Sadistic Love


Sadistic Love


Autora:
Leta | Betas: Dolphin


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Como é ter a vida destruída


Meu nome é , mas todos me chamam de . E essa é a história do meu casamento. Talvez vocês a achem um pouco clichê, mas bem, toda história tem seu clichê, essa é a vida. E a minha talvez tenha uma ou duas situações comuns, mas eu garanto que ela não tem nada de comum num todo. Eu sempre fui um garoto rico, daqueles que tem tudo o que quer na hora que querem. Eu fazia parte de um mundo onde a maioria das pessoas quer entrar, mas elas não sabem o quão maçante pode ser. Você já teve tudo o que quer? Eu tive.
Quando isso acontece nós temos uma única opção: Procurar uma válvula de escape, algo que pareça divertido o suficiente para que você agüente todo o marasmo da sua vidinha abastada. O meu e do meu amigo foram as mulheres. A cada dia eu queria estar com uma mulher diferente e depois descartá-las como se elas não fossem nada. Até que ela apareceu. A garota que de uma forma ou outra acabou mudando a minha vida: Jessica. Ela não era como as outras, ela tinha algo que me prendia e quando percebi já estava completamente apaixonado. Eu não me importava se ela não pertencia a minha classe social, por ela eu largaria qualquer coisa, até a minha fortuna.
Os problemas começaram quando a minha mãe descobriu do nosso romance: Obviamente ela foi contra. Minha mãe, uma dama da sociedade não podia permitir que seu querido filhinho se casasse com uma garota pobre. Ela tentou nos separar o quanto pôde, mas eu sempre voltava para a minha amada Jessica. Eu deveria ter desconfiado quando ela se calou, eu deveria ter feito algo, mas não fiz. No fim acho que foi esse período de falsa paz que determinou tudo.

X

A primeira vez que eu a vi ela estava no jardim da minha casa tomando chá com a minha mãe. Eu não liguei porque era comum ver garotas na minha casa fazendo companhia para a minha mãe, elas vinham representar suas famílias naqueles rituais da sociedade que eu fazia questão de não participar. Esses encontros se repetiam e eu a via com uma freqüência absurda na minha casa, mas ela nunca falava comigo, nunca sequer prestava atenção em mim. Eu também não ligava para ela, até a confundiria com as outras se ela não fosse a única que sempre se vestia de preto.
Até o dia em que tudo mudou.
Eu cheguei e elas estavam na varanda tomando chá. Minha mãe se levantou e veio na minha direção enquanto ela continuou sentada, sorrindo para mim de longe.
meu querido, quero que conheça alguém.” Ela me empurrou até o sofá e a menina se levantou “Essa é , ela é sua futura noiva.” O sorriso dela era mais bonito de perto. Mais bonito e mais debochado.
“COMO É?” Perguntei alarmado.
“Vocês se casarão dentro de um mês, agora vou deixar que se conheçam melhor.” Fiz menção de falar, mas minha mãe me lançou um olhar penetrante que me fez ter medo, o que sempre acontecia. Quando ela saiu da sala fechando a porta atrás de si a menina se sentou no sofá, ainda sorrindo.
“Muito prazer .”
“Escuta... Como é mesmo o seu nome?”
.”
“Isso, escuta , eu não sei que palhaçada é essa e você me desculpe, mas eu nem te conheço e nós não vamos nos casar.” Falei ríspido, mas ela pareceu não se importar “Quanto a minha mãe te pagou? Eu te pago o dobro pra sair dessa casa agora!”
Ela riu sarcasticamente. Aquilo estava começando a me irritar.
“Sua mãe não me pagou nada, eu estou fazendo isso como um favor.” Ela me olhou de cima a baixo “Que não será tão ruim assim.”
“Isso... Isso é ridículo! Eu não vou me casar com você! Eu já tenho uma namorada e eu pretendo me casar com ela.” Eu andava de um lado para o outro da sala e ela continuava sentada como se estivéssemos discutindo algo banal.
“Ah sim, Jessica não é? Sua mãe me contou tudo sobre ela. Uma pobre aproveitadora que quer dar o golpe do baú.” Eu abri a boca para falar, mas ela continuou “Você dá os melhores presentes no aniversário dela como jóias e até um carro, levou ela para o Japão nas últimas férias para que ela fosse num show de uma das bandas preferidas dela, e o que ela te dá em troca? Lembrancinhas artesanais como esse suéter horrível que você está usando agora e um monte de ‘eu te amo’ sussurrados ao pé do seu ouvido, grande relacionamento esse de vocês.” Ela riu e se levantou “É isso que você quer pro resto da sua vida?”
“É bem melhor do que me casar por interesse.” Ela havia me irritado, ninguém falava da minha Jessica assim. “Eu não preciso de você ou qualquer outra que tenha dinheiro, ele não é importante pra mim.”
“Que seja, eu não me importo.” Ela falou se levantando e andando na minha direção “A propósito, encomendei nossas alianças na joalheria mais cara daqui, espero que não se importe. Ah é, dinheiro não é importante né?”
“Como disse?”
“E o meu vestido também ficou caro. Aliás, você tem prova do seu terno na sexta, não se esqueça. E a nossa lua de mel, onde você quer passar?”
“Eu disse que não vou me casar com você.” Eu passei a mão pelo rosto, aquela garota era muito irritante.
“Não importa o que você diga, dentro de um mês nós estaremos numa igreja afirmando o nosso amor eterno.” Ela sorriu cínica, passando as mãos pelos meus braços e parando-as nos meus ombros “Eu pensei na França, lá é um lugar bonito nessa época do ano.”
“Eu já disse que não haverá casamento!” Eu me afastei bruscamente, fazendo-a retroceder uns dois passos. Como aquela garota era arrogante!
“Como você é mimado! Bem, tente falar com a sua mãe, não vai adiantar em nada.” Ela sorriu e parou na minha frente, ficando na ponta dos pés e me roubando um selinho “Não se esqueça da prova do terno na sexta, certo? Nos vemos em breve oppa, tenho certeza de que nós dois seremos muito felizes juntos!”
E foi aí que o meu inferno começou.



Preparativos


Assim que ela saiu e eu consegui me acalmar o suficiente para não sair por aí quebrando os móveis da sala, eu fui atrás da minha mãe. Ela estava sentada no jardim, lendo uma revista como se nada estivesse acontecendo, como se arrumar um casamento de aparência para o próprio filho, em pleno século XXI, fosse algo normal. Ela se virou para mim e voltou a ler a revista.
“Mãe, temos que conversar.” Eu falei, me sentando de frente para ela. Minha mãe fechou a revista e colocou no colo, me olhando fixamente. “Que história ridícula de casamento é essa?”
, não é uma história ridícula” Ela massageou as têmporas como se aquilo fosse um assunto incômodo para ela “Eu sou sua mãe e me reservo o direito de prezar pelo seu bem estar.”
“E resolveu fazer isso me arranjando um casamento?!” Perguntei exaltado “Eu já tenho uma namorada e eu a amo, porque você não pode aceitar a Jessica?”
Eu já tinha feito aquela pergunta milhares e milhares de vezes ao longo daqueles dois anos que estava com a Jessica e a resposta nunca mudava, mas eu queria que a minha mãe gostasse dela, queria que pelo menos respeitasse meu relacionamento. Seria um crime querer me casar com o amor da minha vida? Bom, para a minha mãe, era.
querido, me diga uma coisa” Ela se aproximou de mim e tocou minha face “Você realmente ama essa garota e tem certeza de que ela não é uma golpista que só quer o seu dinheiro?”
Eu tinha. Ou achava que tinha.
“Mamãe eu... Eu amo a Jessica e quero ficar com ela, é totalmente fora de questão me casar com essa daí que você arranjou.”
Eu não sei o que a minha mãe viu em mim naquele momento porque ela sorriu de um modo estranho e tocou meu ombro de leve.
“Eu não pretendo deixar que essa Jessica acabe com a sua vida, querido.” Eu abri a boca para responder, mas ela levantou a mão para que eu esperasse ela continuar a falar “A é uma boa garota, o pai dela sempre foi um grande amigo da nossa família, com o tempo você aprenderá a amá-la.”
Eu fechei os olhos. Porque ela não podia entender que eu já amava alguém?
“Mãe... Por favor, eu te peço, pela memória do meu pai, por favor, não continue com isso!”
Minha mãe reassumiu a pose de dama de ferro, passando a mão pelo cabelo e me olhando seriamente.
, você tem um dia e apenas um dia para terminar tudo com aquela Jessica, está entendendo? Dentro de um mês você se casará e não há nada que você possa fazer.”
“Isso... Isso é ridículo! Eu não preciso receber ordens suas, mãe! Olha, eu te amo muito, mas você não manda mais em mim!” Me levantei irritado. Eu faria qualquer coisa para não me casar. Qualquer coisa.
Minha mãe parecia uma estátua de mármore, tamanha era sua expressão de que nada poderia atingí-la. Acho que, desde criança, o que mais me fazia respeitá-la era isso, essa certeza que ela tinha sobre tudo, esse sentimento de que nada poderia vencê-la. Mas agora, já crescido, eu percebi que também tinha esse sentimento e não estava disposto a me render.
Ela sorriu sarcasticamente e puxou um papel de dentro da revista, estendendo-o para mim:
“Veja bem, querido, eu previ que a sua reação seria essa então preparei esse pequeno truque.”
Eu puxei o papel e comecei a ler: Aquilo eram ordens para um banco, ou melhor, para o banco onde eu guardava meu dinheiro. Aquilo era uma ordem de congelamento de conta. Não só da poupança como da conta corrente, dos cartões de crédito, de tudo o que eu tinha.
“O que... O que é isso?” Perguntei aflito.
“Isso, querido, é uma garantia de que ninguém vai roubar o nosso dinheiro.” Ela indicou para que eu voltasse a me sentar para que ela explicasse “Se você quer casar com aquela garota, vá em frente e se case, mas você vai viver sob as mesmas condições que ela, porque eu jamais permitirei que ela toque em um centavo do que me pertence, do que o seu pai lutou para conquistar.”
“Eu não acredito que você fez isso! Você... Como você conseguiu isso?! Isso é algo que só as autoridades podem fazer!”
“Você sabe que, para a nossa família, nada é impossível querido.” Ela pegou uma xícara de chá e bebericou um pouco “Com o nosso nome nós podemos fazer qualquer coisa. E como você pode ver, a única que pode mudar isso sou eu e só depois da data do seu casamento. Então se você não se casar, ficará pobre como a sua querida namorada.”
“Mamãe, você...”
“Você não a ama tanto assim? Vá viver do seu amor naquele lugar horroroso que ela mora, vamos ver quanto tempo você agüenta.”
Eu não quis falar mais nada, saí correndo de lá. Eu não sabia o que fazer. Na verdade eu sabia muito bem, só precisava ir para o meu apartamento, pegar as minhas coisas e fugir com a Jessica. Mas ao mesmo tempo eu sabia que não podia, que não conseguiria viver sem o conforto. A vida era muito irônica, eu sempre amaldiçoei o meu dinheiro e falava para quem quisesse ouvir que não precisava dele, mas, quando eu tinha a chance de colocar isso a prova, eu me sentia fraco. Completamente fraco.

