveite o dia.
- Se você diz... - ele deu de ombros, abraçando as próprias pernas.
O sol começava a se pôr naquela praia quando tentou encostar minha cabeça em seu ombro. Fiquei firme. No final de tudo, honrando suas raízes infantis, jogou areia no meu cabelo e eu corri atras dele, para bater. Acho que estávamos namorando novamente.

FIM




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