Heartbeat

Heartbeat


Autora:
Deh Lefebvre | Beta: Deh Lefebvre


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P R Ó L O G O


Ele saia pelo cantinho, eu me espremi mais um pouco por aquele beco. Eu estava certa. A transação das drogas acontecia mesmo naquele porto, e o famoso Carl Davies era mesmo o traficante chefe.
Acenei com a cabeça e deu o comando pelo rádio.
- Polícia! Não se mexam! - gritei, empunhando a arma e saindo do beco.
Alguns compradores ergueram as mãos, deixando os sacos de pó branco caírem no chão. Enquanto meus amigos algemavam essas pessoas, vi Davies correndo. Fugindo.
Soltei um ligeiro palavrão antes de sair correndo atrás dele. Podia ser baixa, mas corria feito uma gazela se a situação permitisse.
Alcancei-o quando chegamos no caminho da estrada. Eu suava e ofegava com dificuldade, já deveria estar acostumada.
- Desista, Davies. Acabou.
Davies deu um passo para trás. Sabia que ele era louco, mas não louco o bastante de preferir a morte a se entregar.
Corri para alcançá-lo, mas já era bastante tarde. Aproximei-me do precipício, a tempo de ver seu corpo batendo nas enormes pedras da encosta e um pedaço de seu braço batendo na furiosa água do mar. Ele era um idiota.
chegou por trás, ofegante.
Olhei para meu companheiro com a resposta para sua pergunta impronunciável estampada em meu rosto. Lancei um olhar para o precipício, onde a água agora batia em uma das pedras, lavando o pouco da mancha vermelha que cobria seu topo.


C A P I T U L O • 1

Pensava na minha última captura naquele momento. De fato, tinha sido uma atitude arriscada e me custara o emprego na polícia. , meu grande amigo e companheiro - um verdadeiro mentiroso!, tinha sido o único que acreditara na minha teoria de brócolis. Quando todos os meus companheiros viraram-me as costas e alegaram ao dr. Felipe minha insanidade, causada pelos cinco anos naquele trabalho, só fora capaz de me acompanhar.
Eu não tinha culpa se amava meu trabalho e dava o sangue por ele. Queria mostrar que justiça existia e que justiça seria feita. Muitos policiais rolavam os olhos e diziam que estava obcecada por punição, outros alegavam que eu falava essas coisas porque queria ser promovida. Uma promoção caía muito bem, mas, com ou sem promoção, eu só queria que justiça fosse feita.
Quando , uma das únicas mulheres do distrito que merecia um reconhecimento digno, me disse que o sr. Lee me chamava, pensei, "Pronto, estou demitida!"
Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Ele se mostrou um homem mais sério do que eu imaginava (porque ele sempre foi um homem, digamos... preguiçoso.), e me disse que eu estava a um passo de promoção. Mas, para que eu fosse finalmente promovida (e ter um salário melhorzinho), tinha de fazer um trabalho que envolvia sequestro, lavagem de dinheiro, desaparecimento e outra língua. Ou seja, como se já não bastasse aquele distrito misturado, onde se tinha chinês, coreano, americano, tailandês, inglês e eu, e dr. Felipe de brasileiros, com sede em Xangai, agora tínhamos de ir para a Coréia do Sul e investigar o desaparecimento de um ídolo da molecada: seu nome era Park Jay, ou algo do tipo. Não li muito bem a ficha, praticamente impressa de um site de fã (viu porque digo que o sr. Lee não merecia o cargo que ocupava?), mas fora isso que tinha entendido. E esse rapaz, Jay, havia sido sequestrado. As câmeras de segurança não conseguiram gravar o suposto sequestrador, e, enquanto menininhas desesperadas ligavam para a empresa do rapaz [que alegava que ele havia simplesmente deixado o país por qualquer coisa], os pais estavam desesperados. Como o sr. Park conhecia o sr. Lee, implorou por uma ajuda. Isso acontecera justo na hora em que o moribundo Davies se jogava do precipício. Com a prisão de sete fornecedores e, infelizmente, a morte do principal, o assunto do momento era as peripécias de e a loucura de em seguí-la. Depois dos ataques de ira e cochichos, agora eu era a policial mais agradada naquele posto.
Aceitei de mal grado a oportunidade, mas, quando ele disse que eu poderia escolher a minha equipe, a coisa já mudava de idéia. Não queria Jessica, a americana que se preocupava mais se iria sujar as unhas do que prender o suspeito, mas maravilhosa com interrogatórios; não queria Hui Lao, o chinês grosso e que passava a mão na minha bunda em trabalhos de vigilância.

Entrei na sala de espera do aeroporto de Narita, na semana seguinte. Estávamos no Japão, terminando um trabalho de vigilância, e agora a polícia japonesa tomaria conta do resto. Apertei os olhos desanimada ao ver o meu "time": e (os que eu havia escolhido), Jessica, Brown e Forip. Não que Brown e Forip fossem ruins, mas Forip se impressionava fácil e Brown era um verdadeiro bebê chorão. Me perguntava por que ele ainda estava na polícia. Principalmente naquela unidade.
- Não diga nada. - disse a , que riu de leve, passando a mão em minha cintura. Passei meus braços por seu pescoço e dei-lhe um leve e breve beijo nos lábios.
- Diga para mim que essa não é a minha equipe. - sussurrei.
- Desculpe, mas é a sua equipe. - ele riu. Tirei meus braços de seu pescoço e fiz cara de desanimada. Lancei um olhar para Jessica, que lixava suas unhas ao lado de Brown, que avaliava suas pernas como um devoto olhava para o Papa.
- Carniça loira, o que está fazendo aqui? - perguntei grosseiramente. Ela não ergueu os olhos, ainda lixando as unhas.
- Posso ajudar no disfarce. - ela se levantou, e era impressionante como o cinto de revólver ficava perfeito naquela cintura mínima. - Engula.
- Só pra isso que você serve também, não? - sorri afetadamente, e ela fez o mesmo.
Antes de seguir, preciso explicar sobre . E, infelizmente, sobre Jessica.
Jessica e tinham certas habilidades de conquistas que ninguém mais possuía. Em um trabalho de vigilância, precisaram se disfarçar como aquele famoso grupo dos anos 70, ABBA, e, nesse dia, descobriram sua real vocação: cantar. Jessica, nem tanto, parecia uma galinha sendo depenada. Mas definitivamente cantava bem, só precisava de treino. E , que já tinha diversas habilidades no currículo, descobriu mais esta. Assim sendo, resolveram entrar para a famosa SM, agência de talentos, ela no So Nyuh Shi Dae e ele, no Super Junior. No ato do contrato, ficou definido que pertenceria a uma sub divisão do grupo, a divisão chinesa. Não queria ficar tanto tempo longe de nós. Jessica não se importou muito, e precisava de amizades femininas. Sua postura ao andar mudou, assim como sua antipatia. Mas, depois que ela disse que eu deveria passar um tempo com ela e as outras meninas do grupo e eu cuspir molho na sua cara, nos tornamos inimigas.
Quando meu melhor amigo me contou que agora fazia parte de uma boyband, eu começei a rir; ria tanto que passei mal. Mas não pude culpá-lo. Se tivéssemos que fazer outra vigilância que envolvesse mundo de famosos, tínhamos como nos disfarçar.
E tive que concordar quanto a Jessica também.

Voltando ao meu nada contentamento, respirei bem fundo. Não podia fazer nada.
- Abstraia. - se sentou ao meu lado. Jessica lixava as longas unhas vermelhas. Olhei para as minhas, curtas, sujas de poeira e descascando. - A real cabeça da situação é você, não ela!
- Espero não matá-la até acabar esse caso. - sussurrei.
riu.
- Ah, abstraia! Durma um pouco, nosso vôo está atrasado em duas horas.
Uma notícia muito feliz.
Me recostei na cadeira e esperei. Tentei, com todas as minhas forças, dormir. Mas era impossível. Brown roncava alto, com a boca aberta. Jessica roncava, mas mais baixo, como um ratinho. Forip falava enquanto dormia. era a única silenciosa. E brincava de "Jogo dos sete erros", que tinha vindo em uma revista. Olhando ao longe, pude perceber a figura: alguns dos membros do Super Junior, em um hotel. Na semana do início do ano, e eu sabia desse detalhe porque fez questão de me levar. Ele tinha um amigo desse grupo, Super Junior, que era louco por mim. Apesar de gostar muito dele, não me enchia os olhos. Tive de usar vestido e meu salto prendeu em um bueiro. Depois de receber um fora de uma garota que gostava naquela noite, e eu combinamos de ser amigos com benefícios, ou seja, só quando a situação apertasse muito. Raramente passava de selinhos, só quando estava difícil.
Apontei-lhe um erro que tinha na mão de um dos amigos de grupo dele. Da última vez que tinha visto, ele escrevia com a outra mão.
- Errado, . Ryeo Wook é destro.
- Se você diz!
Ele riu, repousando a caneta ao lado da revista e me olhando nos olhos. Sorriu.
- Quando foi a última vez que você comeu?
- Você? - respondi, rindo. - Há bastante tempo. - ele riu.
- Falo sério!
- Também falo sério!
- !
- !
- Não gosto quando você me chama pelo nome todo! Parece minha mãe!
- Desculpe-me. .
- !
- Ok, você venceu! - balancei a cabeça. - Não tomei café. A comida daqui é intragável!
- Não achei...
- Quem come arroz no café na manhã? E todas aquelas coisas cozidas...
- Deveria comer essas coisas, são saudáveis e fazem bem pra saúde!
rolou os olhos. Ele, totalmente adepto aos vegetais, frutas e legumes. Eu e minha atitude contrária: adorava frituras, refrigerante, tudo que contivesse altos índices de gordura, açúcar e conservantes. A minha grande sorte é que eu sou uma pessoa ativa, principalmente quanto a trabalho. Corria tanto, suava, treinava tanto, que eu comia e sumia quase tudo.
Tirou do bolso um vale.
- Bem que imaginei. Consegui com a Forip, é um vale do McDonalds. Coma qualquer porcaria que te faça morrer antes e mim.
- Você é uma graça, , e eu te amo! - brinquei, me levantando.

Tamborilava o vale por entre os dedos, como uma caneta na mão de um baterista. Cantarolava mentalmente, acabei rindo. No laptop de uma garota de 14 anos, um vídeo do Super Junior M. dançava alegremente, isso sem contar o verbo cantar. E era muito engraçado que ele, que me conhecia mais do que minha própria mãe, participasse de uma boyband.
Não estou recriminando boybands, girlbands ou o que seja, mas é que ...? Nós passamos um bom tempo juntos desde que eu tinha chegado naquela unidade, perdi as contas de quantas cervejas tomamos juntos antes de ele desistir de beber! Quantos cigarros ele arrancou da minha boca até eu me proclamar adepta ao "não-ao-tabaco"!?
Mesmo assim, não me controlei. Posso ser uma policial bem durona, aliás, muitas vezes eu ouvia dizer que eu parecia muito mais "imponente" do que "bonitinha". Mas ainda tinha um pouco de humor clássico e bondade.
- Olá!
- Oi! - a menininha não tirou os olhos do laptop, mexendo as pernas e colocando as mãos fechadas próximas da boca. Clássico contentamento infanto-juvenil, causado por amor ao ídolo.
- Gosta de Super Junior M, pelo visto.
- É a minha sub divisão predileta! - é, eu não tinha muito o que falar, tens razão. Mas estava tão cansada de ouvir aquela palavra ("sub divisão") que minha reação instantânea foi sorrir.
- Qual é seu predileto?
- ! Aaah, ele é tão bonito, tão legal, tão...
Para minha completa (?) felicidade, eis que nessa hora o mesmo toca meu braço, fazendo-me levantar na mesma hora. Tinha tanta besteira para falar sobre ele... sobre como ele deixava as meias debaixo da cama, seus palavrões ao ser acordado e de suas brincadeirinhas nada convenientes.
- Não coma naquele McDonalds!
- , você não é meu pai, rela...
Nessa mesma hora, eu me lembrei da pré adolescente parada ao meu lado. Lancei um olhar a ela, vendo seus olhos marejados e seu rosto, branco feito uma folha de papel. Aos poucos, o vermelho chegava-lhe a face e eu sabia que ela iria gritar. Troquei um olhar rápido com meu colega, que apressou-se em tardar a reação: tapou-lhe a boca, e jogou qualquer desculpa. Estava no Japão a passeio e ninguém poderia saber. Quanto a mim, disse que eu era sua... prima.
Prima, sei! Uma prima que já viu de cabo a rabo umas duas ou três vezes!
Não consegui reprimir meu pequeno riso de sarcasmo, mas quando meu celular tocou e Forip me avisou que nosso vôo havia chegado, tive que abandonar todas as minhas mirabolantes idéias de ir até o estande do McDonalds pegar um hambúrger. me puxou pelo pulso, soltando beijos e coisas como "amo você!", "é nosso segredinho!".
Agora deve entender por que considero um mentiroso com estilo. Ele sabe o que faz.

Chegamos na Coréia do Sul em pouco tempo. O sol estava de rachar, e eu estava odiando muito aquilo. Pus os óculos escuros com uma grande raiva de São Pedro e joguei a franja para trás, prendendo com um "tic tac" em formato de borboleta. Da Forip. Tailandesas são um problema...
- Está bonita com esse prendedor, ! - debochou Jessica, aproveitando para lançar-me um olhar risonho.
- Obrigada, Jessica. Gostaria de ver como ele poderia abrir ainda mais a sua...
- TEMPO QUENTE, NÃO? - me interrompeu. Percebe-se como ele adorava pôr um fim em discussões.
Um carro da polícia local nos buscou e, enquanto nossas malas iam para um hotel, íamos para uma breve reunião com a polícia.
Explicou-se o caso:

Nome: Jay Park
Data de Desaparecimento: 03/22

Decidi deixar de lado o campo idade, data de nascimento e todas aquelas baboseiras.
Jay sumira no final do mês de março, e estava completando uma semana naquele dia. Era apenas dia 29 e eu queria apenas um pouco de descanso. Então iria resolver essa droga de uma vez e voltar para a China, aproveitar um pouco do final do mês.
Estava enganada quanto a voltar para casa bem rápido.
Bem enganada.


C A P I T U L O • 2



No dia seguinte, logo que amanheceu, eu e fomos a agência de Jay Park: JYP. Esperamos um pouco, e minha paciência estava se esgotando quando o dono apareceu. Achei-o a comédia mais hilariante do mundo: uma calça jeans clara com uma camiseta laranja nada cheguei. Ele nos convidou para sentar, e então a secretária perguntou se queríamos algo. Pedi uma Coca Cola bem gelada; recriminou-me com o olhar, não era nem oito da manhã. Mas estava precisando de cafeína no sangue. e Jessica estavam brincando de serem ídolos, Forip e Brown olhavam as fitas de segurança da agência, para ver se encontravam algo.
O sr. Park (o dono da agência) começou a nos contar sobre o 2PM, o grupo que Jay pertencia. Via os olhos da minha companheira brilharem; apesar de tudo, não conseguia esconder de mim seu imenso vício em boybands. Trabalhar naquele caso deveria estar sendo um sonho para ela. Mas nós tínhamos na equipe, se isso a deixava menos surtada.
Depois de conversarmos bastante (e de eu ter ainda minhas suspeitas sobre o cara mais bizarro daquele país), resolvemos arquitetar um plano entre nós e Park Ji Young, o maluco sentado na mesa onde tinha escrito "diretor": eu e iríamos bancar as dançarinas dos caras. , previsivelmente, teve espasmos com a perna, me dando um belo chute por debaixo da mesa, e quanto a mim... bom, você já pode imaginar minha reação!
- Como é que é? - responde sua pergunta? - O que quer dizer... com... com...?
- É o único jeito, ! - olhou para mim, tentando ver o lado bom da coisa. Aquilo tinha um lado bom? - O plano precisa ser feito sem a colaboração dos rapazes do 2PM! Eles não podem saber que estamos infiltradas!
- Vai que um deles é o sequestrador! - argumentei. - Não gostaria de ser sequestrada!
riu, colocando as mãos nos meus ombros e me olhando nos olhos.
- , você é policial. É a policial mais durona que eu conheço, duvido que alguém consiga passar a mão em você sem você bater nela!
Era metade verdade. Da última vez, eu torci o braço de um cara e ele quebrou o membro em três lugares.
Mas que fosse! Eu não iria aprender a dançar, eu não tinha mais idade pra ficar puxando o "o", babando e falando "oppa" feito uma idiota. Quem falava "oppa" era o Ricky Martin e olhe lá!
Mas não deu outra: era dez horas da manhã quando entreguei minha arma para HeeChul [esse nome é familiar para você?], muito a contragosto. Ele fez uma piadinha de que agora qualquer um poderia me agarrar, pois estava desarmada. Respondi que tinha a minha força. Ele duvidou e tentou me agarrar. Se o ídolo aparecer com uma bochecha roxa ou um braço quebrado, só lamento.
Entramos os três em uma sala de ensaios. Tinha uns seis garotos por lá. Falo garotos porque não os conhecia para saber se eram homens ou crianças. Logo, escolhi um meio termo.
Park Ji Young chamou-os e eles logo largaram seus afazeres (como alongamento - parecia que eles iriam ensaiar alguma coisa) e disse que e eu éramos as novas trainees que ele havia promovido. Minha reação instintiva foi olhar para ele com cara de como?, mas então o vi. Seus olhos eram de um castanho único, eram amendoados. Seu rosto era definitivamente de um rapaz maduro, não devia ter mais de vinte e cinco. Seu sorriso era um estrondo, como um sol brilhando depois de uma chuva forte.
Um arco-íris. Um arco-íris em formato de homem, com músculos que me fazia morder os lábios. Ele era... algo.
-... essa é Bo Mi e essa aqui é a Sang Wook. Sang Wook? - Park Ji Young me chamou e bateu no meu braço, devagar. Olhei para ele. - Conhece eles, certo?
- Não. - minha sinceridade fez com que o Rapaz Arco Íris sorrisse em minha direção. Não deveria reparar, mas reparei e tive de engolir em seco. O sorriso dele me fazia fraca. Como a criptonita para Super Homem.
- Eu conheço! - ergueu a mãozinha, provocando um sorriso específico de outro "garoto", o que usava a camiseta verde musgo. Ele era muito bonito também.
- Estes são , , , , e .
. Agora tinha um nome para o Rapaz Arco Íris.
- Bo Mi será par de e Sang Wook será par de . A outra trainee deve chegar em breve.

Park Ji Young nos deixou a sós com aqueles rapazes. Acho que não preciso transcrever a felicidade de . Ela apertou a mão de todos e comentou sobre quão feliz estava. tinha vocação para atriz, mas acho que, nessa hora, ela estava sendo ela, e não representando.
Tirei o casaco e deixei em um canto, junto com a mochila que estava usando. Usar tênis e calça, não era um trabalho tão difícil. Pelo menos quanto a figurino. Não tinha gostado do ligeiro script que tinha ganho de e JYP. Tinha que ser manhosa, baba ovo e achar que eles eram os caras.
Suspirei, antes de sentar no chão e guardar meu mp3. O fecho da mochila não cooperava nunca, então tive que começar a forçar. Sabia que iria acabar arrebentando, mas depois comprava outra. Ou não. Era uma cortesia de JYP.
- Precisa de ajuda? - o Rapaz Arco Íris se aproximou sorrindo, pegando a mochila das minhas mãos e fechando a mesma como em um passe de mágica. Como ele conseguia? - Tinha uma blusa prendendo no fecho! - ele sorriu, esticando-me o acessório. Simplesmente taquei a mochila em um canto, saindo andando e não prestando atenção nele. Mas então lembrei-me...
- Waaaah, obrigada, oppa! - pus as mãos fechadas próximas da boca, sorrindo como em um desenho animado. - Nem te agradeci, né!
- Tudo bem. - ele riu, dando alguns passos até mim. Abaixou a cabeça um pouco (ele é mais alto uns dez centímetros ou mais) e disse baixo. - Não precisa fingir ser baba ovo. Odeio isso.
- Jura? - disse, tentando não parecer animada. Mas estava tão contente de não ter que virar atriz (isso não estava no meu sangue) que deve ter soado incrivelmente boba.
- Juro! - ele sorriu, esticando a mão para mim. - Prazer, sou .
Não sei por quanto tempo fiquei olhando para a mão dele antes de meu anjo da guarda me cutucar e me fazer apertar sua mão. Sorri de leve, daquele modo obrigado e ele sorriu de novo.
- Então agora somos parceiros. Dança há quanto tempo?
Pronto. Acabou a mentira.
- Pelo que Ji Young hyung nos disse, você dança há pouco mais de dois anos, certo?
Não sei quem contou tamanha mentira a ele, mas precisava encarnar a Sang Wook que JYP criara.
- É, danço há dois anos e meio! - que mentira! - Mas nem sou boa! - isso é verdade.
- Aaah, que isso! Deve dançar muito bem, para o hyung escolhê-la, Sang Wook... tem problema se chamá-la de Sang Wook sshi?
- Não. Oppa.
Posso ser bem abusada quando quero.
Ele sorriu.
- Rapazes, vamos começar os ensaios! - chamou o tal . Era um rapaz bonito também.
Troquei um olhar com , que aparentava estar em uma roda gigante nunca antes usada. Enquanto pensava nisso, puxou-me pela mão, e senti junto a minha pele outra tão.. quente.
Ele me pôs na sua frente, eu me assustei. Olhei , que me disse para relaxar. Ela que relaxasse, eu estava ficando com medo do que eu poderia fazer se aquele garoto, minto, homem, colocasse a mão em mim!
Como leitura de pensamento, pôs a mão na minha cintura. Dei-lhe um tapa.
- Sang Wook unnie, o que pensa que está fazendo!? - era que tinha visto o ocorrido e largado de sua posição confortável com . - , você enlouqueceu? - perguntou baixo.
- Ele colocou a mão na minha cintura!
- Faz parte da coreografia, sua besta! - ela cochichou de volta. - As coreografias do 2PM são ousadas mesmo!
Estiquei a mão para e o ajudei a levantar. Me desculpei enfaticamente, dizendo que não estava prestando atenção e que tinha sido de surpresa. Ele riu, dizendo que não se preocupasse. Enfatizei novamente minhas desculpas e ele segurou meu queixo, erguendo meu rosto para encontrar seus olhos.
- Está tudo bem, Sang Wook sshi. Não precisa se preocupar.
Me virei, na posição de antes, sem responder. Não sabia muito bem como responder, por isso preferi o silêncio.
pôs a mão na minha cintura e eu me controlei para não bater nele de novo.
A música havia começado e eu não sabia um simples passo. Eu dançava, mas quando tinha cinco anos e estava no primário. Caio, meu coleguinha de sala, pôs a mão na minha cintura, enquanto dançávamos Sandy & Junior, e meu pulso rodou em seu olho direito. Levei um mês de castigo.
Para ter base, olhava e as outras garotas, parceiras de dança deles. Antipáticas toda vida. Dançava toda torta, toda errada, depois delas, por exemplo, se viravam para a esquerda, eu demorava um pouco mais para virar.
- Me desculpe de novo, oppa. - repeti, minutos depois, quando paramos um pouco para beber água. A dança em si não era tão difícil, mas era só o modo devagar. Quando fosse a música de verdade, o ritmo de verdade, aí seria bem difícil.
- Se você me chamar de oppa de novo, não sei se poderei resistir. - ele sorriu de forma um tanto quanto safada, me olhando dos pés a cabeça, mordendo o labio inferior. Achei uma tremenda falta de educação.
Em situações normais, iria jogá-lo no chão, quebrar-lhe o braço ou esbofeteá-lo. Ou as duas coisas.
Mas tinha.. alguma coisa que não me fazia querer pensar em fazer isso. Ou talvez eu estivesse mole por estar sem cafeína.
- Vamos ver quem vai ter de resistir a alguma coisa aqui. - respondi de volta, me aproximando e lançando um sorriso desafiador.

Eu não deveria ser policial.
Eu não deveria nem estar naquele caso!
Tudo para não usar aquele disfarce besta.
Começei a me perguntar como e Jessica conseguiam lidar com dançar, cantar e ser "feliz" daquela forma. Só deveria ser usando drogas.
Pela primeira vez resolvi dar uma chance. E dei o melhor de mim naquele ensaio.
Ou seja, não mudou quase nada.

Era hora do almoço e eu estava louca para saber como estava indo a investigação de Forip e Brown, mas nenhum dos dois atendia o telefone.
pôs o casaco (o tempo tinha mudado naquele dia) e me seguiu até a porta, até aparecer e convidá-la para almoçar com ele. Disse para ela aceitar e ela não fez pouco caso, indo com ele por outro caminho.
- Ei, onde pensa que vai? - segurou meu braço, enquanto eu jogava o celular dentro da mochila, furiosa por ninguém me atender. Olhei para ele, um pouco suado e com aquele sorriso maravilhoso estampado nos lábios.
Precisava de uma desculpa boa e eficiente rápido.
- Esqueci de colocar comida para meu cachorro.
E eu não tinha cachorro.
- Aah...posso ir contigo?
- NÃO! Quero dizer... você precisa tomar banho, - ah, eu adoraria estar naquele chuveiro! - vocês têm um programa agora para participar, certo?
- Verdade. - ele suspirou. - Queria não ter mais nada pra fazer. Desde que Jay hyung desapareceu, não tenho muita motivação.
Era a hora perfeita para puxar assunto sobre Jay. Mas eu já estava morrendo por dentro, precisava saber o que haviam achado.
- Olha, , acho que você não deveria ficar assim. Com ou sem Jay, acho que ele iria preferir que vocês fizessem seu melhor, não?
- Sinto falta dele. - confessou-me ele. - Jay é um bom hyung, e é muito ruim que ele não esteja conosco.
- Eu imagino.
Não sei por quanto tempo iria ficar olhando para ele até me lembrar do caso.
- Uhn...preciso ir, meu cachorrinho deve estar com muita fome...
- Posso ir contigo?
Duas vezes a mesma pergunta? Que cara insistente!
- Não precisa. Não quero te atrasar!
- Não vai! Prometo!
Que mais eu poderia fazer? Ele era alto, era muito bonito e tinha braços fortes. Não iria aguentar!
Só tinha que arranjar um cachorro.
Conversamos sobre Jay a ida inteira para minha casa. Ou apartamento, que seja. Aproveitei e perguntei sobre quem ele achava que teria motivos, quero dizer... não poderia ser ele. Nem nenhum dos outros, eram idiotas demais para se arquitetar um plano mirabolante!
Entramos no elevador. Meu estômago já estava revirando. Isso não era normal de acontecer, mas coisas devem ser levadas em consideração:

1. Não existia cachorro nenhum;
2. Nunca, na minha vida, tinha levado um cara até meu apartamento totalmente sóbria.

Ou seja, preferia estar bêbada.
Fingi um pouco até achar a chave na mochila. Era mesmo muito estranho...
- He he que coisa! - fingi. - A Bo Mi deve ter deixado o cachorro na casa do nosso amigo!
- Você e Bo Mi moram juntas? - fiz que sim energicamente com a cabeça. Que raios estava acontecendo comigo? - Deve ser legal morar com uma amiga. Não que morar com amigos não seja legal, mas é que são homens.
- E daí?
Ele abriu a boca, como quem fosse falar, mas não falou nada, só sorriu e coçou a cabeça. Se ele queria remédio para piolho, sentia muito por não ter!
- Podemos ir? - perguntei, apontando para porta. Era a primeira vez que eu me sentia tão desconfortável com um cara.
- Claro. - disse ele. Parecia meio... desapontado, talvez? - Por que não?

fez cara feia quando contei a ele que esteve no nosso apartamento. não estava se importando muito, tomando uma golada de cerveja. Estava contente; pelo visto, era o predileto dela nessa coisa toda de boyband, e, sendo dançarina do cara, deve ter esquecido que era uma policial. No caminho, ela estava cantando "Scream if you wanna go faster". Já deve dar mais ou menos uma idéia da euforia dela.
- Uhn, foi só isso? - ele perguntou, passando o dedo de leve na borda do copo.
- Foi. - respondi, um tanto hilariada. Como ele não riu, como eu esperava, pus a mão na sua perna e apertei sua coxa de leve. - Calma, meu bem, não teve nada.
- Que seja! - ele rolou os olhos. era engraçado. Nosso lance não era nada, mas, às vezes, ele agia como se fosse. - Forip e Brown deram notícias?
- Forip disse que não achou nada nas treze fitas cassete das câmeras de segurança. - eu realmente tinha esquecido da presença da Jessica naquela mesa. Preferia que ela continuasse calada.
- E como foi o dia? - não conseguia não sorrir. Sério, estava me irritando muito. Uma policial não sorri. Como diz HeeChul, colega de , ela "esmirca". Seja lá o que for essa palavra.
- Ah, foi tão legal, encontrei as meninas, e...
Rolei os olhos. Tudo que eu não queria saber era sobre o dia de Jessica. Tinha feito a pergunta para e não a ela.
Enquanto Jessica falava e matraqueava sobre seu dia com TaeYeon e companhia ilimitada, vi passando os dedos pela porta do copo novamente. ainda estava naquele estado "beta", em que tudo que Jessica dizia resultava em um "oridago noriji marayo". Pela primeira vez tive que concordar mentalmente com ela, estava irritante.

- Não consigo parar de pensar em Forip e Brown. - disse mais tarde, enquanto me levava em casa. Eu morava com , mas ela tinha outro encontro com o Rapaz da Camisa Musgo. Achei coisa de novela aquela situação toda. Mal tinham se conhecido e já era o segundo "encontro", por assim dizer. E ela virava um verdadeiro anime e dizia "Vamos para Neverland, oppa!". Era nojento.
- No que está pensando, ? Está tão quieto... Não é por que a criança foi no apê hoje, certo?
- Estou preocupado... com a agenda do Super Junior, amanhã. Tem muita coisa pra fazer, talvez não consiga fazer meu trabalho direito. - ele fez um bico e eu parei, virando-o para mim e tentando olhar em seus olhos. E falhando, quem mandou meus pais possuírem os genes de alguém baixo? Não que eu fosse nanica, mas definitivamente era baixa. Mais ou menos a altura de Jessica, mas ela que morresse.
- Você vai se sair bem, . E não se preocupe, a sua parte eu faço. Aliás, acho até mais prático que eu o faça, já que estou mais próxima deles do que você. não conta, está tão apaixonada que perdeu a noção de algumas coisas. - ele não mudou a expressão, fazendo um biquinho pensativo. Sorri. - Ei! Tem alguma coisa que você não faça bem?
Ele ergueu uma sobrancelha, olhando para mim, sem perder o biquinho.
- Me diga você.
Ri.
- Acho que nada, né?
- Eu não sei.
Ele esticou o braço e eu enlacei o meu, indo em direção ao prédio.


C A P I T U L O • 3


Acordei bem cedinho naquela manhã, e, o que era bem raro de acontecer, com paciência. Fui até o quarto de e, pela primeira vez em dois anos, não a acordei puxando seu lençol, e sim pelo método tradicional de cutucar um pouco e chamar. Ela acordou com medo; não era para menos.
Descemos para tomar café num lugarzinho muito querido que tinha ali perto. ainda estava com sono, mas logo que entramos ela começou seus "ataques", dizendo que aquele era o lugar do Intimate Note do Big Bang. Ok, o que era Intimate Note e o que era Big Bang? Seria a teoria do começo do universo ou seria como Brown dizia quando soltava um pum?
Fato foi que chegamos na empresa conversando sobre nossos planos. Na realidade, tentava me ensinar a dançar as músicas do 2PM, e eu não estava nem um pouco interessada nela, e sim naquela vaga minúscula que tinham deixado na garagem. Agora sei porque tem gente ali que não vai de carro pro trabalho...
- Você pega -
- Ui, claro que pego!
Suspirei. Pedindo aos céus paciência para mim e maturidade para , porque vou te contar, viu...
- , e . Falo com os outros.
- Ah! - ela se recostou no banco, completamente satisfeita consigo mesma. - Com um time desses, eu desisto da carreira da polícia!
- , se eu não te conhecesse tão bem, diria que está apaixonada. - ela sorriu de lado.
- Quem te garante que não?
- A arma que está debaixo da sua saia. - ela olhou para baixo, provavelmente preocupada que tivesse a vista. Até que resolveu adotar outra postura, encostando a testa na mão cujo cotovelo estava apoiado na janela.
- Quantos anos mais você pretende ficar tentando entrar nessa vaga?
- Quantos forem necessários para que meu carro não seja rebocado.
- É hoje que a gente não sai daqui! - ela suspirou.
Não poderia falar que tinha seduzido o instrutor a me passar no teste da baliza.
E que ele não tinha caído.