X

Eu estava parado na frente da casa da Jessica há pelo menos uma hora, sem coragem de sair do carro e ir até lá. Peguei meu celular e olhei o relógio, talvez àquela hora, já estivesse em casa. Eu tinha tentado telefonar antes, mas ele estava trabalhando. O trabalho como um dos advogados da nossa empresa consumia muito do tempo dele e eu tive que esperar. Disquei novamente na esperança de que ele atendesse, mas nada ainda. Estava quase indo até o apartamento dele quando ouvi uma batida no vidro do carro, era Jessica. Eu gelei. Ela sorria e eu abri a porta para que ela entrasse. Ela mal sentou ao meu lado e me beijou. Eu me sentia sujo, mas talvez aquele fosse nosso último beijo.
-oppa, eu vi você aí há mais ou menos meia hora, por que não saiu do carro? Eu esqueci algum compromisso?”
“Não... Eu só...” Eu não sabia o que dizer para ela, mal conseguia olhar nos olhos dela sem sentir vontade chorar sabendo o que eu faria “Nós precisamos conversar.”
“Pode dizer.”
“Jessica eu... Nós...” Passei a mão no rosto, tentando clarear a mente. Ainda havia tempo para voltar atrás e fugir, mas a idéia do desconhecido me assustava a ponto de desistir dela. No fundo eu sabia que era um covarde “Nós não podemos mais ficar juntos.”
“Por que?” Ela perguntou, os olhos já se enchendo de lágrimas.
“Eu vou me casar dentro de um mês.” Fechei os olhos fingindo não ouvir os soluços dela “Sinto muito.”
“Você nunca me disse que tinha outra! Porque você me enganou? Por quê?” Jessica chorava sem parar e eu tinha que suportar aquilo calado. Nunca pensei que seria humanamente possível sentir tanta dor.
“Minha mãe arranjou esse casamento para nos separar e eu fiz de tudo para impedir você me entende? De tudo! Mas ela... Ela... Ela tirou todo o meu dinheiro, eu não tenho mais nada...”
“Então é isso? Você vai me trocar pelo seu dinheiro? Eu pensei que você me amava!” Ela gritou e me bateu. Mas nada doía tanto quanto a minha alma naquele momento. “Fuja comigo! Nós podemos ir embora, começar do zero em outro lugar! Eu... Eu não tenho muito dinheiro, mas talvez seja o suficiente para nos sustentar por um mês ou dois!”
“Não Jessica, não seria justo com você. Quando eu me apaixonei por você eu quis te dar todo o conforto possível, eu não quero que você sofra ao meu lado, é melhor desse jeito.” Eu deixei uma única lágrima escorrer pelo meu rosto, queria que ela soubesse que não era a única sofrendo com tudo aquilo.
“Então tudo bem... Eu não vou lutar sozinha por nós dois, adeus, .” E dizendo isso ela saiu do carro, batendo a porta com violência. Eu fiquei ali mais alguns minutos antes de voltar para casa.

X

Uma semana depois...

Eu ainda não conseguia acreditar no que havia feito, eu tinha acabado com tudo por dinheiro... Era difícil acreditar. Mais difícil ainda era pisar naquela casa e olhar para minha mãe como se tudo estivesse bem. Eu gostaria de guardar mágoa dela, mas eu sabia que ela me dera uma escolha – maldosa e ridiculamente boa para o lado dela, mas ainda sim uma escolha – e que eu escolhera o caminho mais fácil. O único culpado de tudo era eu mesmo.
Não imaginei que ao chegar ali quem me recepcionaria na sala era . Ela continuava com as roupas negras e dessa vez usava um óculos enquanto analisava alguns papéis que estavam jogados por toda a mesa.
“Oppa, quanto tempo não nos vemos!” Ela falou “Que bom que você chegou, eu e sua mãe estávamos escolhendo os arranjos para festa quando uma madame idiota chegou para falar com a sua mãe e ela me deixou aqui sozinha, quer me ajudar?” “Nunca, eu não quero nem ao menos falar com você.” Eu murmurei já saindo da sala, mas ela se levantou correndo e segurou o meu pulso “Me solta!”
“Sua mãe me disse que você terminou com aquela lá, fez muito bem porque eu não gosto de ser traída.” E novamente tinha aquele sorriso debochado na cara. “Você está adorando tudo isso, não está?” Eu perguntei a olhando fixamente. Ela era tão... Perversamente bonita
. “Não, estou adorando o fato de que no final a pessoa que foi comprada não fui eu, não é, oppa?” O sorriso sarcástico dela se alargou. Aquilo era demais pra mim, me livrei dela com um movimento do meu braço e levantei a mão, pronto para bater no rosto dela “Vai me bater? Pode bater o quanto quiser, não vai mudar nada e você sabe disso.” Naquele momento eu tive que respeitá-la porque ela não se moveu um centímetro, ela continuava ali, me encarando com certo desprezo. era corajosa, diferente de mim.
Abaixei minha mão, fechando os olhos enquanto tentava me acalmar “Eu não bato em mulheres, mesmo que elas sejam tão desprezíveis quanto você.” E dizendo isso saí, indo até o antigo quarto do meu pai, precisava ficar ali para pensar um pouco. Só existia um único pensamento na minha cabeça: , você é um bastardo covarde.”
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Nota da Autora: Eu até pensei em fazer algo do tipo “ou você se casa ou eu mato a Jessica”, mas no final das contas aquela ameaça foi mais divertida. Sou sádica e gosto de ver os personagens sofrendo, hihi



O casamento


Eu estava naquele bar há pelo menos uma hora esperando . Não que eu me importasse de ficar em um bar, mas geralmente quando a sua vida está um desastre e você vai se casar com uma pseudo-aproveitadora você quer um ombro amigo para desabafar. Um conselho: Não chame o .
“Aí está você!” Ele chegou todo sorridente, jogou a pasta de qualquer jeito na mesa e afrouxou a gravata “Eu ouvi as suas últimas mensagens, me desculpe por não ligar, mas eu fiquei tanto tempo dentro daquele fórum que pensei que iria morrer lá.”
“Tudo bem.” Murmurei dando um gole na minha bebida. Ele apertou os olhos, me olhando desconfiado. Algo que ele sempre fazia quando sabia que algo estava errado comigo.
“O que aconteceu?” Ele perguntou, fazendo um gesto para o garçom.
“Quer mesmo saber?” Ele meneou a cabeça. Então eu contei toda a minha trágica história de como eu terminara com Jessica para casar com porque fora obrigado pela minha mãe. apenas me ouviu pacientemente, não me interrompeu um minuto sequer. Provavelmente ele sabia que eu só precisava falar.
“Então é por isso que aquela tal de foi me procurar ontem?” Perguntou.
“Como é? O que ela queria com você?” O olhei assustado. Será que ela era um tipo de golpista sociopata compulsiva que dava golpes em mais de uma pessoa ao mesmo tempo?
“Ela disse que era sua namorada, o que eu estranhei porque pensei que você estava com a Jessica, então ela me disse que vocês iriam se casar, e eu quase tive um infarto porque não estava entendendo nada. Daí ela me disse algo do tipo ‘peça explicações para o ’ e me entregou isso. "Ele puxou alguma coisa da pasta e me entregou, era um convite de casamento. Do meu casamento “E disse que eu serei padrinho. Eu jurei que ela era algum tipo de maluca que tinha feito até convite de casamento, mas agora que eu sei a verdade, bem... Vamos beber!” Ele sorriu e pediu mais bebidas.
Geralmente quando a sua vida está um desastre e você vai se casar com uma pseudo-aproveitadora você quer alguém que beba com você até perder os sentidos e quase entrar em coma alcoólico. Um conselho: Chame o .

X

A partir desse momento eu vou acelerar um pouco as coisas, afinal as semanas que se passaram não são importantes para essa história. Basta que vocês saibam que eu continuei me achando um completo miserável, bastardo, infeliz e que continuava me visitando, agora na minha casa – sim, eu tinha uma casa. Ninguém pensou que eu morava com a minha mãe, né? - e continuava sendo perversa e sarcástica. Me pergunto se algum dia ela foi diferente. E a Jessica... Bem, eu tentei falar com ela, tentei ligar, mas ela não atendeu. Fui até a casa dela e só recebi ofensas das amigas dela.
Até que chegou o dia do casamento.
Lá estava eu, colocando o meu terno quando a minha mãe entrou no meu quarto radiante. Claro, ela tinha motivos. Eu estava incrivelmente abatido e nem de longe lembrava o noivo feliz que deveria ser. Minha mãe se colocou ao meu lado na frente do espelho e segurou os meus braços, me forçando a encarar o nosso reflexo.
querido, você está tão lindo! Como eu queria que o seu pai estivesse aqui para ver o seu casamento, é uma pena que ele tenha falecido antes de ver esse dia.”
“Claro, meu pai adoraria me ver casando com uma qualquer por conveniência, era o sonho dele mamãe.” Retruquei sarcástico. Minha mãe perdeu o sorriso e me olhou séria.
não é uma qualquer, eu te disse que ela é filha de um amigo da nossa família e não quero que você trate a sua futura esposa assim, entendeu?” Ela arrumou a minha gravata. “E em pouco tempo você verá como fez a escolha certa. Agora sorria, ninguém quer um noivo triste no altar. Você verá como sua futura mulher está linda! E se apresse, já está quase na hora de você ir!” Ela saiu, me deixando sozinho. Eu me olhei no espelho uma última vez, a última vez que eu me via solteiro e quase feliz. Agora eu mergulharia numa vida infeliz de casado.
Quando eu cheguei à igreja alguns convidados já estavam lá, a maioria eram pessoas que eu nunca vira na minha vida. estava de braço dado com alguma mulher que eu também desconhecia e parecia muito à vontade conversando com ela. Típico dele. Eu observei os padrinhos, alguns eram meus colegas de trabalho que pareciam genuinamente felizes e assustados pelo casamento repentino do vice-presidente da empresa. Já até podia imaginar o que minha mãe e tinham inventado: Uma história do tipo “Queríamos manter nosso relacionamento em segredo até que tivéssemos certeza dos nossos sentimentos e para evitar a exposição.” Tão previsível.
Então a marcha nupcial começou a tocar e eu me arrumei no altar. As portas da igreja se abriram e todos levantaram para ver entrar. Eu continuava não gostando dela, mas tinha que admitir que nunca vira uma noiva tão linda em toda a minha vida. O vestido tinha mangas curtas e era bordado com pedras e pequenos cristais. Ela usava luvas de renda e um véu que ia até os ombros, decorado com uma pequena flor prendendo-o ao coque que ela fizera no cabelo. O buquê dela era de lírios, preso por uma fita branca.
O estranho era que eu conhecia aquele senhor que entrara com ela e aquele com certeza não podia ser o pai dela porque era o presidente do banco que congelara minha conta e eu conhecia sua esposa e filhos. Mas se ele a conduzira pela igreja onde estava o pai dela?
A cerimônia transcorreu como qualquer casamento: Incrivelmente entediante. Eu nunca me dera conta que casamentos demoravam tanto até estar no meu próprio. De vez em quando eu olhava para os convidados e via minha mãe chorando, cochichando com a acompanhante, Jessica no fundo da igreja... Jessica? É, ela estava lá. Eu a vi de relance, mas tive certeza de que era ela parada na porta, me olhando fixamente.
“Senhor ?” Ouvi alguém me chamar. Olhei para frente e vi que era o padre “O senhor aceita como sua legítima esposa para amar e respeitar na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença até que a morte os separe?”
“Eu...” A minha voz não saía, eu não queria aquilo. O que eu queria estava na porta, chorando silenciosamente.
“Oppa” cochichou “Lembra-se da promessa que fez para sua mãe?” Ela sorriu com falsa inocência. Eu sabia que tinha que fazer aquilo, nunca me perdoaria se levasse Jessica para uma vida miserável.
“Eu aceito.” Eu falei tentando ficar firme.
“Então os declaro marido e mulher.” sorriu e tive certeza de que Jessica continuava chorando “Pode beijar a noiva.”
Eu não iria beijá-la de jeito nenhum, mas me puxou pelo braço e me beijou. Todos aplaudiram e ela continuava sorrindo, fingindo uma felicidade incrível. Enquanto todos sorriam, eu vi Jessica sair correndo da igreja sem que eu pudesse fazer nada.
-oppa” Ela murmurou enquanto caminhávamos no meio dos convidados “Sorria, você parece que está em um velório! Se você não sorrir as pessoas vão pensar que o nosso casamento não é de verdade e eu vou ter que te bater aqui mesmo.”
“O nosso casamento não é de verdade e eu...” Ela me deu uma cotovelada e eu tive que me controlar para não gritar de dor no meio da igreja. Fiz a melhor cara de felicidade que consegui e fomos até o carro que nos levaria até a festa “Nunca mais faça isso.”
“Então finja ser um noivo feliz.” Ela me olhou, agora sem a máscara de felicidade “E quando chegarmos na festa nem pense em me abandonar para ir atrás daquela Jessica, entendeu?”
“Você a viu?”
“Claro que vi, eu a convidei.” Ela deu de ombros e alisou o vestido.
“Você o quê?!” Perguntei estático.
“Eu a convidei. Queria que ela visse que te perdeu e saísse de vez da sua vida.” Eu abri a boca para responder, mas ela colocou o dedo sobre os meus lábios “E chega de falar sobre isso hoje. É o nosso casamento e eu mal posso esperar pela noite de núpcias!” Ela sorriu maliciosa.

X

Tudo o que eu posso dizer da festa é que ela foi... Agitada. Não me lembro de muitas coisas porque estava me afundando na minha depressão. Tudo o que eu me lembro é que ficou bêbado e quis tirar a roupa na frente de umas amigas da que não pareciam ofendidas com isso, e que não largava do meu braço e me cutucava toda vez que eu não sorria para algum convidado ou não aparentava ser um noivo apaixonado. Aquilo foi o inferno. Ou o começo dele, porque tudo piorou quando nós chegamos ao hotel que havia reservado – com o meu cartão de crédito – para passarmos a noite de núpcias.
Quando nós entramos naquele quarto eu me sentia inútil. Me casara por ordem da minha mãe como se estivesse no século XV porque não for homem o suficiente para fugir com quem eu achava ser o meu verdadeiro amor. Pensando bem acho que foi muito melhor desse jeito.
Ela continuava sorrindo como se realmente estivesse feliz por estar ali, mas parou de sorrir ao me ver afrouxar a gravata e me sentar no sofá.
“O que você está fazendo aí?” Perguntou ainda parada na porta do quarto.
“Descansando?” Rebati, cínico.
“Como assim, descansando? Venha, nós temos algo a fazer.”
“O que?”
“Consumar o casamento, claro.” Ela sorriu maliciosa e eu pensei que era uma brincadeira, mas percebi que ela realmente falava sério quando ela começou a tirar os enfeites do cabelo e brigar com o zíper para tirar o vestido “Pode me ajudar com isso?”
“NEM PENSAR!” Eu gritei “Ninguém vai consumar coisa alguma aqui. Você se esqueceu que esse casamento é uma fachada?”
“Não, mas eu pensei que como nós estamos casados mesmo...”
“Não, obrigado.”
Ela inclinou a cabeça, me olhando pensativa. Balançou a cabeça e entrou murmurando alguma coisa. Pensei que me livrara dela quando ouvi o barulho do chuveiro, mas minutos depois ela estava lá de novo, dessa vez com uma camisola curta e negra. “Tente não olhar para as pernas, não olhe, não olhe!” Eu me concentrava o máximo que podia nisso.
“E então oppa, tem certeza de que você não quer mesmo consumar o casamento?”
“Tenho, vai dormir porque de mim você não vai conseguir nada.”
Ela se aproximou devagar e eu tive que usar todo o eu autocontrole para não agarrá-la quando ela se sentou ao meu lado, passando a mão pela minha perna.
“Oppa... Você vai fazer isso comigo mesmo?” Ela mordeu o lóbulo da minha orelha e eu prendi a respiração.
“Eu... Eu vou, anda, cai fora!” Falei, tentando parecer decidido.
“Tudo bem, você ganhou, nada de sexo por hoje!” Ela se levantou bufando de raiva e saiu correndo para o quarto. Finalmente eu consegui respirar aliviado até sentir algo atingir a minha cabeça. Um travesseiro “E você vai dormir aí no sofá seu gay!” Ela fechou a porta com um estrondo e eu suspirei.
Seria a fase mais difícil da minha vida.

Nota da Autora: Agora a história vai começar de verdade. Não agüentava mais toda aquele drama!