Entramos na JYP, eu com aquela sensação nojenta no estômago. Não acreditava que estava "brincando de Jessica" àquela altura do campeonato, aos vinte e três anos, sem residência fixa, em um país estrangeiro, sacando muito pouco da língua! Sabia coreano muito pouco, e quem me ensinava esse troço era .
Ensinava, ahan!
Subimos as escadas e fomos nos trocar. Enquanto colocava a calça legging como se fosse estrela de comerciais para leggings, eu puxava aquela blusa azul e aquele short. Não que não gostasse, mas tente entender... eu não sou habituada a isso! Meu hobby é correr atrás de culpados e prendê-los!
Tinha medo que minhas pernas ficassem sem forças quando fosse correr atrás do suspeito.
já havia saído fazia tempo, e eu ainda estava na frente do espelho, olhando para o que eu tinha me transformado. Parecia ter uns dezesseis anos, indo para a academia ou para a aula de educação física. Meu cabelo estava em um rabo de cavalo alto e meu top preto aparecia um pouco com aquele outro top azul - dava contraste. E o short preto com aquele tênis não restava dúvidas de que aquela não era eu, era uma mutação completamente diferente do que já tinha enfrentado quanto a disfarces.
Mataria Jessica por ter mexido na minha mochila!
Avaliei várias vezes o meu bumbum naquele troço, e percebi que, quanto mais eu dançasse, mais o short iria subir. Precisava de alguma coisa que tapasse isso. Essa coisa chamada bunda, a minha bunda não era uma bunda, mas ainda assim era uma bunda! Peguei um casaco dentro da mochila e amarrei-o na cintura. Não era grandes coisas, mas pelo menos tapava algo que eu estava vendo depois de sete anos com o maior dos interesses.
Me obriguei a sair daquele banheiro. Várias garotas já tinham passado por lá e me olhavam meio estranho. Claro, eu não via minhas pernas fazia, no mínimo, dois meses!
Como a Pantera Cor de Rosa querendo ser discreta, fui saindo aos poucos e me escondendo nos cantinhos. Só parei com isso quando pisei no cadarço e fui de encontro ao chão.
Ainda pensava que era a maldição do shortinho de Jessica quando vi um borrão passando por mim. Definitivamente mais alto, mais forte e muito mais bonito. Se não fosse por aquele anel no dedo mindinho, eu não reconheceria de cara, então fui atrás.
- Você está bem? - perguntei, logo que terminei de abrir aquela portinhola pesada da varanda. Ele não se virou. - Ei! - toquei seu braço musculoso, tentando não ficar nem me sentir fraca. Ele continuou sem se virar, mas então eu cheguei perto e vi...
Seus olhos marejados.
- O que houve?
- Nada. - passou as costas das mãos nos olhos, provavelmente querendo que eu não o visse chorar. Virei-o para mim.
- Olha, se você quer chorar, vai em frente, eu não tenho nada contra. -
- Eu já disse que não houve nada!
Ergui as sobrancelhas. Não precisava ser tão grosso!
- Tá, tá, não precisa ser tão mal educado, só estava tentando ajudar! - abri um fecho da mochila e peguei um cigarro. Um dos últimos, porque tinha dado sumiço nos meus maços e trocado por fotos de pessoas impotentes, com câncer, mortas, etc, com um adorável bilhete, "Vi isso e lembrei de você. Te amo, ".
- Tem fogo?
Estiquei meu isqueiro e nós dois fumamos do mesmo cigarro.
- Fuma há quanto tempo?
- Estou tentando parar. E você?
- Minha primeira vez hoje.
Ri.
- Bem vindo ao mundo da morte instantânea, amigo! - brinquei. Ele tragou mais um pouco antes de me entregar o cigarro. - Não vá por esse caminho, criança, não vale a pena.
- E você?
- Sou maior de idade, posso fazer isso! - ok, não era a resposta mais adequada, mas sei lá de onde ela tinha aparecido! - Vai me contar o que houve?
Ele suspirou pesadamente.
- Sinto falta do Jay hyung.
Ah, o Jay!
- Não dá para ensaiar sem ele. É como se eu perdesse um braço, entende.
- Não. - ele olhou para mim. - Regra número um de um papo de desabafo: nunca entenda o que a outra pessoa sente. Com certeza, você não sente o que ela sente da mesma forma. - ele sorriu.
- Você não é a nova dançarina do nosso grupo? - estiquei a mão.
- Muito prazer, meu nome é... é... é... - sim, esqueci o nome que o Michael Jackson Wannabe tinha me dado!
- Kim Sang Wook, acertei?
- Isso aí! - ri. Pelo menos a memória dele era melhor que a minha. - , acertei?
Ele assentiu com a cabeça.
- É muito difícil.. - ele deu uma risadinha nervosa, me olhando de rabo de olho. - Melhor deixar pra lá.
- Pode falar. - isso, meu bem, fale!
- Desde que Jay sumiu, é difícil até de olhar para os outros. Às vezes, de noite, eu fico pensando... será que Jay hyung comeu? Será que ele viu Telettubies?
- Telettubies?
- Não conte para ninguém, - ele sussurrou. - mas ele assiste. E Barney também.
- Assiste Keroro também?
- Sim.
- Backyardigans também?
- O que é isso?
- Ursinhos Carinhosos?
- Que?
- Esquece! - ele sorriu de uma forma muito fofa. Aquilo amoleceu meu coração. Ele era muito...adorável. Parecia ser puro de coração (de outras coisas, eu acho que não). - Desculpa te interromper.
- Ok! - ele fez um carinho no meu braço, ainda com aquele sorrisinho. - Desculpe por te alugar com isso.
- Sempre que quiser conversar, pode me procurar. Sou uma ótima ouvinte. - sorri. - Acha que alguém de dentro da empresa possa ter um dedo nessa estória do sequestro do Jay?
- Acho que não. Você tem?
- Me diga você, entrei ontem aqui! - rimos os dois.
suspirou como se estivesse fazendo isso pela última vez, e então eu joguei o final do cigarro no lixo. Na realidade, o cigarro queimava sozinho enquanto conversávamos, nem fumamos direito.
Ele olhou para mim e sorriu daquela mesma forma fofa. Senti-me invadida por um sentimento muito estranho. Que eu não deveria sentir...
- Vamos voltar? - sugeri. Ele ficou meio relutante, mas confirmou com a cabeça. Ainda de forma fofa. Estiquei a mão e ele a segurou.

era muito bacana e também muito fofo. Até a sala de ensaios íamos de mãos dadas, como um casal de namorados. Bom, eu nunca tinha namorado na vida. não poderia ser encarado como tal, era meu melhor amigo!
Assim que entramos na sala, veio a claridade, o espelho, as camisetas coloridas. O Rapaz Arco Íris conversava com e eu percebi seu olhar sobre nós, e eu, e depois, indo até nossas mãos, cujos dedos estavam entrelaçados.
- ! - ele chamou, chegando perto. Soltou uma pequena gargalhada. - Mal a garota entrou e você já está dando em cima dela!
- Claro que estou! - me abraçou, brincando. - Ela merece por ser gostosa!
pôs a língua para fora, rindo.
- Obrigada pelo "gostosa", gostoso! - brinquei de volta, apertando sua bunda de forma que ele se contorcesse um pouco.
Rimos.
- Arrancou alguma coisa dele? - me perguntou, assim que deixei minha mochila ao lado da sua, do outro lado da sala.
- Alguma coisa. Ele estava chorando quando o encontrei.
- Estavam ensaiando "Again and Again" e daí ele substitui o Jay. - confidenciou ela, fingindo arrumar a blusa. - Do nada ele saiu daqui correndo.
- Ele está sofrendo com essa parada do Jay.
- também. - meu estômago enrolou. Pelo combinado, falaria com , e , não tinha nada de naquela estória! - Estava me contando que passa metade da noite pensando em Jay e que a outra metade é sobre várias coisas.
- Se ele não fosse tão gato diria que ele é gay por pensar no Jay metade da noite!
riu.
- Esteve fumando? - dava para perceber? Ela e eram no-jen-tos com isso. Cúmplices de um Resgate total. Enquanto colocava bilhetinhos na minha bolsa, mochila e até mesmo arma (não queria colocar "no absorvente" também, soaria mais ieca do que o normal!), era a responsável por mensagens em post it's pela casa e até mesmo no computador da delegacia.
- N-não?
- Você não me engana! - ela me virou para o espelho, porque estávamos muito próximas do mesmo. - Suas pupilas estão dilatadas e você fede.
- pode ter fumado...
- , não começa, eu te conheço muito bem! Além do quê, ninguém fede tanto quanto o fumante!
Ela sempre me detona!
- Dividi um cigarro com ele, mas conversamos tanto que o negócio foi acabando por si próprio!
- Mas tragou!
- Traguei, e daí?
- , você quer morrer? - me calei, abaixando a cabeça, me sentindo culpada. Como pais que pegam a filha atacando os biscoitos recheados antes do jantar. - Hein? Já não basta a bebida, você quer morrer sem pulmão? Você já viu um pulmão atacado pelo tabaco?
- Se você fala aquela bola de futebol preta e cinza que me fez vomitar por uma hora consecutiva, sim.
- Eu não quero você daquele jeito! - silêncio. - Poxa, cara, você é minha "unnie", nem minha irmã mais velha eu considero tanto!
Pronto, vamos começar com a sessão de chantagem emocional.
Ela fez bico e então fomos para o meio da sala de ensaios, encontrar nossos parceiros.
abriu um tremendo sorriso ao ver , só faltou se comerem ali mesmo. Quanto a mim, pensava ainda no que tinha me falado e no que tinha me falado sobre o Cara Arco Íris. Ok, ok, eu não tinha gostado nem um pouco, até tinha pensado em "interrogar" só se sacanagem, mas isso seria muito infantil.
- Você ainda me deve uma cerveja.
Sobressaltei-me com aquela voz grossa e sussurrada no meu ouvido. Não vou negar que senti meu corpo se arrepiando, principalmente quando colocou as mãos na minha cintura, enquanto o coreógrafo, na frente, demonstrava com uma garota o que deveria ser feito, e gritava que era para fingir dizer algo podre no ouvido da garota que estava na frente.
Quem dera se uma cerveja fosse sexy!
- Devo?
Um giro, elas na frente deles.
- Deve.
Giro para frente, abraço trespassado.
- Não lembro de termos combinado alguma coisa.
- Não combinamos. Estou tentando marcar um encontro.
Jogada para frente, elas abusam dos anos de balé e giram para os braços do seu namja.
- Sua tática é péssima.
Eles as seguram como antes.
- Eu sei.
Elas fazem um movimento sexy encostando seus corpos nos deles.
- Isso é proibido.
- Certo, pessoal, vamos repetir essa parte!
Olhei para um tanto sorridente e comentei.
- Não fale isso para mim, gracinha, fale para ele.
Fiz cara de sabida e ele mordeu os lábios. Eu sabia o que ele estava pensando. E se ele achava que eu cederia fácil aos seus encantos...
- Almoço?
- Fechado.
... estava completamente certo.

Eu acho que estava ficando louca.
Aliás, ficando não, já estava.
Esse cara... esse cara Arco Íris, ele em especial, me fazia dizer e fazer coisas que nem conseguia.
Isso não estava no script! Não mesmo!

- ! - chamei, e o rapaz de regata verde veio até mim. Ele tinha braços admiráveis, e isso não é só ser legal. - Oi, erm... acho que não nos apresentamos, certo? Muito prazer, sou Kim Sang Wook.
- Oi. - ele estava meio quieto. Ou estava no mundo da lua ou não queria falar comigo.
- Certo, como posso falar isso...? - ri da minha própria sentença. - Estou tentando ser mais amigável com vocês, caras, sabe, eu sou meio tímida com essas coisas, até porque tenho mais amizade com garotas. - ele sorriu. - Será que teria como sermos colegas?
- Claro, por que não? - ele deu um sorrisinho simpático e deu as costas, indo em direção a porta. Certo, ele não queria papo comigo.
- Não ache que o é grosso, Sang Wook sshi. - era a voz de atrás de mim. - Ele também está muito abalado com o sumiço do Jay.
- Eu imagino. - e imaginava mesmo. Uma vez sumiram com o meu pôster de bolso do Johhny Depp e aquilo me deixou em depressão por dois longos e penosos dias. Sorri. - Já está indo embora?
- Vamos almoçar e depois partiremos para a SBS. Tem apresentação e coisa e tal. - fiz um "ah" significativo. - Não gostaria de vir comigo? Eu pago o almoço!
Avaliei. Ele era tão bonitinho, tão fofo, tão adorável, eu já estava quase dizendo que sim quando se infiltrou bem no meio de nós para pegar sua mochila.
- Desculpe, . - respondi, um tanto chateada. Era chato dizer não para um espécime do sexo masculino tão atraente quanto ele! - Já tenho outro compromisso.
- Ah, que pena! - ele fez uma carinha triste, mas logo sorriu. - Nós podemos almoçar juntos amanhã, que tal?
ainda mexia na sua mochila, no meio de nós.
- Claro, vou adorar!
- Então até mais tarde! - apertou minha mão enquanto passava por mim.
Adorável. simplesmente adorável!
Virei-me para pegar um outro prendedor na mochila, colocar o cabelo ainda mais para o alto. Estava calor e, apesar de ter tomado banho e estar mais fresca, ainda estava com calor.
- Se você aceitasse o convite dele, eu ficaria muito chateado.
Olhei para assustada, até perceber que minha cabeça estava criando coisas. Ele ainda estava procurando música no ipod e eu pensando besteiras!
- Vai ficar no mundo da lua para sempre?
Dessa vez eu sabia que era ele.
Sorri.
- Pretendia. Mas você acaba de me tirar de meus pensamentos.
- Oh, desculpe. - ele sorriu. - Se quiser, posso te dar pensamentos melhores.
- Pensamentos melhores? - ri. - Que tipo de pensamentos melhores?
Ele me segurou pela cintura e me puxou para perto de si. Pude ver aqueles fones em seus ouvidos tocando rock em um volume consideravelmente alto; e algumas pintas que ele tinha no rosto.
Acho que não preciso dizer que estava começando a ficar...
Excitada.
- Como por exemplo...
- Por exemplo...?
- O que quer comer? - QUE? - Comida japonesa, tailandesa, você escolhe!
Digo...
Ahn?
- Qua.. qualquer coisa, .
- Japonesa?
- Claro, por que não?
Nessa altura do campeonato, eu desistia.

A princípio, seria comida japonesa. Mas então percebemos que não estávamos em clima de comida japonesa e sim de porcariada. Porcariada, você sabe do que falo: hambúrguer, batatas fritas, milkshake.
Entramos em uma lanchonete e sentamos lá no fundo, no segundo andar. Pelo visto, o pessoal conhecia de outras vezes, porque arrumaram a mesa mais escondida do recinto e, em poucos minutos, chegava um prato lotado de fritas com um tremendo hamburguer no meio. E um grande copo de milkshake, o dele de chocolate e o meu, de morango.
- Fale-me sobre você, Sang Wook. - ele disse, e eu quase engasguei o final do meu hambúrger. Como tínhamos ensaiado a manhã inteira, passamos os primeiros trinta minutos mordendo, mastigando e engolindo. Um círculo vicioso.
- Eu não sou interessante nem tenho uma história interessante, . - respondi, ele riu, tomando um gole de milkshake.- Me fale sobre você.
- Minha história não é interessante, Sang Wook. Nem um pouco.
- Estamos empatados. Oppa. - cutuquei.
Ele limpou um pouco da gordura da batata que estava em seus dedos no guardanapo e depois limpou a boca. Ainda mastigava quando ergueu um dedo, e eu entendi como "vou ir pagar a conta e já volto", porque ele se levantou. Também me levantei, indo até o banheiro.
Constatei que estava realmente diferente. Estava com uma blusa preta e calça preta, mas, ainda assim, parecia uma adolescente. Lavei minhas mãos e não sei por que resolvi abrir a mochila e pegar um batom. Isso realmente era algo novo, e isso estava me amedrontando.
Quando saí do banheiro, estava me esperando. O prédio da SBS não era tão longe, dava para ir andando. E, apesar da chuvinha chata, andamos devagar. Fazer a digestão, diria . Falando nele, deveria estar almoçando com os membros do Super Junior; Jessica, com o So Nyuh Shi Dae; e Forip e Brown, procurando pistas. Eles não se importavam com almoço. Só em comer o outro.
- Você é quieto. - falei, vendo que ele iria ficar calado até chegarmos no tal prédio.
- Estou pensando.
- Em Jay?
Vi seus lábios se apertarem.
- De... desculpe, , eu...
- Tudo bem. Nele também.
- Desculpe.
- Tudo bem, relaxe. - ele segurou minha mão, e, nessa hora, senti algo muito estranho. Entre outras palavras, minhas bochechas queimando. Isso não era normal.
Mas ele não largou minha mão. Totalmente ao contrário, entrelaçou seus dedos com os meus e não falou mais nada.
Deixei.
Primeiro: que eu poderia fazer? Estava sem ação só de estar perto dele!
Segundo: Ele não devia segurar a mão de ninguém há tempos...
E quem era eu para reclamar de algo assim com um cara lindo que ele era?
Entramos no prédio e no elevador. Algumas pessoas cumprimentaram, e eu vi que a grande maioria ficava me olhando com a famosa cara de "Quem é você?". Eu soltava um sorriso falso e dizia "Sou Kim Sang Wook, muito prazer, fulaninho" e torcia para que a pessoa me deixasse em paz.
Chegamos no quarto andar e deixou que eu saísse primeiro, mas sem soltar minha mão. Ele bateu na porta.
- Senha! - alguém disse do outro lado.
- Boom boom Sha La La La La! - a porta foi destrancando.
- Tem que ter senha? - perguntei.
- Fãs. - fiz cara de entendida. - Obrigado, Sang Wook shhi.
- Pelo que?
- Ter almoçado comigo.
Eu ia responder quando a porta se abriu e eu vi do outro lado, atrás de , que estava sorridente olhando para nós.
- O que está fazendo aqui? - falei sem produzir som.
- Surpresa! - ele disse alto, me deixando com raiva. me abraçou. Enquanto todo mundo falava, se arrumava e tudo o mais, e me abraçava, ele sussurrou.
- Eu precisava falar com você.
- Agora?
- Agora. Forip e Brown acharam alguma coisa.
- O QUE? - e isso foi um grito. Olhei para trás, mas graças que ninguém prestou atenção em mim. , animado, veio até nós.
- Conhece Sang Wook, ?
- Claro que conheço! - ele riu. Eu precisava sair daquela confusão. - Nós somos...
- PRIMOS! É, somos primos!
me olhou com cara de "que?", mas depois do que tinha acontecido no aeroporto, era minha única saída.
- Que legal, é tudo em família, aqui! - sorriu. Acho que ele tinha bebido.
Enquanto os caras se arrumavam, e me puxaram para o canto e me contaram. A duplinha dinâmica tinha identificado uma coisa no sequestrador (ou em um deles): ele estava com o pulso machucado. Tinha uma atadura na altura do pulso, e isso era importante.
E também aterrorizador. Porque todos os homens daquele camarim usavam uma atadura daquelas. Qual é, era a nova "mania" da garotada? Depois da pulseirinha do sexo, acredito em tudo!
Hye Jin, uma das outras dançarinas, me puxou. E de repente me vi num banheiro de outro camarim, onde a mesma me esticava uma roupa ainda mais curta e apertada que o shortinho de Jessica. Onde raios eu tinha me enfiado?

Uma verdadeira transformação.
Como Sandra Bullock em "Miss Simpatia", eu me senti... uma garota. De verdade. Era puxada de cabelo para penteado, era puxada de queixo pra passar batom, ordens para fechar os olhos para sombra...
Quando fiquei de pé, logo caí no chão. Aquela bota tinha um salto ainda mais fino que as botas que eu usava.
Hye Jin me ajudou a levantar e eu me vi no espelho como estava. Um top preto, um short curto preto, aquela bota maldita indo até metade da minha coxa. Tinha cores fortes porém não tão fortes em meu rosto e minha boca tinha um batom escuro. Confesso, estava parecendo uma prostituta, nada contra elas, que fique claro.
- Minha amiga, eu não estou te reconhecendo! - riu. Olhei-a feio.
- Não estava no contrato isso! - respondi. - Além do mais, a gente começou a ensaiar ontem e já tem esse troço de apresentação agora? Eles piraram, é?
- A nossa parte é curta. Só aquela parte que fizemos ontem e hoje. - Hye Jin sorriu, passando batom. Cruzei os braços, na tentativa de encobrir meu peito. Mas não sabia se cobria o peito, a barriga, as pernas ou a bunda, estava tudo tão.. a mostra!
- Você está uma gata! - berrou, enquanto Sun Hyo, outra dançarina, junto com Seo A, ficavam cantarolando "Not Such And Innocent Girl", da Victoria (ai ai, ui ui) Beckham. Eu não escutava essa música havia anos, mas depois do "I'm not such an innocent gi-irl", acendeu-se uma lâmpada na minha cabeça.
Estava tudo errado.
O que iria colocar no meu relatório? "Vesti uma roupa curta e que deixava todo o meu corpo a mostra e fiquei me esfregando com um deles no palco"? No dia seguinte, se eu sobrevivesse, né...
A porta fez uns barulhos e Hye Jin a abriu. Na mesma hora, todos os homens da sala ao lado apareceram, e... e é preciso dizer mesmo que brincadeiras rolaram adoidadas?
Procurei com os olhos, mas ele me olhava de uma forma que eu nunca tinha pensado na minha vida. Era um misto de surpresa com... medo, talvez, com um bando de coisas. olhou para Seo A totalmente besta. Ela era a menina mais bonita de todas as dançarinas; tinha olhos castanhos claro, cabelos longos e a pele um pouco queimada, talvez por ser das Filipinas. me puxou até , rindo.
- Diga a ela que ela está linda, oppa!
começou a rir.
- Você está parecendo aquelas mulheres que usam chicotes!
- Talvez eu use. - comentei baixo, quando puxei sua orelha. Ele soltou alguns 'ais'. - E me respeite, "priminho".
Como um pinguim, fui até uma mesa, onde tinha água e me servi. Mas então, quando vi uma garrafa de soju num canto, joguei a água numa planta e pus meio copo de soju, engolindo-o com tanta vontade que até cambaleei um pouco.
- Vai com calma. - me segurou pela cintura. Ele tinha uma mão grande e era realmente... Olhei para ele e ele sorriu. - Você está muito bonita.
- Obrigada. - respondi. - Só assim para ficar mais ou menos do seu tamanho. - ele fez uma carinha engraçada e então sorriu.
- Prefiro você menos over. - ele brincou. - Mas ainda assim está gata.
- Não precisa mentir para me fazer rir, ... oppa.
- Você fica mais vulnerável com essa roupa, Kim Sang Wook, se eu fosse você, não brincava com a sorte!
- Ah, é? - cutuquei. - E o que poderia acontecer?
Ele matutou um pouco.
- Tenho que te mostrar um negócio.
- Que negócio? - perguntei, quando ele me puxou pela mão.
- Confie em mim, não é nada safado, prometo! - fiz cara de desconfiada. - Falo sério! - ele riu.
- Ok.
E então saímos do camarim, ele me ajudando a andar. Eu tinha que aprender logo, se ia dançar com aquele negócio, como iria fazer o giro com ele sem cair?
- Vai devagar!
- Desculpe!
Fomos até o camarim do corredor ao lado. Batemos na porta e um homem a abriu. Definitivamente eu conhecia aquele camarim. E conhecia aquela garota que estava de costas, passando pó no rosto. E ela me viu pelo espelho, derrubando o pó e se virando, assustada.
- ?
Fiz que não era comigo.
- Oi, quem é você? - apesar de ser uma tonta, Sunny chegou perto de mim, sorridente. Ela não sabia que eu trabalhava com Jessica na polícia, mas deve ter me reconhecido pela minha fisionomia. E também porque Jessica dissera meu nome alto.
- Olá, meu nome é Kim Sang Wook. - encarnei um papel de tímida, abaixando a cabeça em sinal de respeito. Quando a ergui, pude ver a cara hilariada de Jessica, tapando a boca para não gargalhar.
- Sang Wook sshii, - disse ela. - você está muito bonita.
- Jessica unnie! - fiz aquela voz tosca de fã de k-pop, rolando os olhos em seguida. - Sua vaca! - disse em português. - Você está tão bonita! O que vai dançar? - em coreano. - Pole dance ou fará strip pra aparecer mais? - em português.
- Sang Wook sshi, você fala mais de uma língua! Que legal! - Yuri sorriu. - Quais línguas você fala?
- Coreano, Mandarim, Japonês, Inglês e Português! - ok, não era tão mentira, mas eu não conseguia dizer alguma outra coisa.
- Vamos dançar "Genie" e "Chocolate Love"! - Sunny deu um sorriso simpático. "I got you, babe..." - cantarolou.
- "I call, I call Chocolate Love"! - terminei, dançando junto. Elas ficaram surpresas. Queria eu dizer que tinha que aguentar Jessica todo santo dia, toda santa hora, nos últimos meses, sentada atrás de mim, estudando essa música e fazendo a coreografia sentada.
entrelaçou seus dedos com os meus e se despediu de Jessica e sua turma. Dei Aleluia. Não iria ficar no mesmo recinto que ela, não iria aguentar...
- Por que me levou lá?
- Não gosta delas?
Pensei.
- Não.
- Adoro sua sinceridade. - e então sussurrou. - Também não gosto muito.
- Então por que fomos lá?
- Porque precisava despistar.
- Despistar? O que?
Ele me empurrou para dentro de uma sala de outro corredor, mais ao longe. A sala estava vazia. Confesso que eu fiquei meio assustada de princípio, e, quando ia perguntar a o que ele estava fazendo ao trancar a porta (mesmo tendo uma boa idéia), ele veio até mim.
- Eu disse que você não só ficava mais vulnerável com essa roupa como também ficava gata.
- E daí?
- Daí... - ele pôs a mão na minha cintura e me puxou de uma vez para perto de seu corpo e eu fui com tudo. - Daí...
- Daí o que? - engoli em seco. Se ele iria me beijar, tinha que ser rápido. Do contrário, quem iria beijá-lo seria eu.
- Esquece. - ele me soltou e eu literalmente fiz cara de "como assim?". - Me desculpe, Sang Wook, eu não deveria fazer isso. - continuei calada. - Não deveria colocar meus sentimentos nisso, e não quero magoar você.
Ele se virou, indo em direção a porta. Sinceramente achei-o frouxo. Muito frouxo. Faz o que faz, me empurra pra dentro de um camarim vazio e não toma uma atitude!
- ? - chamei.
- Que?
Puxei-o pela camisa e encostei seus lábios nos meus. De início, não demorei muito, soltando-o logo em seguida. Pelo amor de Deus, será que eu tinha que fazer tudo naquele caso?
- Agora você pode ir embora. - respondi, voltando para pegar o anel que eu tinha tirado e que tinha caído no chão. Quando eu me ergui, me agarrou pela cintura e beijou meu pescoço.
Poderia ser só um beijo no pescoço, mas aquilo estava ficando sério. Ele se jogou comigo num divã e só não aconteceu mais coisa porque eu lembrei que ele tinha que se apresentar em menos de dez minutos.
Aliás, eu nem sei por que falei isso, de verdade, porque estava precisando de emoção.
Eu sou uma naba.
- ! - chamei de novo, quando percebi que ele não iria sair de cima de mim tão rápido. - Temos...uma apresentação pra fazer!
- Por que você precisa me lembrar disso?
- Porque você tem batom na testa. - apontei, rindo. Ele passou a mão na testa e viu o vermelho nos dedos. Riu.
- Ah, merda, tenho batom na testa!
Pus os braços atrás da cabeça, cruzei as pernas, ainda deitada, enquanto ele ia até o espelho e tentava tirar o batom com a parte de dentro da camisa social preta que usava. Minha vontade realmente era engolir aquela chave e impedí-lo de sair de lá, mas, naquela hora, me lembrei.
Bosta, nessas horas não queria ser policial?
Enquanto ele falava "Aish" e tentava tirar aquele batom, só conseguindo piorar a situação, fiquei pensando. era um amor, e eu gostava demais dele. Mas eu tinha uma atração realmente forte por . Em menos de um dia inteiro tinha percebido isso.
E isso... isso não deveria acontecer. Ele era um dos suspeitos daquele caso todo. Pelo menos para mim.
Ou talvez não mais...
Estiquei os braços e ele me puxou, não dava para ficar em pé com aquelas botas malditas.
- Daria tudo pra te tirar dessa roupa desconfortável.
- Um dia terá sua chance, gatinho. - ri, indo até a porta (ou tentando), aquelas botas estavam me matando. me segurou quando eu ia cair. - Eu não ia cair.
- Eu sei que não. Eu que queria que você pretendesse cair, daí poderia te segurar.
Mas que cara safadinho!
Ele me virou para si e me beijou devagar. Pus a mão em seus cabelos. Eu não queria, mas conforme o beijo foi ficando mais profundo, eu começei a apertar seus cabelos.
Soltei. Aaah, não deveria, isso ia dar um problema...
Mas ah, que se dane, não dava para reprimir desejos, né!
- Melhor voltarmos de uma vez. - comentei.
- E se eu disser que não?
- Não vai ter o que quer.
Ele fez uma careta. Na realidade, isso foi da boca pra fora. Nem eu sabia o que estava falando.
Destranquei a porta e meio que capotei para fora. Ajeitei a bota enquanto colocava minha bunda em seu campo de visão.

Ah, meu santo Deus, o que estava fazendo?
Eu não deveria me envolver nos casos dessa forma!
Nenhum laço emocional!
Nem físico, praticamente falando.

Ok, chegou a hora de falar sobre a minha vida amorosa. Mas relaxe, isso não vai te desviar da estória completa, até porque nem é grande coisa. Mas você precisa entender como as coisas funcionam.
Quando eu tinha 13, eu me apaixonei pela primeira vez. Seria muito bom se ele me desse bola, mas ele era da turma de "populares" da escola, sem contar que também pertencia ao grupo de "zoação ao estrangeiro". Como tinha recém chegado no Japão, estava naquela fase de transição. Imagina você ter praticamente 14 anos, estar entrando na adolescência, em outro país em que você mal sabe dizer oi, e, enquanto as crianças se divertiam na praia, eu tinha que correr da escola para as aulas de japonês. Um verdadeiro martírio!
Ele me magoou tremendamente no dia em que conseguiu meu diário (sabe-se Deus com quem), e fez cópias para toda a escola. Logo, todo mundo sabia que eu gostava dele. Um dia ele tentou me agarrar.
Quebrei seu braço em três lugares e a mão dele disse que iria me processar por agressão.
Depois desse caso, resolvi que meu lugar era na polícia (resolução estranha, não acha?). Minha mãe quase morreu do coração quando falei isso, ela queria que eu seguisse a carreira da família. Eu gostava de quebrar ossos, e não de consertá-los, se é que você entende.
Consegui a minha independência e fiquei no Japão, mesmo contra a vontade de meus pais. E elesficaram tão enfurecidos que praticamente esqueceram da minha existência.
Durante um evento de anime (é, gloriosa época!), eu conheci e formamos aí um laço de compreensão e amizade eterna. Ele também queria entrar para a polícia, logo fomos morar juntos. Estava no Japão fazia alguns dias e procurava um roomate. Eu!
Um belo dia, como já disse, ele entrou para o Super Junior e daí a gente foi se distanciando. A não ser pela polícia e pelo fato de morarmos juntos, nós praticamente não nos víamos. Fomos em um evento da polícia, quando ele se declarou para Tomoko (a policial do futuro, como costumávamos brincar) e ele levou um tremendo fora. Nunca vi beber tanto quanto naquela noite.
Foi nossa primeira noite dormindo na mesma cama.
Obviamente, no dia seguinte, não conseguíamos olhar para o outro. Mas eu não aguentei e chamei-o para o papo. E combinamos de que, quando a coisa apertasse, seríamos companheiros.
Só fizemos isso mais duas vezes. E mesmo assim, porque estávamos tremendamente bêbados. E quando nós já não morávamos juntos; eu estava vivendo com uma recém chegada no departamento, . Uma jovem menina que era conhecida por ser ótima na arte de interrogar. Logo, eu não conseguia mentir para ela. Só ela conhecia esse nosso "trato", por assim dizer, porque ela pressionou tanto que falei.
Mas voltando ao teor da coisa, não é o que posso chamar de "amor". Claro, ele é um amor, um grande amigo e devo te confessar, uma pessoa única (em todos os sentidos, mas você sabe bem de qual sentido falo, certo?). Mas não ouvia aquela babaquice inteira de sinos tilintando, borboletas no estômago, mãos suadas, pensamentos estranhos. Claro, pensamentos estranhos eu tinha várias vezes, principalmente quando sabia que a gente iria se agarrar em algum canto. Mas não aqueles pensamentos de "alguém apaixonado", entende.
Tinha sido só aquele cara idiota da escola. Acho que me fechei para o amor.
Também, isso não importava. Meu trabalho encobria essa brecha emocional e o espaço físico era preenchido por .

Pronto, eu disse que não iria ser grandes coisas, certo?
Desculpe por acabar contando da minha vida. Você não merece ouvir essas coisas melancólicas, aliás, eu não mereço nem lembrar dos meus pais! Eles não se preocupavam comigo, por que eu me preocuparia com eles?
Porque são meus pais e, se não fossem eles, eu não existiria.
Palmas, amiga. Palmas.
Mas isso não me comoveu.

Enquanto voltávamos para o camarim, tentei parecer normal. Mas não conseguia, talvez porque minhas pernas estavam bambas e meu coração, aos pulos. E isso era algo estranho, esquisito e (por que não?) bizarro.
Apesar de estar mais ou menos feliz com aquilo tudo, só me vinha a culpa na cabeça. Meu Deus, sou policial, eu não posso, devo, nem ao menos - pensar em algo do tipo!
Quando abri a porta do camarim, só tinha por lá. Pelo visto, estava tentando se manter em pé com aquelas botas e, quando nos viu entrando, meio borrados e desalinhados, caiu sentada no divã.
- O que houve com vocês? - lancei um olhar de "Não pergunte!", mas tarde demais! - Você. - ela apontou para mim e eu fui até ela, como uma criança que sabia seu castigo. - , o que você está fazendo? - cochichou.
Fiz um sinal de que nem eu entendia.
riu.
- Vamos arrumar você. - ela se esticou até um estojo de maquiagem e me pintou toda de novo. Enquanto eu arrumava os cabelos (que nem estavam tão bagunçados assim), arrumava a gravata preta. Fazia um belo contraste naquela camisa preta.
Enquanto isso tudo acontecia, eu percebia o olhar de "Não acredito!" da minha companheira. De certa forma me sentia mal, mas eu não tive como negar! Ok, até parece, eu poderia sim, negar, mas eu não consegui!
Admito minha fraqueza pelo Rapaz Arco Íris.
- Pronto. - ela sorriu e então fez o mesmo para . - Podemos ir? Todos acham que já estão lá!
E então nós fomos. se segurava em e eu mim e eu me perguntava mil coisas. Como por que eu estava fazendo aquilo, por que me sentia estranha, por que tinha agarrado o cara no segundo dia. Como dançaria com aquela maldita bota? Esperava apenas que fosse decente o bastante de ajudá-la. Sem passar a mão na sua bunda.
- Ah, vocês estão aí! - comentou o manager e eu me senti um horror. Ele começou a brigar conosco, tentando amenizar a situação e não conseguindo muito.
Mas ele tinha o direito de brigar. Era o manager! E ele não sabia que eu era uma policial infiltrada. Logo, tinha que agir como Hye Jin, Seo A...
- Boa sorte. - sorriu para , que ofereceu-lhe a face.
beijou-lhe a bochecha.
- Agora me sinto sortudo. - ele piscou um olho e sorriu carinhosamente para ela.
E virou-se para mim, rindo feito uma idiota.
- Eu não ganho?
- Um tapa na cara! - dei um beijo na bochecha de , batendo em sua mão logo em seguida.
Vi mais na frente, ele vira o que tinha acontecido. Acabei rindo, ou talvez prendendo o riso, mordiscando uma de minhas unhas pintadas de azul.
- Como foi? - Seo A me cutucou, falando ao pé do ouvido.
- O que?
- Não minta, Sang Wook, sabemos que você e estavam juntos! - ela riu. - Como foi?
- Ahn...
- Não precisa ser tímida, Sang Wook, nós sabemos como são essas coisas! - Hye Jin, a mais velha, começou a rir tresloucadamente. Até achei que ela tinha fumado uns, se é que me entende.
- Eu...
- Vocês, anda, anda! - o manager nos chamou, e troquei um olhar com .
- Certo, , hora de pagar mico em rede nacional!

Respirei fundo e posso te dizer que aquilo foi tão medonho que eu não lembro.
Deletei da minha memória.

Era onze da noite quando eu cheguei em casa. tinha saído com , ao cinema (ahan, sei, ao cinema!), e eu só queria um banho e meias coloridas nos meus pés.
Deitei-me na cama, pensando no que tinha acontecido durante o dia. Estava completamente fora de mim quando entrara naquele camarim com o Garoto Arco Íris! Eu não podia, não poderia nem pensar!
Apartir daquele minuto, eu seria outra. Uma rocha. Nada passa, nada ultrapassa.
Uma rocha, é, uma rocha!
- Oi, !
- , como vai?
- Não seria "oi, primo, como vai você?" - percebi seu tom frio.
- Só consegui pensar naquilo!
- Infelizmente não foi na mesma coisa que eu!
- O que quer dizer com isso?
- Nada mesmo, . Olha, preciso dormir, amanhã o grupo tem uma gravação bem cedo e preciso estar bem disposto para correr e pular, ok?
- Certo, boa...
Então ouvi o clique do telefone.
Ele havia desligado na minha cara.
- ... noite.
Não sei quanto tempo fiquei olhando para aquele fone.
O que tinha dado nele? Ele nunca fazia isso!
Ouvi o barulho da chave virando devagar na maçaneta quando enfiei a cabeça debaixo do travesseiro, respirando bem fundo.


C A P I T U L O • 4


Acordei no meio da madrugada passando muito mal. Era como se estivessem me apertando no peito, sensação de vômito indo e vindo. Depois de rolar muito na cama, resolvi ir ao banheiro. E vomitei. Vomitei muito, e sem motivo, não sabia por que vomitava tanto. Você se pergunta por que estou fazendo tanto alarde, não é? Afinal, é só vômito, todo mundo vomita!
Ok, e é normal vomitar sangue?
Eu já estava sem forças e não conseguia parar. Meus olhos lacrimejavam muito, meus braços estavam sem forças. E eu sabia que estava sem cor no rosto.
Minha sorte foi ter ouvido e ligado para , que chegou junto com uma ambulância. Eu confesso, estava com medo de ter alguma coisa grave.
Depois de injetarem um remédio para parar meu vômito (e eu ter gritado de dor, porque odeio agulhas - sem contar ter vomitado no enfermeiro), eu parei e fiquei lerda. Muito lerda, de verdade. E acabei dormindo.
Acordei novamente às seis, ou seja, quatro horas depois. Menos mal, mas mesmo assim, zonza.
- O que eu tenho? - perguntei, sabendo que não iriam me responder tão cedo. e trocaram um olhar. - Melhor vocês falarem ou eu... eu... eu nunca mais falo com vocês.
Certo, era a pior ameaça do mundo, mas eu tive de tentar!
- Fizeram uma coleta do seu sangue. - começou. - Você tinha... veneno para rato no sangue.
QUE?
- QUE? - sim, repeti. - Veneno para... como assim? Então eu deveria estar morta!
- O seu sistema imunológico é muito bom, . - continuou. Espera, não era ele que tinha desligado o telefone na minha cara? Agora estava completamente fofo de novo! Vai entender os homens! - Fez com que você vomitasse pra ver se tirava o excesso.
- Tirar excesso? Então eu ainda tenho esse troço correndo no meu sangue?
- Não mais, - um médico apareceu com um prontuário nas mãos. Não devia ter mais de vinte e três, então tive de duvidar. - está tudo controlado. - e sorriu. - Como se sente?
- Eu passei metade da madrugada vomitando sangue, devo estar bem? - apontei para o meu rosto. - Devo estar pior que o Toshio!
- Ela está ótima, doutor. - sorriu.
O cara sorriu.
- Perfeito. A partir de hoje você terá dois dias de folga e...
- Como assim dois dias? Meu filho, a titia precisa trabalhar!
Ok, você deve estar se perguntando o por quê de tanta ironia e agressividade, certo?
Eu odeio hospitais. Minha última experiência em um aumentava meu ódio. Um dia, quem sabe, eu possa te explicar com detalhes.
- Escuta aqui, - puxei o médico pela gravata. - enquanto você via Barney, eu já dirigia um carro da polícia. Eu preciso trabalhar, entendeu? Não dá pra ficar aqui de bobe!
- , não começa! - soltou minhas mãos do médico assustado. - Você quase morreu e quer dar uma de fortona agora?
- Não é questão de dar uma de fortona, gata, eu tenho que trabalhar!
- O que você comeu ontem? - perguntou antes que respondesse.
- Aaahn... - começei a pensar. - Dez garrafinhas e trinta latinhas de Coca Cola, seis xícaras de café, um hambúrger com batatas fritas, pizza e chiclete, por que?
- Uma dessas coisas estava contaminada. - disse a criancinha, com aquele estranho olhar de pai que não entende o que o filho de cinco anos fala. - Você sabia que Coca Cola é altamente...
- Corrosivo para o estômago, é, sei. - me recostei na cama. - Eu preciso sair daqui! - comentei assim que a criança de jaleco branco saiu do quarto.
- Pois não vai! - me empurrou para a cama. - Você quase morreu!
- Mas não morri! - insisti, me levantando. - E não balance a cabeça!
- É para o seu bem! - comentou.
- Traidora. - resmunguei.