Convivência


“Então é aqui que você mora? Até que não é ruim.” falou, entrando na minha casa, olhando atentamente para cada detalhe da sala.
“Você não vai me ajudar, não?” Perguntei, a seguindo com as três malas enormes que ela insistira em levar para a minha casa e que, claro, me convidou a carregar do carro até a minha casa. Ela nem se deu ao trabalho de me olhar, observando cada detalhe das fotos nos porta-retratos.
-oppa, você já não cumpriu com as suas obrigações básicas de marido ontem à noite, cumpra pelo menos essas, certo?” E saiu para conhecer o resto da casa. Eu suspirei, tentando lidar com as malas dela. O que ela guardava ali, roupas ou corpos? Quando finalmente chegamos ao segundo andar ela olhou interrogativa para a porta no final do corredor. “O nosso quarto é aquele ali?”
“O meu quarto é aquele ali. O seu quarto é esse.” Abri a porta do quarto de hóspedes para que ela entrasse. deu de ombros e entrou, se jogando na cama “O que achou?”
“Nada mal.” Ela murmurou enquanto se levantava e ia até o guarda-roupa. Sorriu ao abri-lo “Pelo menos isso tem de bom, o guarda-roupa é espaçoso.”
“E daí?” Perguntei terminando de colocar as malas ao lado da cama.
“Vou precisar de espaço para guardar todos os meus sapatos e bolsas Prada, seu tolinho.” Ela puxou uma das malas para cima da cama – com a maior facilidade, devo pontuar – e a abriu, revelando roupas e mais roupas negras. Ela começou a tirar as roupas cuidadosamente e passá-las da mala para o guarda-roupa.
“E você tem tantos assim?” Olhei disfarçadamente para as roupas. Não conseguia ver uma única peça colorida.
“Não, mas terei quando você me comprar.” Ela respondeu sem nem me olhar. Arregalei os olhos surpreso.
“Como é?”
“Isso mesmo, um bom marido presenteia a esposa com produtos de ótima qualidade. E você é um bom marido, não é, -oppa?” Ela sorriu cínica enquanto dobrava uma blusa “E você vai ficar aqui me olhando arrumar as minhas roupas?”
“Pensei que você quisesse que ficássemos juntos.” Rebati.
“Não quando eu estou com fome e não tem nada decente na sua geladeira. Por que você não vai fazer o jantar oppa?” Ela sorriu de uma maneira falsamente doce.
“Você está louca? Eu não sei cozinhar.”
“Bem, então arranje alguém que sabe. Eu vou terminar aqui, tomar um banho e descer para o jantar, querido.” falou escondida atrás das portas do guarda-roupa.
“Escuta aqui, eu não sei se você percebeu , mas você está na minha casa e quem manda nela sou eu.” Falei, tentando parecer firme. Ela voltou para perto da cama e andou até ficar próxima de mim. Próxima demais. Agora não me entendam mal, mas ela tinha algo de psicótico naquele olhar que me lançou e eu não gostei nada disso.
“Escute aqui você, , agora essa é a nossa casa e quem manda nela é a esposa, logo, sou eu. E eu quero o jantar pronto quando eu terminar, estamos entendidos?” Ela pressionava o dedo no meu peito a cada palavra, como que para dar ênfase no que dizia.
“Acho que eu posso arrumar alguma coisa.” Murmurei desconcertado.
“Ótimo.” Ela sorriu e voltou á arrumar as roupas como se tudo estivesse certo. Era impressão minha ou eu havia acabado de ser coagido por ela? É , você como homem é um ótimo rato.

X

Uma semana depois

Passar um dia com era o caos. Uma semana era o inferno. Ela me seguia pelos cantos da casa, mexia nas minhas coisas e tentava me espiar no banho – ela já me pegara só de cueca pelo menos umas três vezes. Mas naquele dia eu estava feliz, quando eu acordei encontrei um bilhete dela dizendo que iria visitar a minha mãe e que não voltaria tão cedo. Ótimo. Fui trabalhar muito feliz, não tê-la por perto era um alívio. Estava tudo indo bem até eu sair do meu carro no estacionamento da empresa e encontrar Jessica. Eu não sabia o que ela estava fazendo ali, mas não parecia estar feliz em me ver, o que não queria dizer nada, no lugar dela eu também não estaria.
“Jessica!” Chamei e ela fingiu me ignorar. Cheguei mais perto “Hã... Oi”
“Olá, -ssi” Ela murmurou sem me olhar. Apertou o botão do elevador repetidas vezes, mas parecia não adiantar.
“Jessica, eu... Eu...” Não sabia o que dizer. Estar perto dela ainda doía, mas algo estava errado porque não doía tanto quanto antes.
“Por favor, não fale nada, você é um homem casado e deve respeitar sua esposa.” Ela falou olhando fixamente para a porta do elevador.
“Tudo bem, me desculpe. Mas... O que você faz aqui?” Perguntei tentando parecer amistoso.
“Não é da sua conta.” A porta do elevador se abriu e ela entrou, apertando o botão antes que eu entrasse “Não mais.”
E eu fiquei ali parado sem saber o que fazer. Isso estava acontecendo com uma freqüência absurda.

X

Era por volta do meio-dia e eu já estava cansado demais para entender qualquer coisa que estivesse escrita naqueles relatórios. Joguei um sobre a mesa, me recostando na cadeira. Poderia esperar mais meia hora e então eu e sairíamos para almoçar. Estava tão distraído que nem percebi quando a porta do meu escritório se abriu e entrou. Tenho certeza que ela sorria. Ela sempre sorria.
“Eu não sabia que a sua empresa era tão grande!” Abri os olhos e deparei com ela na frente da minha mesa “Quase me perdi para achar o seu escritório.”
“O que você está fazendo aqui?” Me arrumei na cadeira, era sempre bom estar na defensiva com ela por perto “Por que minha secretária não te anunciou?”
“E desde quando as esposas precisam ser anunciadas?” Ela falou num tom que usaria com uma criança de dois anos “Isso tudo é tão legal. Eu fiz um tour antes de vir aqui, um rapaz muito gentil me mostrou a empresa.”
“Ótimo, você já viu onde eu trabalho, agora vá embora!” Falei exasperado. Porque ela me fazia sentir tanto nervoso?
“Alguém aqui precisa relaxar.” Ela murmurou e se aproximou de mim, parando atrás da minha cadeira e deslizando as mãos pelos meus ombros “Quem sabe uma massagem não resolva?” Sussurrou perto do meu ouvido. Perto demais de novo. Deus, a proximidade dela me deixava tão nervoso a ponto de não saber o que fazer.
“Quer tirar as suas mãos de mim?” Perguntei. saiu dali para se sentar na minha mesa. Na minha frente. Com aquelas calças apertadas. “O que você quer?”
“Preciso do seu cartão de crédito.” Ela cruzou as pernas e balançou um pé incessantemente.
“Então vai ficar precisando, esqueceu que a minha mãe cancelou a minha conta?”
“Ela desbloqueou um dia depois do casamento.” De novo ela usou aquele tom aborrecido “Fiquei sabendo que chegou uma coleção nova de camisolas na Victoria’s Secret, estou louca para ir lá ver!”
“Nem pensar! Você e minha mãe não são tão amigas? Vá pedir dinheiro para ela, então!”
“Oppa, não seja tão ruim assim.” Ela falou se debruçando sobre mim, as mãos alcançando o nó da minha gravata “Eu sou uma boa esposa, não sou? E posso ser melhor ainda.” Agora estava tão próxima que eu podia ver cada detalhe do seu rosto, mas me peguei observando os lábios dela. Pareciam tão... Convidativos naquele sorriso sarcástico.
você...” entrou na sala nesse momento, vendo aquela cena “Me desculpem, eu volto depois.”
“Não, tudo bem, -ssi, eu já estava de saída mesmo.” sorriu se levantando da minha mesa “Vou deixar vocês garotos conversarem à vontade.” Ela começou a andar em direção á porta “Foi bom te ver, -ssi.”
“Você também, -ssi.” Ele respondeu encabulado.
“Vá lá em casa qualquer dia jantar, -oppa vai adorar cozinhar para nós, não é oppa?” O sorriso dela se alargou.
“Mas o não sabe cozinhar.” falou confuso.
“Não tem problema, ele aprende. Aliás, oppa, de noite eu te devolvo isso.” E balançou o meu cartão de crédito na mão “É melhor eu ir antes que comprem as melhores peças. Até mais rapazes.” E depois de se curvar ela saiu tão silenciosa quanto entrara.
Eu fiquei em silêncio, passando a mão pelo rosto. O que fora aquilo?
“Cara” se sentou na cadeira em frente á minha mesa “O que foi aquilo?”
“Eu não sei.” Murmurei, massageando as têmporas “Não sei mesmo. Ela... Ela me deixa louco!”
“Deu para perceber.” falou com um sorrisinho.
“Não nesse sentido!”
“Ah... Então é isso.” Ele apoiou o rosto nas mãos, pensativo.
“O que?”
“Tensão sexual.” Ele riu ao notar a minha cara de espanto “É sério cara, vocês já transaram?”
“Não!” Eu gritei, não conseguia acreditar naquela conversa insólita.
“Então o que você está esperando? Vai dizer que ela é do tipo difícil? Não foi o que me pareceu agora pouco.” riu, provavelmente estava achando muita graça na situação.
“Nós não vamos transar porque esse casamento não é de verdade e... Por que eu estou falando isso para você?!” Me perguntei perplexo.
“Porque eu sou o seu melhor amigo?”
“Que seja! Vamos almoçar antes que eu perca a fome.”
Durante o almoço as coisas se tranqüilizaram, eu me sentia menos triste por ter visto a Jessica e menos nervoso por aquele acontecimento com a . Eu estava convencido de aquele casamento duraria pouco tempo, nós não nos aturaríamos por mais de três meses, estava convicto disso.
“Escuta cara, aquela não é a Jessica?” apontou para uma mulher saindo de um dos vários restaurantes daquela área e entrando em um táxi. Eu não tinha dúvidas, era ela. “O que será que ela veio fazer aqui?”
“Não sei.” Bebi mais um gole de soju “E não é da minha conta. Não mais.”

X

Quando cheguei em casa, estava deitada no sofá, lendo. Me peguei observando-a, ela era bem calma quando lia.
“Como foi o trabalho, oppa?” Ela me perguntou sem parar de ler.
“Normal.” Murmurei, passando por ela “Fez suas compras?”
“Algumas, não vi muitas coisas interessantes.” Ela respondeu. Aquilo parecia um casamento de verdade... “A não ser por uma certa mulher se encontrando com um certo rapaz simpático.”
...Esqueçam o que eu disse.
“Ah é?” Perguntei, fingindo desinteresse enquanto lutava com a maldita gravata que parecia não querer desfazer o nó.
“É. Não quer saber com quem a Jessica estava?” Ela me olhou por cima do livro, os olhos brilhando de malícia.
“Não é da minha conta.” Quantas vezes eu ainda falaria isso?
“Que seja.” Ela fechou o livro “Venha cá, eu dou um jeito nesse nó.
.” “Não, ele está quase desfeito...” Puxei mais uma vez a gravata que não se moveu um único centímetro.
“Como você é teimoso!” Ela bufou, se levantando do sofá e parando na minha frente. tirou minhas mãos do caminho, tocando a gravata com a delicadeza e desfazendo o nó com uma facilidade impressionante “Viu? Não doeu nem um pouco.”
“É... Obrigado.” Murmurei sem jeito. Eu jurava que ela iria tentar me enforcar ou algo do tipo.
E então se seguiu um dos momentos estranhos que sempre aconteciam quando eu estava com ela. Nós nos olhamos, sem nos mover do lugar, as mãos dela ainda na minha gravata e os olhos fixos nos meus. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas depois suspirou e tirou as mãos da minha gravata.
“Me traia com ela.” Falou por fim.
“COMO É?!” Exclamei, eu ouvira mesmo aquilo?
“Você ouviu, , me traia com ela.” Ela voltou a se sentar no sofá e pegou o livro “Se você a ama tanto assim vá atrás dela e me traia, eu não ligo. Esse casamento é uma farsa mesmo, não é?”
“Tudo bem” Me sentei ao lado dela “Qual é a armadilha da vez?”
“Não tem nenhuma armadilha.” Ela se virou, me encarando “Eu não sou tão ruim quanto você pensa e não quero te prender. Se quiser me trair com ela, fique a vontade.”
“Certo. E o que você ganharia com isso?” Perguntei desconfiado.
“Tudo.” Eu devo ter feito uma expressão de muita confusão, porque ela sorriu e continuou “Eu posso continuar usando o seu dinheiro e viver no conforto e se por acaso alguém descobrir da sua traição eu posso fingir que sou uma mulher frágil e traída e logo terei vários milionários querendo me consolar, simples assim. Meu dedo mal vai sentir falta da nossa aliança porque estará adornado por outra.”
“Ah certo, então você não vai querer me trair de volta?” Dessa vez meu tom era de deboche.
“Eu jurei fidelidade diante do padre e pretendo levar isso á sério até que esse casamento acabe ou a morte nos separe.” Ela riu da última parte “Você pode não saber, mas eu sou uma mulher de palavra.”
Eu vi isso nos olhos dela, não estava mentindo.
“Agora veja bem, você só tem a permissão de me trair com alguém que você ame, se for só sexo eu estou aqui para isso. Estamos entendidos?” Ela me estendeu a mão, que eu apertei sem saber ao certo o que fazia.
“E como você saber que eu amo alguém?”
“Oppa, você é um livro aberto para mim, não há nada sobre você que eu não possa perceber.” E dizendo isso se levantou “Agora eu vou para o meu quarto, quero terminar de ler esse livro ainda hoje. Boa noite, -oppa.”
E saiu, me deixando atordoado. Aquela proposta era tentadora, eu podia enganar minha mãe e ficar com a Jessica – se ela concordasse, o que eu duvidava. Me chamem de piegas, mas naquele momento eu percebi que estava errada, ela não sabia me ler completamente porque não fora a única que jurara fidelidade até o fim do casamento – ou até que a morte nos separasse -. Naquele momento eu percebi que eu não teria coragem de trair alguém com tamanha lealdade, nem com a Jessica.



Escondido


Depois daquele dia as coisas entre mim e estavam correndo bem. Quer dizer, se eu podia chamar assim. Ela não me perseguia mais pela casa nem tentava entrar no meu quarto quando eu estava me trocando. Pelo contrário, da noite para o dia ela se transformara numa esposa a moda antiga. Nunca perguntava nada e não impunha mais as próprias vontades. Certo, aquilo estava começando a me irritar. Depois da primeira semanam eu percebi que não conseguia ser ignorado e gostar disso, a minha parte egocêntrica precisava saber que ela estava prestando atenção em cada detalhe do que eu fazia. Eu conversei com , mas a única coisa que ele me disse de produtivo foi: “Deixe-me ver se eu entendi, você reclamava porque ela parecia um cão de guarda e, agora que ela se afastou, você reclama também. O que exatamente você quer que ela faça?” Bem, se eu soubesse não perguntaria para um suposto melhor amigo que não ajudava em nada, não é?
Naquele dia eu me levantei cedo e fui correr. Não me exercitava no parque há um bom tempo, mas era bom respirar o ar puro quando me sentia daquele jeito. Quando voltei para casa encontrei na cozinha, mas ela não me viu, estava falando no telefone e parecia nervosa. Me encostei na parede, tentando ouvir porque ela falava naquele tom de voz.
“É, eu sei, as coisas estão acontecendo rápido demais. Não, ele não sabe.” Ela parou, ouvindo a outra pessoa “Tenho, tenho. NÃO! Ele não vai descobrir, não se preocupe.” Novamente a outra pessoa falou, dessa vez por mais tempo “É, se ele descobrisse poderia acabar com os nossos planos, mas ele não vai, te prometo isso.” Ela suspirou e passou a mão pelo cabelo “Ele está ocupado com todo esse problema da Jessica, não presta atenção em mais nada.” se apoiou na bancada “Quando ele perceber será tarde demais e nós sabemos disso. Não, não vou mudar de idéia, sinto muito.” Ela abaixou a cabeça, parecendo pensativa “Vai dar tudo certo. Obrigada por me ouvir. Você tem algum compromisso na hora do almoço?” A outra pessoa falou alguma coisa e ela concordou “Não, ele almoça com o , então acho que podemos nos ver, só tenho que passar naquele lugar antes e nos encontraremos então. Até mais.”
Fiquei um tempo parado, vendo andar de um lado para o outro da cozinha. Com quem ela estava falando? Será que ela havia mentido e estava me traindo? Não, isso definitivamente não era possível, ou era? Mas se ela estivesse me traindo não falaria com o amante no telefone e sim no celular. Então quem era e que planos eram aqueles de que ela falara? Eu sabia que não adiantava perguntar, ela negaria que tivera esse tipo de conversa com quem quer que fosse. Voltei para a porta e fingi que estava chegando naquele momento, fazendo o máximo possível de barulho.
“Bom dia, oppa!” Ela sorriu “Acordou cedo hoje.”
“Quis ir me exercitar um pouco. Você estava falando no telefone?” Perguntei tentando parecer simplista.
“Ah sim, -ssi ligou.” virou um pouco o rosto.
? O que ele queria?”
“Saber se o jogo de pôquer da semana que vem está confirmado, alguma coisa assim. Acho que ele está de ressaca.” Ela me respondeu, séria.
“E por que ele não me ligou no celular?”
me olhou aborrecida, balançou a cabeça negativamente e depois respondeu:
“Por dois motivos óbvios: Um, você não levou o celular e dois, ele estava descarregado.” Pelo menos naquilo ela estava falando a verdade “Mas eu já coloquei para carregar.”
“Obrigado.” Estranhei. Será que ela estava sendo legal comigo porque estava me traindo ou porque me pediria mais um Prada?
“Aliás, aproveitei que estava no seu quarto e arrumei o seu guarda-roupa. Francamente -oppa, como você acha alguma coisa naquela sua gaveta de meias?”
“Eu... Obrigado por isso também.” Respondi ainda estático pelo fato dela ter feito algo por mim. Algo bom para variar. “Eu... Vou tomar banho.”
“E eu vou sair.” Ela respondeu passando por mim e pegando a bolsa no sofá.
“Aonde você vai?” Perguntei e ela me olhou, inclinando um pouco a cabeça. Eu ergui as mãos em sinal de rendimento “Certo, não é da minha conta.”
“Isso mesmo.” Ela sorriu “Fiz um sanduíche para você, está na geladeira. Não precisa se preocupar, não coloquei veneno nele, meu cianureto acabou.” Ela riu ao notar a minha cara de espanto “Até mais.”
, espera!” Ela parou na porta “Você quer almoçar comigo hoje?”
“Nossa, você me chamando para sair, que novidade. Tudo bem, onde eu te encontro?” Ela ainda me olhava assustada pelo convite súbito, mas eu não deixaria que ela se encontrasse com aquela pessoa na hora do almoço.
“Você gosta de comida japonesa?” Ela balançou a cabeça “Então me encontre meio-dia naquele restaurante na rua da empresa, você sabe qual é.”
“Tudo bem, oppa, até mais!”
Alguma coisa estava errada no jeito como ela me tratava e eu podia ver isso nos olhos dela. Não sei o que ela estava planejando ou com quem estivera falando, mas eu iria descobrir.
Eu fui tomar banho e quando fui me trocar mal reconhecia meu armário de tão arrumado que estava. havia arrumado as camisas por cor, dobrado as calças e os moletons e colocado as meias separadas por pares. Agora eu não corria mais o risco de sair com uma meia preta e uma branca por não achar os pares certos.