Ficou decidido que eu ficaria em casa (ahan, na concepção DELES) e que alguém tomaria conta do "bebê". Me deu uma raiva. Eu não tinha mais cinco anos para ficar em casa quando ficasse doente, por Deus!
Verdade que eu não conseguia andar direito e me sentia bastante enjoada, mas era só tomar Coca Cola que eu melhorava. E de qualquer forma, eu estava viva, certo? O que não te mata, te fortalece!
Assim que foi embora (depois de ter pego uma camiseta que estava em cima da minha poltrona - muito estranho isso!), não esperei muito para ir até a cozinha. Abri a geladeira e me dei conta que não tinha uma latinha para me animar. Ia comprar mais no dia anterior, mas acabei esquecendo por conta de .
Mas eu ainda tinha pernas e pés, podia dirigir até o mercado para comprar mais. Você sabe o que é revirar a casa atrás da chave do seu carro e não conseguir achá-la? Só tinha uma explicação: tinha saído com o meu carro.
- Filha da puta! - resmunguei, tacando uma almofada no chão, injuriada.
Como as pessoas viviam sem o carro como meio de locomoção? Minha vida era carro desde que tirara a carta e agora estava sem. Só tinha uma maneira de conseguir o que eu queria: catar um mapa e andar.
Andar... como iria andar se nem conseguia ficar de pé direito?
Tomei um banho e abri o armário, pegando uma peruca de cabelos escuros e colocando na cabeça. Cogitei em colocar durex perto dos olhos, assim iria fazê-los ficarem puxados, mas não ia dar muito certo. Ajeitei a franja da peruca; vamos brincar de ser turista. Pus os óculos escuros e desci.
Não achei que Seul fosse tão grande! As pessoas passavam esbarrando e ninguém se desculpava, e eu via tudo rodando. Como se estivesse em uma roda gigante, com o diferencial de que eu não iria vomitar. Até porque não tinha nada no estômago.
Consegui chegar em um mercado e então eu vi. A geladeira repleta de cafeína e conservantes em formato de refrigerante. Podia até jurar que via uma luz celestial vinda da geladeira, mas não, não estava tãomal assim.
Corri até a minha salvação, mas parei. Não sei, meu estômago embrulhou, fiquei enjoada, mesmo que eu soubesse que isso era falta de cafeína. Minha mão apertava o puxador, mas eu não tinha forças para abrí-la.
- Com licença. - um garoto me pediu, abrindo a porta de repente e fazendo com que a mesma batesse no meu rosto. E nem pediu desculpas.
De qualquer forma, saí daquele mercado e fui andar. Via tudo mais ou menos, era meio que arremessada para os lados por pessoas insensíveis e mal educadas. Parabéns para mim, finalmente estava caindo a ficha de que sim, estava na Coréia do Sul!

Peguei o metrô e saltei em uma estação que nunca tinha ouvido falar. Sabe quando você não consegue pensar no que está fazendo e seus pés vão seguindo o que suas pernas mandam? Eu estava assim, se não pior. Estava bem frio quando encontrei o prédio. Eu nem sabia que aquele prédio gigante era o que eu estava indo desde segunda feira. Ensaiar.
O prédio onde eu encontrava o Rapaz Arco Íris.
Zonza e com os olhos pequenos (a luz estava me incomodando muito), subi até o quarto andar, indo direto para a sala de ensaios. Estava vazia e bem quentinha, então pus minha mochila no chão e me deitei com a cabeça nela. E acabei pegando no sono.
Acordei mais ou menos meia hora depois com alguns barulhos. Abri os olhos devagar, vendo na minha frente, com as mãos na cintura e logo atrás, aparentemente preocupado.
- O que você está fazendo aqui? - perguntou ela, e não tinha nada de doçura em sua voz. - Não mandei você ficar em casa?
- Levar meu carro não quer dizer que eu não saiba andar pela cidade. - fiz uma careta, minha cabeça estava começando a doer. - Onde está?
- Tomando banho, estava imundo. - tentei levantar, sem muito sucesso. pôs a mão na minha testa. - Ai, ... - sussurrou. - Você ainda está com febre, vou te levar pra casa!
- Não! - resmunguei, tirando sua mão da minha testa. - Eu vou ficar aqui. Não cruzei a cidade inteira pra voltar pra casa.
- O que houve com você? - perguntou, se agachando e com os olhos bem abertos.
- Co...uhn... crise alérgica forte. - rolei os olhos. - Mandei ela ficar em casa, mas é teimosa!
- Sim, eu sou teimosa! - briguei. fez cara feia e então resolvi mudar de postura. - Prometo ficar quietinha, não vou fazer nada, prometo. - beijei dois dedos, como uma criança pedindo. sorriu, mas ela suspirou, dizendo que, se eu me metesse a fazer qualquer coisa, ela iria me levar para casa.
- Cadê ? - perguntei, depois que todo mundo entrou. Estava sentindo falta da brilhantina natural dele.
- Passou mal de noite. - respondeu, colocando a mochila perto de onde eu estava. - O manager achou melhor ele ficar em casa.
- Acha que seria ruim se eu fosse visitá-lo?
- Ele, acho que não, mas eu, sim. - se agachou perto de mim, sorrindo. - Por que está no chão, menina?
- Minha cabeça está doendo. - respondi.
Os ensaios começaram, mas eu alternava entre dormir e prestar atenção. Sem , nada tinha muita graça. Só colocando as mãos nos seios de uma das garotas e , mais embaixo, mas nada grandioso que me fizesse ficar acordada. Na primeira pausa, disse que ia pra casa.
Dei meia volta e fui para o apartamento de Forip. Precisava saber como estavam as coisas, me sentia a menos inclusa no dever. Sabia do que acontecia graças a e , mas eu, euzinha ver com meus próprios olhos, nem uma vez desde que tínhamos começado.
Acenei para o porteiro, estava passando mal de novo. Estava suando e, em alguns momentos, minha visão ficava embaralhada, mas isso nunca me impediu de cumprir meu trabalho.
Subi até o terceiro andar e pus a mão no bolso da mochila, mas a porta estava aberta; o que era bem estranho, então, sorrateiramente, tirei outra coisa de dentro da mochila: minha arma.
Abri a porta sem fazer barulho, mas Forip precisava realmente de uma ajudinha para resolver o 'nhéééé' que a porta provocou. Estava tudo tão silencioso, tão suspeito. O sofá estava impecavelmente branco, como sempre, o tapete certinho no meio do corredor. Mas não me convenci, estava tudo muito quieto.
Ouvi um barulho inconfundível de respiração, algo estava acontecendo. Quando ouvi Forip choramingando "Pare", engatei a arma.
Tudo vinha do quarto, que era onde estava o computador. Minha idéia era a de que Forip estivesse esquadrinhando os vídeos de segurança e alguém tinha aparecido. Matado Brown, porque era um idiota, e agora, estava torturando minha colega.
Respirei fundo antes de chutar a porta entreaberta e empunhar a arma.
Só não tive coragem de atirar ou fazer qualquer coisa. Porque o olhar que Forip e Brown fizeram para mim pagavam por qualquer coisa que eu tivesse pensando.
- Foi mal!
Fechei a porta do quarto e, cambaleante, fui para a cozinha. Eu não tinha visto o que tinha visto. Forip estava deitada, Brown estava em cima dela e... argh! Enchi um copo de água bem gelada e virei, a ponto de ver Forip toda sem graça vindo até mim.
- , desculpa, eu..
- Tudo bem, eu não vi nada, não quero ver nada, aliás, nem sei o que estou fazendo aqui, ah, lembrei, queria saber das novidades do caso, mas é melhor deixar para outra ocasião, né, e - falava isso tudo tampando os olhos. - e depois conversamos, Forip.
- Estou vestido, . - era Brown. Abri uma brecha nos dedos e constatei que ele usava um short. Mas não tirei a mão dos olhos.
- Sério, me-me-me desculpe, eu não sabia.
- Ninguém sabia. - Forip olhou para Brown. - Você precisa me prometer...
- Eu guardo segredo, Forip. - tomei outro bom gole de água. - Nó-nós conversamos depois, pode ser?
Fui até a porta, pegando minha mochila, que tinha deixado em cima do sofá. Forip e Brown estavam muito sem graça, e quanto a mim, em ver... o que eu tinha visto? O "Pare" na verdade era "Não pare" e isso era confuso demais para minha cabeça, zonza de febre e meu corpo, fraco de Coca Cola.

Enquanto digeria o que tinha visto, descendo as escadas do hall do prédio, percebi que não aguentaria mais. Corri até a primeira loja de conveniência e comprei uma garrafinha de um litro e meio de Coca Cola, tomando um bom gole. Se fosse vomitar de novo, ao menos teria algo para sair.
Peguei um taxi até o departamento policial. Não estava raciocinando direito, mas consegui chegar até minha mesa e ver a pasta verde, minha cor predileta, com o caso de Jay.
- O que você está fazendo aqui? - mostrei a pasta.
- Não é óbvio?
Jessica fez careta.
- me contou o que aconteceu com você.
- E quem te deu autorização pra saber da minha vida?
- Calma, só estou perguntando, não precisa vir com pedras para tacar em mim!
- O que você está fazendo aqui?
- Vim deixar minha pasta. - ela mostrou a pasta rosa choque. - Estou indo para o salão.
- Brincar de Barbie?
- Não gostaria de vir comigo? Está precisando arrumar essas sobrancelhas, estão horríveis!
- SAI DAQUI! - taquei uma pasta-arquivo bege em cima dela, que se esquivou, deixando que a pasta batesse na parede.
- Eu vou. Mas eu volto.
- O que você faz ou deixa de fazer, não me interessa. Se você resolver raspar a cabeça e se juntar aos Hare Krishna, eu não estou nem aí. - pus a mão na cabeça. Estava vendo tudo rodando outra vez, eu estava quase tendo certeza de que iria desmaiar. - Nem aí.
- Tem certeza de que você está bem? - perguntou ela, com aquele tom peculiar.
- Estou ótima, Jessie, ótima.
- Você não está bem. Você nunca me chamou de Jessie!
- DEU VONTADE, DÁ PARA CAIR FORA DA MINHA SALA AGORA? - gritei, tacando, dessa vez, um cd regravável, porque era a única coisa disponível.
Ela fez careta, finalmente deixando minha sala.
Abri minha pasta e li. Tinha depoimentos de Park Ji Young, de todas as amiguinhas afrufruzadas de Jessica, o Super Junior em peso. O 2PM, óbvio, enfim, todas as pessoas próximas de Jay. Li uma por uma, duas vezes cada. Até Jessica e tinham prestado depoimento, não podiam deixar de fingir. Eu não estava presente, nem . Muito menos Forip e Brown, ah, Deus, Forip e Brown!
Minha cabeça doía. Ainda doía. Me permiti cinco minutinhos apenas, deitando a cabeça na pasta e adormecendo na mesma hora.

Acordei horas depois com o sr. Lee me cutucando. Disse que eu tinha dormido uma hora inteira, mas não prestei muita atenção. Estava me sentindo melhor. Certo que ainda estava enjoada, mas era só tomar Coca Cola. Viu, Coca Cola acaba com o seu enjôo!
Quando saí para a rua, constatei que era hora do almoço. Eu estava morrendo de fome, então, contrariando todas as leis que impedem um ser humano de comer porcarias quando se está adoentado, entrei no primeiro Burger King que apareceu na minha frente, e pedi o maior lanche que eles tinham. Refrigerante a vontade, o Burger King era minha segunda casa.
- Algo me dizia que iria te encontrar aqui. - virei-me, vendo sorrindo para mim. A menina do balcão olhou de para mim e depois o trajeto inverso. O olhar dela era como o da menina do aeroporto quando viu .
- O que faz aqui? Me disseram que você estava se sentindo mal.
- Aaah, sim. - ele sorriu, pegando a própria bandeja. - Não consigo ficar em casa curtindo dor.
Por algum motivo desconhecido, senti uma onda de carinho por ele.
- E você?
- Algo por aí, também. - peguei minha bandeja e, sorrindo, fui até uma mesa no fundo da loja. me seguiu e sentou na mesma mesma que eu, de frente para mim. - O que você comeu que te fez mal?
- Acho que foi aquele milkshake. - disse, tomando um gole de refrigerante. - Não foi muito legal passar a noite vomitando. Desculpe.
- Quer que eu também te conte do meu vômito? - ri. - Era espesso, tinha cor de bile, amarelado, sabe, e algumas vezes ficava...
- Não, tudo bem, não precisa contar, não! - aproximei-me dele por cima da mesa.
- Estava brincando.
- Eu sei. - ele me deu um rápido selinho e voltou às suas batatas. Eu não entendi muito bem, mas se ele queria me beijar, era só ter dito.
Pelo menos não tinha vomitado nele.
- Planos para a tarde?
- Nada de muito interessante. - comentou, limpando os dedos de gordura no guardanapo. - Você tem alguma coisa pra fazer?
Pensei. Eu tinha uma cópia das câmeras de vigilância na minha mesa, no DP. Ou tinha sido aquele o cd que eu tinha arremessado em Jessica? Que fosse, eu tinha como conseguir de novo.
- Não.
Menti, óbvio, mas era impossível dizer "não" para ele.
- Não quer ir lá em casa? - opa! - Os meninos estão ensaiando e só vão chegar mais tarde.
- Pode ser. - sorri. Ele sorriu de volta.

Não sabia muito bem o que estava fazendo, quero dizer... negligenciando trabalho para ir na casa de um cara. Isso, com certeza, não era eu.

Ele girou a maçaneta e abriu espaço para que eu entrasse. Tirei a mochila das costas e ele a pendurou no cabideiro atrás da porta. Aquele apartamento era muito diferente do apartamento que tinha me mostrado em vídeos, ele era diferente do que eu tinha visto no vídeo. Tinha algumas coisas pelo chão, mas não me importei. Seria estranho se realmente não tivesse alguma coisa, homens são meio desleixados quanto a organização.
- Quer beber alguma coisa?
- Coca Cola? - ele sorriu. - Que foi?
- Finalmente alguém que tem o mesmo vício que eu!
Enquanto ele corria até a cozinha, aproveitei para colocar meus sapatos no canto da entrada, perto do tênis dele. E percebi que ou ele era muito grande ou eu que era muito nanica. Meus pés 36 ficavam enormes ao lado daquele provável 42. Ou algo por aí.
Pela primeira vez, eu estava desconfortável perto de um cara. Eu não sabia o que falar, o que fazer, nem nada. Quando ele chegou com o refrigerante e me perguntou o que eu queria fazer, eu não sabia. Ou sabia, mas não tinha coragem de dizer.
- Podemos ficar assistindo televisão.
- No meu quarto tem uma televisão.
Isso sim tinha sido direto. Mas eu não sabia se ainda era a hora.
- Ok!
Por Deus, eu não iria dormir com ele, se é o que você acha que eu faria, mas, bom, essa era sim a minha vontade.
segurou a minha mão e começou a me conduzir para seu quarto, o último do corredor. As outras portas estavam fechadas, e eu podia jurar que, se abrisse qualquer delas, veria a bagunça em tudo quanto era lugar.
- Esse é o quarto do Jay hyung. - confessou, e eu vi as lágrimas chegando aos seus olhos. Mas ele não chorou. - Não consigo abrir a porta, meu coração dói.
- Jay está bem. - falei, mas ele não mudou muito. Virei seu rosto para mim e ele me olhou, adotei uma expressão mais simpática (raro de acontecer). - Deve estar bem, pensando em vocês.
- Sinto falta dele.
- Sentimos todos. - sorri de novo. - Ei, você vai ver, ele vai chegar todo feliz, rindo, participativo, e fará piadinhas!
- Jay... às vezes me pergunto se ele não voltou para Seattle de vez. Você soube, certo, do incidente da Coréia gay...?
- Eu lembro. - lembro porque Jessica comentava sobre o dia inteiro. - Não acho que ele tenha voltado para Seattle. Está tudo bem de novo, não é?
- Não totalmente bem, mas ele não está aqui. Logo que ele voltou, foi sequestrado.
- Mas vai estar. - falei confiante. - Quando você menos esperar, eu te prometo.
- Adoro seu otimismo, Sang Wook sshi.
Façamos uma pequena pausa para que eu me olhe no espelho e diga "Quem é você e o que fez com a ?".
- Imagina. - sorri de novo. - E então, a televisão?
- Ah, certo. - ele abriu a porta onde tinha uma plaquinha até bonitinha. Um bonequinho com um prendedor no alto da cabeça, fazendo o sinal de vitória com os dedos. Parecia com , só me perguntava quem tinha feito, porque todas as portas tinham um e parecia ter dado trabalho. - Não repare na bagunça.
A "bagunça" era uma cama desarrumada, algumas camisetas no chão, assim como alguns bichinhos de pelúcia que, provavelmente, eram presentes de fãs.
- Gosto de bichinhos de pelúcia. - ele abraçou um cachorrinho beagle de óculos escuros. - Prefiro muito mais que qualquer coisa cara.
- Você é gay! - comentei, vendo o carinho excessivo com o pelúcia. Ele riu.
- Se eu fosse gay, não iria querer que você deitasse na minha cama agora.
- Eu não vou dormir com você, . Digo... não hoje.
- Por que? - ele pareceu entristecido. E eu tinha adorado.
- Não estou muito no clima, se é que você me entende.
Ele pensou por alguns segundos. Eu sabia que passava um "Posso te deixar no clima, se for o problema" pela mente dele, mas dei as costas, avaliando a estante de jogos para videogame.
- Você tem Mario Kart?
- Tenho. - ele sorriu ao vir até mim, puxando a caixinha e virando. - Quer jogar?
- Quero!
- Só vai jogar se me der um beijo!

Suspirei. Quem era eu para negar?
Afinal de contas, era um trabalho de atriz aquilo tudo que eu estava fazendo. Aquela coisa de ter o nome Sang Wook. Adicionava muitos traços da minha personalidade na personagem, mas, ainda assim, Sang Wook e eram diferentes.
Bom, Sang Wook dançava. não dança há mais de vinte anos.
Sang Wook usava esmalte ametista nas unhas grandes. mal tinha unhas.
Sang Wook era dócil. era durona.
Se bem que agora já estava começando a me enrolar. Quem era eu e quem era Sang Wook.

Dei-lhe um selinho e tentei pegar a caixinha do game de suas mãos. Ele a ergueu mais alto, dizendo que aquilo não tinha sido nem um beijo. Dei-lhe outro. Mas ele não aceitou.
Na terceira tentativa, ele me agarrou pela cintura e me beijou de verdade. Não tive outra escolha a não ser aceitar, colocando meus braços em seu pescoço.
Gosto de ser detalhista em alguns momentos. Esse é um dos momentos. tinha um beijo carinhoso; porém, como dizem no meu país, o cara tem pegada. Era impossível deixar passar essa informação, ela é bastante importante.
Talvez não para quem esteja lendo, mas para mim é, e o que conta aqui é a minha opinião.
foi me puxando em direção a cama bagunçada, onde caímos. Ele era insistente. E sabia como conseguir as coisas que queria.
Por outro lado, eu também sabia, ou melhor, sei - conseguir as coisas que quero, e eu queria jogar Mario no videogame, e não em outro lugar. Empurrei para o lado quando ele tentava tirar a minha blusa.
- O que houve?
- Quero jogar videogame.
- Mas... Sang Wook...
- Por favor... - fiz beiço. Estava aprendendo alguma coisa com Jessica, querendo ou não.
suspirou e eu mordi os lábios. Podia ficar horas admirando aquele abdomen perfeito, mas era uma daquelas horas. A hora de me lembrar que eu era policial, não uma dançarina do grupo dele. Às vezes eu me perguntava por que precisava ser daquela forma, eu me sentia como se estivesse enganando .
Falando nele, me perguntou se eu não gostaria de jogar outra coisa. Eu disse que não. Ele então ligou a televisão e conectou o videogame. Fiquei contente em ver o Mario pulando com seu carrinho colorido na tela. Certo que não jogava videogame fazia, no mínimo, uns dez anos, mas certas coisas a gente esquece!
No início, ficou sentado do meu lado, meio que sem ânimo de jogar. E sem camisa. Era um tremendo pecado, mas tentava me concentrar no jogo sempre que ele começava a me beijar. Ele queria. Eu não queria. Quando um não quer, dois não brigam.

Confesso que ainda sentia sono, mas tinha que trabalhar. Forip e Brown passavam mais tempo tirando a roupa do outro do que trabalhando, eu precisava ver com meus olhos.
Olhei para meu colo, vendo dormindo em cima da minha coxa, dormindo feito uma criança. Dava um dó enorme deixá-lo, mas, aos poucos, fui levantando sem acordá-lo. Em vão. acordou e me segurou pela cintura.
- Onde você vai?
- Preciso ir embora.
- Não vai.
- Mas eu preciso.
Certo, não era a melhor forma de falar.
- Amanhã vamos nos ver.
- Fica comigo. - bico. Homens, por que precisavam apelar?
Suspirei.
- Fico. Mas só alguns minutos, ok?
Ele bateu na cama, como quem pedia para que eu deitasse ao seu lado. E eu aceitei, deitei ao seu lado e fiquei olhando para aquele sorriso infantil enquanto seus olhos estavam fechados.
- Eu gosto de você.
Era a primeira vez que um cara, que não fosse , me dizia isso. Sorri.
- Nos conhecemos há dois dias, .
- Mas eu gosto de você. Nunca estive tão certo de que gosto de alguém.
Pus a mão em seu rosto, e acabei constatando uma febre.
- . Durma.
- Não vai embora. - ele segurou minha mão. A soltei.
- Não vou. Mas dorme. Por favor.
- Certo. Mas fica aqui comigo.
- Eu vou.
Ele estava com febre e tinha dito da boca para fora. Não iria acreditar tão fácil, até porque só tínhamos nos conhecido fazia dois ou três dias. Fiquei passando a mão em seu rosto até constatar que ele estava realmente dormindo. Beijei-lhe a testa e saí do quarto.

Abri a porta de casa, me deparando com do outro lado. Andava de um lado para outro, parecendo preocupada. Olhei o relógio de frutas (não devia tê-la deixado cuidar da decoração...) da cozinha e constatei que era quase oito da noite.
- Onde você se enfiou?
- Passei a tarde com o . - ela arregalou os olhos. - Jogando Super Mario, ! Que horror, será que tudo você precisa ver o lado pervetido?
- Vindo de você, eu acredito em tudo! - ela foi até o espelho do corredor e começou a passar o batom. se arrumando. Não que fosse raro, mas ela não era de passar maquiagem. Não naquela quantidade.
- Vai sair?
- me convidou para irmos ao cinema.
- De novo? Quando sai o casório? - me joguei no sofá, olhando para o teto.
- Não vai sair nenhum casório. Ele só me convidou para sair. - não respondi. - Eles não têm tempo para sair, . E só podem sair de madrugada, e, mesmo assim, tem que existir um certo esforço. Ontem, dormiu o filme inteiro.
- O que você vai fazer para deixá-lo acordado? - cutuquei. Ela riu.
- Nada que seja da sua conta.
- Nossa, que grosseria!
- Morar com você tem suas vantagens. Gata.
- Olha que eu gamo! - ri. A campainha tocou e vi tendo um arrepio. Era tão bonitinho, ela estava saindo com um cara de verdade! - Boa noite, !
- Aah, oi, Sang Wook sshi. - ele parecia desconfortável. - A... uhn... A está?
- Está terminando de se arrumar.
- Você melhorou?
- Melhorei. Obrigada por perguntar. - ele sorriu. - Então, o que vai ser hoje?
- Que?
- O pós cinema?
- Bom, eu...
- ! - apareceu com o celular nas mãos. - Vamos? - e então para mim. - Qualquer coisa, me liga.
- Claro. - sorri falsamente, estava bem demais, fechei a porta.
Alguém iria se dar bem naquela noite.

Era mais ou menos meia noite quando a campainha tocou. Eu estava no meu quarto, vendo um programa horrível, mas larguei a preguiça e fui ver quem era. Estranhei quando vi parado do outro lado da porta; estava lindo com aquela jaqueta preta, de couro. Fazia um bom tempo desde a última vez que o vi usando aquela jaqueta.
- ?
- Me desculpe por ter sido um idiota. - ele segurou meu rosto e me beijou.
Pus as mãos em seu pulso e me afastei.
- Isso é para você. - ele me entregou um buquê de rosas que tinha nas mãos. Ergui as duas sobrancelhas. - Sei que não é muito fã de flores, mas eu achei melhor trazê-las. Fiquei preocupado, como se sente?
- Bem, obrigada. - pus as flores em cima da mesa e pus as mãos na cintura. - O que houve?
- Sinto sua falta. - ele respirou fundo, começando a andar de um lado para outro. - Desculpe, desculpe por ontem, eu não sei o que deu em mim... quer dizer, eu sei, mas acho que não é isso...
- Isso o que, ?
Ele parou na minha frente e segurou as minhas mãos. Tinha os olhos baixos, e eu estava começando a ficar preocupada.
- Posso passar a noite aqui?
- Claro que pode! Que pergunta mais-
Não completei minha frase, porque colou seus lábios nos meus novamente e me segurou no colo. Certo, isso era muito estranho.
Mas novamente, quem era eu para falar alguma coisa?




Depois que dormiu, senti minha barriga roncar e fui na cozinha, fazer um suco. Enquanto cortava o maracujá, eu começei a pensar em tudo que estava acontecendo. Era tão engraçado... eu, fazendo suco de maracujá, às três da manhã? Era sonho, mesmo.
Peguei uma garrafinha de Coca Cola que tinha levado para mim e liguei o laptop enquanto fazia hambúrguer. Quando tudo já estava pronto, sentei-me no chão e cruzei as pernas, assistindo os vídeos das câmeras de segurança da JYP.
- Imaginei que estivesse aqui. - sorriu sonolento, do portal do corredor.
- Não consegui dormir. Estava com fome. - respondi, enquanto ele se sentava ao meu lado. Ele ficava realmente uma graça com aquela camisa cinza, mas minha atenção estava voltada para o vídeo. - Você viu? - apontei. - A mão que Forip viu. - aproximei a imagem, mas não consegui ver mais que uma unha escura. Uma. Não era esmalte, porque esmalte seriam todos os dedos, e era estranho um só dedo. Bom, a não ser que a pessoa fosse que nem eu, tirasse esmalte das unhas e sempre deixasse uma, mas era pouco provável. - Essa pessoa tem um dedo ferrado. Fica bem mais fácil investigar assim.
- Com um dedo roxo? - deu uma dentada no meu hambúrguer! - Posso, não posso? - perguntou, ao verminha cara de desaprovação.
- Agora que já está todo mastigado, pronto para passar pelo seu esôfago, uma verdadeira bola esmagada e triturada de carne de vaca? - ele fez careta mas riu. - É muito mais fácil procurar alguém com um dedo de unha roxa de sangue pisado, , é um diferencial.
- Que nem quebrar lanternas e faróis de um carro para reconhecê-lo ao longe?
Suspirei, tomando um gole de Coca cola e meneando a cabeça. Ele não precisava me lembrar das piores broncas que eu havia levado.
2006, minha fase negra na polícia: estava tão irritada, estressada e p. da vida que quebrava os faróis e lanternas dos carros dos colegas, se eles me irritassem. Fiquei quinze dias suspensa para cada farol, sem contar que tive de pagá-los. Foram três. Mais um e eu seria afastada do cargo.
- É.
Voltei a olhar o "dedo roxo"; era o dedo indicador da mão direita do sequestrador, a mesma que tinha o provável machucado. E que todo mundo usava o protetor, como uma mania nova. Repito, seria melhor a pulseirinha de sexo.
Mas essa pessoa, em especial, tinha algo diferenciador:um dedo machucado. Então tudo o que eu tinha que fazer era vistoriar as unhas de todo o prédio da JYP e vizinhos até encontrar.
bocejou.
- Vai dormir, , eu termino de ver isso aqui. - comentei, sem tirar os olhos do laptop, aproximando a imagem o máximo que conseguia.
- ...
- Uhn?
- Olhe para mim. - ele disse e eu me virei. - Eu preciso te falar uma coisa.
- Fale. - percebi que o programa conseguia aproximar ao máximo a imagem, mas nenhum rosto, nada decabeça. Só antebraço e mão. Mão de dedos finos. Me virei para a tela, copiando a imagem e a salvando. - Fale, .
- Esquece.
- Pode falar!
- Você não está prestando atenção!
Virei-me para ele.
- Fale.
- Eu... - ele começou a me olhar de uma forma muito estranha. Eu via seu globo ocular percorrendo meu rosto em segundos, esquadrinhando tanto que eu me senti até meio sem graça. - Acho que... - ele apertou os olhos, abrindo-os logo em seguida. - acho que você deveria dormir, o dia promete ser bem cansativo.
- Ok?
- Quem deveria perguntar isso era eu, tolinha! - ele beijou meu nariz e se levantou, me esticando sua mão. - Você vem? - não respondi, então ele preferiu fechar o laptop e me puxar pela mão. Logo em seguida, me puxou para perto de si, colocando as mãos na minha cintura. - Você precisa dormir, não quero você cansada, mais tarde.
- Não vou ficar cansada. - respondi. Ergui uma sobrancelha, me sentindo injustiçada. Fiz círculos em sua camiseta. - Aliás, nem tem motivo...
- Você quer motivos?
- Você quer me dar motivos?
- Talvez eu queira!

Era sete e meia quando ouvi a chave na fechadura. terminava de arrumar a bagunça que eu tinha deixado na cozinha quando a porta se abriu devagar. entrou pé ante pé, como uma adolescente chegando de manhã em casa. Troquei um olhar com , que concordou com a cabeça; hora do susto. Nos escondemos perto do balcão da cozinha e observamos. olhava no corredor, tinha os saltos nas mãos. Provavelmente pensando que não iria ser pêga, começou a ir até seu quarto. Acho que ela não lembrava que era maior de idade.
- Isso são horas de se chegar em casa? - cruzei os braços, no maior dos estilos "mãe durona" e só faltou cair no chão de tanto susto.
- Está de castigo, mocinha! - secundou, enquanto colocava a mão no peito.
- Vocês querem me matar do coração?
- Esse era o propósito! - ele riu. suspirou, adotando outro ar, desta vez, cansado e entediado.
- Bom dia, mãe. Bom dia, pai!
me abraçou.
- Bom dia, filhinha, como foi a noitada?
Rimos os três. esticou um pouco o braço, anunciando que iria terminar de chegar. Enquanto eu balançava a cabeça e me virava para terminar de secar a louça, me abraçou por trás, de forma carinhosa.
- Que houve, ?
- Posso te chamar de "mãe" também?
- Você dorme com a sua mãe?
- Não?
- Então fica a seu critério. Gracinha!
Acabei rindo da minha sentença, mas não parecia muito feliz. Normalmente ele iria rir e me chamar de boba, mas ele estava sério. Iria perguntar, quando o levasse para o prédio da SM.
Mas não adiantou muito, porque ele não respondeu e não falou nada durante a viagem inteira. Eu só tinha certeza de alguma coisa: estava estranho demais.

Você deve estar se perguntando, se chegou àquela hora em casa, que horas chegaria no "trabalho", não? Eu te respondo, era dia de domingo. Sei que não existe muita diferença, Domingo's existem e muitas pessoas trabalham. Mas este, em especial, era dia de folga para todos. Os meninos e meninas que trabalhavam com o 2PM. Pelo menos para nós a situação era ainda melhor; eles ainda teriam um programa para gravar. Um tal de "Star Golden Bell" pela manhã, seja lá o que for isso, tarde e noite livres. Que fosse, também. Dirigi até o mercado mais próximo; decidi que iria fazer o almoço. só ia acordar por volta das quatro da tarde, e eu não estava com muita vontade de cozinhar.
Só que, quando cheguei ao mercado, meu pensamento mudou. Para que comprar coisas, passar horas na frente do fogão, quando se existia comida por telefone!? Comprei apenas o essencial: Coca Cola, cerveja e biscoito de chocolate. Morrer de fome eu não iria.
Voltei para casa, pensando nos vídeos que tinha visto. provavelmente já estaria babando no travesseiro, eu teria mais um tempo (e trabalho dobrado) revendo aquelas fitas.
E foi exatamente o que eu fiz, das oito da manhã a, mais ou menos, meio dia. Via, voltava, printava, rebobinava, pausava, tomava notas. Eu sou muito observadora, confesso, mas nada ali mudava muito de contexto. Uma munhequeira escura, um dedo roxo, só. Nada de cabelo, brinco, franja, nada. Logo,meus super poderes de ninja não iriam funcionar.
Mordia um rolinho primavera, revendo o vídeo no laptop quando meu celular tocou. Estranhei, afinal, só quem tem meu número é , , Brown, Forip, Jessica (infelizmente), e o pessoal da policia, e eu não conhecia aquele número. Mas era minha linha pessoal.
- Alô?
- Olá, como vai, irmãzinha? - olhei para o celular, preocupada. Irmãzinha?
- ?
- Não, a nossa avô, vestida de Mulher Maravilha! Claro que sou eu! - ela riu. - Lembrou agora ou quer que eu desenhe?
Fiquei sem ação.

Outra pausa, desta vez, para falar da minha família. Eu não queria ter que tocar nesse assunto, mas é preciso. Senão, você nunca vai entender por quê eu vim parar do outro lado do mundo.
Meu pai conheceu minha mãe quando ela tinha vinte e quatro anos e ele, vinte e nove, em um supermercado. Em uma discussão por causa do famoso "fique aí, vamos ver qual fila anda primeiro". Papai estava com Gabriel, o filho de outro casamento (ele era divorciado), na outra fila, Gabe tinha sete anos. Aconteceu que a fila que ele estava "andou" mais rápido e papai foi até ele, com o carrinho cheio, passando na frente da minha mãe. Ela ficou possessa, ameaçou processá-lo, etc, etc. Três meses depois, se casaram em uma cerimônia hippie na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro, sem contar a cerimônia simbólica no maldito mercado.
Um ano depois, eu nasci, para completo desagrado de Gabriel, que até então com oito anos, começava a amadurecer antes do tempo, porque, eu confesso, era um pé no saco e chorava o dia inteiro. Por várias vezes, ele cantava e dançava as músicas do Jaspion para mim; até porque só assim eu parava de chorar, e era até engraçado. Ele se sentia mesmo o Jaspion e, quando eu tinha dois anos, ele caiu de cima da mesa e quebrou o braço. Dali em diante, Gabriel resolveu seguir a carreira da família: Fisioterapia.
Quando eu tinha quatro anos, nasceu e, para alívio de Gabriel, ela era um anjo. Assim que nasceu, só chorou para avisar que estava viva e depois se calou, talvez por educação. Só conheci outra pessoa tão educada quanto ela: Siwon, amigo de , mas ele não vem ao caso agora.
Eu era uma adolescente meio rebelde; aos doze anos eu já bebia e por várias vezes meu irmão mais velho precisava me buscar nas festinhas da escola. Em uma dessas vezes, vomitei nele e, almofadinha que era, perdeu o controle do carro enquanto olhava para o estrago em sua calça jeans novinha, e sofremos um acidente. Eu sobrevivi, com ferimentos leves e arranhões. Gabriel foi parar na UTI, vindo a falecer no mês seguinte.
Lembro que o rebuliço foi tão grande, mas tão grande, que, pela primeira vez em quase treze anos de vida, minha mãe me bateu. Aquilo foi a gota d'água. Não os tabefes em si, mas o que ela me dizia: eu tinha matado Gabriel, que eu não prestava, que seria melhor que eu tivesse morrido, e por aí vai. só chorava, assustada, e, então, quando eu tinha catorze anos, uma tia minha, já falecida, me perguntou o que eu queria de aniversário (no Brasil é comum se fazer grandes festas de quinze anos, vestidos esvoaçantes, valsa e tudo). Depois de dizer "não" a uma caixa de conhaque e vodca, pedi uma viagem de intercâmbio para o Japão.
Tia Lucélia me sustentou no Japão até os dezoito anos, totalmente escondida de meus pais. Eles não me ligavam, então eu não ligaria para eles. Rebeldias a parte, a única pessoa que eu realmente me importava (tirando minha tia) era . Ela era uma graça e, desde que eu fora morar no Japão, nos vimos quatro vezes; ela crescia visivelmente e, aos dezesseis, deixou de me ligar regularmente. Não a condenei, era a idade.
Da última vez que ela ligou, era para falar que papai (ou alguém que até anos antes eu chamaria de pai) havia falecido enquanto operava uma perna quebrada, na semana anterior. Ataque cardíaco. Não fui no enterro. Tinha acabado de entrar na polícia e não podia abandonar o treinamento. Ok, eu poderia falar o que tinha acontecido, mas eu guardo mágoas.
Sinceramente, não falava com havia uns dez meses. Por isso a surpresa de sua ligação.

Agora você já sabe da minha adorável vida familiar. Continuemos a estória.

- Quem morreu desta vez?
- Ninguém morreu, ! Que horror!
- Você só me liga para anunciar morte!
- Desta vez é totalmente o contrário!
- Ah, meu Deus, quem engravidou você? - ela gargalhou, mas eu, não.
- Eu não estou grávida, sua anta! - já falei dos apelidos carinhosos que dividimos? Coisas como "anta","vaca", "vagabunda","piranha", etc? - O que fará mês que vem?
- Mês que vem?
- Seu aniversário! - ah, sim, meu aniversário. Nem lembrava mais dele, aliás, eu preferia nunca lembrar dele.
- Acho que vou estar trabalhando.
- Você não vai trabalhar! Eu estou indo para a Coréia do Sul mês que vem e quero te ver!
- Como sabe que eu estou na Coréia do Sul?
Ela riu.
- Eu tenho minhas fontes! - rolei os olhos. -Falando em fonte, cadê minha fonte?
- Chegou em casa às sete da manhã e está entregue à babação travesseiral. - mordi outro pedaço de rolinho primavera. - Me avise quando estiver aqui, eu vou até o aeroporto te buscar.
- Claro que aviso! - ela riu. - Certo, preciso desligar, acabei de chegar em casa e estou morrendo de sono.
- Ah, , traga feijão, sinto saudades de comer feijão. - verdade. - Traga bombons também.
- Não se preocupe, "shijie", eu estou fazendo uma maleta de coisinhas pra você.
- Você voltou às aulas de mandarim? - perguntei. Ela sorriu, eu percebi.
- Mais ou menos. Preciso desligar, até mês que vem.
- Certo. Tchau.
Desliguei o telefone e fiquei rindo. era totalmente o contrário de mim: dócil, simpática, bonitinha (lembra-se do imponente?), meio carente e prendada.

Sei que deve estar cansada desse papo sobre minha família, mas eu precisava falar sobre, antes que tivesse de contar outra hora e complicar sua cabeçinha.

Era duas da tarde quando resolvi dar uma volta. não acordaria tão cedo, estava trabalhando, Forip e Brown, eu não fazia idéia. E Jessica, não queria nem lembrar.
Quando resolvi sair, me deparei com Forip parada do outro lado. Ela ia tocar a campainha justo na hora que eu abri a porta e a convidei para ir comigo.
- Está muito frio lá fora! - riu, entrando. Certo, meu passeio poderia esperar mais um pouco. Fechei a porta e disse para ela se sentar. - Eu vim... conversar com você.
- Quer alguma coisa? Refrigerante, Coca Cola... - ela me olhou com o típico olhar de "este é o primeiro aviso". - Eu sei, eu estou tentando parar!
- Prefiro um chá.
Chá...chá...
- Certo... eu não sei, mas deve ter. - abri o armário. - adora chá. Diz que chá tira todo o desejo, tem certeza de que quer? - rimos as duas, enquanto eu colocava água numa xícara.
- Quero!
Enquanto a água esquentava, nos sentamos no sofá. Eu não sabia como começar a falar, e imagino que ela também. Primeiro porque ela era terrivelmente tímida, e segundo porque eu tinha pêgo Brown e ela em uma situação bem constrangedora. Ela sorriu incerta, pus a mãoem sua perna e disse que ela não precisava ter vergonha de falar comigo. Eu aparento ser muito grossa e anti social, mas eu tenho uma qualidade única: eu escuto as pessoas como ninguém mais.
Forip começou a falar. Disse que tinha acontecido de repente o "acontecimento". Ela e Brown ficavam juntos às vezes, como e eu, mas, contrários a nós, eles agiam mais como namorados do que "uma noite apenas". Eu já tinha reparado, mas ninguém mais havia, a ponto de comentar. talvez, mas ele nunca passou do "Eles estão namorando?", até porque agíamos como grande família no bar de Sang Jin.
Ela disse também que eles estavam vendo os vídeos pela décima vez em menos de uma hora e que estavam cansados e zonzos por causa da repetição. E que tinha acontecido naturalmente. Neste ponto, Forip chorou.
- Você não precisa se explicar para mim. - comentei, ao abraçá-la. - Eu não sou ninguém para julgá-la, essas coisas nem possuem explicação.
- Eu me sinto envergonhada, porque - ela engoliu o choro. - você é minha inspiração, . Você e Jessica, se eu entrei para a polícia, no mesmo caso que vocês, foi porque eu queria aprender com vocês!
- Acho que se tivesse sido Jessica e não eu, Forip, agiria da mesma forma. - ri. - Nós nos odiamos, como pode se basear em nós?
Ela sorriu.
- Aliás, se alguém aqui deveria ser exemplo é você, por sempre parar nossas discussões. - ela abaixou a cabeça. - Se você não segurasse minha mão sempre, com certeza já teria batido em Jessica.
- Vocês duas são especiais demais para mim, . e também, mas vocês duas são... meus pontos de referência. Minhas ídolas. E agradeço muito mesmo por participar desse caso com vocês. - sorri. - Mas é que... eu sinto que eu decepcionei você, sabe? Vocês pensavam que eu estava fazendo uma coisa e estava fazendo outra.
Ela voltou a chorar, mas, desta vez, muito mais que antes. Abracei Forip e passei a mão sobre seus cabelos.
- Não deveria se preocupar com isso, Forip, de verdade. Eu que vi. E eu guardo segredo! De mim, ninguém vai saber de nada! - ela me olhou, seus olhos estavam vermelhos. - Prometo.
- Por isso admiro você. Quase sempre - adorei essa ênfase. - pensando pelo lado positivo, bacana, inteligente...
- Que isso, Forip! - ri sem graça.
- Admiro muito você. De verdade. Se um dia eu crescer profissionalmente, quero ser igual a você. E a Jessica.
Certo, meu ego estava lá em cima.
- Está tão mais interessada no caso do que eu. - ela disse mais baixo, meio que se recriminando. - Só sei rir em hora errada, dormir com meu parceiro e comer donuts.
- Você quem descobriu aquela munhequeira, não foi? - sorri. - Não foi eu, Jessica, ...foi você! Você é maravilhosa, Forip. Não se rebaixe tanto, erga essa cabeça e sai chutando umas portas, é assim que a vida é!
Ela sorriu de forma mais corajosa quando a chaleira apitou, avisando que a água já estava fervendo. Forip se levantou e pegou o casaco, se despedindo. Perguntei se não iria querer tomar o chá, mas ela disse que precisava rever as novas fitas que tinham chegado no DP.
Desliguei o fogão e descemos juntas; quando chegamos no hall, nos despedimos e ela me abraçou. Foi um abraço meio estranho, senti um arrepio. Mas preferia pensar que era o vento frio que estava balançando as folhas das árvores.

Eu precisava andar, sentir o frio me arrepiando os pêlos do rosto. Cheguei no parque rápido e começei a caminhar me encolhendo. Algumas pessoas, muito mais corajosas, corriam nas margens do Rio Han, que cortava a capital sul coreana, enquanto outras, como eu, estavam cobertas de casacos. Certo, eu não estava tão cheia de casacos, mas o suficiente para que eu estivesse quente.
Começei a pensar na minha vida. Uma das mais novas graduadas na academia de polícia com vinte anos, reconhecida por todo o Japão,"ídola" de Forip. Não falava com a mãe havia mais de seis anos, falava pouco com a irmã mais nova, completamente sem referência amorosa. Uma mulher que dormia com o parceiro sempre que ambos sentiam vontade, viciada em Coca Cola, bebia e fumava ocasionalmente.
Aquela não era a vida que eu tinha sonhado, quando tinha dez anos e descobria o mundo. Talvez sim quanto a realização profissional, mas não quanto ao pessoal. Era uma bagunça sem tamanho.
- Alô? - atendi o celular, enquanto parava de pensar nos meus defeitos.
- Ela atravessa o cruzamento entre bicicletas e pedestres da praça, perto da árvore mais alta. - aquela voz não me era estranha.
- ? - perguntei.
- Usa um casaco preto e longo até abaixo dos joelhos, uma calça jeans preta, uma bota preta. A "Dama de Preto". Se protege do vento frio que sopra se encolhendo, enquanto um homem magricela, com short azul e blusa cinza, passa por ela. - olhei para trás, mas não via ninguém. - Curiosa, olha em volta, procurando alguém com um telefone, ou talvez apenas para saber quem está por perto. Uma moça precavida? Não sei, talvez seja.
Começei a andar rápido em direção ao prédio da KBS, sem saber realmente para onde ia. O vento gelado batia nas minhas bochechas, deixando-as um pouco vermelhas.
- Ansiosa, começa a correr em direção ao prédio de uma famosa rede de televisão, mas espera, esse é o prédio da rádio, não da televisão! - ele estava começando a me deixar nervosa. Olhava em volta, mas ninguém parecia estar com um celular. Ou ele era um fantasma ou era um Super Homem, com sua visão de raio X. - Ainda ansiosa, olha em volta, até que percebe - uma mão tocou meu ombro e eu vi atrás de mim. Tinha um celular nas mãos e sorria enquanto falava. -que nem sempre quem você quer ver está na sua frente, e sim nas suas costas. - ele tirou o celular das minhas mãos e pôs dentro de seu bolso, como o dele. - Oi.
- Oi.
- Vem sempre aqui? - ri.
- Tente outra vez.
- Certo, vamos tentar outra vez. Você gostaria de ir lá em casa? Estamos fazendo um campeonato de videogame.
- Que jogos?
- São várias tipos.
- Repito, que jogos? - ele sorriu.
- De videogame antigo.
- Então eu participo. Vai ter Space Invaders?
- Vai!
- Então agora quero ir!
lançou-me um sorriso incrivelmente bonito, enlaçando nossos braços. Eu me sentia incapaz de fazer ou pensar qualquer coisa ruim sobre ele, e isso era estranho. Meu senso crítico, minha "visão de raio X", minha intuição, tudo ficava debaixo de meus pés quando ele estava por perto.
E isso era preocupante.

Chegamos no apartamento deles. Estava completamente bagunçado, era camiseta em cima do sofá, tinha louça na pia, e eles gritavam. Não tinha sido uma idéia muito inteligente de colocar sete rapazes bonitos, bagunceiros e escandalosos juntos, dividindo o mesmo apartamento. Como se não fosse o bastante, tinha mais quatro rapazes por lá; logo aprenderia que esses quatro eram parte de uma outra boyband, o 2AM, e que os dois juntos resultava no "One Day".
Tentei não reparar, mas muitos deles estavam com regatas, porque dentro do apartamento fazia calor, e estava sem camisa. Se estivesse acordada, com certeza estaria comigo e estaria infartando; porque eles eram muito bonitos.
- A convidada de honra chegou! - me abraçou, o que achei bem estranho. puxou-me pela mão, me abraçando também, até que mandou que todos sumissem, porque eu era convidada de honra dele. fez bico, mas não prestei muita atenção.
Fui apresentada a JoKwon, Changmin, SeulOng e JinWoon. São rapazes únicos, engraçados e super educados. E escandalosos. Assim que tivesse oportunidade, iria conversar sobre Jay com eles.
Jogamos de tudo um pouco. Era péssima com o tal "Wii", principalmente quanto a Tênis. Competir com não era uma resolução muito certa. Mas nem acreditei quando venci todos no Beisebol e no Space Invaders. E em todos os jogos do Super Mario. E no pebolim (totó, como queira). E no Donkey King. De certa forma, eu era boa jogando videogame, mas não batia o rei em Street Fighter.
No total, foram dez "lutas" entre nossos bonecos, até que meu dedo começou a ficar doendo e eu resolvi perder. Jokwon dormia no braço do sofá, enquanto os outros jogavam pebolim; já era nove e meia da noite.
- Ei, hora de ir para casa. - Changmin cutucou Jokwon, acordando-o. Ele olhou para os lados e puxou JiWoon pela camisa, arrastando-o até a porta.
Depois que os meninos (sim, meninos. Depois do que eu havia visto naquela tarde, meninos.) se foram, um a um os rapazes do 2PM foram para seus quartos. me abraçou fortemente, dizendo a que me levasse para casa e não para o motel. Ri, apertando sua bochecha e beijando-a depois. disse que dormiria mais feliz e o expulsou com chutes no bumbum.
- O frio diminuiu.
O que queria dizer isso, eu não sabia. Mas no minuto seguinte descobri. pegou uma cerveja para mim e outra para ele, e fomos para a varanda. O céu estava escuro, sem estrelas, e não estava menos frio. Ficamos em silêncio um bom tempo, curtindo a presença do outro. Tomando cerveja no telhado.
- Você está estranho. - não estava mentindo. Depois que me encontrou no parque, parecia distante, sério, irritado. Não era o olhar de ciúmes que certas pessoas possuem, algumas ficam irritadas e chateadas com isso. Era como seele estivesse realmente irritado com alguma coisa bem séria, não era ele. Dava medo!
- Estranho?
- Ficou sério de repente, está chateado? - tentei amenizar a situação. - Está irritado porque venci você no Donkey King?
Ele não respondeu. Ficou quieto por um momento e tomou um gole de cerveja. Achei uma graça o dedo mindinho esticado na garrafa.
- Não. - disse de repente, me assustando com aquele "não". - Desculpe, eu estava pensando em algumas coisas e devo ter aparentado estar irritado. - não me convenceu... - Espero que Jay hyung esteja bem... - comentou baixo, mas então olhou para mim e sorriu. - Você não é coreana, Sang Wook sshi.
- Não sou, mesmo. Sou brasileira.
- Como é seu nome? Sang Wook é um nome coreano. - ele sorria da mesma forma de antes.
Pronto, estava ferrada.
- . - menti. Quais eram as chances de ele descobrir que meu nome não era ? Afinal de contas, não estava com nenhum documento a mão, e ele parecia ser do tipo de pessoa que esquecia as coisas rápido.
- Tem algum significado, em português? - perguntou, curioso.
- Olha, - cocei a cabeça. - eu não sei muito bem, não. - tomei um gole de cerveja. - Quem precisa de significado de nomes, né?
Rimos os dois, terminando nossas cervejas. Era realmente bonito e até romântico tomar cerveja no telhado, mas quando o frio começou a se intensificar, não achamos que era tão romântico assim.

parou em frente ao prédio, meia hora depois. O carro estava bem quente, ia ser um horror sair para aquele frio novamente. Sorri ao desejar boa noite, mas ele puxou minha mão esquerda e me deu um beijo, colocando a mão no meu rosto. Como se fosse a última vez que iríamos nos ver.
- Tudo bem, ? - perguntei. - Parece preocupado.
- Não aconteceu nada. - ele disse, ainda perto de mim. - É só para constatar que eu gosto muito de você. - ele me olhou nos olhos.
Eu me senti sem graça novamente. Era muito estranho isso tudo, aliás, tudo estava sendo estranho desde que o mês de Abril tinha começado. Desde que aquela coisa toda tinha começado. Engoli em seco, eu não sabia o que responder para ele.
- Eu também gosto de você. - ele sorriu. Estiquei o braço e abri a porta, saindo do carro sorridente. Fazia cócegas no estômago e meu coração pulava um pouco. Talvez fosse como e diziam e Jessica fazia coro, eu estava me tornando "humana".
Subi até meu andar tirando as luvas e mordendo os lábios. Definitivamente era o Rapaz Arco Íris.
Gritei por quando entrei, mas logo vi seu bilhete. Tinha ido ao DP e não sabia que horas iria voltar. Finalmente " " saía de sua cabeça e ela voltava a ser mais responsável. Quanto a mim, eu não poderia dizer.
- Alô? - era a terceira vez que alguém me ligava no mesmo dia. Estava começando a desconfiar mas ainda assim não conseguia parar de sentir as borboletas brincando de "pique pega" no meu estômago e parar o sorriso que meus lábios insistiam em criar.
- , sabe da Forip? - era Brown do outro lado. Ele parecia realmente desesperado. - Ela tinha que estar aqui há uma hora e até agora nada!
- Já tentou ligar para o celular dela?
- Ela não me atende! Eu estou preocupado, muito preocupado de verdade!
- Calma, calma, ela deve ter encontrado alguma amiga, sei lá! - começei a me preocupar quando percebi um envelope verde que eu nunca tinha visto na vida. Tirei o papel que estava dentro, enquanto Brown me falava que Forip nunca desaparecia daquela forma, do nada.

Menininha curiosa,
Te espero nos fundos do clube de tênis de Gyeonggi .
Não se atrase.
Ou então era uma vez Jay Park.


Logo embaixo vinha a letra de Forip.

Desculpe, .


Merda!
- Ela foi para um clube de tênis de Gyeonggi! - gritei. - Me encontra lá!
Desliguei o telefone e fui correndo pelas escadas, colocando o casaco e as botas no meio do caminho. Quase caí nas escadas, mas era melhor que esperar pelo elevador.

Dirigi até Gyeonggi a quase cem por hora, estava muito preocupada. Com certeza quem tinha mandado o bilhete anterior tinha fugido do jardim de infância, porque eram letras recortadas de jornal. Algo bem complicadinho aliás, porque as sílabas coreanas são feitas com "combinações" de traços, não são letras romanizadas, como em português.
Tirei o cinto com pressa e corri até os fundos do clube de tênis. Estava bastante escuro e frio, e eu não sabia muito bem para onde ir. Vi o carro de Jessica parando atrás do meu, mas continuei correndo. Se alguma coisa acontecesse a Forip, eu nunca me perdoaria.
Estava deixando meu trabalho de lado por um cara, Forip conseguia dividir isso mais do que eu. Bom, eu também estava com um cara do trabalho, se esse fosse o problema, mas não era hora de pensar nisso.
Pulei uma mureta e me escondi atrás de outra. Estava em uma das várias quadras, e, andando como um bebê, consegui entrar no bar do clube. Cautelosamente tirei minha arma da cintura e a segurei perto do rosto.
Ouvia um barulho de pés correndo e resolvi entrar de vez. Não sabia como os outros estavam se saindo, mas eu não me importava com isso.
Foi quando abri a porta e ouvi o barulho de outra batendo. Ele estava fugindo. Ia correr atrás, mas uma visão acabou com minha ação: Forip estava no chão. Tinha uma faca enterrada no peito, entre os seios, e sangrava muito. Havia sangue por todos os lados, e estava muito claro que, se não chegasse um socorro urgente, ela iria bater as botas.
- Manda uma ambulância, rápido! - gritei no rádio. - Forip, por favor, aguenta só mais alguns segundos, eles já estão vindo! - disse, enquanto minha companheira estribuchava no chão.
Olhava para o alto ou para mim, não sei, os olhos vidrados, enquanto seu peito subia e descia enquanto perdia sangue. Queria muito tirar aquela faca de seu peito, mas era impossível, iria piorar. As lágrimas vinham aos meus olhos, ela estava morrendo. Morrendo e diante dos meus olhos!
Então, ela parou. Parou de agonizar, de se mexer. Passei a mão em seus cabelos escuros, meu queixo tremia. Me permiti que cair ao seu lado, sentada, pois até então estava de joelhos. Passei a mão nos meus cabelos, sujando-os um pouco com o sangue de minha amiga. Com a mesma, pus a mão na boca, tapando-a; não conseguia prender mais o choro.
E, pela primeira vez em anos, chorei.
Jessica foi a primeira a chegar. Olhou para mim e depois para Forip. Abaixou a arma, colocando-a na cintura.
- Eu tentei, eu juro que tentei! - falei, zonza. Jessica pôs a mão na boca, chocada. A visão era horrível, havia sangue por todos os lados. Ao redor de Forip, no chão azul escuro do carpete, em minhas roupas. - Eu tentei, eu tentei!
e vieram logo em seguida. repetiu o gesto de Jessica, dando meia volta e saindo da cozinha. não precisou falar nada; saiu correndo, achava que o culpado ainda deveria estar por perto. De certa forma, continuava comigo a Jessica.
Eu tremia. Chorava. Estava arrasada.
- Vá para casa. Eu cuido disso.
Pela primeira vez em anos, eu ouvi Jessica. Ela tinha um jeito nada.. agradável de me pedir as coisas, e eu nunca fazia. Mas, dessa vez, resolvi ouví-la. Por mais que eu quisesse, não conseguia me mexer. Só conseguia encarar o corpo ensanguentado de Forip na minha frente. A faca ainda estava enterrada em seu peito, e isso fazia com que meu estômago se revirasse aos poucos. Tinha vontade de chorar mais. Mas eu não chorava a toa, como muitas menininhas que nunca viram sangue e gente morta. Trabalhando na polícia, você vê mais corpos que o normal.
- , - Jessica se levantou, depois de cobrir o corpo da nossa amiga de equipe com um saco preto. Pôs as mãos em meus ombros, adotando outro tom, mais calmo. - vai pra casa. Tome um banho, peça uma pizza.
- Certo. - consegui dizer com a voz embargada. Engoli o choro que insistia em querer subir para meus olhos mais uma vez. Ou talvez o vômito que insistia em subir pelo meu esôfago.
Deixei Jessica cuidando de Forip. Mesmo não querendo. Forip era nosso ponto de equilíbrio.
Entreguei um cinto de perna para Kim, o policial local, e fui gastar ruas.

Como um relógio, acordei exatamente às sete da manhã. Abri os olhos bem rápido. Sabia que tinha que trabalhar, e agora, esse filho da mãe iria se arrepender de ter nascido. E ainda precisava encontrar Jay.
- Se sente melhor? - me perguntou, se esticando na minha cama.
Não respondi de imediato.
- Bem o bastante para acabar com esse maldito!
se levantou e colocou as mãos em meus ombros. Ainda fazia questão de não olhar para ele, não tinha muita coragem. Tinha acontecido de novo. Fui para um bar, bebi. Muito bêbada para voltar para o apartamento, me achou. Pelo menos era ele, não um qualquer.
- Você está ficando paranóica com isso! Precisa parar!
- FORIP ESTÁ MORTA!! - gritei. - Como quer que eu me acalme!? - respirei fundo. Não deveria gritar com ele, só estava tentando me ajudar! - Desculpe.
- Tudo bem. - ele soltou um sorriso simpático e compreensivo, fazendo um carinho em meu braço. Meu queixo tremia levemente e eu sentia que as lágrimas, antes controladas, vinham para meus olhos e caíam em seu pulso. - Eu estou preocupado com você. De verdade.
- A Forip está morta! - comentei, entre lágrimas. - Quem garante que Jay também não esteja?
- Não está. - ele engoliu em seco, mais sério. - Só quero que você fique bem, está muito estressada!
- Deveria estar preocupado em pelo menos usar uma cueca! - brinquei, olhando para baixo. deu um sorrisinho arteiro.
- É porque achei que poderia te deixar um pouco mais... relaxada. - comentou, me abraçando. Estava na cara que era uma brincadeira.
- , não é hora disso. Precisamos ir trabalhar.
- É, eu sei. - ele suspirou. - Que pena. Estava realmente interessado.
- Você é um rapaz pervertido! - ri, secando minhas lágrimas. Ele fez uma expressão engraçada, como um coelhinho mexendo o nariz e me pediu para esperá-lo.
Enquanto tomava banho, liguei a televisão e vi um episódio inteiro daquele antigo desenho, Doug. Enquanto Doug colocava uma cueca na cabeça e virava o "Homem Codorna" ou o que fosse, pensava naquele caso. Tinha de ter mais alguma coisa naquelas fitas de vigilância... não era possível! O sequestrador tinha que ter deixado alguma pista! A não ser que ele fosse um policial e soubesse não deixar pistas. Ainda assim, era impossível. Pistas, por mais que se cuide para não deixá-las, são identificáveis. E eu precisava voltar minha atenção ao caso novamente. Tinha abandonado o mesmo por pouco tempo e Forip havia... ela...
Eu não queria que acontecesse de novo.
Minutos depois, entrávamos na delegacia. Jessica tinha algumas olheiras de quem havia chorado, mas tinha tentado cobrí-las com maquiagem. Brown não estava por lá, pelo visto. Sabia que ele e Forip tinham um relacionamento escondido. E era firme, não era coisa de momento (e bebida), como eu e .
Enquanto abraçava Jessica (e me deixava enjoada), saí a procura de uma Coca Cola. Seria a única coisa que me tiraria o reviramento estomacal, e continha cafeína, iria me deixar ativa pelo menos por meia hora.
Inseri minha moeda e esperei. Esperei. E nada de cair a minha latinha. Esmurrei a máquina, mas nem assim. Uma mão vinda da esquerda esmurrou a máquina em um lugar específico, entre a letra "C'" e a letra "O", e então obtive minha latinha.
- Obrigada. - agradeci a uma garota. Devia ser mais velha que eu uns dois anos, tinha um pouco de cara de má. Suas unhas eram pintadas de verde musgo e o cinto ficava muito bem em sua cintura. - ?
- Em carne, osso, plasma e - ela tirou a identificação. - policial.
Ri. Não consegui mais me segurar e abracei-a forte. Tínhamos estudado na Academia de Polícia, anos antes, até ela ser transferida para outra escola, no Japão. Mas continuava brasileira. Tinha sotaque, mas nada tira a "brasilidade" de um nativo.
- O que faz aqui? - ela perguntou-me.
- Jay Park. - ela fez cara de entendida. - E você?
- Bem, eu... - ela não pôde continuar porque o chefe nos chamara.
Fomos até seu escritório: Brown (que tinha aparecido), , eu, Jessica, e . Estranhei um pouco, mas não iria reclamar.
- Infelizmente, ontem perdemos uma parte da equipe. - lancei um olhar a Brown, que tentava não chorar. Jessica secou uma lágrima do canto do olho e apertou-lhe a mão. Eu respirei fundo. Não estava gostando nem um pouco... - Forip voltará para a Tailândia, onde será devidamente... ahn... - percebi que até o capitão tinha um certo receio com determinadas palavras. Apesar de a polícia nos dar escudos para diversas situações, nada consegue deter os sentimentos de um ser humano. - Devidamente cremada e enterrada. - engoli em seco, olhando para meus sapatos, sujos de lama. Lembrei de que tinha roupa ensanguentada no meu apartamento. - Nada nem ninguém substituirá Forip, mas precisamos continuar com o trabalho. Por isso, chamei para a equipe. - ergui a cabeça para minha amiga, que tinha as mãos nas costas e parecia imponente. E talvez realmente fosse. Era a garota mais durona, sentimentalmente falando, da academia. - Ela é da unidade de Nagoya, e aceitou vir trabalhar com vocês. Espero que tratem-na bem.
- Obrigada pela apresentação, capitão. - ela se manifestou. Sorri.
- Estudei com na academia. Vai ser muito bom trabalhar com uma antiga companheira de dormitório! - sorrimos todos.
- E também gostaria de dizer, - o capitão prosseguiu. - que Brown está nos deixando. - já esperava essa reação imediata do mesmo. Era questão de tempo. Só não achava que fosse tão cedo. - Tivemos uma longa conversa. Ele prefere voltar para Xangai.
- Peço desculpas à vocês, que me aceitaram na equipe mesmo sabendo... meus pontos fracos. - ele olhou para mim. Talvez por desconfiar que eu soubesse de tudo. E não precisava desconfiar, porque eu vi e meus olhos tem o poder de tirar fotos e gravá-las na minha memória. - Fiz uma recomendação ao capitão. Espero que vocês entendam meus sentimentos.
- Vai ser muito chato não ter você na equipe, Brown. - Jessica suspirou. - Mas acho que falo por todos quando digo que nós o entendemos. De coração.
- Peça para que ele entre.
A porta se abriu e entrou um rapaz alto, forte e seus cabelos castanhos caíam-lhe pelos olhos. Seu porte físico era impressionante, assim como sua voz. Ele não precisou nem abrir a boca para falar. Eu sabia.
- Pessoal, quero que conheçam , o novo membro da equipe de vocês.
Foi como eu disse. Há policiais escondidos em todos os pequenos cantos.

Você me pergunta, sendo membro do Dong Bang Shin Ki, a boyband mais famosa da Coréia do Sul e da Ásia, como ele teria tempo para pertencer a uma carreira tão ocupada?
E eu respondo: Segredo existe e é protegido mediante contratos. poderia ser cantor, ator, comediante, qualquer coisa. Ele é policial, é segurança. Com a atual situação do grupo, ele resolveu se desligar um pouco da profissão de cantor e, apesar de fazer outras coisas, aceitou integrar a equipe.
Pelo visto, só eu não trabalhava no ramo do entretenimento. Mas não ligava. Não tenho talento para cantar, nem atuar nem de ser apresentadora de programas de variedades. Policial nasci, policial morrerei.




Ainda naquela manhã, revi os arquivos de Jay com e , que ainda estava por fora de muitas informações, enquanto , e Jessica faziam qualquer outra coisa. Sinceramente, eu não estava gostando muito de ver Jessica e juntos, mas não podia fazer nem falar nada.
- Mas o que tem feito nesse tempo que tem livre? - perguntou horas depois, enquanto nós tomávamos um suco (ok, ela bebia suco e eu bebia "Corrosivo Estomacal"). Estávamos a sós, logo, eu me sentia muito mais a vontade.
- Nada de interessante. - mexi na minha bebida com o canudo. - Você sabe, trabalho é minha vida.
- Você ainda está com a mania de que a polícia é a sua vida? - ela mordeu o sanduíche, fiz bico. poderia aparentar ser grossa, durona ou o que quer que fosse, mas ela me conhecia como ninguém. Ela sabia quando eu estava mentindo, quando estava falando a verdade, quando eu sentia dor, quando eu queria alguma coisa; era como se ela me visse nascendo.
- Não é mania.
- Sei. - comentou ela, mastigando devagar e erguendo uma sobrancelha para mim. - te ligou?
- Como sabe disso?
- Acertei?
- Ela ligou pra você?
- Não. Você sempre fica meio perdida quando ela liga. - era verdade. Me recostei na cadeira e mexi minha bebida. - , você ainda está com aqueles problemas? Quando vai conversar com a sua mãe?
- Que tal no dia de São Nunca? - rolou os olhos. - Não vou falar com uma pessoa que disse que preferia que a filha dela tivesse morrido invés do enteado, nada contra o Gabriel, que Ele o tenha? - ela limpou a boca, tomando um gole de suco. - Desculpe, mas a é meu único vínculo familiar.
- Ok, ok, não falaremos mais sobre isso. - ela se protegeu. - E ? - ela deu um sorriso arteiro. - Percebi como ele olha para você, ainda "acontece"?
Ri sem graça.
- Acontece. Estranhamente têm acontecido com mais frequência. E não só quando bebo.
- Mas têm acontecido?
- Sim. - rimos. - E ? Ele pode ser o "outro cara famoso", mas até que é bonito.
- ? - ela ergueu o lábio, desdenhosa. - Aquele grosso? Sim, porque ele foi super grosso comigo. Acredita que ele esbarrou em mim, derramou corretivo no meu trabalho e nem se desculpou? - acabei rindo. - Se esse é o "Korean Way", prefiro muito mais o Japão, obrigada.
- Podemos ir? - me levantei, pretendendo ir pagar a conta. Ela concordou com a cabeça.
Estava na hora de apresentar e meu apartamento. Ela iria dormir no escritório, na cama que eu e tínhamos colocado por lá. Havia uma grande estante de livros, a mesa com o computador, a cama e a escrivaninha. Comparado ao nosso antigo dormitório, era muito mais confortável.
- Mas me conte sobre esse tal , que você faz par no disfarce. - ri. - Ele sabe que você é policial?
- Por Deus, não!! - não tirei os olhos do trânsito. - Ele é só... só um cara legal, que faz parte desse grupo, 2PM, e eu danço com ele, só isso.
- Só isso? - ela pareceu bestificada. - Olha, , com todo o respeito, você não me engana, não! Eu vi uma apresentação quando estava no aeroporto e, bom, eu não sei quem é esse tal , mas todos são bem bonitos! - ri. - E por essa risada já deduzi que têm mato nesse cachorro!
- Cachorro nesse mato, ! - gargalhei. - E não dá para esconder as coisas de você!
- Óbvio que não! Afinal de contas, somos melhores amigas! Ou já me trocou?
- Não!
- Pois acho bom. Se você me trocar por alguém, , eu quebro todos os dedos da sua mão!
Agora entende por quê é minha melhor amiga? A garota me conhece muito mais do que qualquer outra pessoa na face da Terra. E eu não reclamava, sabia que podia contar com ela todas as horas que precisasse. Eu aparento ser uma pessoa bem grossa, verdade, mas, com , eu podia ser eu mesma. Falar besteiras, rir de coisas inúteis. Beber Coca Cola sem alguém dizer que era corrosivo, fumar sem dizer que matava.
Sei que tudo era verdade, mas fazer o que?

Três horas depois eu fechava a porta da sala de ensaios do prédio do MJW (Michael Jackson Wannabe). Estava um pouco frio lá dentro, mas não me importei muito, passando as mãos nos braços e procurando algum lugar para deixar a mochila.
Aproveitando que estava sozinha, abri uma porta de armário embutido, procurando qualquer coisa que me fizesse chegar a Jay. Mas só vi tênis fedorentos, mangás, quadrinhos, cds, dvds e casacos. Muitos casacos em cima de esteiras azuis e fofas.
- Procurando por alguma coisa? - ouvi próximo do meu ouvido. O suficiente para que eu levasse um tremendo susto e preparasse meu (péssimo) caratê. riu. - Calma, eu não pretendo lutar contra você!
Pus a mão no peito, aliviada.
- Caramba, , quase me mata do coração!
- Do que tem tanto medo? - ele sorriu brincalhão. Engoli em seco, mas, por sorte, a porta se abriu e entrou, totalmente avoado.
- Nada. - peguei minha mochila do chão e pus em uma prateleira. - Posso guardar aqui?
- Claro que pode, que pergunta! - ele gargalhou, me puxando pela mão e me abraçando forte. - Você pode contar comigo para o que for.
- ... - perguntei, sem entender muita coisa. Mas quando ele pôs um dedo na frente dos meus lábios e sorriu, eu não consegui falar mais nada.
- Vamos logo, vamos logo, estou afim de mexer o esqueleto hoje! - entrou aos berros. abaixou a cabeça, coçando os olhos.
- Não mexeu o bastante essa noite? - brincou e eu vi as bochechas do outro ficando levemente vermelhas. Olhei para a porta, vendo entrar, visivelmente incomodada, se não posso dizer sem graça.
- Eu tenho uma coisa para te contar. - disse ela, me puxando pelo pulso e falando baixo.
- O que houve?
- ... ele é muito bonito! - começei a rir.
- Ora, , o que eu posso fazer se os genes e a academia fizeram bem para ele? - ela engoliu em seco. - Olhe em volta, meu anjo. A coreanada é assim!
- Mas é que... ele deu em cima de mim quando entreguei alguns depoimentos, ele passou a mão na minha cintura! - fiz careta. Definitivamente e não combinavam, não mesmo. - E é estranho, porque eu... eu...
- Você...?
- Acho que estou apaixonada pelo !
- VOCÊ O QUE? - gritei. Desculpe, não pude me controlar!
Puxei pelo cós da calça, para não falar cueca - e apertei seu pulso.
- Você está gostando dessa coisa cheia de músculos? - corou.
- É o que? - perguntou ele, completamente confuso. Acho que aqui devo dizer, falávamos em português.
- Bom...sim!
- Ah, graças a Deus! - suspirei aliviada, soltando e colocando a mão no coração. A última "paixão" de tinha sido por um cara com, no mínimo vinte anos de diferença. Para mais. - Posso dizer a ele?
- Está maluca? - ela quase me bateu.
- Ora, por que não? - sorri. - Vocês formam um casal tão... tão... ado... adorável. - eu sempre tive dificuldades em falar essa palavra. Sempre me lembrou meu avô.

Outra pausa. Dessa vez, será ainda menor.

Meu avô... como poderia falar do meu avô?
Ele era meu verdadeiro anjo da guarda. Sempre me protegia, mesmo que eu estivesse errada, e cuidava muito de mim. Ele costumava me chamar de "queijinho" e "bonequinha adorável" (não sei de onde vieram apelidos tão esquisitos, então não pergunte). Se eu fosse uma pessoa dramática, poderia dizer que fui criada por ele e pela minha tia, mas tinha pais e um irmão mais velho. era muito mais ligada a eles do que eu, que parecia meio "intrusa" naquela casa. Mas isso não vem ao caso.
Quando eu tinha onze anos, meu avô ficou muito doente. Naquela época, eu ainda era "aceita" pela minha família, ou seja, não bebia nem aprontava. A última vez que o vi foi em um hospital, e aquela cena foi a pior que eu poderia me lembrar: ele estava magro, tão magro que eu tinha medo de apertar sua mão e quebrar seu pulso.
Foi a última vez que conversamos. Ele me disse, "Eu não vou morrer. Ninguém morre. As pessoas simplesmente viram estrelas e enfeitam o céu. Então não se preocupe comigo, sempre que sentir minha falta, é só olhar para cima de noite que eu brilharei para você".
Meu propósito não é fazer você sentir pena de mim, que fique bem claro. Mas naquela noite, quando mamãe me acordou e disse que ele havia morrido, eu corri para a janela e realmente vi uma estrela brilhando mais do que as outras. Desde aquele dia, eu olho para as estrelas, procurando por ele e pedindo conselhos.

Ninguém é digno de pena, eu, muito menos, então vá chorar em outro lugar.