Desci, me lembrando daquele sanduíche, seria bom comer um pouco depois de me exercitar. Surpreendentemente o sanduíche estava bom, mas não foi isso que me chamou a atenção e sim uma caixa de chocolates que estava ao lado dele. Ela tinha um papel amarelo colado na tampa e vi que era para mim:

-oppa,
Esses chocolates são os meus preferidos, espero que você goste deles tanto quanto eu. Adoce um pouco a sua vida!


Realmente estava me surpreendendo cada vez mais.

X

Eu já estava naquele restaurante há algum tempo e a cada minuto me convencia de que não iria aparecer. Talvez ela já tivesse fugido com quem quer que tenha falado no telefone mais cedo. Não, ela não faria isso. Ou faria se a pessoa tivesse prometido alguma coisa cara para ela.
Eu tentava me lembrar de tudo o que tinha conversado com mais cedo, ele me dissera algo como “Não vá dar uma de marido louco e estragar tudo”. E eu odiava admitir, mas ele estava certo.
Vi quando foi acompanhada por um garçom até a mesa em que eu estava, ela sorriu para ele quando ele anotou nossos pedidos e saiu.
“E então, oppa, a que devo esse convite?” Ela me perguntou.
“Nada em especial” Eu a observei atentamente: Ela continuava parecendo aquela mulher prepotente que aparecera na minha casa dizendo que se casaria comigo.
“Nada em especial? Estamos casados há quase um mês e você nunca quis nem saber de mim, de repente me chama para sair e eu devo acreditar que não aconteceu nada?” riu debochada “Jessica aceitou ser a outra?”
“Eu não falo com a Jessica há uma semana.” Respondi “Mas se você quiser ir embora pode ir.”
“Não precisa ficar tão nervoso assim, oppa, eu te deixo desfrutar da minha maravilhosa companhia mais um pouco.”
Diferente do que eu pensei não foi torturante almoçar com ela. Descobri que quando não estava implicando comigo ou tentando estragar minha vida, era uma pessoa agradável e tínhamos algumas coisas em comum.
Uma hora depois nós nos despedimos, eu disse que tinha uma reunião importante e saí primeiro. Fiquei dentro do meu carro – que eu estacionara em um ponto estratégico – esperando a hora que ela saísse.
Dez minutos depois saiu falando no celular. Ela deu sinal para um táxi e entrou. Eu os segui de perto, mas não muito para não ser percebido. Eu tinha certeza de que ela iria se encontrar com alguém e eu precisava saber quem. Não que isso me importasse ou eu sentisse ciúmes, mas ela jurara que não me trairia e eu queria ter certeza.
Depois de algum tempo ela parou em uma floricultura. Estranho, não deveria ser o homem quem compra flores? Pouco tempo depois ela saiu com um buquê de lírios. Mais alguns minutos se passaram e nós estacionamos em frente a um cemitério. Lugar estranho para marcar um encontro. A pessoa deveria ser muito cuidadosa. Eu a seguia à uma distância segura enquanto ela caminhava tranquilamente até parar em frente á uma lápide. Agora era só esperar até que alguém aparecesse.
Eu a vi depositar as flores na lápide e tocá-la demoradamente. Pude perceber que ela falava com a lápide como se fosse uma pessoa. Até que ela levou uma das mãos ao rosto e começou a chorar. Aquilo me deixou um pouco... Desconfortável. Pensei em me virar para ir embora até ouvi-la gritando:
-oppa, vai sair assim?!” Olhei para ela, lágrimas escorriam pelo rosto dela “Me seguiu até aqui para me deixar sozinha?!”
Andei até ela me sentindo um completo idiota e quando parei de frente para ela pensei que ganharia um tapa, mas ela apenas me abraçou. Eu demorei um pouco para entender a situação, mas a abracei de volta, ainda me sentindo desconfortável. Olhei para a lápide e entendi o porquê do choro. Estava escrito:

John
Amado marido e pai
13.05.1954 – 27.11.2009


document.write(Yesung), você é mesmo um idiota. Eu a abracei mais forte, me sentindo triste por ela. Sabia como era perder o pai e a morte do dela ainda era recente.
“Eu... Eu sinto muito.” Murmurei, não sabia o que falar “Por favor, vamos embora, vai chover.”
me soltou, limpando os olhos com as costas das mãos enquanto olhava para o céu.
“É, vai chover.” Ela falou, se virou para a lápide, tocando-a com cuidado “Até logo, pai.”
E começou a caminhar. Eu a segui, me sentindo um ser muito miserável.

X

Passamos o caminho inteiro em silêncio e, quando chegamos, não quis conversar, foi direto para o próprio quarto e se trancou lá. Eu parei em frente a porta umas três vezes, mas não sabia o que dizer. Eu não sabia como me desculpar, mas tinha uma noção do que poderia fazer.
Uma hora depois lá estava eu parado em frente ao quarto dela, uma caixa em mãos. Bati e esperei que ela gritasse comigo, mas ouvi um fraco “entre” vindo do outro lado.
estava deitada, mais uma vez lendo. O quarto continuava na mais perfeita ordem, mas a cama estava desarrumada. Provavelmente ela passara o dia inteiro ali, deitada.
“Algum problema?” Ela marcou a página do livro e o colocou sobre o criado mudo, se sentando na cama.
“Eu... Bem... Comprei isso para você.” Murmurei, estendendo a caixa para ela, que pegou desconfiada “Considere como um pedido de desculpas.”
“Um presente de desculpas, que amável!” abriu a caixa, revelando o vestido que eu comprara. Era negro, na altura dos joelhos e tinha uma faixa branca na cintura. Era simples, mas feito de um tecido nobre. “-oppa... É lindo! Obrigada, mesmo.” puxou o vestido da caixa, colocando-o sobre a cama “Não precisava.”
“Acho que precisava sim, eu... Invadi um momento pessoal seu, não deveria ter feito isso. Me desculpe.” Me curvei, esperando que aceitasse as minhas desculpas.
“Tudo bem, sério.” Ela sorriu, passando as mãos pelo vestido “Você teve os seus motivos, bobos, mas teve. Eu... Deveria ter falado.” Ela voltou a dobrar o vestido e colocá-lo na caixa “Vou usar na festa de amanhã.”
“Ótimo. Então... Eu vou deixar você terminar o livro.” Falei encabulado “Boa noite.”
“Durma bem, oppa, boa noite.”

X

Já era tarde, mas eu não conseguia dormir. Lá fora caía uma tempestade e eu odiava chuva, raramente dormia quando chovia, os pesadelos que me acometiam eram motivo suficiente para que preferisse ficar acordado a noite inteira, mesmo sabendo que teria que trabalhar no dia seguinte.
Eu andei de um lado para o outro da casa, procurando algo para fazer, mas nada me entrertinha. Ainda faltava um bom tempo para o dia começar e não parava de chover. Resignado, voltei para o meu quarto, o melhor era ficar lá até a chuva parar. Ouvi batidas na porta e logo apareceu.
“Oppa, ouvi barulhos, você está bem?” Ela estava com uma daquelas camisolas da Victoria’s Secret, preta de seda, curta. Era difícil não prestar atenção nisso.
“Estou, eu só... Não consigo dormir.” Respondi tentando manter alguma coerência e o meu olhar longe dela.
“E por que não?” fechou a porta e se aproximou da minha cama, mantendo uma distância respeitosa, como se temesse que eu já expulsasse dali.
“Você vai rir de mim, mas... Tenho medo de tempestades e não consigo dormir em noites assim.” Fechei os olhos esperando o riso, mas ele não veio. apenas inclinou a cabeça, coisa que sempre fazia quando estava pensativa.
“Entendo.” Ela sorriu “Tive uma idéia, vou te ajudar a dormir.” O sorriso dela se alargou e ela se andou até a minha cama, puxando as cobertas e se deitando de frente para mim.
“O que você pensa que está fazendo?” Perguntei levemente assustado.
“Não seja malicioso!” Ela riu “Meu pai fazia isso comigo quando eu era criança, ele se deitava ao meu lado e conversava comigo por horas, até eu cair no sono, sempre funcionava.” Ela apoiou o rosto em uma das mãos “Então, sobre o que quer conversar?”
“Porque você não me conta sobre a sua família?” Perguntei, tentando não soar muito invasivo.
“Tudo bem, mas só se depois você me contar sobre a Jessica, combinado?” Eu meneei a cabeça “Eu nasci no Japão, minha mãe era metade coreana e metade japonesa e meu pai, ocidental. Minha mãe teve câncer e morreu quando eu tinha sete anos, meu pai me criou desde então.” suspirou triste “Mas desde a morte dela ele nunca mais foi a mesma pessoa, eles se amavam demais, sabe?” Concordei, o mesmo tinha acontecido com a minha mãe quando o meu pai morrera “Então nós viemos pra cá e a sua mãe apareceu, eles eram muito amigos e ela ajudou o meu pai a seguir em frente, mas não foi o suficiente, ele morreu de insuficiência respiratória alguns meses atrás.”
“Sinto muito.” Murmurei de novo.
“Não, tudo bem, foi melhor assim, tenho certeza de que eles estão juntos.” Ela passou a mão pelos cabelos “Agora, por que você não me conta sobre a Jessica ou sobre por que você tem medo de tempestades?”
“Sobre as tempestades, meu pai morreu em um acidente de carro em uma noite assim. Nós estávamos voltando da casa de um amigo dele, só nós dois, e estava chovendo, ele perdeu o controle do carro por causa da pista molhada e o carro bateu. Eu nem sei como eu saí ileso.”
“Porque o mundo precisa de pessoas boas como você, -oppa, não que seu pai fosse uma pessoa ruim.” falou.
“Obrigado.” Sussurrei. Fechei os olhos “E sobre a Jessica... Ela é especial, sabe? Ela me entende, ou me entendia, não sei. Foi a primeira garota que não se importava com o meu dinheiro, mas comigo, e eu sei que isso parece clichê, mas é o jeito que as coisas são.” Falar dela me deixava cansado, com um peso no coração.
“Entendo.” murmurou. “E então eu apareci...”
“E estragou tudo.” Por algum motivo eu sorri. Depois dos pequenos atos que fizera por mim eu não sentia como se ela tivesse estragado tudo. Eu não a achava inconveniente, mas também não éramos amigos – ou eu achava que não éramos -, era difícil definir o nosso grau de relacionamento. “Você tinha razão, falar dá sono.”
“Meu pai nunca errou, oppa.” Eu tive certeza de que ela sorria “Agora vamos falar mais, daqui a pouco você vai acabar dormindo.”
E eu nem sei em que parte da conversa eu adormeci, mas havia feito um milagre: Foi a primeira vez em anos que eu dormi em uma noite de chuva.