- Casem. - falei finalmente, em coreano, dando as costas e abrindo o armário em busca da minha mochila. Meu dia já estava acabado.
Eu sentia o olhar de na minha nuca, mas não me importei. Nunca gostei de falar do meu avô ou qualquer coisa que me lembrasse dele, meu coração doía muito. Depois que Gabriel morreu, decidi só chorar por coisas que realmente tenham algum significado. Não que a morte dele não seja motivo de lágrimas, mas as minhas já tinham se esgotado.
- Já vai me deixar? - era a voz de atrás de mim. Não me virei, preferindo respirar bem fundo e apertar os olhos. Virei-me, sorrindo forçado. Ergui a mão, mostrando o isqueiro e o cigarro, e não falou nada. simplesmente saiu do caminho.

Fui até a varanda mais próxima, onde tinha fumado com , dias antes e tentei acender. Mas o isqueiro parecia não funcionar. E o pior, não tinha nenhum fósforo por perto. Era uma droga querer fazer alguma coisa e não conseguir.
- Se matar não é uma atitude muito inteligente. - um par de mãos tocou o parapeito da varanda, se esticando. Não me virei, só fiz cara de impaciência. - Cigarro, essa nunca é uma boa saída.
- E o que você entende disso?
- Nada. Só acho que você não deveria fazer isso, faz mal para os pulmões, sabe...
Abri a lixeira e taquei o cigarro.
- Satisfeito?
- Não. - ele riu. Olhei para ele, reparando que ficava mais bonito sorrindo do que rindo. - Me promete que você nunca mais fará isso de novo.
- Fumar? Eu tenho parado, é só quando eu realmente necessito.
- Eu também só bato no quando é realmente necessário! - sorri. - Anda, promete!
- Ok, ok, você venceu. - suspirei. Ele esticou uma latinha e eu a segurei.
- Faz bem. Quer dizer, dizem que faz mal, mas é melhor do que perder os pulmões. - rolei os olhos, mexendo na tampinha vermelha. - Você pode ter um estômago ruim.
- Nossa, , você é animador. - comentei, tomando um bom gole, quem sabe assim aquela vontade de chorar ia embora para o estõmago?
- O que houve?
- Nada.
- Sang Wook sshi! Você não me engana.
Ah, meu bem, eu engano, e engano muito bem.
Demorei para responder. Queria mas não queria falar, mexia e desmexia os ombros, ainda com o refrigerante nas mãos. Da minha boca não saía nada além de "é que".
- Sinto falta do meu avô, só isso. - sorri sem graça, tomando outro bom gole de refrigerante.
- Pegue um avião e vá vê-lo! - ah, se as coisas fossem tão fáceis! - A não ser que...
Ergui as duas sobrancelhas em sinal de afirmação.
- Aish, eu não sabia, desculpe.
- Nah, tudo bem, deixe para lá. Afinal, todo mundo morre um dia, não?
- Não acho que as pessoas morram de verdade. Elas viram estrelas no céu. Minha avó dizia isso, então sempre acreditei.
Ou era coincidência ou andou falando demais! Mas ela possivelmente não lembrava disso, então como poderia...?
- Você deve estar me achando um crianção, certo? - ele riu, sem graça. Mas eu não estava achando que ele era um crianção.
- Não, não é isso. - olhei para ele e vi lágrimas em seus olhos. Meu sétimo sentido me dizia que não era só eu que sentia saudades de alguém, naquele momento. - Meu avô dizia a mesma coisa.
- Será que se conheciam? - brincou. - Quem sabe...?
- Não acho. - respondi, ainda estupefata. - Digo... seria quase impossível.
- Ou talvez seja apenas o destino.
Dito isso, abriu os braços e era como se uma força invisível me empurrasse para eles. me abraçou e beijou minha testa. Eu não conseguia fazer nem dizer mais nada, só pensar que era realmente muita coincidência.
- Se você continuar triste, mordo seu nariz! - brincou, ao olhar para mim. Sorri meio incerta, olhando dentro de seus olhos.
- Você realmente é o Rapaz Arco Íris. - disse baixo, vendo seus olhos ficando em um tom mais brilhoso.
- Rapaz Arco Íris? - riu de leve. - Como assim? Por que?
- Eu não sei explicar. - e realmente não sabia. me fazia sentir coisas muito estranhas. Um misto de vontade de sair correndo e gritando, vontade de rir até a barriga doer, mas, ao mesmo tempo, de ficar quieta deitada do lado dele, vendo-o dormir. Ou de rir, de sorrir, sei lá. Era como se eu sentisse fome, mas, por mais que eu comesse, ainda sentia essa fome.
- Então você é a Garota Arco Íris. - ele sorriu de novo, me abraçando. - Assim, quando tivermos filhos, eles serão crianças Arco Íris!
- Filhos? - ri. - Você não está pensando...?
- Namore comigo.
Fui perdendo o sorriso. Ele queria namorar comigo? Eu tinha realmente escutado direito? Não, não poderia... Quero dizer...
Não conseguia entender. Mesmo.
Comecei a sentir minha testa se contraindo em um ponto de interrogação. Ele riu.
- Fui muito rápido, não fui?
- É que...
- Sim?
Ah, droga, como explicar que eu não poderia? Que era uma policial e que estava ali observando tudo e todos? Que ele também ainda era suspeito do caso de Jay Park?
- Eu não estou preparada ainda. Saí de um relacionamento sério há pouco tempo. - de onde tirei essa mentira deslavada?
Ah, uma resposta: Jessica. Quando morávamos juntas, uma vez escutei essa conversa pela extensão.
- Eu espero. - ele parecia chateado, mas ainda assim sorriu. Não foi como o outro, que ele mostrou quase todos os dentes, não vi nenhum dessa vez. - Mas Sang Wook sshi, - ele segurou minhas mãos. Parecia cena de drama! - quero que você nunca duvide do quanto eu gosto de você.
Então alguém gostava mesmo de mim! Sempre achei que fosse impossível, sabe, geralmente os caras têm medo de mim, das minhas patadas e porradas.
- Ok. - foi só o que eu consegui dizer. Bobo, eu sei, mas eu nunca tinha lidado com isso. Uma "declaração". Nunca ninguém tinha feito isso e era realmente estranho.
- Vamos voltar?
Balancei a cabeça, afirmando.

O dia passou bem rápido. Logo era de noite e hora de voltar para casa.
cismou que precisava me levar em casa, mas consegui convencê-lo de que ele precisava dormir. Na realidade, eu queria ficar longe dele. Depois que ele tinha dito que queria namorar comigo, era como se tivesse algo me empurrando para longe. De certa forma me sentia meio chata, mas eu não conseguia melhorar. Então era melhor deixar daquela forma.
- Está tão quieta, unnie, você está bem? - ouvi a voz de ao meu lado.
- Como? - perguntei, sem tirar os olhos do trânsito.
- Não sei, está quieta demais. Te conheço desde o final da academia, você nunca esteve assim. Foi sobre o que houve hoje com o ?
Explicação: tinha pisado na calça de e ele caiu em cima de mim, acabando por me beijar. Ok, foi um selinho, mas o bastante para que armasse um circo, dizendo que iria chamar uma apresentadora de programas que cuidava de desavenças entre amigos e parentes, já que previa que e ele fossem se estapear.
- Não, não, estou pensando em Jay. - meia verdade. - Já era para termos notícia, não acha?
- Tem razão. - ela fez bico. Eu ia falar qualquer coisa quando o celular dela tocou e ela o puxou do bolso. - Oi, ! - derreteu-se.
Enquanto e praticamente falavam como namorados que ainda não eram, continuei pensando. Realmente estava preocupada, mais de uma semana e nenhuma notícia muito convicente. Não sabia de , mas , quando fazia um trabalho, era muito bem feito. Duvidava que ela já estivesse com o nome do sequestrador em mãos, quando chegássemos em casa.
Mas também ainda pensava em . Meu Deus, o que eu iria fazer? Eu não queria mais fingir para ele! Ele estava gostando de Sang Wook, e não de . Não... não de mim.
Deixei no Burguer King (ela não estava com vontade de cozinhar) e fui para o apartamento. A porta estava destrancada, muito estranho. ainda não tinha chave e eu estava começando a ficar preocupada. Então puxei a arma de dentro da mochila.
Abri a porta devagar, maldita hora que ela fez "nhée". Ouvi passos e o barulho de alguma coisa caindo. Tinha alguém na minha casa!
Virei o corredor da porta e de repente alguém pulou na minha frente, de braços abertos e gritando.
- ALOHA, IRMÃZINHA!
Gritei. Gritamos as duas, porque ela viu a arma e ficou histérica.
- Está maluca, garota? - gritei. - Eu poderia ter te matado!
- Mas não matou! Você me ama! - começou a rir, enquanto mordia outro pedaço de sanduíche, falando casualmente, como sefosse bastante normal que eu quase atirasse nela. - Escuta, você não tem nada além de Coca Cola para beber?
- O 2PM fez propaganda pra Coca Cola, e me deram todo o refrigerante que ganharam. - tirei o casaco e joguei no sofá, seguindo-a até a cozinha.
- 2PM? Aqueles bonitinhos do outdoor do aeroporto? - eu não sabia. - Nossa, minha irmã, você está bem rodeada, hein! Não tem nenhum deles solteiro, que esteja procurando...?
Fiz careta. estava cada vez mais lelé!
- Você não disse que viria no mês seguinte, sua carne mal cozida?
- Disse! - ela riu, falando de boca cheia. Me entregou outro sanduíche enorme. - Resolvi vir mais cedo, a faculdade entrou em greve de novo. Como saí do emprego e estou meio sem nada pra fazer, resolvi tirar umas férias antes ou depois do tempo, como queira. - ela abriu os braços. - E vim! - fiz careta. - Acho que você poderia ser mais calorosa e dizer "olá, irmãzinha, como vai, o que tem feito, foi bem de viagem?", e não ficar com essa cara de bunda mal limpa!
- Eu.. eu nem fui te buscar, não sabia que você chegaria antes e...
- Ah, , cala a boca! Eu já estou aqui, eu me arrumo em qualquer canto! - ela riu. - Lembra de quando a deu aquela festa e a gente dormiu no banheiro, com a cabeça debaixo da pia?
Como dizer que eu lembrava se eu ainda estava em choque? Certo, eu não sei muito bem como lidar com chegadas do nada, mas já deveria saber. era craque em aparecer do nada.
abriu a porta, provavelmente lambendo os dedos. Para variar, ela não trouxe nada para mim, mas traria se soubesse que estava por lá.
- !
- !
- Coelhinho da Páscoa! - gritei, enquanto elas se abraçavam. Aquelas duas se mereciam, era melhor deixá-las colocar as "fofocas" em dia. Era como eu dizia, e eram as menininhas, e eu éramos os menininhos.
Para minha sorte, pulou na cozinha, provavelmente atraída pelos barulhos de "pititi" e "patatá". Passou a mão na testa enquanto respirava fundo.
- Eu poderia ter atirado em vocês, caramba!
Não disse?

Pedimos três pizzas. Enquanto e falavam, literalmente, sobre esmaltes e comiam cada pedaço como madames, no prato, eu e conversávamos sobre o caso, comendo pizza na mão mesmo! Que graça essa de comer pizza com garfo e faca! Coisa para gente blasé.
- disse que encontrou uma mensagem no vídeo do prédio do lado. - mordeu o seu pedaço. - Ele aproximou um dos prints e conseguiu ler um papel.
- Ele tem visão de Super Homem, então. Não vi nada.
Ela riu.
- Digamos que sim. Ele mexeu em um programa de optimização de imagens e disse que leu uns trechos de sete da manhã, não sei o que pôrto.
- Está com a foto aí? - ela meteu a mão no bolso e pegou quatro fotografias dobradas, bem em cima do dedo roxo.
Analisei o papel, até fiz cara de filósofo grego, com a mão no queixo*. Não demorou muito para juntar com as outras letras que surgiram nas outras fotos que tinha no bolso.
- Primeiro de Abril, sete da manhã, cais. - disse. e pararam de falar sobre Lady Gaga e olharam para mim.
- Como conseguiu isso? - perguntaram ao mesmo tempo. Ri, pegando outro pedaço de pizza com as mãos, o queijo estava derretendo e grudando.
- Paciência e atenção. - respondi, lambendo os dedos.
- Dia primeiro não é amanhã? - perguntou , confusa.
Ela tinha razão. Precisávamos falar com os outros e arquitetar um plano decente. Mas o "teor" era: às seis da manhã, nós iríamos nos reunir no DP e iríamos juntos até o pôrto. Com certeza eu iria ouvir "Liguem as sirenes!" e gritaria "Não liguem esta merda, do contrário vamos alardear o que estamos fazendo!". E um grande bate boca entre Jessica e eu iria começar. Ela adorava essa coisa do "perigo", e achava que o barulho das sirenes era "legal". Um belo dia tive de ir com ela no mesmo carro e descobri o motivo: ela adora cantar bem alto, e, com aquele negócio fazendo um escarcéu, abafava a voz nasalada da minha "querida" Barbie Girl.


Era três da manhã quando o telefone tocou e eu atendi, completamente sonolenta. Me espantei em ouvir a voz de do outro lado.
- Que foi? - perguntei.
- Nada. - ele fungou. Me sentei na cama na mesma hora, sem atrapalhar o sono roncante de minha irmã mais nova que, ao meu lado, tinha braços e pernas abertas, me dando socos e pontapés toda hora.
- Por que está chorando?
- Eu? Não estou chorando, quem está chorando?
- ! Fala para mim o que houve!
- Só queria ouvir sua voz. - não me dei por vencida. Insisti mais um pouco. - Sang Wook sshi... se qualquer coisa acontecer, saiba que eu gosto muito mesmo de você. É raro de eu gostar de alguém como estou gostando de você, e ainda mais raro de eu falar o que eu sinto de verdade, então eu só te liguei pra te dizer que te amo. Não importa o que aconteça, eu te amo.
Obviamente eu entrei em pânico. O cara estava chorando, falando que me amava, no telefone, três da manhã? Tinha algo de muito errado acontecendo.
- Preciso desligar senão o vai me perturbar. Dorme bem.
- Você também.
Desliguei o telefone com medo.

Não consegui pregar o olho, claro! Fiquei pensando no que ele tinha me dito e no que poderia ter acontecido para que ele tivesse dito. Sem contar o fato de que ele estava gostando de mim e era estranho.
Falando em estranho, peguei o celular e disquei o primeiro número que estava na lista de últimas chamadas. Uma voz sonolenta falou "alô" do outro lado.
- , desculpa te ligar de madrugada, mas é que eu queria te perguntar se passaram a informação de mais tarde pra você.
- Passaram. - disse, todo sonolento. - , adoro você, mas podemos nos falar mais tarde? Trabalhei demais ontem, acabei de chegar em casa e estou morrendo de sono. - imaginava o "trabalho" dele: pular, dançar, cantar aquela música feliz e colorida.
- Claro, até mais tarde.
Passei o resto do meu tempo vendo apresentações do 2PM no computador. Eles eram realmente talentosos, e Jay sabia liderar muito bem. Aquelas risadas eram tão diferente das que eu havia escutado desde a semana anterior. Era realmente saudades. Jay fazia muita falta, não só para os membros do 2PM como para as fãs.


E mais tarde chegou. Meu coração praticamente pulava no meu peito, tamanha era a minha ansiedade. Finalmente ia colocar minhas mãos naquele safado que tinha matado a Forip e sequestrado Jay. Ele iria se arrepender de ter nascido.
- Eu vou primeiro. - falei, colocando balas na arma. Minhas mãos tremiam muito enquanto eu fazia isso.
- Não quer que eu vá primeiro? - era ao meu lado. Peguei o copo de água que ele bebia e tomei em um único gole.
- Se eu precisar, chamo vocês. - saí correndo.
- Mas, !
Nascer do sol no pôrto. Pôrto. Ah, pôrto, quanto tempo desde a última vez! Tinha sido há quase um ano, no caso de Davies. Ele tinha fornecedores na Coréia do Sul, então tivemos que vir pra cá. Foi a primeira vez que trabalhei diretamente com Jessica. Ela era incrivelmente frufru, metida, rosa e até o pum dela tinha cheiro de pot pourri. Fiquei enjoada grande parte do dia e, assim que acabou, me permiti vomitar em cima de seus saltos rosa. Se não me engano, na época, Jessica estava cantarolando "Gee"'s. E cantou a música durante toda a volta para casa, porque eu tinha sido a sorteada de levá-la até o apartamento das Patricinhas de Seul.
De qualquer forma, não podia dizer que ela era insuportável. Ela era até bacana, comparada a certas pessoas. Falava engraçado, tinha tiradas bacanas e se mostrava uma ótima amiga, se precisasse. Não acredito que realmente estou falando os pontos positivos da Jessica, mas eu precisava entender que não iria odiá-la para o resto da vida.
Ouvi uma pegada numa poça de água que tinha dentro de uma barraca enorme que tinha no cais. Entrando devagar, percebi que guardavam materiais de construção, parecia. Tábuas de madeira, furadeiras e até âncoras enferrujadas estavam espalhadas em um canto do local, que fedia a mofo. As paredes tinham manchas de mofo e o cheiro era ruim, masnão insuportável.
Eu poderia ficar horas olhando para aqueles objetos, sem entender muita coisa. Só me vinha Jessica e a Turma Cor de Rosa vestidas de marinheiras, dançando ali dentro e dizendo que eram "gênias". Gênias, sei!, pensei, com raiva. Só se forem gênias da arte de "piranhar"".
Até que ouvi outra pegada. Devagar e na ponta dos pés, encostei-me na parede e esperei. Mais quatro pegadas nas poças de água.
Eu sabia que ele estava ali. Empunhei a arma na altura do rosto, me escondendo atrás de uma porta. Olhei rápido para dentro daquele lugar, vendo o cara de costas, com as mãos nas costas, esperando como se estivesse em sala de espera de dentista.
Me revelei, empunhando a arma e entrando.
- Larga a arma! - disse, mas quando ele virou, um misto de sentimentos e emoções começou a misturar ao meu sangue. - ?
- Sang Wook sshi! - ele sorriu ao se virar, como fosse um encontro normal. - Que bom te ver!
- O que...o que está fazendo aqui?
- Uhn... - ele fez uma cara pensativa. - Não sei, o que você está fazendo aqui?
Não gostei daquela ênfase.
- Mas o que... o que... que raios está acontecendo aqui? - soltei. Ele sorriu.
- É uma boa pergunta, Sang Wook sshi. - ele ergueu uma arma e de repente a minha tinha adquirido um peso de um elefante grávido ao lado de meu corpo. - Ou devo dizer... ?
Confesso que pensei, ferrou.
- Quem é essa?
- Não precisa mais fingir! - ele sorriu, ainda com a arma apontada para mim. - Eu sempre soube que você era uma policial, aliás, senão fosse Jessica, nunca teria descoberto!
Jessica?
- Aquele dia da apresentação, quando fomos no camarim do So Nyuh Shi Dae. Quando ela gritou seu nome, eu tive certeza de que eu desconfiava não era apenas coisas da minha cabeça.
Eu não respirava.
- E foi um dia bem interessante também, aquele camarim foi meio mágico. - ele riu.
Engoli em seco.
- Gosta de rock, Sang Wook... ?
- Rock?
- É, rock! Uma bateria, uma guitarra, baixo, um cara cantando...?
- Gos...
- Então você vai entender quando eu digo - a arma dele fez um barulho, ele estava engatando para atirar. - que eu costumava amá-la... mas tive que matá-la.
Reação instantânea: fechei os olhos.
atirou duas vezes.
Mas nenhum dos tiros pegaram em mim.
Abri um olho de cada vez, estava dura. Pude ver sorrindo de forma adorável. Mas, agora, sua forma adorável era sua forma perigosa.
- Que coisa, não consegui atirar em você! Essa minha mira é mesmo horrível. - comentou ele, e eu então percebi lágrimas em seus olhos. Lágrimas que não iriam cair.
Aos poucos, fui tentando chegar perto dele.
- EU NÃO MANDEI VOCÊ SE MEXER! - gritou de repente, suas lágrimas finalmente caindo. - Eu costumava amá-la mas tive de matá-la... isso soa meio irônico, não acha?
- De.. depende do seu ponto de vista. - que raios eu estava falando? - Pode-se entender como deixar de amá-la, matá-la no seu coração.
- Tem razão. - ele olhou para a máquina de escrever antiga que estava jogada em um canto. - Matá-la no coração. Um tiro. No seu coração. Será que seria a solução?
Começei a balançar a cabeça negativamente. Obviamente que estava sendo obrigado a fazer aquilo.
- . Me fala quem é o chefe. Eu juro, eu apelo para a promotoria pegar leve com você, eu..
- EU NÃO PRECISO DA SUA AJUDA!
- Certo. - ergui minhas duas mãos.
- Coloque a arma no chão. - não me mexi. - EU MANDEI VOCÊ COLOCAR A ARMA NO CHÃO!
Novamente engoli em seco e coloquei a arma no chão.
- Chute-a para mim.
Acatei.
Meu coração se partia a cada minuto. Não entendia. Por que?
Por que ?
Ele nunca seria suspeito, ele nunca mataria alguém.
Ele era muito idiota para matar alguém! Por Deus, ele tinha um cachorro beagle com óculos escuros chamado "Bunny Bunny" em cima da cama!
- Não me olhe com essa cara! - ele me disse. Que cara? A de decepção? Porque era essa a cara que eu provavelmente estaria fazendo.
Engoli em seco quando ele começou a se aproximar de mim, ainda com a arma apontada. Meu queixo tremia, assim como meu corpo. Principalmente quando ele chegou perto de mim e passou o cano gelado da arma no meu pescoço, indo até meus cabelos.
- Ah, , por que?
- Por que, ? - tentei dizer, totalmente nervosa.
- Isso não precisava ser assim.
- Não precisava, mesmo.
olhou para mim, uma lágrima escorria em sua bochecha. Queria muito secá-la.
- Se você me contar quem é o mandante...farei de tudo para que você não se ferre muito.
- Eu... não posso. - respondeu. Embora chorando, ele ainda conseguia manter o ar sério.
- Você pode. - passei a mão em sua bochecha, não consegui me controlar. - Eu quero te ajudar, . Me deixe te ajudar!
- Eu amo você, . - ele engoliu algumas lágrimas e me beijou.
Assim que ele abaixou a mão, estiquei a minha para pegar o revólver, enquanto a outra eu passava por sua cintura incrivelmente malhada. Minha mente estava completamente bagunçada, meu coração literalmente doía. Era o "Ele é o culpado!" com o "Ele é inocente!" na discussão na minha cabeça.
Apertei sua cintura mais um pouco até que ele soltasse a arma de vez, e então bati com ela de leve em sua cabeça. caiu no chão, de costas para mim.
Podia sentir meu coração batendo a cada minuto que o sangue passava pelas minhas veias. Era uma situação um pouco complicada, não achei que iria acontecer comigo tão cedo. Não deveria me apaixonar. A gente sempre se ferra.
O barulho do revólver em sua nuca o fez erguer as duas mãos de imediato.
- Se você tentar qualquer coisa, eu vou puxar o gatilho e não vou me arrepender! - ele não piscou. - Levante-se. Devagar. E com as mãos onde eu possa ver.
- Gostaria que fosse no seu corpo.
- É melhor você calar a sua boca! - comentei. se levantou aos poucos, respirando como se tivesse corrido na maratona. Com as mãos trêmulas e, sem desgrudar meus olhos dele, procurei no meu bolso meu par de algemas, mas estava trêmula demais. Queria muito que aquilo não fosse verdade. E queria alguém da minha equipe por lá. Tinha medo de que Jay estivesse morto. Naquele momento, apareceu, se assustando de que eu estivesse com a arma apontada para a cabeça do homem pela qual eu estava, até segundos atrás, apaixonada.
- Eu cuido disso. - disse, algemando e me dando um pouco de refresco. Tinha medo de que reagisse. Ele era mais alto e mais forte do que eu, conseguiria facilmente me impedir de detê-lo. Mas ele ou não tinha percebido esse detalhe, o que eu acho bem improvável - ou ele queria mesmo ser preso, acusado.
- Onde está Jay? - ele não respondeu. Repeti a pergunta, um pouco mais severa.
- No quarto nos fundos da casa. - conseguiu dizer, enquanto , com um pouco de força, o puxava pelos pulsos algemados e o levava para longe de mim, "recitando" seus direitos.
Lancei um último olhar desapontado para ele. não se abalou muito, soltando um sorriso arteiro enquanto o puxava. O sorriso arteiro que eu amava.
Só que não era hora de pensar nos meus pensamentos mais apaixonados. Jay poderia estar seriamente machucado, e eu tinha que encontrá-lo. Com vida. Todos os dias, desde quando aquele caso havia começado, eu rezava (mesmo que não fosse muito religiosa) para que Jay estivesse vivo.
Cheguei na porta de madeira, gasta pelo tempo, do final do corredor. Mexi na maçaneta, estava trancada. Gritei por Jay, não obtive resposta. Ou tinha me enganado ou Jay estava morto.
Me afastei um pouco da porta e chutei-a com violência. Duas vezes. Essa estória de que portas se abrem com chutes é balela. A porta só se abriu da segunda vez porque ela estava em péssimo estado de conservação, assim como aquela cabana. Cheirava a mofo, a decomposição, e era enjoativo. Muito mais enjoativo que o perfume pot pourri que Jessica usava.
Ofegando, vi Jay amarrado a uma cadeira, amordaçado. Tinha hematomas pelos braços e seu rosto sangrava. Um filete de sangue corria de sua testa, na altura da raiz dos cabelos e ele parecia adormecido.
- para a base. Preciso de uma ambulância urgente. - disse no rádio, um pouco da tensão se aliviava.
Me agachei e passei a mão em seu rosto, e ele acordou. Pelo menos não estava morto, mas estava muito mal. Desamarrei seus pulsos e a corda que o prendia na cadeira. Tirei sua mordaça e vi seus olhos encherem de lágrimas ao me ver. Sem forças, ele começou a pender para um lado, então o segurei.
- Acabou. - disse, enquanto sentia alguém indo até nós. Era e Jessica. A água e o óleo. - Você está vivo e salvo, e é isso que importa.

Não lembro muito bem de quando o pessoal chegou. Jessica, , . Mas lembro de que chegara perto de mim e que tinha falado alguma coisa. Mas eu não ouvia. Era como uma voz bem ao longe falando comigo.
Me sentia nauseada. Meu corpo doía por conta do nervoso preso e que agora estava se dissipando. falou comigo.
Dei meia volta e saí, enquanto os outros policiais colocavam a fita amarela e uma equipe de paramédicos chegava para atender Jay.
Saí da casa e me encostei em um carro de polícia. Ao longe, pude ver algemado, no banco de trás. Engoli em seco. Não conseguia mesmo acreditar que aquilo tinha acontecido, teria sido melhor se tudo fosse um terrível pesadelo, e que estivesse em casa, jogando videogame com seus colegas de grupo.
Ele olhou para mim. Parecia arrependido.
- Desculpe por te decepcionar. - sussurrou inaudivelmente, enquanto o carro partia. Virei-me de rosto para o carro e afundei minha cabeça nos braços. Por que ele?
Por que eu tinha que me apaixonar? Eu sabia que coisa boa não iria sair!
Mas eu sabia... eu sonhava.. eu queria que pelo menos uma vez na vida eu estivesse certa. Minha exceção havia sido ele, .
Meu coração estava partido.
Assim como todas as palavras que um dia tínhamos dito um ao outro.
Tinha medo.
Receio.
A decepção e a tristeza misturados em um, formando assim a depressão.
Será que ele me amava mesmo ou estava atuando?
- . - levantei o rosto, vendo o prendedor cor de rosa prendendo a trança de Jessica em seu ombro. - Você está bem?
- Você viu o que acabou de acontecer, você acha que eu estou bem?
Poderia ter sido menos grosseira.
Confesso.
- Jay quer ver você.
E eu não sabia se queria ou não vê-lo.
Mas deixei que a Barbie Girl me levasse até próximo da ambulância, onde Jay estava, em uma maca. Se moviam devagar; apesar de ele estar imobilizado, poderia ter alguma outra complicação.
Quando me viu, Jay tentou sorrir. Procurou minha mão e eu apertei a sua.
- Valeu. - disse. Mas eu podia ver. Estava tão decepcionado quanto eu.
- De nada. - respondi, trocando um olhar cúmplice com ele.
Os paramédicos levaram Jay e eu não sei quantos segundos fiquei parada, vendo-o sumir dentro daquela ambulância.
- Quer que eu te leve para casa?
- Não precisa, obrigada.
Puxei minha jaqueta enquanto dava meia volta.
Para a rua.
Para algum lugar onde eu pudesse me esconder de mim.

Até onde eu poderia ir?
Andava sem um destino definido, sem noção das coisas. Ao norte.
Atravessei ruas sem prestar atenção, ouvia pessoas buzinando, gritando... ao longe.
Não sei por quanto tempo andei até chegar próximo a ponte que ligava Seul a Incheon. Do outro lado da ponte, lá longe, via aviões alçando vôo, para onde? Alemanha, Áustria, Estados Unidos... Brasil?
No meu bolso, o celular tocava estridentemente, talvez pela décima vez. Sabia quem estava me ligando, mas não tinha forças para responder. Para dizer 'oi'. Eu não tinha forças nem para chorar.
Era muito estranho esse sentimento. O amor. Sabia (ou melhor, já tinha lido) que ele era uma dor. Só não sabia que a dor era tão grande a ponto de querer a própria morte.
Também sabia que ... ele não poderia ser tão malvado a ponto de sequestrar Jay. Ele amava aquele garoto mais velho e eu via seus olhos brilhando quando falava dele. Ele estava sendo usado, .
Eu queria ajudá-lo mas também não queria. Eu estava confusa.
Pus a mão no bolso e puxei o fino aparelho celular, que até quinze, vinte anos atrás, era enorme. Vi o número de Jessica na tela luminosa, não tinha coragem para atender.
Olhei para o horizonte, ele olhou para mim. E riu ao dizer que o céu não poderia aceitar uma estrela ferida emocionalmente como eu.
Apertei meu celular nas mãos. As lágrimas encobriam minha visão. Era raiva, ódio, decepção, tristeza, tudo junto e misturado. Gritei.
Gritei bem alto. Gritei bem alto para que as pessoas que viajavam para casa ou a passeio, dentro daqueles enormes aviões, soubessem que estava ali uma pessoa magoada. Raivosa. Triste.
E taquei o celular longe.
Ele percorreu um médio caminho até alçancar o fundo mais profundo do canal. Mas eu não me importava.
Minhas pernas ficaram fracas e eu caí no chão, chorando. E muito. Eu simplesmente não conseguia parar, era como se todas as oportunidades para isso tivessem se juntado em uma só e dito "Agora se vira e chora!".
Chorei até onde conseguia e onde não conseguia. Me sentia doente, estava deitada em posição de feto. Seria bom voltar a ser um. Não precisaria crescer, alguém iria cuidar de mim e eu não iria sofrer dessa dor.

.x.

- O que quer, ?
Não respondi, ainda com a cabeça em cima do braço, meio deitada no balcão, uma hora e meia depois. Meus olhos miravam a garrafa de uísque.
- Não vou te dar bebida alcoólica, não adianta.
Eu não pude sentir raiva de Sang Jin. Não conseguia.
Estava no bar de sempre, o bar que , Jessica, e eu frequentávamos sempre com nossos colegas. Alguns membros do Super Junior, algumas membros do So Nyuh Shi Dae. Éramos todos uma grande família, a família "mundial" de Sang Jin, a nossa amiga do balcão. Quando chegávamos, ela já vinha preparada com a jarra de cerveja, os refrigerantes e as garrafas de soju. Uma grande amiga, Sang Jin.
- Reaja! Você não é assim, as coisas não são por aí, seja lá o que tenha acontecido!
Ela balançou a cabeça e se virou para atender alguém. Das três vezes que ela fez isso, misturei uísque no meu café e virei a mistura quente e forte. E voltava à posição anterior.
Vi Park Jung Soo entrando no bar e vindo em minha direção.
- Hora de ir para casa, .
Vi o olhar que Jung Soo e Sang Jin trocaram.
- Você chamou ele?
- Eu estava preocupada! - Sang Jin mordeu os lábios. Jung Soo pegou minha mão de forma delicada e, com um sorriso calmo, me ergueu da cadeira e me levou.
- Hora de ir para casa, .
Fomos até seu apartamento. Ele poderia muito bem aproveitar a situação, afinal, sempre fora apaixonado por mim, e, além de bêbada, eu estava destruída. Mas justamente fez o contrário, me levando até sua cama, puxando as cobertas e me deitando devagar. Tirou minhas botas, colocando-as do outro lado do quarto, passou a mão levemente nos meus cabelos.
- Se precisar de mim, é só chamar. - e, me dando um beijo na testa, saiu do quarto, fechando a porta.
Assim que ele fechou a porta, eu dormi.

Acordei algumas horas depois com o telefone tocando. Na ponta dos pés, cheguei perto da porta, a tempo de ver Jung Soo no telefone com .
- Ela está aqui, sim. Estava péssima quando a encontrei, mas está dormindo, acho que vai acordar melhor. Ok. Sim, não se preocupe, tudo está bem.
Nada estava bem. Voltei para a cama e dormi por mais algumas horas, acordando quando o sol já brilhava no céu. Pus minhas botas e saí do quarto, não encontrando ninguém em casa. Mas encontrei algumas notas, que me levaram até a cozinha, onde tinha uma mesa com torradas, cereal e suco de laranja. Tomei o suco e comi as torradas, guardando o cereal e saindo logo em seguida.
Sabia que minha aparência não recomendava muito, assim como a minha fisionomia, mas, mesmo assim fui até ao DP, comprando um refrigerante no caminho. Algumas pessoas achavam que eu estava de ressaca, porque aquela era a minha cara de ressaca. Mas outras, como Jessica, assim que me viram, vieram me abraçar.
- Estou feliz que esteja bem!
Tirei seus braços de volta do meu pescoço.
- Quantas doses de vodca você precisou tomar para falar isso?
Ela sorriu.
- Nenhuma.
apareceu do nada, e, depois de me dar um tapa na cabeça e me fazer ouvir que ela estava totalmente sem dormir por minha causa, por causa da preocupação, me abraçou bem forte, dizendo que estava feliz que eu estivesse bem.
e me olhavam de longe. Eu não sabia como me aproximar deles, eu não conseguia. Eu tinha sido grossa, chata, nojenta, nem um pouco decente com eles, como iria falar o que estava no meu coração? Pior, como eu pediria um abraço, um colo, que era o que eu mais estava precisando no momento?
não me deixou terminar os pensamentos, correndo até mim e quase me derrubando no chão. Chorava por eu estar bem. Ok, eu estava bem, mas tinha mesmo deixado todo mundo preocupado? Eu conseguia fazer isso?
- Jay quer ver você.
- Poderia ter me deixado acordar primeiro, não?
sorriu sem graça. Olhei para , que ainda parecia bem sério.
- também quer ver você.
E eu não sabia se queria vê-lo.

*: Essa citação de "filósofo grego com a mão no queixo" eu li em um livretinho chamado "Ana e Pedro - Cartas".


C A P I T U L O • 7


Passei a manhã no DP. Preferia muito mais ter de fechar pastas, atender pessoas do que sair, encarar os fatos, como disse , me dando um belo tapa na cabeça. Eu confesso que estava mesmo sendo covarde, eu não conseguia lidar com a situação. Naquele momento, eu não sabia mais se continuava ou não amando , mas, de qualquer forma, era preferível não pensar nele, e sim em folhas para furar e transformar tudo em arquivos.
- , - uma voz me chamou e eu olhei para o corredor, vendo me sorrindo. - oi.
- Oi, , o que quer? - perguntei, voltando aos meus papéis. Odiava estar sendo seca com ela, mas eu não conseguia agir de outra forma.
- Eu trouxe um pedaço de torta de limão para você. - ela mostrou a caixinha em formato de pedaço de bolo. Quando eu era pequena, e até depois de crescida, torta de limão sempre me animava. Era como chocolate para algumas pessoas.
- Obrigada.
- Mana, nada vai ser resolvido se você se afundar nessa papelada toda.
- Eu sei.
Ela me abraçou por trás.
- Eu amo você. E eu te apóio em todas as suas decisões. E você sabe que pode contar comigo para o que der e vier.
- Certo. - respondi, engolindo em seco. O que ela queria com aquelas palavras...?
- Coma a sua torta. - comentou baixo. - Vou dar uma volta, devo chegar tarde, ok? - ela beijou-me na bochecha. - Não esqueça, , eu amo você.
E deixou a sala.
Depois que ela saiu, eu tentei continuar meu trabalho, mas não consegui. Fiquei olhando para aquela torta, pensando. Por que eu estava sendo daquela forma com quem não merecia, Jay? Ele queria me ver, certo? Então eu iria vê-lo. Mas também queria me ver. Daí o buraco era mais embaixo. Tinha medo de vê-lo e dar-lhe tapas. De chorar. De...sei lá, eu não sabia muito bem. Fazia tempo, muito tempo, desde que eu me apaixonara pela primeira vez e desistira por completo dessa coisa de amor.
O que eu sabia, completamente, era que eu iria visitar Jay. E seria naquele momento.