Do you like party?


Na manhã seguinte, eu acordei tão bem disposto que já estava atrasado. Talvez eu tivesse saído correndo para o trabalho se não tivesse visto deitada ao meu lado. Isso sim parecia uma cena de um casamento de verdade, eu parado, olhando-a dormir, mas era inevitável. tinha uma aura de paz, muito diferente de quando ela estava acordada. Nem quando ela lia eu a via com tamanha tranqüilidade no rosto. Passei o polegar de leve pelo rosto dela, traçando os lábios com cuidado. Ela se remexeu um pouco, mas não acordou. Me levantei com cuidado, a cobrindo em seguida. Por alguma razão senti vontade de beijá-la no rosto, em sinal de respeito pela ajuda dela, e assim o fiz. Isso sim parecia uma cena de um casamento de verdade.

X

“E então agora vocês ficam compartilhando segredinhos como amigas do colegial?” me perguntou enquanto brincava com os papéis que estavam em cima da minha mesa “Que mudança radical.”
“Nós não trocamos nada!” Exclamei irritado “E você não tem mais nada de útil para fazer, não?”
“Além de saber da sua vida? Não, não mesmo.” riu da minha cara de raiva “Pelo menos vocês dois estão se dando bem, mesmo com a Jessica vindo aqui todo dia.”
“Jessica vindo aqui todo dia?!” Perguntei. Eu a vira uma vez, mas não sabia que ela ia até a empresa todos os dias.
“Quase todos, já cruzei com ela umas duas ou três vezes essa semana.” largou os papéis sobre a minha mesa “Ela não vem te ver?”
“Não! Eu me encontrei com ela uma vez no estacionamento, não sei o que ela está fazendo por aqui.”

X

Eu não queria muito ir naquela festa, qualquer coisa que os Ok fizessem parecia superficial e frívola demais para mim. Mas, sendo o senhor Ok, o presidente do maior banco da cidade – sim, aquele que guardava meu dinheiro e congelara minha conta – e minha família dona de uma empresa associada eu deveria estar lá. Sabem como é, coisa de vice-presidente. Esse tipo de festa servia apenas para que os investidores socializassem, para que suas mulheres falassem mal dos vestidos uma das outras e para que os mais jovens – se é que eu posso chamar o núcleo ao qual eu pertencia assim – tivessem uma desculpa para beber mais do que já bebiam normalmente. O plano era encontrar minha mãe e o senhor Ok lá, fazer alguma média, apresentar para eles e ir embora sem qualquer imprevisto. Afinal, era só uma festa de engravatados, o que poderia sair errado? Eu respondo: Tudo.
Olhei meu relógio pela sétima vez, não chegaríamos a tempo se demorasse mais. Por um segundo eu pensei que já que ela era tão imprevisível e diferente ela não atrasaria ao se arrumar. Primeiro erro da noite. estava demorando mais do que uma noiva. Será que, no nosso casamento, ela demorara tanto assim?
, nós vamos nos atrasar!” Gritei me debruçando no corrimão “Anda logo!”
“Não me apressa, só falta passar o rímel, cinco minutinhos!” Ela gritou de volta. Certo, aquilo estava me irritando.
“Será que eu vou ter que ir aí e...” Eu perdi minha fala porque a vi descendo as escadas. usava o vestido que lhe comprara, sapatos de salto alto pretos de verniz, um maquiagem leve no rosto e o cabelo preso em um coque. Ela estava linda. Diabolicamente linda, como sempre.
“E o que, oppa?” Ela sorriu e parou na minha frente “Por que você é tão formal?” Ela abriu os dois primeiros botões da minha camisa e depois bagunçou o meu cabelo “Bem melhor. Você vem ou vai ficar aí me olhando?”
Eu sorri. era mesmo uma mulher interessante.

X

Quando chegamos logo apareceu, ladeado de mais alguma mulher que eu não fiz questão de gravar o nome porque seria inútil. Nós encontramos minha mãe – ela e pareciam amigas de longa data, e só agora eu entendia porque – e os Ok. Eles obviamente adoraram ou aquele personagem de boa esposa que ela usava quando estávamos na frente dos outros. Conversei com alguns empresários, conhecidos e desconhecidos. Tudo estava saindo de acordo com o plano quando ele apareceu. Ok TaecYeon. Ok TaecYeon era meu conhecido de longa data. Eu, ele e havíamos estudado juntos e saíamos algumas vezes. Nós três tínhamos aquele mesmo estilo de vida fútil, até que eu encontrei Jessica. soube me respeitar e ele, bem, ele continuou como sempre. TaecYeon não sabia ficar com a mesma mulher por mais de uma semana e não se importava de esconder isso de todos. A alta sociedade é o meio mais hipócrita em que você pode viver: Tudo bem viver uma vida nada convencional, mas quando estiver nos eventos sociais, finja ser um bom filho que o dinheiro continuará na sua conta. Eu e respeitávamos essa regra ao máximo, já TaecYeon, não. Acho que isso sempre me deu um pouco de inveja, isso e o fato de que ele conseguia mais mulheres do que eu.
Ele se aproximou sorridente, nos cumprimentou e então eu percebi qual era a verdadeira intenção dele ali: . Eu podia notar os olhares dele para ela a cada cinco segundos, o modo como ele agia e falava com ela. Eu já havia feito aquilo muitas vezes. parecia não prestar atenção nele, mas ela sabia. E estava gostando.
Como se já não bastasse tudo aquilo, as coisas pioraram. Jessica apareceu. me cutucou e a indicou com a cabeça. Eu me virei e lá estava ela, andando entre todos com a maior tranqüilidade, se dirigindo até o próprio TaecYeon – que nessa hora estava bem longe de nós – para ser levada para algum lugar por ele. E pareciam bem íntimos.
“Não é nada demais.” murmurou, sentada do meu lado.
“Eles estão só conversando.” falou.
“Vá falar com ela, oppa.” bebeu mais um gole da própria bebida “Não me faça ir até lá e estragar o meu disfarce de boa moça.”
“Aproveite que eles não estão mais perto.” completou “Eu fico aqui com a -ssi.”
“Não saiam daí.” Murmurei enquanto me levantava e ia até Jessica.
Os procurei por vários cantos, até achá-los nos jardins do fundo. TaecYeon ia voltando para dentro da casa e ao passar por mim me olhou longamente e depois sorriu de canto. Eu não precisava me esforçar para saber onde ele estava indo. Mas não podia me importar com isso agora, eu precisava falar com Jessica. Talvez por puro egoísmo, mas não conseguia acreditar que eles estavam juntos. Ela estava parada perto de uma estátua, provavelmente dando um tempo até poder circular sozinha pelo salão.
“Jessica” Ela se virou para mim, a expressão séria.
-ssi, algum problema?”
“Eu... Você... Você e o TaecYeon estão juntos?” Acho que o melhor naquela situação era ser direto naquela situação “Eu vi vocês dois.”
-ssi, acho que já disse que a minha vida não te importa mais, não é?” Ela perguntou parecendo amargurada.
“Eu sei! Mas eu acho que por tudo o que nós passamos você talvez possa me dizer.”
“E por que eu explicaria minha vida para você?” Agora ela parecia brava “Você está casado, por que não volta para sua mulher e esquece que me viu aqui?”
“Porque eu...” Eu te amo. Era isso que eu deveria dizer, mas eu não conseguia, as palavras não saíam “Eu não sei.”
“TaecYeon é só meu amigo.” Ela falou por fim “E é só isso que você vai saber.” Depois disso ela se afastou. E pelo que parecia a milésima vez eu vi Jessica se afastar sem tentar impedi-la.