No carro, as principais notícias eram que Jay havia aparecido e que havia sido preso. Eu não sabia como essa informação tinha vazado, mas estava até contente que não tivesse sido descoberto antes. Até então, Jay estava ainda em Seattle, participando de concursos de b-boy e agradecendo as fãs pelo apoio. Ora, era muito bonito aquilo tudo, e me perguntava se o sr. e a senhora Park não tinham gêmeos ao invés de ser só Jay, porque o cara realmente se parecia com ele.
Desliguei o maldito rádio quando estacionei perto do hospital. Uma horda de fotógrafos, repórteres e fãs faziam com que a entrada fosse tomada e impossível de se passar. Dei a volta, indo para a outra entrada do hospital, esbarrando em uma menina baixa e de cabelos curtos. Tinha raiva em seus olhos quando me viu, mas como eu já estava acostumada a raiva de outros, não dei muita importância.
Fui até a recepção e pedi para ver Jay Park. Uma enfermeira me olhou estranho, atravessado, quando a recepcionista me indicou o sétimo andar. Era realmente muita coincidência.
Estava preparada para o pior, mas ainda assim precisava fazer perguntas a ele. Ao mesmo tempo, eu queria evitar aquilo tudo, porque só me vinha e suas lágrimas quando falava dele. Mesmo assim, bati na porta e ouvi um "entre!"
Minha surpresa foi grande ao ver os outros rapazes do grupo por lá. Não sei como, mas estavam por lá, com o manager e aquele cara estranho, JYP. Onde estava o limite de visitas?
Jay estava em cima da cama, coberto até a barriga, e sorriu ao me ver. Sorri de volta, completamente sem graça e, por que não, com uma sensação de medo passando pela barriga e coração. Recebia o pior olhar do mundo, vindo de , , e , principalmente deste último. Eu via o olhar de tristeza com raiva que ele me lançava e eu podia ler seus pensamentos mais profundos, "Como pôde mentir para mim?".
- Como se sente? - perguntei com um fio de voz.
- Dá licença, eu não consigo mais ficar aqui. - era , mais falando para si do que para qualquer outro. Ele deixou o quarto, e eu pude sentir a atmosfera ficando pior quando, um a um, os outros meninos foram saindo.
- Como você está...? - Jay continou sorrindo. - Como você se chama mesmo...?
- . - respondi timidamente.
- . Nome bonito e diferente. Você que era a Sang Wook...?
- É.
- ... - apertei os olhos, era como se me dessem um soco no estômago. - . Me contou.
- Ah, legal. - tentei sorrir. - Eu... só vim mesmo ver como você estava, eu... digo... Jay, preciso te fazer algumas perguntas.
JYP e o manager apontaram para a porta e saíram, me deixando a sós com ele. Não me movi do meu canto próximo da porta, Jay sorriu.
- , eu não mordo, pode chegar perto de mim. - e então me aproximei, vendo arranhões em seus braços e rosto, um grande curativo na testa. Seu olho estava avermelhado. - O que precisa me perguntar?
- Eu não vou enrolar muito. - e realmente não pretendia. - Quem fez isso com você?
O sorriso foi desaparecendo dos lábios de Jay, enquanto sua expressão se tornava cada minuto mais triste e decepcionada. Eu precisava perguntar, fazia parte.
- Eu... não posso dizer.
- Por que não?
- Porque... eu não quero comprometer alguém.
Espera, Jay quase morre, mata todo mundo do coração e ele ainda se preocupava em não comprometer outra pessoa? O que tinham dado para ele naquele hospital, vodka?
- Jay, nós estávamos cogitando a idéia de que estivesse morto. Seus pais estão em pânico, devem estar chegando daqui a pouco. - ele não falou. Tentei a única coisa que estava na minha cabeça. - ?
Ele não respondeu, preferindo olhar para as mãos. Engoli em seco, olhando para sua mão enfaixada. Ele não iria falar mesmo se fosse .
Me levantei, indo para a porta.
- Quando decidir me falar, me avise. - e saí.

Do outro lado da porta, eu vi quem estava anteriormente dentro do quarto. Ninguém falou comigo, nem JYP. Se não fosse pelos gritos de "Cadê meu filho?", da sra. Park. Ela entrou no quarto, seguida do marido, JYP e do manager, me deixando a sós com os rapazes do grupo.
A situação ficava cada segundo mais preocupante. Todos me olhavam ao mesmo tempo, me dando a sensação de que estivesse completamente nua. Arrumei a gola do meu casaco e expirei, esticando a perna esquerda. Iria sair dali.
Andei. Mas ainda sentia o olhar deles nas minhas costas, e devo complementar, era uma sensação de puro medo. Não que eu me importasse com isso, quero dizer, tirando , e , eu praticamente nunca tivera amigos na vida. era a única que era, posso dizer, mais amiga. Adorava e , mas não contava tudo, nos mínimos detalhes, para eles. Mas não posso negar que eu me sentia como se estivesse perdendo amigos. Não que eles fossem meus amigos, mas eu, um dia, cheguei a cogitar idéias de todos nós iríamos no "nosso" bar, bebericando e contando o que tinha acontecido de engraçado, pedindo conselhos e, é claro, enchendo a cara. Não acredito que amizade seja criada apenas de tomando bebidas alcoólicas, e a maior prova disso era . Nos conhecemos no bar, praticamente, porque estava cheiro e , baixinha, não conseguia chegar no balcão. Não que eu fosse ter três metros de perna, mas foi só pedir sua bebida, uma soda, que nos tornamos amigas.
Esperando o elevador, deparei-me com . Seu rosto estava inchado e ele tinha algumas manchas de nervoso nas bochechas e testas. Seus olhos inchados me fizeram acreditar que ele chorara bastante e que aquela era sua primeira vez no hospital visitando Jay. Seu olhar para mim não poderia ser mais claro, "mentirosa traidora".
Entrei no elevador quando ele saiu, e eu senti-me intimidada por aquela altura toda. Meu coração batia muito, muito forte quando virei-me e percebi que ele olhava para mim.
- , eu... - comecei, mas a porta se fechou, fazendo com que a imagem dele ficasse cada vez mais fina.
Esmurrei o elevador. Que raiva, que raiva, que raiva! O que eu tinha feito? "Nada mais do que o seu trabalho", uma voz me dizia.
"Ah, cale a boca!", respondi, injuriada. "Em todos os outros disfarces, eu não me senti tão mal como estou me sentindo agora! O que isso quer dizer, hein?"
"Que você é humana e que estava amando esses idiotas como amigos."
- Aaah! - balancei a cabeça irritada, quando a porta se abriu novamente e G-Dragon entrou. Fazia um bom tempo que não o via, e não entendia por quê ele estava naquele mesmo hospital que o Jay.
- ! - sorriu ele. - Veio ver o Jay?
- Algo por aí. - respondi, espalmando as mãos na parede do elevador e olhando para baixo. - O que faz no quinto andar? Jay está no sétimo.
- A Minzy teve uma crise nervosa. - respondeu-me. Minzy. Eu conhecia aquele nome de algum lugar. - Do 2NE1, aquela que fez a dança dos três ursinhos no aniversário da Jessica. - ah, como poderia me esquecer da cena? Minzy, bêbada, em cima da mesa, fazendo a dancinha dos três ursinhos?
- Mas ela está bem?
- Está, já foi até ver o Jay. - ele sorriu quando a porta se abriu novamente. - Quer uma carona até em casa?
- Não, obrigada, Kwon Ji Yong.
- Quando vai parar de me chamar assim? - brincou. - Você quer que eu te chame de noona, é?
- Não. - eu me sentia velha quando Seung Ri, do grupo dele, me chamava de noona. Esforcei um sorriso. - Nos vemos por aí, criança!
- Até a próxima, noona! - ele acenou. Balancei a cabeça, abstraindo a gritaria das fãs e indo até meu carro.

.x.

Uma semana havia se passado.
Eu precisava tomar alguma atitude e rápido. Algo me dizia que eu precisava passar essa estória a limpo antes que eu arrancasse todos os fios dos meus cabelos. Pus a chave na ignição.
Entrei na sala cinza minutos depois, com o coração batendo forte. Eu queria chorar mas eu tinha que manter um certo nível de superioridade. tinha me magoado, mas não iria demonstrar que estava totalmente destruída.
Sentei-me na cadeira, na sua frente. Ele tinha o rosto baixo, e seu cabelo cobria seus olhos.
Ficamos assim por cerca de cinco minutos até eu engolir em seco.
- O que quer comigo?
- Te pedir desculpas. Te pedir perdão. Te pedir... pedir que me leve até o Jay hyung...
- Você acha que ainda tem o direito de chamá-lo de hyung, ? - ele não respondeu. - Depois do que você fez...?
- Eu fui obrigado. - engoliu o que eu imaginava ser choro, mas não olhou para mim. - Eu não queria... - ele finalmente ergueu a cabeça e eu vi seus olhos inchados. Parecia que tinha chorado a noite toda, e aquilo me deprimia. - O que houve com seu braço?
- Um tiro de raspão que levei. - respondi, ainda séria. - Por que quer vê-lo? Para poder matá-lo?
- Pra que você possa escutar da boca dele que fui obrigado a isso. Eu não queria, , mas...
- Não... não fale meu nome. - ergui a mão, fechando os olhos. Respirei fundo ao me levantar e caminhar até a porta. - Nunca mais.
Eu sentia que não iria aguentar por muito tempo, eu queria muito chorar. Mas não conseguia. E aquele ambiente, aquele ambiente não era para , mas o que eu poderia fazer? Ele atirou em mim duas vezes. Errou, mas uma das balas tinha literalmente passado de raspão, então não senti a dor na hora. Só quando acordei e vi o curativo que Jung Soo havia feito no meu braço que eu percebi que tinha me machucado. Mas nem doía.
- Narsha. - ouvi , quando pus a mão na maçaneta da porta. Parei, mas não me mexi.
- Que?
- O nome dela. Da pessoa que sequestrou Jay e que me obrigou a escolher entre você e ele!
- Narsha... - me virei, dessa vez, interessada. Mas não fui até ele.
- A cantora, sim. - ele fungou. - Ela sequestrou Jay. E, em uma noite, ela ligou para o meu celular pelo celular do hyung, e eu pude falar com ele. Ela me mandou não falar pra ninguém que tinha falado com Jay, senão, ela o mataria. Eu fiquei um bom tempo sem saber o que fazer, esperava que me ligassem de novo. Desta vez, você já estava entre nós. - ele olhou para mim, inseguro. Ela disse que era para eu decidir entre você ou o Jay, que um dos dois teria que morrer. E disse que, se não escolhesse você, ela mataria Jay e espalharia os pedaços dele pelo país.
- Como soube que era ela? E por que ela faria isso?
- Eu conheci o Brown Eyed Girls. - ele sorriu, mas logo ficou triste. Engoli em seco. - Não sei por quê ela fez isso, mas... eu tinha que escolher entre você ou ele, me desculpe!
- E depois? Como aconteceu?
fungou.
- Ela me ligou de novo, era duas horas da manhã. Ela ficava dizendo "Você sabe quantas horas são?", mas acabava rindo, dizendo que tinha sequestrado o líder errado. Então ela me perguntou quem eu tinha escolhido, e eu... olha, eu não tive escolha, ela ia matar o Jay!
Engoli em seco, olhando em seus olhos encharcados de lágrimas.
- Desculpe.
Me levantei e pus a mão na maçaneta.
- Obrigada.

Fui para casa com o rádio desligado. Uma chuva bem forte caía na cidade e eu estava sentindo muito frio. Por estar bem quente nos últimos dias, era normal que eu me acostumasse e saísse com uma roupa mais fresca. Quando cheguei perto do apartamento, mesmo com as janelas fechadas, eu sentia muito, muito frio, e tremia. Estacionei completamente torta na vaga e praticamente corri até chegar ao meu andar e encontrar minha quente casa.
Não conseguia abrir a porta, tinha algo que prendia. Agachei-me e tateei o chão, encontrando um pequeno pacote retangular. Alguns conseguiam passar pelo vão da porta, como esse, então só assim para abrí-la.
Joguei o pacote em cima da mesa, lendo por alto um bilhete de e , que tinham saído. tinha ido "re-conhecer" a cidade, logo, estava só com Fishie Fishy, o peixinho que dera para . Me perguntei, como ficaria a relação deles? estava apaixonada, e ele já me odiava pela mentira, imagino se não odiaria ela.
De qualquer forma, tomei um banho quente e me cobri de branco, algo raro, da cabeça aos pés. Andando de meia pela sala, fui até a mesa e abri o pacote, que tinha vindo da China. Sorri ao reconhecer a caligrafia caprichada de uma menina que conheci por lá. Foi o caso mais ridículo que eu solucionei, mas foi até um castigo bacana. Abri o papel e li, " Jie, como vai? Faz tempo que não nos falamos, não é? Esses dias tenho trabalhado muito, muito mesmo. Compus uma música nova e queria que você escutasse, estou meio sem graça de mostrá-la ao manager. Não esqueça de me responder, eu super confio em você. De sua amiga, Cheng Lin".
Abri um pacote que continha um pequeno cd e liguei o rádio. Não escutava nada além de 2PM, New Kids on the Block (a nova fase), Lady Gaga e Justin Timberlake, nos últimos dias. Enquanto o rádio lia as informações, fui até a cozinha e abri a geladeira, vendo uma bela torta de limão decorando a primeira prateleira. Pegaria uma garrafinha de Coca Cola, mas não ia conseguir descer. Coca Cola, agora, me fazia sentir dores, dores no coração.

"Finalmente alguém que tem o mesmo vício que eu!"

Sentei-me no batente da janela, vendo a chuva cair forte lá fora. E então, finalmente o rádio começou a tocar uma melodia doce. Vindo de Cheng Lin, ou Rainie Yang, como preferir. Eu não sou de reproduzir algo que eu escuto, mas acho que, dessa vez, vale realmente a pena. E porque me dava sensações muito estranhas.

"Uma paixão boa que se vai
Não entendo o que você está pensando
Só sei que quanto mais espero, mais depressiva eu fico"


Eu não estava exatamente "depressiva", mas estava triste e bastante melancólica, olhando para a rua cheia de água, pessoas correndo com seus guardas-chuva que quebravam no meio do caminho, levando tombos e banhos dos carros com seus motoristas mal educados. Isso não era eu. Com certeza não era. Eu nunca ficava melancólica, eu nunca ficava quieta quando estava com a cabeça cheia. E com certeza eu não comia uma torta de limão com tanta raiva, como estava comendo.
Passei o dedo no prato, tentando pegar um pouco de torta, mas não adiantou. Abri a geladeira e peguei logo toda a torta, sentando no sofá e fincando o garfo. A música da Lin Lin, como eu chamava a Rainie, já tinha acabado, e só tinha ficado um gosto estranho na boca. Era como se eu fosse vomitar a qualquer minuto, mas torta de limão é desperdício.
Abri minha caixa de emails e mandei uma mensagem para Rainie. Basicamente dizendo que a música era bonita, que a melodia era fofa e que eu queria ser convidada para o show. Mesmo que ela me convidasse, eu nunca ia, por causa do trabalho. Ela ficava meio triste, mas acho que ela me entendia.
Por algum motivo, fui até meu quarto e abri a gaveta. Puxei uma foto minha com e fiquei analisando. Por que tinha que ser daquela forma? não era mau, eu sabia mas, por Deus, ele quase me matou - literalmente. Se ele não era malvado, por que ele tinha feito o que fez? Era impossível de se acreditar que aquele cara de bolinho de chocolate pudesse ter tão...
Não conseguia mais pensar na palavra "malvado". Ele não era.
Então como eu poderia provar isso se eu não tinha nem coragem de me levantar e ir até a delegacia?
De repente o telefone tocou, me assustando e me fazendo acordar. Minhas duas mãos seguravam as extremidades da foto, eu tremia. Metade do papel já estava rasgado.
Soltei a foto como se fosse fogo, e ela caiu no chão, ainda revelando metade de mim nas costas de . Fiquei olhando por um tempo, como poderia...?
O telefone tocou pela sétima vez e eu puxei o fone que tinha perto da minha cama, respirando bem fundo e passando a mão na testa.
- Alô?
- ?
- Sou eu. Quem fala?
- Sou eu, ahn... Jay. Eu... Eu queria falar com você, poderia passar aqui ainda hoje? - olhei para o relógio. Era quase oito da noite. Meu estômago só tinha torta de limão e reclamava, dizendo que aquilo era intolerável.
- Claro. - afirmei, secando um pouco do suor da minha testa. - Daqui a meia hora mais ou menos estarei por aí, ok?
- Te espero!
Jay desligou e eu voltei a mirar a foto. Meu queixo tremeu levemente quando me ergui, pisando no pedaço de papel que estava no chão.

Era estranho voltar ao hospital. Era estranho em todos os sentidos sair de casa com pijamas, porque era o que eu estava vestindo, a minha roupa "branca". Novamente estava batendo na porta e novamente estava entrando no quarto de Jay, que, agora, lia um livro de capa azul escuro.
- Oi!
- Oi, Jay... o que houve? - perguntei timidamente. Viu? Isso não sou eu. Definitivamente.
- Vou deixá-los a sós. - a sra. Park se levantou. Juro que não a vi. Ela sorriu de forma meiga para mim antes de deixar o quarto, batendo a porta e tentando que não fizesse tanto barulho.
- Não foi . - disse ele, logo que viu a mãe sumindo. Eu sabia que não tinha sido , ou não? Reviramento estomacal novamente. - Ele é inocente.
- Tão inocente que tentou me matar. - deixei escapar. Jay franziu a testa.
- nunca te mataria! Ele te ama!
- Ama o bastante para atirar em mim e sequestrar você!
- Não foi ele! - Jay falou mais alto, bem sério. Pôs a mão nos olhos e respirou fundo, olhando para o teto e depois para mim. - sshi. Foi obrigado. A atirar em você.
- Como é que é? - perguntei incrédula.
- É melhor você se sentar. - ele apontou para a poltrona que a mãe estava sentada, há alguns segundos atrás e eu me sentei. - Como posso começar a falar? - pelo começo, seu besta! - Ok, foi assim. Eu estava voltando para a JYP para ensaiar, depois de um bom tempo sem fazer isso, você leu sobre o que aconteceu com o My Space, não?
- Li. - e por causa disso deletei o meu. De vez.
- Os rapazes entraram e eu fiquei mais um pouco do lado de fora, sabe como é, para lembrar de como as coisas eram. Lembrei da rua, dos canteiros, da flor mal plantada que tinha no-
- Podemos ir direto ao ponto? - interrompi.
- Desculpe. Bom, então uma mão com um pano veio por trás da minha cabeça e eu não vi quem era, porque desmaiei na hora. Quando acordei, estava em um quarto, amarrado no chão e com uma mordaça na boca. Fiquei um dia sem beber água, porque fiquei sozinho, até que, de noite, ouvi passos e tentei gritar. Então uma pessoa apareceu e me deu água. Ela foi muito boa.
- Ela? Ela quem?
- Park Han Neul. - ele sorriu. - Ela quem me dava água e eventualmente me trazia comida. Não era a melhor cozinheira do mundo, mas sua comida era gostosa. Ela não me tratou como um ídolo, e sim como alguém normal, e foi interessante, porque...
- Jay!
- Desculpe. Uma dia, a pessoa que me sequestrou... ela... - ele mordeu os lábios. - ela descobriu Han Neul. E ela - ele respirou fundo, apertando os olhos. - a matou. Na minha frente. Foi horrível. Eu fiquei apavorado, e ela disse que se eu não parasse de ficar gritando, iria ficar sem comer e beber.
- Então foi uma mulher.
- Daí então...
- Jay - interrompi. - Me diz. Era uma mulher?
Timidamente ele confirmou com a cabeça.
- Quem?
- Eu não posso falar.
- Você me tirou de casa, nessa maldita chuva, me fez atravessar metade da cidade, pra não me falar quem te sequestrou? - me ergui, furiosa.
- Eu não posso falar quem é!
- E por que não?
- Ela me jurou que se eu dissesse quem ela era, ela iria fazer mal aos meninos e à minha família, prefiro morrer a vê-los com dor ou mortos!
Respirei fundo. Mesmo furiosa, eu estava admirando Jay. então tinha me dito a verdade. Mas eu não era de cair fácil, a outra parte precisava me contar os detalhes.
- Desculpe. Continue. - me sentei. Ele confirmou com a cabeça.
- Ela disse que iria pôr seu plano em ação, ligando para um dos rapazes, e decidiu por . Gosto muito de todos, mas, na hora da alucinação, eu só pensava nele. Ele é muito especial para mim. Todos são, na realidade. Ela ligava sempre uma e cinquenta e nove da madrugada. Costumava brincar com o , perguntando que horas eram. Um dia, ela me colocou para falar com ele. Foi uma experiência única e eu espero nunca mais repetí-la. - ele secou os olhos com as costas da mão. - Hyung, você comeu? Hyung, você está bem? Hyung, eu vou te achar e eu vou cuidar de você, vai até enjoar de mim. - Jay deu um sorrisinho. Aquilo me doía o coração. - Há uma semana, quando você me encontrou, eu-
- Espera, uma semana?
- Sim, uma semana. - ele me olhou sem entender. Mas quem não entendia era eu. Como assim já tinha se passado uma semana e eu ainda achava que tudo tinha acontecido naquela manhã? Estava mesmo perdendo a noção dos dias? Era porque estava usando uma roupa clara, com certeza era o motivo..
- Desculpe, prossiga.
- Há três dias, eu tinha me recusado a dormir com ela. Ela finalmente disse que tinha me sequestrado justamente por isso.
- Para dormir com você? - perguntei incrédula. - Não que você não seja... que você... vo-você... err. Então, quem sequestra alguém só para satisfação sexual?
- Ela sequestra. Me sequestou por isso. - confirmou ele. - Ela me bateu de novo, mas com um chicote desses de sadomasoquismo. - fiz careta. - Pois é, bem estranho. Mas ainda assim recusei. Então ela ligou para e marcou um encontro com ele dia primeiro de Abril, porque era uma data importante, sei lá. Sei que ela já tinha marcado esse dia, porque eu vi um papel na mão dela assim que acordei. Estava em letras de cor vermelho e azul e...
- E tinha uma mancha de café na parte superior direita? - ele fez que sim. Eu já tinha associado o papel. Filha da puta! Já tinha planejado tudo nos mínimos detalhes! - E o que tem a ver com isso?
Ele mordeu os lábios e respirou fundo.
- Eu comecei a gritar com ela enquanto ela estava no telefone com o . Ela me mandou calar a boca e me bateu tão forte que eu comecei a ficar tonto. Mas deu tempo de ouví-la dizendo a ele que seu nome era e não Sang Wook, que você não era dançarina e sim policial e que estava duvidando dele. detesta gente mentirosa e que duvidem dele, e ela deve ter se aproveitado disso, porque disse a ele que ou ele matava você ou ela iria me matar. Eu não lembro o que aconteceu depois porque eu desmaiei, mas foi isso que aconteceu. Eu acordei amarrado em uma cadeira. Tinha um relógio no chão, bem perto da porta, e notei que era cinco da manhã. Ela percebeu que eu tinha acordado e disse que se por acaso eu dissesse quem ela era, ela iria fazer muito mal aos meus amigos e à minha família. Prefiro morrer a ver isso. Me bateu de novo, dizendo que depois iríamos nos ver, e se escondeu em algum canto. Daí então eu não a vi mais.
Eu não sabia o que dizer. Ou como agir. Eu apenas pisquei os olhos. Se não fosse Jay falando, acho que nunca acreditaria naquela história. Então agora eu precisava procurar uma garota chamada Narsha. Se nem eu sabia como ela era, como eu poderia reconhecê-la...?
- Eu acho que você não a conhece. - Jay abriu uma gaveta que tinha ao lado da cama e pegou um iphone, colocando um vídeo. - É essa aqui. - uma garota que acendia um fogo e brincava com um chicote, em um videoclipe. Agora já sabia de onde vinha o chicote e a idéia.
Me levantei bem rápido, tremendamente furiosa, e fui atá a porta.
- Onde você vai?
- Bater um papo com essa Narsha.
- Mas como vai achá-la? - verdade. - A Coréia não é um ovo como Seattle!
- Seattle não é tão ovo assim.
- Ah, jura? - ele ergueu uma sobrancelha. - O vizinho do meu colega é pai do vocalista do Foo Fighters, e o amigo do filho dele tem uma banda de rock que vive tocando na Warped Tour.
Respirei fundo. Eu tinha uma verdadeira paixão por uma banda de rock de Seattle e que por acaso tocam na Warped Tour desde 2006. É. Seattle era muito mais do que a "cidade onde os ventos são bipolares".
Pus a mão nos bolsos, não encontrando nenhum pedaço de papel. Jay arrancou um pedaço de folha de caderno, que tinha ao lado da cama e escreveu, desenhando um mapa. Virei o papel de ponta a cabeça, tentando lembrar onde eu encontraria aquilo. Era um quadrado escrito 'posto de gasolina', um retângulo atrás com uma boneca de palito e chicote na mão esquerda, e, mais na frente, algo como casas.
- Eu não sei o nome desse lugar, mas espero que você encontre. - comentou ele. - Sei que tem uma casa de telhado laranja, se isso ajuda.
- Ajuda. - sorri. - Obrigada, Jay.
Ia sair do quarto quando ele me chamou. Me virei na mesma hora.
- Perdoe o . Ele é só um garoto. E ele te ama.
Fiquei bem zonza, estava achando essa palavra tão estranha... "Amar". me amava? Não podia acreditar mesmo. Mas se Jay me confirmara sua história, por que eu duvidaria disso...? Ah, que fosse, eu estava confusa e não sabia se deveria ou não perdoá-lo.

.x.

Seguindo as coordenadas de Jay (e depois de muita pesquisa), estacionei próximo de um posto de gasolina abandonado. Se não tivesse comércio, com certeza seria o cenário perfeito para um filme de faroeste. Fiz sombra com a mão, vendo, ao longe, um telhado laranja. Ok, Jay, espero que esteja bastante certo.
- Vocês ficam aqui. - falei, colocando a arma na cintura e algumas balas nos bolsos da jaqueta. inflou as bochechas.
- Eu não vou deixar você ir sozinha encontrar a Narsha!
- , eu não estou indo pedir autógrafo! - comentei, seca. - E eu sou mais velha que você, então você fica e deixa que isso eu resolvo! - ela ainda fazia cara feia. - Alguém vai ter que ficar aqui para esperar , e , você é a mais nova, então fica!
- Eu sabia! - ela empunhou sua unha azul de metileno para mim. - Eu sabia que um dia você usaria desse artifício comigo! Dessa coisa de ser mais velha!
- E o que você vai fazer? - ergui uma sobrancelha.
- Ficar aqui. - ela cruzou os braços, mas logo me abraçando. - Se cuida, ok?
- Pode deixar! - arrumei a arma na cintura e saí correndo.
Um posto de gasolina abandonado que nada lembrava um posto de gasolina. Onde deveria ter a loja de conveniência era muito maior do que qualquer pessoa poderia pensar. Era como estar dentro de um porão realmente extenso. Estava escuro e estava úmido.
Enquanto eu andava cautelosamente por aquele lugar, ouvi uns barulhos. Tirei a arma da cintura e esperei, mas nenhum barulho a mais. Ou Narsha era muito esperta ou eu estava dando muita "bandeira".
Ouvi alguém pisando em uma poça de água e apontei a arma naquela direção. Meu coração estava batendo forte, não sabia se de ansiedade ou de raiva. Ou dos dois. A primeira coisa que eu vi foi um prendedor de cabelo rosa, de frufru. Abaixei a arma aliviada ao ver toda a loirice de Jessica apontando a própria arma para mim.
- O que você pensa que está fazendo aqui? - sussurrei.
- A mesma coisa que você. - ela respondeu. - Você quase me matou do coração!
- E você, a mim! - passei a mão no rosto. Jessica passou a mão no braço, aparentava frio. E não iria tirar a sensação dela. Não pelo frio em si, porque estava até calor; mas pela umidade do lugar, e Jessica parecia uma líder de torcida com aquele shortinho. Só precisava dos pompons. - Estava animando as Sones? - perguntei, começando a andar.
- Se não ouviu, nosso novo single se chama "Oh!". - disse, me acompanhando. - Eu acabei de vir de uma performance, estava indo para o camarim quando me ligou.
Ah, não, , não.
- não é caminhão pra sua areia, Jessica.
- A expressão correta é "Areia para Caminhão", besta!
Parei de andar, voltei a estatura normal e olhei para ela.
- Escuta, a boca é minha e eu falo como eu quiser!
- Só estou te explicando como é o ditado! - ela retrucou, colocando as mãos na cintura.
- Esqueceu seus pompons, Jessica. Você fica melhor travestida de líder de torcida do que de policial. - ri.
- Ah, cale a boca! - ela rolou os olhos, me empurrando para que andasse.
Quanto mais andávamos, maior o lugar ficava. Eu sentia o cheiro de mar entrando pelo meu nariz, cheiro de maresia. Um dos piores cheiros que eu já tinha sentido. Só não batia o perfume de Jessica, enjoativo até dizer chega.
- Ai! - Jessica fez e eu olhei para trás, preocupada. A tempo de ver seu bico. - Quebrei minha unha!
Rolei os olhos. Unha quebrada, como eu iria lidar com Jessica falando de uma unha quebrada, no meio de uma quase captura? Onde eu tinha atirado a pedra na cruz para tê-la ao meu lado, naquele momento? Eu preferia a morte.
- Eu não acredito que você está reclamando de uma unha quebrada! - ela me esticou o dedo, a unha pintada de rosa com francesinha branca de pedrinhas coloridas. Bati na sua mão.
- Mas quebrou bem no meio! - ela continuou de bico. - Como vou dizer a Soo Jin unnie que quebrei a unha?
- Arranca esse troço e enfia dentro do nariz, quem sabe sua voz fica menos nasalada! - uma voz comentou.
Jessica e eu nos viramos ao mesmo tempo, ao ouvir um barulho de sola de bota batendo no chão cheio de poças. Narsha aparecia como se fosse normal andar em um ambiente úmido e quente. Quer dizer, quente para mim, porque Jessica estava congelando. Estiquei a arma.
- Olha, tenho visita! - ela sorriu. Jessica ergueu a arma. - e a Legalmente Loira da Coréia!
Suspirei, impaciente.
- Isso é peruca, sua retardada!
- ! - Jessica recriminou-me.
- Não precisa se preocupar. - Narsha sorriu. - Somos todas garotas, não é? Olha, vou te dizer uma coisa, diga àquela sua amiguinha dançarina que ela estava péssima no Dance Battle dessa semana! - Jessica fez careta. Narsha prendeu uma risada. - Mas estava mesmo! No meu tempo, as pessoas se dedicavam mais.
- Por que sequestrou Jay? - intervi, enquanto Jessica continuava com aquela cara de burro quando foge. Poderiam falar de quem quer que fosse, mas ela não admitia que falassem mal das amigas cor de rosa. Sabia que Jessica estava arquitetando algum plano, só precisava saber qual, sem usar a voz.
- Ai, que maldade! - ela se protegeu. - Não "sequestrei" o Jay, eu só o convidei para passar uns dias comigo! Que culpa tenho se ele aceitou? - riu. - Eu não disse que ainda esse ano teria um escândalo com algum artista?
- Mentirosa! - sussurrei. Narsha sorriu de forma infantil, chegando perto de mim e abaixando minha arma. Eu estava tão pasma com a atitude dela de chegar perto de mim daquela forma, que acabei deixando. De qualquer forma, se algo me acontecesse, ainda tinha Jessica.
- Que culpa eu tenho se ele quis? - enquanto abaixava minha arma, ela erguia a própria e batia com o cano na minha cabeça.
Caí no chão, a dor tinha sido incrívelmente forte. Mas, ao contrário do que Narsha pensava, eu não tinha desmaiado. Então fingi que tinha ficado no chão por causa disso, enquanto ela andava até Jessica, com aquela cara ameaçadora.
- Aproveite e diga para aquela sua amiga magrelinha, a atriz, que ela não sabe atuar! E que precisa melhorar aquela cara de peixe morto, sabe, hoje em dia existe cirurgia plástica, mas acho que não iria melhorar muito.
- Deixa a YoonA fora disso. - ouvi Jessica se controlando. Geralmente ela fala mais baixo e muito mais sussurrado que o normal, e é comum ver seus olhos soltando faíscas. Enquanto as duas "conversavam", fui me arrastando até um pouco mais longe. Atrás de Narsha. Vi o breve olhar de Jessica sobre mim, e acho que compartilhamos o mesmo plano naquele segundo.
- Então voce sabe de quem estou falando, isso é até engraçado! - ela continuou. - Vamos ver... ah, diga àquela menininha americana, Tiffany, não? - Jessica estreitou os olhos. - Que ela precisa usar calcinhas mais vezes. - Narsha riu. - E àquela menininha, Sunny?, que os bichinhos que ela tanto adora, um dia morrem. Ah, quase esqueci dela, aquela líder de meia tigela, que mal sabe colocar a ordem, não é? - Eu via a raiva chegando no rosto de Jessica enquanto me aproximava delas. - Diga a ela que ela é nojenta, irritante e que é uma péssima líder.
- CALE A BOCA! - Jessica gritou. - CALE A BOCA! Você não tem o direito de falar delas assim!
- Eu tenho! Tenho sim porque eu sou uma expectadora, certo, e vocês deveriam ter esse feedback, afinal, eu debutei antes de vocês!
- E eu que pensava... você era uma ídola para nós! - Narsha se sentiu.
- Sabe, eu até pensei no início em sequestrar uma de vocês, mas vocês são muito cheias de frufrufru's, não ia dar muito certo. Muito mais fácil sequestrar homens. É só seduzí-los, são todos iguais!
- O Jay, não! - puxei o pé de Narsha, mas ela não caiu.
Enquanto Narsha apontava a arma para mim, ou pelo menos tentava, porque Jessica tentava puxá-la para longe, consegui me levantar, puxando o outro braço de Narsha. Com toda aquela luta, a arma disparou duas vezes. Da segunda, acertou o braço de Jessica, que gritou. Devia ter doído mesmo... Pelo menos doeu nos meus tímpanos.

De qualquer forma, a arma de Narsha e a minha voaram para longe quando consegui derrubá-la no chão. Prendi-a no chão com minhas pernas, dando-lhe socos contínuos até que seu rosto parecesse ter uma pasta de cor vermelha na altura do nariz. Não esperava que ela usasse as pernas para me segurar pelo pescoço, me fazendo cair para trás. Vez dela me bater.
Essa mulher tinha visto muito filme do Jackie Chan!
Atraídos pelos gritos de Jessica, , e entraram naquele lugar abandonado. Assim que ouviu os passos, Narsha se levantou e saiu correndo.
- Você está bem? - me perguntou, mas eu não respondi, saindo correndo atrás de Narsha, que já sumia do meu campo de visão. Ela não iria muito longe com aquelas botas. Mulheres que não usam bota frequentemente se cansam fácil. Mesmo que ela quisesse bancar a "Diva da Máfia Coreana", não iria aguentar o figurino por muito tempo.
- Se você se entregar, vai ser muito melhor! - gritei.
- Nunca! - ela gritou de volta.
Alcançávamos uma zona residencial. Já era possível ver casas, mercados, farmácias, como em uma cidade normal. E, eu não podia prestar atenção, mas sabia que as pessoas daquele lugar pareciam preocupados e receosos com duas mulheres ensanguentadas correndo por suas ruas.
- Narsha, pare! - gritei novamente, parando. Pode me chamar de fraca, mas eu estava de bota e estava cansada. Contrária a ela, as minhas tinham salto fino. Não sabia nem como tinha corrido tanto com elas. Na verdade, eu não sei onde estava com a cabeça quando escolhi colocar aquela bota, mas, do jeito que eu andava avoada, eu achava que tinha pelo menos uma boa desculpa.
Narsha se virou, vitoriosa, andando de costas alguns passos. Me mostrou o dedo do meio.
Assim que se virou, um caminhão em alta velocidade a atropelou.
Foi uma cena realmente horrível. Seu sangue respingou por todas as partes, de árvores a fachadas. Mães colocavam seus filhos para dentro de casa ou tapavam seus olhos; até os cachorros fugiram!
Eu estava cansada. Morta. Suja. Melada. Suada. E tinha matado Narsha. Se não tivesse corrido atrás dela, nada disso teria acontecido.
Deixei que minhas pernas fraquejassem e minha boca abrisse de espanto enquanto o motorista parava o veículo, tinha acontecido em uma fração de segundos, tudo ao mesmo tempo.
Ouvi alguém parando de correr atrás de mim, ouvi o cascalho fazendo barulho. No segundo seguinte, o barulho que as sirenes faziam.
- Você está bem?
Engoli em seco, olhando para cima.
- Acho que sim. Jessica?
- Já foi para o hospital. - ela me esticou a mão. - Você vem?
Segurei sua mão e levantei. Em silêncio. Enquanto eu ouvia os barulhos de ambulância ao longe e pessoas buzinando por causa do engarrafamento que tinha começando, fui até o carro de e me sentei no banco de trás. Logo me joguei, colocando os braços cruzados na frente do rosto. Só conseguia pensar no que tinha acontecido. Em menos tempo que um piscar de olhos, Narsha havia sido brutalmente atropelada. Duvidava que ela estivesse viva.
- Trouxe água pra você. - uma voz conhecida afirmou, e então senti o gelado em cima de minha barriga. A única pessoa que fazia isso era .
Olhei para ele com os olhos cheios de lágrimas. Não sabia como isso tinha acontecido, mas estava chorando de novo. Ele abriu os braços e me abraçou forte.


C A P I T U L O • 8


Passei a viagem inteira em silêncio, até porque eu não conseguia falar muita coisa. Pode parecer loucura, mas, no meio de um turbilhão de pensamentos, só me vinha Jessica na cabeça e, confesso, eu estava bastante preocupada com ela. Tinha medo que o tiro tivesse passado seu fino braço, levar um tiro não era brincadeira.
- Quer ir tomar um sorvete? - me perguntou. Fiz que não com a cabeça. - , não foi culpa sua. Ela assinou a própria sentença de morte.
- Certo. - balbuciei. Pela primeira vez na vida, queria que ficasse calado. Que me deixasse em paz. Eu só queria ir para casa, dormir e acordar, pensando que nada havia acontecido de verdade. A cena de Narsha sendo atropelada era realmente forte e eu duvidava que pudesse esquecer tão cedo. Seria a segunda imagem mais forte que meu cérebro iria guardar.
ficou calado o resto da viagem de volta ao centro. No caminho, parou em uma loja de conveniências, enquanto abastecia o carro, e voltou trazendo uma garrafinha de Coca Cola.
- Para você. - disse, ao me esticar o líquido.
- Obrigada. - mas não abri, fiquei passando o dedo pelas letras do plástico que envolvia o refrigerante.
- Não vai beber?
- Não bebo mais Coca Cola. - confessei, com um fio de voz. Não queria... porque me fazia lembrar dele. De como ficava bonito tomando Coca Cola, a forma como erguia a mão para beber, a forma como seu pomo de Adão se mexia quando o refrigerante passava por sua garganta.
Mas não contestou, apenas olhando para mim. Disse um "Tome quando sentir vontade" e foi pagar a gasolina. Odiava estar daquela forma, mas eu não conseguia agir de outro jeito.
Ele entrou no veículo e nos levou à DP. Eu precisava prestar um rápido depoimento e, daí em diante, eu não tinha rumo. Digo, que mais eu poderia fazer? Investigar o que?
Eu poderia dizer que era Depressão Pós Finalização de Trabalho, mas nenhuma dessas "depressões" dóia como essa, até porque eu não sabia se tinha mesmo trabalhado ou não. Acho que prefiro a segunda opção.
Eu poderia ir visitar Jay, mas não tinha a mínima vontade de fazer isso. Jay me lembrava , e, ele... ele eu não gostaria de pensar. Quer dizer, queria mas não queria. Pensar nele me causava dor, e não é dor psicológica. Era dor de apertar o coração, de verdade. Eu ficava tonta, minha mão parava no peito, era como se eu levasse facadinhas. Até pensei, cogitei - a idéia de ir para o hospital, mas sabia que era algo que nem remédios poderiam curar; na realidade, eu não sabia se queria curar.
De uma coisa eu tinha certeza: eu queria comer torta de limão, muita torta, muitos pedaços. E me afogaria neles, para todo o sempre.

Dar depoimento era muito chato, tão chato quanto fazer um relatório. Mas tentei ser o mais breve possível, eu só queria ir para casa. Dormir. Dormir era sempre uma boa escolha, para tudo.
E assim o fiz, quando o policial Kang chegou com o meu carro. Joguei as chaves em cima da mesa e me joguei na cama, com o rosto virado para baixo.

Acordei quatro horas depois; a julgar pelo nível de claridade, já deveria ser final da tarde. Eu dormira muito mal; constantes pesadelos, em que era sequestrada, era um palhaço como o Bozo e que era atropelada como Narsha. Tudo passava muito rápido, parecia que queria chegar na parte da morte. Eu acordei sete vezes assustada, porque, todas as vezes que eu dormia, era um que morria: , , , , ... e . Eu não queria confessar, mas não poderia não falar outra coisa.
Depois que tomei banho, o lugar perto da janela me recebera novamente. Tinha chovido grande parte da tarde, por isso tinha estrelas no céu. Localizei a mais brilhante e pedi a ela que me desse um conselho, um caminho a seguir. Ela não respondeu.
Senti algo molhado nas minhas mãos e olhei para meu pulso direito, vendo minha irmã mais nova concentrada em meus dedos, como um objeto cintilante. Puxei a mão.
- O que está fazendo?
- Passando removedor de esmalte nas suas unhas. - respondeu simplesmente.
- Que unhas, ? - eu e unhas tínhamos um histórico. Eu roía desde que me entendera por gente, e, na última vez que as pintara, quando tudo tinha começado, elas ainda estavam muito curtas. Eu e esmaltes. Da última vez que inventara de pintar, passei quase cinco horas para tirar o esmalte preto.
Mas minha irmã mais nova e (im)paciente não percebera esse pequeno detalhe.
- Que tal essas? - ela praticamente colocou minha mão dentro do meu olho.
- Ai! - fiz, quando uma das "unhas" me arranhou a pálpebra. Olhei para elas, realmente estavam bem grandes. Basicamente o esmalte que eu anteriormente havia pintado as unhas estava colorindo metade dos meus dedos.
acabou sorrindo e voou para o corredor, voltando segundos depois com uma pequena bolsinha e um pacote nas mãos. Abriu a bolsinha, que revelou-se uma verdadeira aquarela de esmaltes. De branco ao preto. Todas as tonalidades possíveis, me perguntava como ela havia passado naquela palhaçada toda de aeroporto com esses negócios.
- Comprei todos semana passada! - respondeu, como se lesse meus pensamentos; e como uma menina de doze anos falando sobre garotos. Ergueu um rosa choque e um verde bandeira. - Qual dos dois?
Rosa ou verde? Rosa e verde me lembravam cores que participavam de um arco íris. Será que o meu arco íris ainda poderia ser colorido?
Espera. Meu arco íris? Como assim meu arco íris? Minha vida, desde os doze anos, tinha sido sempre preto no branco. Se fosse branco, era raridade; geralmente era preto. Preto como a escuridão. Como agora eu estava querendo colorir? Eu não era a Xuxa para colorir, aliás, ela era um saco!
Mas ainda assim... que arco íris? Para mim, agora, tudo era só chuva.
Você deve estar se perguntando o por quê do drama, mas se nem eu sei a resposta, como vou te responder? Era uma boa pergunta. Eu nunca fui de me importar tão a fundo em um caso. Se fosse preso, se fosse linchado, se morresse, isso era problema deles, não meu.
começou a passar quatro tonalidades diferentes, queria saber que cor iria dar. Amarelo, violeta, azul e verde. Eu não tive outra saída a não ser deixar, principalmente quando ela puxou minha mão esquerda e tirou-me do meu conforto.
- Aquele menino, , é muito bonito. - eu não tinha forças nem para sorrir direito. - Será que ele têm namorada?
- Por que não pergunta a ele?
- Porque você conhece mais do que eu! - ela fez bico. Talvez não tivesse percebido a faca que estava cravando no meu coração. - Os conheci hoje cedo, quando fui no hospital.
- Por que foi no hospital?
- Jay ligou para cá te procurando, e então conversamos. Ele é um amor de pessoa.
- Eu sei.
- Escuta, , - ela pôs o esmalte de lado e olhou para mim. - o que passou, passou, não dá pra voltar atrás, entende?
- Eu sei. - suspirei, observando uma unha amarela, outra verde, outra violeta e outra, azul. Ela ergueu meu rosto.
- Ficar assim não vai adiantar de nada e você sabe disso melhor do que eu. - ela sorriu. - Que tal um super hamburguer com tudo que se tem direito e milhares de calorias?
- Pode ser.
- Pode ser, nada! - ela se levantou, irritada. - Você não acumula gordura porque corre como uma gazela, mas eu, sim!
- Ah, desculpe, eu não sou sedentária! - brinquei. Ela me abraçou forte.
- Assim que gosto de ver você, brincando! - girou nos calcanhares. - Ei, não tem mais Coca Cola!
- Não bebo mais Coca Cola, .
Ela deu um sorrisinho e voltou a dar um ataque, dizendo que tínhamos comido todo o pão e que ela tinha que sair naquele frio para buscar. Eu não me importava se tivesse ou não hambúrguer. Voltei a olhar pela janela, vendo algumas meninas, no frio, com cartazes coloridos nas mãos. Uma delas se jogou, ou caiu, não sei - no chão e começou a socá-lo. Eu achei aquilo muito estranho, uma vez que parecia que ela não se importava com o sangue que corria em suas mãos. Outra a levantou, dando-lhe um bela tapa no rosto. Minha cabeça começou a processar diálogos, mas, quando elas desapareceram, voltei ao estado de antes.
Ele não era culpado, mas eu me sentia culpada de tê-lo acusado quase que injustamente, de ter pensado coisas erradas e de te-lo colocado na cadeia. Já visitei lugares horríveis na vida, mas um dos piores era, com certeza, uma cela. Era muito fria, era muito escura e dá uma sensação muito ruim de incapacidade.
Quando o telefone tocou, sequei uma lágrima que caía na minha bochecha, sujando-a com esmalte violeta. Mesmo assim não me importei, me levantando e pegando o telefone.
- Alô?
- Alô? Quem está falando? - perguntou a voz do outro lado, quase como um rosnar.
- , com quem a senhora deseja falar?
- ? ! - afirmou. Ou ela era surda ou era surda mesmo. - Minha filha!
Certo, essa talvez tenha sido a maior surpresa da minha vida. Minha mãe, ligando para minha casa, na Coréia do Sul. Certo que não era a minha casa de verdade, porque morava em Taiwan e trabalhava onde me mandavam, mas tinha decidido ficar por lá. Ou talvez não mais...
- M-mãe?
- Sim, sou eu! Oh, minha filha, como você está? Está se alimentando direito? Está comendo feijão?
- Desculpe, senhora. - engoli em seco. - Talvez esteja procurando pela , ela sim é sua filha.
Ouvi um pesado e longo suspiro do outro lado, mas não me importei. Ela não tinha o direito de me tratar como se nada tivesse acontecido, depois de quase dez anos. Muitas pessoas abstraem certos fatos da vida, mas eu não consigo lidar com esse tipo de falsidade. De inimizade, de não companheirismo. Talvez tenha sido esse o motivo pela qual eu sou o que sou hoje. Essa falta de tato, de amor, de amizade. Na realidade, minha mãe nunca foi, de verdade, minha amiga. Gostava apenas de pontuar minhas fraquezas e dificuldades, e, quando eu me magoava, ela dizia que era melhor que aprendesse em casa. Que, se tivesse que lidar com as minhas fraquezas, iria me tornar mais forte. Que, se ela fosse pensar que tudo me chateava e magoava, eu nunca iria aprender.
De fato, aprendi. Aprendi que não iria mais permitir que as pessoas me magoassem, porque quem iria magoá-las primeiro seria eu. Aprendi que não basta colocar o dedo na ferida, e sim jogar sal grosso. Aprendi que não adianta ser dócil e boazinha, porque quem é sempre se ferra. Com perdão do palavreado, claro.
- Por algum acaso eu liguei para você, e não para .
- Ah, claro, esqueceu de algum defeito, com certeza.
- Na realidade... eu senti sua falta. - acabei rindo.
- E então acha que é fácil? Há dez anos, você não pensava assim, e agora sente? Me desculpe, mas plantas venenosas nunca mudam sua natureza.
- Se você acha que não mudei, não posso fazer nada. - ela suspirou. - Amor não se força.
- Ainda bem que a senhora percebeu isso, não é? Quero dizer, com dez anos de atraso, mas pelo menos lembra das minhas últimas palavras para você.
- Não seja assim, . Estou tentando consertar os-
- Depois de dez anos é que você pensa em consertar as coisas? - ri. - Desculpe, sra. , mas eu não me considero mais sua filha e melhor, eu prefiro que você considere o mesmo. Afinal de contas, não foi a senhora que disse que se sentia mal de ter dado vida a alguém como eu? Tenha um bom dia.
E bati o telefone. Me sentia sem fôlego, talvez pelo pequeno motivo de que eu não disse aquilo tudo pausando. Foi como uma metralhadora que nunca pára.
Olhei para o corredor e lá estava , com um grande ar de surpresa. Ela ainda era pequena quando me ouviu explodindo com nossa mãe, na última vez. Via lágrimas em seus olhos e não as vi caindo quando ela me deu um tapa.
- Juro que tentei ajudar. São dez anos, , dez anos nessa vida. Dez anos escutando nossa mãe dizendo que você era uma criança difícil mas que sentia sua falta, e quando finalmente consigo convencê-la a tentar mudar essa história, você faz isso. Será que você não tem o mínimo de senso? Quando vai parar de viver no passado?
Eu estava surpresa demais para responder. Ergui minha mão e pus na bochecha, sentindo ainda a quentura do tapa. Lancei-lhe um olhar triste. Eu nunca levantara a mão para ela, e agora fazia isso.
- Eu não sou mais velha que você em nenhum quesito de vida, mas eu só peço, encarecidamente, que você cresça! Será que é assim tão difícil? Você não deixa nossa mãe se reaproximar de você. Você não aceita o fato de que... , - ela me virou. Meus olhos tinham lágrimas de raiva, ou poderia dizer, lágrimas de reconhecimento da verdade? - larga de ser difícil. Você não é assim. Antigamente, você quebrava a menor barra de chocolates do mundo se fosse preciso para dividí-la comigo. Agora você fica com ela e finge que não tem nenhuma. Qual é o seu problema?
- A vida não é uma barra de chocolates, . - respondi, engolindo lágrimas. - Muito menos uma praia onde o céu é limpo e sem nuvens. Ela é dura, difícil, e não dá chances a quem não se impõe.
- Eu sei disso. - disse entredentes. - Mas nem tudo é tão duro. Nem tudo é feito de ferro. Temos que deixar que haja um fogo que derreta esse metal. Não falo de ir até a garagem e pegar o fogo. Falo de nós mesmas. Se nós não tivermos essa vontade de derreter... o que vai ser de nós? Puro metal? É assim que gostaria de ser lembrada? Como um pedaço de metal?
O telefone começou a tocar novamente, mas eu não conseguia me mexer. Meu rosto provavelmente ainda teria as marcas dos dedos da minha irmã mais nova, mas o que doía era mais embaixo. Era um lugar onde passava muito do sangue e o que consistia para a minha sobrevivência.
- Atenda. - disse. - Você vai atender esse telefone e vai falar direito com ela. Se você não fizer isso, , escute bem o que eu vou te dizer - se você não atender este raio de telefone e falar direito com ela, você vai perder a única pessoa nesse mundo que, de fato, te ama e que é capaz de matar por você. Você nunca mais vai me ver ou saberá de mim, você me escutou? - ela tirou o telefone do gancho e me esticou.
Peguei o aparelho meio incerta, e, engolindo em seco, atendi. Era ela.
- Por favor, não bata o telefone na minha cara novamente. Não sabe como me parte o coração.
Olhei para , que tinha os olhos arregalados e suspirei.
- Desculpe. - apertei os olhos. Minha irmã continuou com aquela cara. - Desculpe, m... m... desculpe, mãe.
Ela começou a chorar do outro lado.
- Você não sabe quanto tempo esperei para ouvir isso de novo.

Não vou entrar em mais detalhes de como isso seguiu. desceu para comprar hambúrguer e eu continuei falando com ela. Eu já tinha até esquecido de sua voz, como era e como era bonita quando não estava gritando nem me xingando. Eram bons tempos aqueles, em que ela falava de forma doce comigo. Não deixo de ter um pouco de culpa nisso, porque ela pedia com jeito e eu fingia que não escutava, até ela me tirar da frente da televisão puxando-me a orelha.
Não somos melhores amigas. Nem vou te garantir que tudo de repente ficou tão perfeito para um final feliz de final de conto de fadas. Mas muita coisa foi esclarecida naquela conversa.

.x.

A audiência estava marcada para o dia seguinte, às duas da tarde. Era até meio irônico aquele horário, mas tanto como não falaram muito sobre isso.
Ficou combinado que iria me buscar quinze para uma e que, depois da audiência, iríamos voltar para o DP e fechar o arquivo. Particularmente, era a minha parte predileta, porque era quando o "fim" era decretado e a pasta, arquivada dentro de uma sala que continha arquivos grandes e metálicos. Já tinha perdido as contas de quantas vezes eu dissera que seria melhor colocar no computador, mas também era preguiçosa de dar o exemplo.
, Jessica, , e foram para a sala de audiência mas eu fiquei para trás. Era a primeira vez que, de fato, eu estava com um pouco de medo do que pudesse acontecer. Era uma sensação realmente esquisita, mas, pela segunda ou décima vez, eu estava tentando me convencer de que ele era inocente e que eu não tinha mais nada com isso.
Eu não tinha feito nada. Nada. Minhas andanças com eram mais importantes que o caso e eu me sentia uma inútil. Não interrogara nenhum dos outros; tinha sido , com aquele jeito dócil que possui. e fizeram a outra parte, já que e Jessica não poderiam trabalhar direito, por causa de seus "disfarces" como super ídolos da garotada. Brown, só Deus sabia onde estava e Forip... provavelmente, naquele momento, sendo cremada e tendo suas cinzas espalhadas ao vento tailandês.
Eu estava nervosa. Muito nervosa, na realidade, e nem sabia por quê. Eu já tinha sido testemunha umas duas vezes, mas, dessa vez, alguma coisa me deixava ansiosa.
- . - chamou um oficial e eu me levantei. Suava, mas seguí-o até a sala de audiência. Outro oficial apareceu, me dizendo o que eu já sabia: "Jura dizer a verdade, somente a verdade, bla bla bla". Afirmei com a cabeça e me sentei.
Vi e Jay sentados em pontas opostas da mesma mesa. Jay sorriu ao me ver, mas ainda tinha "Me perdoe" estampado nos olhos. Vi e sentadas lado a lado, e separando de Jessica. As três deram sorrisos rápidos para mim. Vi câmeras. Estava preocupada com as perguntas.
- Não é sua primeira vez depondo, srta. ? - Ji Hyun me perguntou. Fiz que não.
- É a terceira.
- Então não é totalmente leiga quanto a depoimentos.
- Protesto, Meretíssima! - Ji Yoon se levantou. - Qual é o fundamento da pergunta?
Suspirei. Fundamento da pergunta? Por favor, ela estava me chamando de imbecil!
- Concedido.
- Srta. , como chegou ao caso de Jay Park?
- Fui transferida da sede, em Tóquio, e logo recebi o caso.
- Por suas grandes habilidades em resolver casos com rapidez, certo? - fiz que sim com a cabeça. - Como houve a separação de tarefas?
- Nosso chefe nos separou.
- E a srta. trabalhou disfarçada de dançarina do grupo que Jay Park participava, 2PM...?
- Correto.
Esse advogado não era muito bom. Fazia cada pergunta que me enervava e esquentava por dentro.
- Poderia nos dizer com quem trabalhava disfarçada, digo, algum companheiro de trabalho?
- . - apontei com a cabeça para minha amiga, sentada metros a minha frente.
- Quem mais?
Mordi os lábios, olhando para Ji Yoon. Atrás dela, Jessica fazia que não.
- Responda a pergunta, srta! - e então para a juíza. - Poderia pedir para que a testemunha respondesse, Meretíssima?
- Protesto, isso é extremamente confidencial!
- Os dois aqui, agora. - a juíza chamou os dois advogados para perto de si, falando alguma coisa em tom baixo. Enquanto Ji Yoon contestava alguma coisa, olhei para meus amigos. fazia a típica expressão de "você está indo bem", Jessica e aparentavam nervosismo e eu sabia por quê. Se eu os delatasse, suas vidas seriam inferno. Passei a mão no rosto, sentia as lágrimas chegando aos meus olhos. Mesmo que a situação fosse terrível, eu não iria chorar.
- Reformularei a pergunta. - Ji Hyun apareceu de repente, quando Ji Yoon se sentou. Me assustei. - Então, por uma semana e meia, a senhorita trabalhou disfarçada como dançarina do grupo - confirmei com a cabeça. - Não desconfiou dos membros?
- Sim, mas - sorri. - convenhamos, policial, eles amam Jay quase que com suas próprias vidas. Não fariam mal a uma formiga!
Jay sorriu para mim.
- "Não fariam mal a uma formiga", bela frase. Então, não desconfiou nem de ? - ele apontou para .
- Não.
Ji Hyun pôs as duas mãos na base mogno que estava na minha frente, como quem tomava fôlego. Atitude esta que estava me dando medo. Não sabia o que poderia vir a seguir.
- Como chegou a srta. Narsha, que Deus a tenha?
- me contou.
- O que ele contou a você?
- Que Narsha sequestrara Jay. Que ela colocara Jay ao telefone para falar com e que ligava constantemente para fazer-lhe ameaças. E que dissera a ele que ou ele me matava ou ela mataria Jay.
abaixou a cabeça. Engoli as lágrimas.
- Preferia que ele tivesse me matado, não desejo para ninguém o que estou passando. - falei sussurrando, mais para mim do que para todos.
- Então o sr. disse-lhe que Narsha o mandara escolher entra a senhorita ou Jay e que se ele não a matasse, ela mataria Jay? - o advogado riu. - Desculpe, mas essa é a combinação mais boba que já ouvi na vida!
- Como disse...?
- Estou dizendo - sua voz ficou alta. - que a senhorita e planejaram essa ladainha de pré escolar!
- Protesto! - Ji Yoon se levantou, furiosa. - Especulação!
- Concedido. Sr. Lee...? - a juíza falou novamente, dessa vez, mais severa. Ji Yoon, ela estava na minha lista de Natal!
Ji Hyun parecia fora de si. Suava descomunalmente e sua gravata de repente apertou-lhe o pescoço, que fazia uma bela combinação com seu rosto vermelho escarlate. Ele se aproximou de mim e me olhou nos olhos.
- Teve um caso com o sr. , srta. ?
Um soco no meio do estômago. Eu preferia um soco no meio do estômago do que aquela injeção no coração.
- Defina caso.
- Responda minha pergunta!
Engoli em seco, olhando para , que balançava a cabeça como quem dizia "não". Jessica, , Leticia, os três me olhavam apreensivos. Não consegui decodificar o olhar de , mas sei que não estava gostando.
- Então?
Engoli a seco.
- Sim.
Ji Hyun sorriu vitorioso. Abaixei a cabeça quando vi balançando a cabeça e se levantando, saindo da sala de julgamento.
- Sem mais perguntas.
Aquele homem merecia morrer. Quando Ji Yoon levantou, eu estava tremendo. Literalmente tremendo, parecia que eu estava levando choques. Eu nunca tinha tremido tanto em vinte e dois anos de vida. E confesso que fiquei até mais aliviada quando ela começou a falar de Jay. Ele tinha esse pequeno efeito de me transmitir "paz de espírito". Mas quando o assunto voltou a , era clara a minha tremedeira.
- A senhorita conhecia antes de pegar o caso?
- Não.
- Nunca tinha ouvido falar do grupo que ele e Jay participavam?
- Já, mas não via programas, apresentações. Eu tinha mais o que fazer do que virar uma fangirl histérica na frente da televisão ou do computador.
- O que levou a sua amizade instantânea com ?
- Eu era a dançarina do grupo dele e fazia par justo com ele.
- A senhorita sabia do que estava acontecendo até Jay Park ser encontrado e , preso?
- Não.
- Defina seu relacionamento com .
- A base de refrigerante.
- Falo sério, srta. .
- Também falo sério. - algumas pessoas abafaram um risinho. - Nós ficávamos horas conversando sobre coisas bestas enquanto bebíamos refrigerante. - pisquei. Não estava mentindo, estava?
- Sem mais perguntas, Meretíssima.
Me levantei segundos depois, deixando a sala e o tribunal, passando pelos vários repórteres e fãs, que me xingavam de todos os nomes que começavam com P, V e S que existiam no universo.. Não olhei para ninguém, eu não queria nem ouvir o que iriam decidir.

Passava pelo "nosso" bar quando resolvi parar. Depois de toda aquela situação, eu precisava me aliviar de alguma forma. Não iria beber para ficar bêbada, só para tentar me acalmar um pouco.
Sentei-me no banco próximo do balcão e constatei ali, bebendo algum coisa de cor âmbar.
- Isso é bom?
- Não sei. Ainda não tive coragem de beber.
não bebia havia dois anos. Algo muito sério estava acontecendo e eu tinha um leve pressentimento de que a culpa era minha.
- Está chateado?
- Estou.
- Comigo?
- Onde quer chegar?
- Por que saiu daquela forma da sala de audiência?
- Por que acha?
- Essa é uma pergunta retórica?
- Não sei, o que você acha?
- , pode ser mais claro? - fiquei irritada. - Pare de se fazer de besta e fale logo qual é o problema!?
- EU AMO VOCÊ, SERÁ QUE AINDA NÃO PERCEBEU OU QUER QUE EU DESENHE?
Ele havia sido bem claro. Claro quase transparente.
Era como se o bar inteiro tivesse morrido. Todo mundo ficou em silêncio.
Aos poucos, Sang Jin puxou uma garrafa de bebida do armário. Estava tão silencioso que era possível ouvir o líquido batendo no gelo e preenchendo o copo. E, aos poucos, o barulho recomeçava.
- Você... você me ama? - perguntei baixo.
- Amo. - ele afirmou. - Pior que amo, , te amo tanto que chega a doer.
- Mas... mas uma vez te perguntei e você não...
- Eu menti, ok? Menti sobre estar preocupado com Forip e Brown, menti sobre você ter que dormir porque o dia ia ser cansativo, ok, eu menti! Pergunte pra quem você quiser naquela empresa de merda, eu não conseguia me concentrar, pensando em você naquele lugar cheio de homens, ensaiando com um deles, que por acaso é um idiota!
Eu ainda estava sem palavras.
- Não adiantou minha preocupação. - ele voltou a seu drink, amansando a voz. - Você esteve com o tempo inteiro. Eu já devia saber. Era bom demais com você.
- , - puxei seu braço e encontrei seus olhos cheios de lágrimas. - me desculpe, realmente eu não sabia, eu...
- Tudo bem. - ele sorriu, batendo uma nota em cima do balcão e pegando a jaqueta no banco do lado. - Não se pode ganhar todas, certo?
Ele só conseguia que eu me sentisse pior. Então, durante todo esse tempo, estava apaixonado por mim e eu não tinha percebido. Eu me sentia mal por ter feito com que ele sofresse. Não só quando eu estava com e os outros, mas quando acontecia algo entre nós, ele e eu, e eu.
Eu sabia que era insensível, mas não sabia que era tanto assim!
- Desculpe. - engoli em seco, me levantando e ficando na sua frente. A diferença de altura não era enorme, mas, naquele momento, eu me sentia menor do que uma formiga. - De verdade.
- Sem problemas.
Estiquei os braços.
- Então me abrace.
Ele demorou um pouco, mas me abraçou e eu o apertei. Não sabia que estava partindo o coração de alguém tão simpático, doce e amável como , mas estava fazendo justamente isso com aquele abraço. Meio que dizendo que preferia do que ele. Mas nada nem ninguém iria tirar o lugar dele da minha vida. Por tudo que já aconteceu, pela amizade, pelo carinho, por todas as dificuldades que ele me ajudou.
Foi difícil, mas, enquanto afroxávamos o abraço, olhei em seus olhos. Olhos tristes, olhos arrasados. Me permiti chegar um pouco mais perto e dei-lhe um selinho.
- Amigos para sempre?
- Todo o sempre.
Voltamos a nos abraçar mais uma vez até que ele saiu do bar. Sentei-me no banco para terminar minha bebida, mas ter todos aqueles olhares direcionados a mim era desconfortante. Estiquei uma nota para Sang Jin e saí do bar.

.x.

O salto da minha bota batia fortemente no chão do DP, na manhã seguinte. Tinha passado a noite em claro e chegara a uma conclusão: não tinha acontecido nada. E nunca mais iria acontecer. Voltaria a ser a de antes, a que primeiro quebrava o braço e depois perguntava o que queria. A que jogava cds nos colegas e a que discutia de forma feroz com Jessica. Eu precisava deixar Seul e voltar para a China, tinha toda uma vida por lá e tinha contas a pagar.
Quando cheguei na sala dos detetives, vi Jessica com uma grande caixa em cima da mesa. Se não fosse esperta, iria deduzir que ela estava deixando o DP, mas eu só queria acreditar que era mais uma de suas várias manias.
- O que está fazendo? - perguntei. Ela sorriu.
- Não vê? - ela pôs um prendedor de papel dentro da caixa. - Estou deixando o departamento.
- Ah. - cruzei os braços. - Jura? Para onde vai? Homicídios? - ela suspirou, lançando-me um sorriso que era só educado.
- Estou deixando a polícia, .
- O que? - não me controlei. - Como assim, você está "deixando" a polícia? Ficou maluca? - ela balançou a cabeça negativamente. - Então?
- Optei pela minha carreira, . Não dá mais para tentar conciliar os dois. É muito difícil, sem contar que o nosso emocional fica arrasado. - por algum motivo lembrei de . Quando dei por mim, Jessica estava na minha frente. - Pode soar um pouco falso, mas eu queria que não ficasse ressentimentos entre nós. Você é uma pessoa admirável e, mesmo que a gente quase se matasse diariamente... foi bom trabalhar com você.
- É... igualmente. - ela sorriu, esticando a mão.
- Colegas? - não me mexi. Será que tinha algum brinquedo naquela mão de unhas coloridas? Não sei, talvez fosse só uma idéia, mas era estranho pensar em Jessica deixando o DP. Eu sempre sonhara com isso, e, quando finalmente acontecia, era um sentimento estranho.
Ela puxou minha mão e a apertou, logo me abraçando.
- Eu não morri! - brincou ao me soltar.
- Mas que pena! Achei que ficaria livre de você de vez! - acabamos rindo.
Abracei Jessica, desejei-lhe bastante sorte e "ameacei": se ela se metesse com Donghae novamente, eu não iria deixar barato. Era uma longa estória, essa com o menino Donghae, mas basta dizer que Donghae é como um irmão mais novo que eu nunca tive. Ou talvez até mais, eu não sabia muito bem o que sentia por ele. Quando conheci Jessica, ela ainda não tinha "amadurecido", por assim dizer, logo, magoou Donghae. Naquela época, nós éramos como unha e carne, tomei suas dores e daí surgiu minha implicãncia, minha raiva e meu rancor com tudo que levasse a ela.
Depois que Jessica afirmou que Donghae era caso passado e eu me acalmei, ela veio até mim com sua grande caixa de pertences, tirando um prendedor de papel com frufru rosa. Disse-me que queria que eu ficasse com ele, e que nunca me esquecesse que tínhamos trabalhado juntas. Meio segundo depois vi lágrimas em seus olhos, e então ela foi embora.
Ainda olhava para o corredor, vendo a Srta. Rosa Fru-Fru indo embora, quando ouvi meu nome. Lancei um olhar para a sala, a mesa de Jessica sempre fora a mais... pode-se dizer, "viva". Os acessórios cor de rosa com fru fru ou simplesmente rosa, o porta retrato de coração que tinha ganho de uma menininha com câncer, onde tinha fotos da família e das amigas, tinha sumido, deixando assim somente a mesa mogno.
Puxei meu colete, olhando para a porta da sala do Sr. Lee.
- Me chamou, sr. Lee?
- Chamei. - ele pôs uma pasta em cima da mesa e veio em minha direção. Ele havia emagrecido bastante e seu cabelo estava um pouco arrepiado. Se não fosse pelos óculos, diria que aquele não era meu chefe. - Quero que tire uma folga.
- É o que? - perguntei, incrédula. - Mas senhor, eu acho que já descansei bastante, digo, quatro horas de sono é até demais!
- Você tem um mês de folga, srta. . - disse, como se resolvesse. Uma de suas principais características era a de que não aceitava a palavra "não". - Começando apartir de agora. Descanse, dê uma volta, aprenda a dormir até as dez sem culpa. - sorriu. - Vamos, não me olhe com essa cara.
- O... obrigada, senhor. - quê mais eu poderia dizer?
Assim que saí de sua sala, olhei para meu relógio de pulso. Dez e meia. O que eu faria às dez e meia da manhã?

Cheguei em casa às onze, ainda pensando que o sr. Lee havia batido com a cabeça em algum canto. Se me dessem férias, ele seria o primeiro a contestar e, agora, era ele quem tomava a iniciativa de me dar férias! Tinha algo errado.
- Cadê ? - perguntei, ao ver comendo batatinhas no sofá, enquanto via televisão.
- Deixou um verdadeiro livro de cabeceira para você, em cima da sua cama. - respondeu, e lá fui eu para meu quarto.
Apesar de curiosa, precisava de um banho, tinha que colocar a cabeça no lugar. gostava de mim, não, amava, e eu tinha desistido dele por um idiota que tem um cachorro de pelúcia em cima da cama. Que gostava de jogar videogame e de tomar cerveja na varanda durante a noite. Jessica tinha deixado a polícia. Forip havia morrido, Narsha havia morrido, Jay estava se recuperando bem, havia chegado do Brasil, e pareciam bem de novo; minhas mãos tinham cinco tonalidades diferentes e minha mãe agora estava se desculpando comigo. Não é de se reclamar, mas o mundo que eu conhecia e estava acostumada tinha acabado em alguns dias. Em algumas horas.
Ainda arrumava minha própria cama, coisa rara de acontecer, quando a curiosidade falou mais alto. Peguei o envelope azul que tinha meu nome escrito e me sentei na mesa do computador, próximo dajanela, que, aberta, deixava que alguns raios solares tímidos penetrassem no quarto.

Querida amiguinha. Não, isso é muito Turma da Mônica.
Querida amiga. Piorou.
Aê, mano... é, acho que esse é melhor. =P
,
Desculpe sair da sua casa dessa forma, sem ligar para você, mas eu não sabia como falar o que vou dizer nessa carta sem que você me bata pra valer.
Pode soar realmente estranho, mas eu e agora somos presidentes da agência em que ele trabalha como cantor, a SM. Eu sei, eu sei, isso é muito estranho, mas, lembra quando e disse que era um grosso e que tinha derrubado café no meu trabalho? Naquele dia, quando você foi para a JYP, eu voltei para o DP, e ele veio falar comigo. Se desculpou e me disse que estava nervoso porque a SM estava praticamente entregue as moscas, e ninguém sabia como segurar as pontas. Não sei como, mas descobriu minha formação em Administração, e quase me implorou para que eu ajudasse ele a cuidar da empresa. Não iria demorar para que isso acontecesse, digo, os donos da SM saírem correndo e deixando que os managers tomassem conta; o que eu não imaginava era o que eu tinha a ver com isso. é um rapaz de bom coração e esforçado, e espero que possamos ser realmente amigos.
Bom, de qualquer forma, eu aceitei e, agora, devo estar chegando na África do Sul. De lá, vamos para os Estados Unidos, fazer uns cursos sobre Administração de uma grande empresa como a SM. Aguarde notícias da SM, vai ser a maior e melhor empresa de agenciamento de talentos da Ásia! Não que não seja, mas novas regras serão adotadas e muita coisa mudará. Nosso curso dura dois meses, até lá, Park Jung Soo, Shin Hye Sung e Lee Min Woo serão os "donos". Tome conta por mim, ok, e qualquer coisa de errado que eles fizerem, pode gritar.
Por esse motivo, deixei a polícia. Eu queria ter dito antes, mas, desde antes da audiência, eu pedi baixa. O sr. Lee e o sr. Kawashima quase morreram do coração, mas acho que foi o melhor para mim, entende? Testar novos ares. Botar na minha cabeça que aqueles anos com a bunda colada na cadeira de uma faculdade não foram em vão. Que aquela babação em cima dos cadernos e todo aquele sacrifício de ir para a aula durante a noite serviram de alguma coisa.
Então, me desculpe por ir embora assim, sem te contar. Eu não queria te deixar chateada, essa nunca foi minha intenção. Você ainda é e sempre será minha melhor amiga; mas é que sua irmã me contou sobre e os rapazes do 2PM, fiquei com medo de você me odiar.
Pode parecer piegas, mas o que, nessa carta, não foi piegas? - Eu amo você. Minha melhor amiga e irmãzinha mais nova. Minha amiga 'Arnolda Schwarzenegger', hehe.
De sua amiga - e futura dona de uma agência de talentos (não acredito que vou investir nisso ¬__¬),


Mas que filha da mãe!
Nunca que passaria pela minha cabeça que seria presidente de uma empresa como a SM, até porque ela, como eu, achava que esse ramo de cantoria e dança não era nada mais do que coisa de gente que não tinha o que fazer. Mas desejava que ela fosse feliz, mesmo se isso significasse deixar a polícia. Por algum motivo, lembrei de uma conversa que tivemos ainda na academia, quando dividíamos o quarto e as beliches. Falávamos sobre sonhos. Eu dizia que nunca os tivera e que não me preocupava com eles. é alguns anos mais velha que eu e tinha trancado o terceiro período da faculdade de Administração para cursar a academia. Ela me disse que queria fazer alguma coisa que mudasse a história de um país e eu lembro que disse, "Salve/mate um presidente". E, agora, ela iria realmente mudar a história. Pelo menos quanto a dar respeito a quem merece.
Rindo, abri a gaveta e guardei a carta em um caderno de gatinho que ela havia me dado para usar como diário, ainda na academia, mas que eu usava como bloco de notas. Eu não levo o menor jeito para escrever diários, mas guardei como se fosse um tesouro. Fechei o cadeado, posteriormente a gaveta e bati as almofadas.
- Não vai trabalhar? - perguntou, quando me viu indo até a cozinha de short. Gritei que não e fiquei na ponta dos pés, tentando pegar um pote de biscoitos. - Que houve, morreu?
- Sr. Lee me deu um mês de férias. - rolei os olhos, abrindo o pote e vendo dois biscoitos recheados. - Sua formiga!
mostrou-me o dedo do meio.
- Férias! - gritou. - Nós vamos viajar!
- Como? - fiz careta. Ela tirou o pote do meu alcance e apertou minhas mãos. Seus olhos brilhavam.
- Eu, você e vamos viajar. Nós vamos, vamos, vamos... vamos desbravar o mundo, a Ásia, vamos acampar, vamos, vamos...
- Eu não quero ser comida de mosquitos, muito obrigada. - alcancei o pote novamente.
- Não, sua tola! - ela tirou o pote das minhas mãos. A minha sorte era que eu já havia pegado um biscoito. - Nós vamos viajar, você sabe, espairecer! Para onde quer ir? Indonésia? Japão? Malásia! Ou China? Filipinas? Taiwan? Inglaterra? - caretas se formavam pelo meu rosto. - JÁ SEI! Nós vamos para a Tailândia, e você não vai me dizer não! - não sei como estava minha expressão naquele momento, mas podia ter uma idéia, porque um pedaço de biscoito caiu no meu colo. fez bico. - Ah, , por que não? Me deixe usar essa faculdade para alguma coisa!
Acho que, nessa hora, eu posso dizer a formação da minha irmã mais nova: Turismo.
- Você quer frio ou calor? Ah, não importa, nós vamos para o calor, esse país é muito frio e deprimente! Quero praia! Verão! Caras lindos, maravilhosos e com um corpo de dar inveja, e...
E falou. Na verdade, nem uma maritaca vencia minha irmã quando ela cismava de falar. Eu estava realmente cogitando a idéia, porque eu precisava de um tempo. Não queria dizer isso, mas a melhor coisa que aquele velho barrigudo do sr. Lee tinha feito era ter me dado férias.

teve um ataque quando dissemos a ela que iríamos para a Tailândia. Uma de suas viagens dos sonhos era aquela, o que só deu mais corda para . Elas passaram a tarde inteira fazendo roteiros, escolhendo passeios e hotéis. Eu não queria nada de luxo, só um bom tempo para descansar. Respirar outros ares. Tudo ainda era recente, e, como dizia aquela velha música, só queria sombra e água fresca.
Na manhã seguinte, pegamos o primeiro vôo para a Tailândia. Seul encolhia no meio de gotas de chuva quando fechei o protetor da janela e tentei dormir. Era duas da manhã quando o avisão estabilizou no ar. Pus a mão no relógio. Chega de pensar em duas da manhã, duas da tarde.
Chegamos na capital, Bangkok, às dez, depois de muitas paradas. Quem nos recepcionou foi uma colega de , seu nome era Orasa, e, por incrível coincidência, ela trabalhava no Departamento de Turismo da Tailândia. Eu não prestei atenção quando elas e começaram a conversar sobre como haviam se conhecido, estava morrendo de sono. Sr. Lee tinha razão, dormir até mais tarde tinha suas vantagens.
Assim que encontrei a cama, afundei-me nela e só acordei às duas e meia, quando as meninas anunciaram que estavam saindo para almoçar. Me arrumei bem rápido e fui com elas.
A capital da Tailândia era muito bonita. Colorida, com construções antigas e atuais. Pessoas que sorriem quando você passa por elas. Logo aprenderia que a Tailândia é "Terra do Sorriso", até porque e falavam da Tailândia como se fosse a própria casa. Era tudo bem colorido, talvez fosse porque era um dos únicos países da Ásia que eu não havia visitado, e com certa individualidade. Pescando uma ou outra palavra dos papos de e , descobri que o país nunca fora, de fato, colonizado. O sol brilhava bem forte no céu quando nos sentamos para almoçar, e fazia tanto calor como no Brasil.
Nós não estávamos em um hotel. Como era uma "cidadã do mundo", como gostava que chamassem ela, conhecia uma garota tailandesa que estava de férias no Japão, e que cedeu gentilmente sua casa para nós. Era bem confortável e eu tinha gostado bastante do quarto que eu tinha me "dado". Falo isso porque subi as escadas e desmaiei na primeira cama que vi.

No dia seguinte, assim que o dia clareou, peguei um mapa da cidade e fui até o ponto de ônibus. Meia hora depois eu descia em frente a um belo e verde campo, um gramado. Doeu um pouco, mas eu precisava fazer o que eu achava ser digno.
Passei por diversos canteiros de flores até chegar no lago. Uma breve brisa corria, balançando meus cabelos e as folhas das árvores quando me sentei no chão, mirando o lago. Como não havia pensado nisso antes? Países como Laos, Camboja e Tailândia não possuem cemitérios. Certa vez, ela me disse que seu lugar predileto na infância era aquele parque. Parque Lumphini. E agora eu sabia o motivo, era lindo. Algumas famílias pareciam achar o mesmo, abrindo cestas e tirando comida de dentro delas. Sei que parece cena de filme com famílias americanas e sinceramente nunca achava que pudesse ver isso em algum momento da minha vida. Aliás, nem via motivos para aquela felicidade toda. Talvez porque eu nunca havia, de fato, me sentido feliz.
Pus os óculos escuros e fiquei olhando para o lago. Se meus pensamentos fossem os certos, Forip havia sido cremada e agora suas cinzas estavam por ali, naquele parque lindo e digno de filmes.
- Oi. - uma voz disse. Me espantei um pouco ao ver sentado ao meu lado, usando óculos escuros e aparentando estar de férias. - O que faz aqui? - perguntou, ao ver que eu não iria responder.
- Visitar uma amiga. - meu queixo tremeu levemente quando me lembrei de Forip me abraçando e dizendo que gostava muito de mim. Por que eu não tinha dado a atenção que ela merecia? Por que eu tinha essa mania de afastar as pessoas que gostavam de mim daquela forma?
- Forip era muito bacana. - disse casualmente. Franzi a testa. Como ele sabia dela?
- Espera. Como você...?
- Muito prazer, detetive, meu nome é e eu larguei a academia antes de concluí-la.
A minha boca abriu de espanto. , aquele do 2PM, ele... ele era para se formar policial? Mas como assim? não parecia com um policial, não tinha nem a frieza básica que nós, policiais, temos!
- Eu sei o que está pensando, . - ele sorriu para o lago. - Conheci Forip na academia, porque nós treinamos juntos. Saí faltando alguns meses, era muito pra mim. Mas devo dizer, Forip era realmente uma flor. Podia ser tudo: sacana, pentelha e mentirosa se precisasse, mas era um amor de pessoa, e essas qualidades eu nunca encontrei em nenhuma policial da academia. Então, quando entrei para a JYP, resolvi deixar esse histórico no fundo mais profundo da minha vida, e dou graças a Deus que ninguém nunca descobriu. Recomecei a minha vida com os garotos do 2PM. - ele riu. - Na realidade, eu já tinha até esquecido como era ser apenas eu. Quando Jay desapareceu, entrei em pânico. Queria ajudar, mas eu não podia. Minha condição, meu trato comigo mesmo era: se tinha abandonado a academia, nunca mais iria fazer algo relacionado a ela.
Quanto mais ele falava, mais as coisas começavam a se encaixar na minha cabeça. Aquela frieza comigo, aquela distância e aquela calma com tudo relacionado a Jay...
- Quando você e entraram como nossas dançarinas, eu não gostei muito. - ele sorriu para mim. - Primeiro porque havia ficado com a mais bonita. - sussurrou. - E porque eu já tinha percebido que vocês eram da polícia. Eu queria ajudar, mas não podia, e, de qualquer forma, eu não tinha nada com o desaparecimento do Jay. Quando ouvi o nome "Forip" vindo da boca de , no dia anterior da morte dela, eu só confirmei meus pensamentos e, quando você não apareceu na manhã seguinte a morte dela, eu associei que ela havia nos deixado. - ele voltou a olhar para o lago. - Só me arrependo de nunca ter dito a ela o quanto ela era importante para mim.
Respirei fundo com aquelas últimas palavras.
- Nem eu. - ele passou um braço pelos meus ombros.
- Onde quer que ela esteja, ela estará rindo de nós dois aqui, sentados, falando dela. Você não conheceu a Forip que eu conheci. Ela ria de qualquer besteira, tudo era motivo para gargalhadas. E era a risada mais contagiante que alguém poderia ter, era impossível não rir junto. - ele estalou os dedos e pôs a mão no bolso. - Acho que já sei o que posso fazer. - ele tirou o celular e começou a mexer. Eu não sabia o que ele ia fazer, mas, quando ele pôs uma risada realmente estridente para tocar, franzi a testa.
- O que é isso?
- A risada da Forip. - ele começou a rir.
Aos poucos, quem começava a rir era eu. Era realmente engraçada, engraçada demais, e o pior, contagiante. O celular de ficava repetindo várias e várias vezes e, quando dei por mim, estava jogada no chão, literalmente rolando de rir. A última vez que tinha rido tanto fora quando me dissera que tinha entrado para o Super Junior.
Mas sabe, era bom rir. Principalmente com aquela risada.

Ficamos ainda um bom tempo no parque, conversando. O manager havia decidido, junto com JYP, de adiar o comeback do grupo, devido aos "problemas" que haviam acontecido. Como adoravam a Tailândia e como possuem um integrante que é praticamente de lá, tiraram uma semana de folga. Jay tinha insistido em ficar na Coréia do Sul, para aprender alguns passos de dança, o que tinha perdido; e tão cedo não iria sair de lá. Ele só não contava com os seis "irmãos mais novos" que tinha, que o colocaram na mochila e o trouxeram junto. Segundo , eles não estavam preocupados em ensaiar, de comeback. Eles só queriam um tempo para eles, sem fãs, sem repórteres, sem nada. Logo, pode-se dizer que estavam um pouco "às escondidas". Todos sabíamos que não iria durar muito, mas quanto melhor esconder, melhor seria para eles.
- Isso nos ajudou, sabe? - confessou ele, enquanto voltávamos para a casa da amiga de . - Pode parecer meio ridículo falar isso, mas eu acho que isso nos aproximou mais. Eu sentia que estávamos nos separando um pouco desde que Jay hyung fora para Seattle, e eu achei que melhoraria quando ele voltasse. Mas logo foi sequestrado, e acho que pode imaginar como era ruim. Um desconfiando do outro, olhando por cima do ombro, perguntando para onde o outro ia... E fingir que tudo estava ótimo para os fãs. Mas depois que tudo acabou e nos abraçamos, principalmente depois que declararam a inocência do , nós juramos que nada iria abalar a nossa amizade. Antes de sermos 2PM somos amigos. E os melhores que já puderam existir.
Tentei sorrir, não conseguindo muito porque meu queixo estava tremendo. Ah, por favor, tinha sido bonito!
me explicou muitas coisas que eu não sabia. Como Han Neul, que Jay havia me dito. Era uma menina de catorze anos que morava na área residencial próxima onde Narsha tinha prendido Jay. Han Neul nunca explicou a Jay como o encontrara, mas ele tinha dito que ela era especial. Que ela tinha reconhecido ele logo que ele olhara para ela, e que devida sua vida. Se não fosse ela, ele teria morrido de fome e sede. Quando foi encontrado e devidamente medicado, Jay voltou àquele bairro pobre e falou com os pais dela, explicou o que tinha acontecido e disse onde Narsha havia jogado o corpo da menina. Eles então, com a ajuda de Jay, fizeram uma "limpa" no rio, até encontrá-la e assim, enterrá-la como deveria. E assim o fizeram.
Ele diminuiu a velocidade, parando em frente a casa da amiga de , Kalaya (N.A: lit. "irmã mais velha"). E riu quando desligou o carro. Obviamente perguntei o motivo e ele me respondeu que eles estavam na casa defronte, e que, agora, eles iriam nos perturbar por um bom tempo.
- ! - gritou , escandalosa como sempre, da porta. - Até que enfim você chegou! - completou, quando saímos de dentro do carro. Ela segurou minhas mãos e fez bico. - Eu estava preocupada, você saiu antes de acordarmos!
- Não queria perturbar vocês.
Espera. Aquela era eu? Em condições normais, eu acordaria fazendo o maior dos barulhos, gritando no ouvido delas e ouviria seus "cale a boca e me deixe dormir". Será que aquela era a condição "humana" que as meninas me disseram?
- Obrigada por trazê-la, . - ela disse, depois de me lançar um olhar de incompreensão. Ele acenou com a cabeça.
Espera. Como eles...
- Viu que coincidência nessa vizinhança? - ela riu. - Se não fosse e , nunca que...
Ela pôs as duas mãos na boca, enquanto eu apertava os meus e balançava a cabeça negativamente. , sua linguaruda!
- virará farelo de salgadinho de milho! - ameacei. riu, passando o braço pelo meu ombro.
- Não culpe a , ela é muito bacana! - os olhos de brilharam.
- Oppa! Quero dizer... posso te chamar de oppa, não posso?
- Já não chamou? - ele riu. Ah, não, não dê corda...
- O ALMOÇO ESTÁ PRONTO! - ela gritou, enganchando o braço no dele e puxando-o para nossa casa. - Espero que vocês gostem, foi de coração, é uma comida que vocês nunca comeram antes!
O que eu tinha feito para merecer aquilo? Eu, que gosto o silêncio, tenho uma irmã nem um pouco escandalosa. Não tive outra saída a não ser ir em direção a porta. Quando estava quase lá, ouvi alguém me chamando e, quando me virei, via um sorriso sincero e contagiante estampado no rosto de um menino mais alto, mais musculoso e definitivamente mais atraente do que muito rapazote.
- Oi, Jay! - tentei sorrir. Tentei. Não estava sendo muito fácil manter fora de meus pensamentos a presença deles naquele lugar parasidíaco. Justamente quando eu procurava sossego e um lugar para esquecer das coisas.
- Obrigado por ter me ajudado. - disse, se aproximando. - Posso te dar um abraço?
- Pode. - Fazer o quê? Antes que pergunte, não, eu não gosto, definitivamente odeio, abraços. Mas já tinha perdido as contas de quantas vezes fora abraçada desde o final de Março.
E Jay me abraçou, tão forte que achei que iria sair músculo pelo nariz. Demorou um pouco, mas consegui erguer meus braços e abraçá-lo também. Era um abraço gostoso, como o de um irmão mais velho que...
Que nunca me deu um abraço.
Enquanto eu pensava nisso, algo cheio de água explodiu em minha cabeça, me molhando. Jay começou uma risada nem um pouco escandalosa, estridente e digna de . Todos os novos amigos dela absorvem essa risada quando a conhecem.
Irritada, olhei para trás e vi e rindo, um apontando para o outro, dizendo que a culpa era do outro. Sentia como se a minha amiga "Super Sombra do Mal" estava chegando, por isso apertei as mãos. Apertei tanto que achei que minhas novas companheiras chamadas "unhas" iriam furar minha pele, e saí correndo atrás deles. Mereciam uns cascudos!

Meu (re)encontro com foi um pouco difícil. Para mim, sabe? A razão me mandava esquecê-lo, mas a emoção, que nunca se manifestara até os últimos acontecimentos, me fazia ter ímpetos de correr e abraçá-lo. De beijá-lo até perder o fôlego e ficarmos roxos. Eu não fiz nenhuma das duas coisas. Cumprimentei, óbvio, apesar de tudo eu tinha um pouco de educação - e fui até meu quarto, me jogando na cama com o rosto virado para baixo.
Por que me sentia uma adolescente passando por crises de amor? Eu não tinha mais quinze anos, mas eu me sentia como tal. Criava imagens na minha cabeça, mas, em alguns mili segundos, aparecia outro eu e, com um alfinete, explodia o balão da felicidade.
Ainda fazia isso quando senti um corpo em cima das minhas costas, deitado em cima de mim. Do nada, começou a me beijar o pescoço e a me fazer cócegas. Comecei a rir desesperada e, quando me virei, vi em cima de mim. Ainda em cima de mim. Apesar de ter sido bem engraçado, parecia que nós iríamos nos beijar a qualquer segundo.
- noona, sshi gosta muito de você! - disse, fazendo voz de criança.
- Entendi, sshi gosta muito da noona? - ele fez que sim com a cabeça. - Mas que criança bonita, quantos anos você tem mesmo, ? - ele fez uma cara engraçada, contraindo o nariz e fechando os olhos. Rimos os dois.
- Eu amo você. - disse, com seu tom normal e mais sério. Senti minhas bochechas queimando.
- Também amo você, . - confirmei, achando que era brincadeira. Mas ele não riu.
- Eu estou falando sério. Acho que nunca falei tão sério em toda a minha vida. - ele engoliu em seco. - Eu amo você. Você me ama? De verdade.
Meu Deus, o que eu iria falar? Ok que tudo tinha acabado, mas hey, ! Hey, hey, hey! Onde eu estava? Que mundo era aquele? Eram três agora, três caras que se diziam apaixonados por mim, mas que raios estava acontecendo?
- ! - era me chamando, do primeiro andar. - Acorda, vamos almoçar!
Mas eu não conseguia me mexer. ainda estava em cima de mim, impossibilitando que eu pudesse me mexer. Seu rosto se aproximava cada vez mais, e eu não sabia como eu iria lidar com aquilo, quero dizer...?
Ok, vamos ser francos, eu ainda sentia algo por aquele verme miserável, filho da mãe, que estava no primeiro andar, provavelmente batendo com os talheres na mesa, morto de fome. Mas como dizer isso para sem decepcioná-lo?
- Escute, - comecei. - acho melhor não. - ele afastou o rosto de perto do meu. Mais um segundo e ele ia mesmo me beijar! - Adoro você, , mas...
- Você ama o . - não fiz nada. - Imaginei. - ele sorriu. - Posso te contar um segredo? - sussurrou.
- Pode.
- Graças a Deus que você não me ama, não vou ter que pagar ao aqueles vinte dólares! - completou, se levantando e arrumando a própria camisa.
- Espera! - me sentei na cama, completamente irritada. - Vocês apostaram?
- Claro! - ele riu. - Se você me deixasse beijá-la, eu teria que pagar vinte dólares para o , obrigado, nem tenho vinte dólares no bolso! Mas não fique triste. Eu amo muito, muito, muito, você. - completou, provavelmente vendo minha cara de surpresa. Deu-me um selinho e me apontou as escadas. - Vamos logo, estou morto de fome.
Eu estava ficando com raiva. Muita. Muita. MUITA raiva! Bando de safados!
- Eu vou acabar com a raça de vocês! - gritei, enfurecida.

Sei que essas coisas não têm muita necessidade de serem explicadas. Mas já que isso é um relatório, por que não tentar ser diferente?

O almoço foi até silencioso, pelo menos da minha parte. Como a mais nova maior de idade da turma, uniu-se a eles na cerveja. não reclamou, principalmente quando disse que era costume tomar cerveja quando estava muito quente, no nosso país.
- Quer Coca Cola, ? - perguntou, meio tonta. Não se deve ir com muita sede ao pote, principalmente quando não se tem o hábito.
- Não, obrigada. - não tirei os olhos do meu prato de feijoada. Só aquelas duas para fazer feijoada com aquele calor! - Não bebo mais Coca Cola.
Senti o olhar de , que estava do outro lado da mesa, sobre mim. Misturei a comida e engoli com a maior das dificuldades.
Quando terminamos e todos estavam bem alegres, olhei sem querer muito para . Ele estava muito bonito com aquela blusa sem mangas do W.A.S.P, e eu me lembrei da minha adolescência. De quando eu me vestia de preto para irritar minha mãe e acabei sorrindo quando lembrei da expressão dela quando viu que uma saia vermelha quadriculada que tinha comprado para Festa Junina tinha, estranhamente virado uma saia preta. Ela pôs as duas mãos na cabeça e gritou tanto que nossa avó, que morava duas quadras depois, ligou, perguntando se tudo estava bem. Era como se , a qualquer minuto, fosse pegar uma guitarra e gritar que era uma Criança Selvagem. E, dessa vez, eu não gostaria de ser a baterista de sua banda.
Quando ele olhou para mim, virei-me para a cozinha e resolvi que era minha vez de lavar a louça. Ninguém faria isso mesmo, principalmente agora, que gritavam que eram os Telettubies. Lavei a pilha, mesmo não gostando da atividade, e, depois, fui tirar um cochilo.

Acordei no final da tarde. Estava ventando um pouco e a janela bateu na parede, me acordando. Abri os olhos devagar, ainda estava na Tailândia. Que droga. Bela droga. Eu estava achando que tudo era um sonho, e queria que realmente o fosse. Queria acordar e ainda estar com a pasta rosa choque de Jessica nas mãos, enquanto o sr. Lee falava do desaparecimento de Jay. Mas a realidade era ruim o bastante para que não fosse sonho.
O sol estava sumindo aos poucos quando me sentei na grama dos fundos da casa de Kalaya. Olhando para o nada. Suspirei. Tinha sido uma semana completamente fora do normal. Nunca consegui resolver nada em tão pouco tempo, aliás, nem minha vida resolvi em uma semana. Sorri.
Alguém, ao longe, insistia em tocar Michael Jackson, e, pela cantoria nem um pouco afinada e pelo inglês complicado, eu percebi que era . , , , e , nova amiga dos rapazes.
- Por que está aqui, sozinha? - perguntou, se sentando ao meu lado, na grama.
- Estava pensando.
- Posso saber em que?
Não respondi. Meus braços tremia, meu corpo tremia e eu tnha medo de ter um troço.
- Eu também não estou tão feliz, sabe. - confessou ele, se recostando sob as duas mãos, enquanto nossos cabelos voavam com a brisa que soprava. - Eu menti muito pra você. . - era a primeira vez que ele me chamava de desde que tudo tinha acontecido. É uma sensação muito gostosa em ouvir da pessoa que você gosta o seu apelido.
- Eu sei. Eu também menti pra você.
- A minha mentira foi muito grave. - ele fez bico. - Eu poderia ter matado você, perdido minha liberdade, meu amigo, meus amigos, na verdade.
- Realmente...
Ficamos em silêncio por alguns minutos. O sol estava começando a se pôr, mas eu ainda sentia o calor da Tailândia. Terra quente.
- Você seria capaz de me perdoar?
Suspirei.
- Vai ser meio difícil.
- , - ele me virou. Via o quase desespero beirando seus olhos puxados. - eu não sou malvado. Eu não sou nem sério! Duvido que alguém nesse mundo me leve a sério mas... - ele segurou minha mão e a apertou próxima a seu peito. - Por favor. Me perdoa. Vamos começar de novo.
- Começar de novo? - não era má idéia. Sorri de forma misteriosa, me recostando sobre as mãos, colocando um pé sobre o outro e os balançando. - Pode ser.
abriu um sorriso maravilhoso.
- Oi. - disse normalmente. Não entendi muito bem, mas quando vi seu olhar de "sua fala!", entendi.
- Olá!
- Vem sempre aqui?
- , você tem cantadas horríveis!
- Eu sei. - confessou ele, sorrindo. - Como se chama? Vi que já sabe o meu nome...
- .
- Uhn, bonito nome. - ele tirou meu cabelo da frente e tentou me beijar. Afastei-o.
- Como assim, logo no primeiro encontro, já quer me beijar? Quais são suas intenções?
- Te fazer a garota mais feliz do mundo.
Me senti especial. Pela primeira vez na vida, eu me sentia realmente importante para alguém.
- Jura? - perguntei, com aquele ar de "tem certeza".
olhou-me nos olhos e sorriu.
- Absoluta. - e, contrariando todas as regras de um "garoto de família no primeiro encontro", ele segurou meu rosto e me beijou lenta e profundamente.
Ele não sabia naquele momento, mas, com aquele beijo, mudava uma vida. A minha vida.


.X.


Tamborilava os dedos no joelho, cansada de esperar. Estava sozinha no DP, meus companheiros já tinham ido para a comemoração. E eu precisava aguardar a resposta. A última resposta.
Finalmente fui chamada. Respirei fundo ao levantar, arrumando minha blusa vermelha. Puxei o ar novamente ao colocar a mão na maçaneta e abrí-la.
- Me chamou, sr. Lee?
- Chamei. - respondeu ele, com meu relatório em mãos. Acenou, mostrando a pasta azul. - Terminei de ler.
- Ah. - engoli em seco.
- Li parágrafo por parágrafo, linha por linha. - continuou ele, passando as folhas, enquanto estava confortavelmente em sua cadeira reclinável. Espero pelo pior. - Só tenho um comentário para seu relatório. - Continuo esperando pelo pior. - Foi o melhor que eu já li em quarenta anos de polícia.
O melhor? Como assim, o melhor? E quarenta anos de polícia? Como poderia ser?
- Ah. - engoli em seco novamente. Lee se levantou, vindo em minha direção, com um ligeiro sorriso nos lábios. - O... obrigada, senhor.
- Não foi um relatório seco, frio, com tentativas de auto vangloriação, como todos que leio e li. Você adicionou humanidade a tudo que mencionou. Inclusive seu envolvimento com um dos acusados. - corei. Lee se aproximou de mim e sorriu. - Ninguém pode controlar os sentimentos, não é verdade? - confirmei, incerta, com a cabeça. - Tendo como base o que li, srta., - preparo-me para o "não". - você conseguiu a estimada promoção. Será uma das mais jovens capitãs do departamento, ao meu ver. - meu estômago embrulhou e queria gritar de felicidade. Sorri. - Todos lemos seu relatório, só falta Kawashima - meu superior desde o início da minha carreira como policial. - ler. Mas acho que ele concorda comigo. - Lee esticou a mão. - Meus parabéns.
Não sabia se chorava ou se ria. Tinha não só tirado um grande peso das costas como me sentia mais calma que o normal. Na realidade, é como diz o velho ditado, "tudo está bem quando se acaba bem". Ou talvez não.
Lee ainda mantinha sua mão esticada e sorriu.
- É uma pena que tenha desistido da carreira policial, . Seria uma ótima capitã.
- Não seria, sr. Lee. - apertei sua mão. Sorrindo.
- O que fará da vida? - perguntou ele, com uma ligeira curiosidade na voz.
Conto? Será que seria meu dever contar o que eu realmente farei da vida?

Flashback~

"De sua amiga - e futura dona de uma agência de talentos (não acredito que vou investir nisso ¬__¬),
.
PS: A propósito, tem uma banda da SM que está passando por maus bocados desde que o baterista deles se mandou. Se você quiser, assim, sabe, como quem não quer nada..."


Flashback~

Arrumei os óculos escuros na blusa.
- Vou fazer barulho, sr. Lee. Muito barulho.
Saí da sala de Lee com um sorriso de orelha a orelha, encontrando minha irmã do outro lado da porta, andando em círculos. Trocamos um olhar cúmplice, e então ela me abraçou, quase me derrubando no chão.
- Os meninos vão adorar saber disso!
- Não tenho muita certeza. - comentei, rindo. Enganchei meu braço no dela, e, juntas, deixamos o departamento. - Mamãe?
- Chega terça feira. - ela sorriu, ligando o carro. - , ela não vai matar você! Vocês já fizeram as pazes, certo?
- É, mas...
- Pare de ficar pensando no passado, ok? - olhei para frente. - Olhe só pra você, finalmente parece um ser humano!
- Ei!
- Mas é verdade! - estalei os dedos da mão direita. - Seu armário é mais colorido. Você sorri mais. É mais dócil...
- É porque essa é a Sang Wook, não a , sua irmã.
riu.
- Prefiro pensar que é uma mutação totalmente nova. - sorri. - Isso se chama , não é?
- Como sabe?
- Digamos que um passarinho verde me contou. - rimos. - me contou, você sabe que as notícias correm rápido na nossa casa!
- Iria estranhar se não!
Passamos o resto da viagem fofocando. O real motivo de eu não estar usando preto ou cinza era porque era dia do meu aniversário. 25 de Abril. Estava completando vinte e quatro anos, ficando mais um ano velha. Iríamos assistir a performance dos rapazes do 2PM e, depois, todos iríamos sair para comer. Não tinha notícias de Jay fazia quase uma semana, o que me levava a crer que ele estava bem. O próprio JYP me convidou para assistir a performance deles; bom, se não o fizesse, o faria, e, de qualquer forma, eu estaria por lá.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Claro!
- é comprometido? Sei lá, tem namorada...?
Sorri.
- Livre e desempedido. - corou enquanto passava a terceira marcha. - Por que pergunta, irmãzinha?
- Por nada.
- Acho que deveria pensar sobre isso, sim. Ele é um amor de pessoa, simpático, romântico... - eu sabia que iria convencê-la; adorava caras românticos.
- Não invente, .
- Não dê motivos!

Saímos do carro e entramos no prédio. Guiei minha irmã por aqueles compridos corredores, recebendo os cumprimentos de todos os artistas e não artistas que passavam por nós. A porta do camarim do So Nyuh Shi Dae estava aberta quando passei com . Jessica ria de alguma coisa, e acenou para mim quando me viu. Não acreditava que, um dia, tinha trabalhado com um ser rosa choque, loira, e de voz fanhosa como a Jessica. E o pior, agora éramos amigas.
O mundo dá voltas!
- Os rapazes já foram para o palco, andem de uma vez! - JYP nos apressou e nós entramos por uma porta lateral, onde ficavam as cadeiras da platéia. Duas, bem na frente do palco, eram nossas.
Hottest's gritavam, esperneavam, não aguentavam mais de ansiedade, depois de tantos problemas. Sorri para uma menininha de uns doze anos, ao meu lado.
- Como se chama?
- Park Ji Neul.
- Oi, meu nome é .
- Eu vi você na televisão. Você é salvou o Jay oppa!
Nada como povoar os sonhos das crianças! Era engraçado e, ao mesmo tempo, gostoso.
- Qual é seu 2PM preferido?
- O Jay. Mas ele ainda está no hospital, não vejo a hora de ele voltar!
- Nem eu!
- Como ele é? - os olhos dela brilhavam. Vi entrando pelo outro lado.
- Alto. E um verdadeiro amor de pessoa.

Barulhos de um coração batendo fez com que nossa conversa fosse interrompida. Era como Ji Neul havia dito, no palco só tinham seis pessoas.
Taecyeon começou cantando. Era "Heartbeat", música que aprendi a gostar como alguém provando biscoito pela primeira vez. Chansung pôs a mão no pescoço de Taecyeon, seguido de Wooyoung, Junho, Junsu.
As luzes piscavam em cores escuras, preto e vermelho sangue. As meninas gritavam, se esgoelavam e eu só sorria. Eu não conseguia parar de sorrir, era uma sensação muito boa aquela. A sensação de que tudo estava bem de novo.
Nickhun começou a cantar e os rapazes, a puxá-lo para baixo. Alguém se levantou, cantando. A platéia foi ao delírio, principalmente quando a pessoa tirou a mão que cobria metade do rosto. Seu rosto era fino, visto de lado, mas seus músculos faziam volume no terno.
Olhei para Ji Neul, ao meu lado, já em pé em cima da cadeira, escorregando e colocando a mão na boca. Chorava muito ao ver Jay no palco com os outros rapazes.
Foi até meio engraçado porque não foi só ela, mas todas as pessoas que gritavam pelo 2PM; todas fizeram a mesma coisa que Ji Neul, provocando assim um silêncio de três segundos em cadeia. Até estava chorando, tinha os olhos marejados e eu meramente sorria. Eu sabia que tudo que é bom pode melhorar. Aquela era a prova de que, quanto mais se acredita, maior a probabilidade de realização.
Eu já tinha visto várias performances de "Heartbeat"; como agora não precisávamos mais fingir, eu confessei que sabia muito pouco de 2PM e que até tinha sido melhor assim, pois pude conhecê-los por eles mesmos. Lembro que Junsu comentou de deletar tudo que tinha acontecido enquanto eu era Sang Wook, porque aqueles não eram eles, e sim robôs. Taecyeon disse que eles haviam sido abduzidos e que aqueles, que estavam tomando cerveja comigo, naquele minuto, aqueles sim eram os membros do 2PM. E, apartir desse dia, eu fui praticamente obrigada a ver todos os programas e performances que eles se metiam.
O "Goodbye Stage" já tinha até acontecido, há dias, semanas, meses; mas "Heartbeat" era popular. Tão popular que eles resolveram apresentá-lo novamente. Só que, dessa vez, era uma apresentação mais que especial.
O final da música se aproximava e, com ela, uma nova coreografia. Já tinha visto os pulos de todos os meninos, Taecyeon rasgando a camisa, Nickhun se "vingando" e tudo o mais, mas aquele era o final mais emocionante: os seis meninos pareciam zonzos, enquanto Jay desenhava um coração no ar. Quando o último batimento soava e seu peito subia e descia, todos "desmaiavam" ao mesmo tempo.
Naquele momento, estabeleci um novo apelido para Jay: "Heart Smack Babe". não gostou muito, mas quando disse que ele seria sempre meu Rapaz Arco Íris, ele parou de implicar, ficando apenas com um belo bico na boca.

Saímos todos para comemorar a volta de Jay. Eu não me preocupava com isso, de verdade; estava mais contente com o fato de que tudo estivesse bem. E com o fato de que eu tinha um namorado espetacular, que não deixava de me mimar a todo segundo.
- Mas o que... - comentou. O bar de Sang Jin estava incrivelmente lotado naquela noite, parecia que tudo havia sido resolvido, não só para nós como para todos que estavam ali. Todo mundo sorria, brindava, se divertia. Minha irmã suspirou. - Vou buscar nossa bebida.
- Eu vou com você! - se prontificou, levantando. olhou para mim antes de levantar e eu sorri. Ali estava sua chance de ouro.
- Não quero cerveja! - falei abruptamente, assustando todo mundo. - Hoje eu pretendo ficar sóbria.
- Ahan, e eu sou o Pato Donald! - riu, apertando os lábios e imitando o próprio Pato Donald.
- Eu falo sério! - sorri, mexendo nos palitos que tinham em cima da mesa. - Não uso mais drogas.
- Deixar de fumar é bom, , mas deixar de beber...?
- É uma droga, ! - ri. - É uma droga, aliás. - ri da minha péssima brincadeira.
Minutos depois, e voltaram, cada um com duas jarras de cerveja nas mãos. Os copos já estavam na mesa, então encheram todos antes de anunciarem o brinde.
- Ao fim de uma investigação! - sorriu.
- A volta de Jay! - secundei, olhando para Jay sorridente. Ele ergueu o próprio copo, rindo.
- Se eu soubesse que ia ser tão bem recebido, talvez nunca tivesse deixado a Coréia.
- Palhaço! - Jessica empurrou sua cabeça. Certo, ali se formava mesmo um novo casal ou eu estava vendo coisas?
Tomara que seja a segunda opção!
- A nossa amizade! - TaeYeon se levantou com seu copo de soju.
Um brinde.
Ao fim de todos os problemas. Às realizações. À amizade que se tornava muito mais que casual. Éramos amigos. Somos amigos.
Até o fim.
- Tem certeza de que não quer um gole? - perguntou, depois de tomar um pouco de cerveja. Fiz que não com a cabeça e ele apelou, abaixando a cabeça e fazendo bico. - Só um pouquinho. A nós!
- Certo, certo! - tomei um pouco de bebida. Ficar duas semanas sem pôr uma gota de álcool na boca é algo realmente estranho. É como sair ilesa de um tombo feio. - Mas não vou mais beber. Estou livre das drogas.
- E o que vai beber? - perguntou, arrumando seu copo em cima da mesa. Letícia sorriu para mim, com ar de sabedoria.
Sorri, esticando a mão para minha colega.
- Sang Jin, me vê uma Coca Cola bem gelada!


F I M



~ Eu acho que nunca fiz agradecimentos no fim de uma fic. Mas essas pessoas merecem =D
Obrigada à Morfeu, que me fez cair no sono e sonhar algo parecido com isso. Obrigada Peter Joon Pan / Si-Teuk-Ninho pelo pózinho mágico do "oi, eu briso legal!" -q. Obrigada principalmente à Lisa Luft, por ter escrito "A Família Spellman" e ter me inspirado a escrever essa fic; a Agatha Christie, divona do mistério *-*; e a Dick Wolf, por ter criado "Law & Order" /shora
Obrigada a todo mundo que me apoiou ao escrever essa fic; à Yayoi, que me ajudou bastante a pontuar as coisas xD; Obrigada principalmente a Luma, que deve ter cansado de tanta pergunta sobre 2PM que eu fazia. Desculpa, xuxu xD; e obrigada principalmente a você que está lendo, porque sem você, eu não teria ânimo para escrever ^^

Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por Twitter. Deh. :x


• Dica: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e a estimula a escrever cada vez mais. ♥