X

Fiquei um tempo nos jardins do fundo, tentando me acalmar. Teria sido melhor se tivesse voltado imediatamente. e TaecYeon conversavam, como melhores amigos, e não estava por perto. Ótimo amigo, como sempre.
-oppa!” sorriu “-ssi recebeu uma ligação e saiu correndo, ainda bem que TaceYeon-ssi estava aqui para me fazer companhia, ele é um garoto muito simpático.”
“Bobagem, não foi sacrifício nenhum fazer companhia para a esposa de um velho amigo.” Ele sorriu malicioso “E o seu passeio nos jardins, como foi? Gostou da estética?, eu que planejei tudo.”
“A sua casa é realmente linda.” Falei, me aproximando mais de do que era de bom tom em uma festa daquelas. Eu o olhei como que o avisando que não deveria se jogar para cima dela, mas o sorriso debochado dele continuava lá.
“Oppa, vou falar um pouco com a sua mãe e com a senhora Ok, vejo vocês, rapazes, daqui há pouco.” E sorrindo como sempre ela nos deixou sozinhos.
O silêncio que seguiu poderia ser constrangedor se não houvesse uma pequena e invisível batalha de egos ali. Por fim, quando estava cansado de olhar para ele, falei:
“Fique longe dela.”
“Desculpe, o que você disse?”
“Eu disse para ficar longe dela. é minha esposa, procure outra para as suas diversões.”
“Pensei que você iria falar da Jessica.” TaecYeon riu e bebeu todo o conteúdo do copo de uma vez “Mas acho que até você já percebeu que ela não presta.”
“Não seja ridículo, ela é uma mulher incrível. Mas nós não estamos mais juntos, não posso controlá-la.” Suspirei “Mas por outro lado é minha esposa, acho que até você pode entender isso.”
“Uma incrível vadia, se é isso que você quer dizer. Agora sobre -ssi...” Ele olhou na direção de onde ela e minha mãe conversavam “Preciso dizer que ela é a mulher perfeita para mim.”
“Como é?”
“O casamento de vocês é fachada, todos sabem disso. E não me leve a mal, -ssi, mas você não vai poder mantê-lo por mais tempo, ela é demais para você, vai se cansar rápido. Agora, de mim, mulher nenhuma se cansou até hoje.”
“Não me interessa o que você acha de mim ou do nosso casamento, mas eu exijo que você mantenha o respeito!”
“Que seja. Vamos ser sinceros: Quanto tempo mais vocês ficarão casados? Dois meses? Três no máximo. E quando vocês se separarem eu a pedirei em casamento. Ela é esperta, bonita, tem malícia e não se importaria com qualquer deslize meu. Você sabe que eu não gosto de compromissos, mas com será diferente.”
“Não será porque não vai acontecer.” Foi a minha vez de rir debochado “Ela é demais para você. Apenas se afaste dela.”
Eu andei em direção à , inventei uma desculpa qualquer para a minha mãe e saí de lá puxando uma confusa pelo braço.
“Qual é o problema?!” Ela perguntou enquanto eu abria a porta do carro para que ela entrasse.
“Era ele o cara que te mostrou a empresa e que você viu com a Jessica?” Perguntei me sentando e colocando o cinto.
“Era, por quê? Eles estão juntos?”
“Não, são só amigos.” Murmurei dando partida.
“E que amigo, hein?” Ela riu maliciosa. Eu olhei para ela “Adivinhe quem tem o telefone dele?”
“Ele te deu o telefone?”
“Aham.” Ela segurava um pedaço de papel entre os dedos. “Qual o problema?”
“Nenhum. Você vai jogá-lo fora, não é?”
“Claro que não!” parecia quase ofendida “Quando você se cansar de mim, eu vou precisar de alguém para afogar as mágoas. Agora você me tirou da festa para vir conversar sentados aqui no carro ou nós vamos para casa?”
Depois disso dei partida e nós seguimos todo o trajeto em silêncio.

X

“Que festa divertida!” exclamou quando chegamos, se apoiando na parede para tirar os sapatos “Seria mais divertida se você tivesse passado mais tempo comigo.”
“Na próxima, eu passo.” Murmurei indo até o bar, pegando minha melhor garrafa de uísque e colocando uma dose bem generosa num copo “Quer?”
“Não, obrigada. Qual o problema, oppa? Está com raiva pela Jessica?” Ela começou a subir as escadas “Não fique, eles são só amigos.”
“Eu sei, eu sei.” Coloquei outra dose no copo “?” Ela parou na metade da escada, me olhando “O que você acha do TaecYeon?”
“Por que, está interessado nele?” Ela perguntou sarcástica, mas ao ver minha expressão séria suspirou “Sinceramente? Ele é divertido, bonito, tem uma áurea selvagem, entende? Isso é tão atraente! E você já viu aquele corpo? Sem contar que é rico e parece satisfazer uma mulher na cama, diferente de caras como você.” Ela deu de ombros “Definitivamente um ótimo partido. Nenhuma mulher recusaria.”
“Mas você viu aquelas orelhas?!” Perguntei. gargalhou. Por alguma razão, eu não achei nada engraçado.
“E você já viu aqueles músculos? Beleza não é tudo, oppa, TaecYeon tem sex appeal, isso é difícil de achar em um homem hoje em dia.” Preferia não saber como ela vira os músculos dele “Mas não se preocupe, duvido que a Jessica fique com ele.”
“Por quê?” Perguntei intrigado.
“Porque mulheres são idiotas, quando estão apaixonadas, nem alguém como TaecYeon pode fazê-las desistir do homem que amam.” suspirou “E a Jessica ainda te ama, não é?” Ela arrumou os sapatos e pegou-os com uma mão só, com a outra ajeitou o cabelo “Está tarde, oppa, vou dormir. Boa noite.”
“Boa noite.” Murmurei ao vê-la subir as escadas.
Aquelas palavras tiveram muito peso para mim. Minha mente criava várias perguntas para as quais eu nem imaginava as respostas, mas as principais eram: Mulheres, quando estão apaixonadas, não trocam seu homem tão facilmente, mas e quando não estão? E principalmente: Jessica talvez me amasse, mas... Eu ainda estava apaixonado por ela?
A vida nunca me pareceu tão complicada quanto naquele instante.



Um pouco de neve faz bem


Eu cheguei tarde aquele dia, estava preso em uma reunião chatíssima que parecia não ter fim. Por algum motivo tudo o que eu queria era chegar em casa e encontrar . O caminho parecia infinito e o meu carro também não colaborava, eu parecia estar dirigindo numa velocidade mínima. Quando eu finalmente cheguei em casa não encontrei sentada no sofá me esperando como sempre. Fui até a cozinha, mas ela não estava lá. Subi as escadas correndo, talvez ela estivesse no quarto. Mas ela não estava lá, ela estava no meu quarto. Na minha cama. Com TaecYeon. As roupas dos dois estavam jogadas pelo chão e os dois estavam deitados preguiçosamente na minha cama. TaecYeon tinha aquela expressão de deboche, dessa vez ainda maior. Claro, afinal era ele quem estava deitado na cama de outro cara com a esposa dele. pareceu me notar naquele momento e apenas sorriu:
“Oppa, você demorou e eu me cansei de esperar.”
Eu tentei falar, mas a minha voz não saía, as palavras dela pareciam formar um eco na minha cabeça. Comecei a me sentir tonto, o chão parecia não existir...


-oppa! OPPA!” Abri os olhos e vi sentada ao meu lado, as mãos nos meus ombros “Você está bem?”
“Eu... Eu tive um pesadelo.” Murmurei me sentando na cama. Passei a mão pelo meu rosto, eu estava completamente suado. parecia assustada, os olhos arregalados de surpresa.
“Disso eu sei, eu estava na cozinha e de repente comecei a ouvir você gritando.” Ela inclinou a cabeça “Você parecia não querer acordar.”
“É...” Falei. As imagens do meu sonho ainda estavam vivas na minha cabeça “!” Gritei.
“O que?!”
“Você... Você estava sozinha?”
“É...” Ela respondeu parecendo confusa.
“Você dormiu sozinha?”
“Sim. Sozinha.” Eu sorri. Fora mesmo só um sonho. colocou uma mão na minha testa “Você está bem? Está com febre?”
“Eu estou ótimo, você dormiu sozinha.” Respondi, mas acho que ela não entendeu muito bem a minha frase.
“Tudo bem, você teve um pesadelo tão ruim que mexeu com a sua cabeça. Tudo bem oppa, acontece. Vou fazer o seu café enquanto você toma banho e tenta voltar a ser uma pessoa normal, certo?” Ela se levantou e foi então que eu reparei que ela estava usando uma camiseta antiga minha junto com a calça de moletom “O que foi agora?” me perguntou notando que eu a olhava fixamente.
“Essa camiseta é minha.”
“Ah sim, era. Ela está velha e é confortável, então eu resolvi pegá-la emprestada, mas você não se importa não é oppa?” Ela sorriu e eu abri a boca para responder que sim, eu me importava porque aquela era uma das minhas camisetas preferidas, mas ela se adiantou “Que ótimo, sabia que você não ligaria.” andou até a porta, mas parou ainda de costas para mim “Além do mais oppa, essa camiseta tem o seu cheiro e eu gosto disso.”
Depois dessa eu não consegui mais falar nada, tudo o que eu pensava era se ela também já dissera aquilo para TaecYeon.

X

Eu estava preso naquela reunião há horas – e dessa vez era verdade – e ela parecia não ter fim. bufava do meu lado de cinco em cinco minutos, ele também não parecia estar nem um pouco contente com aquela demora toda para resolver problemas tão ridículos, mas minha mãe era meticulosa nos negócios, e como presidente ela raramente aparecia na empresa, mas quando aparecia nos prendia naquelas reuniões intermináveis, querendo ter certeza de que tudo estava correndo bem e que não iríamos á falência.
Quando terminamos, eu já estava desesperado por um café e por um descanso, então fomos até a cafeteria, onde poderíamos nos sentar, tomar o bendito café, relaxar e ver TaecYeon dando em cima da minha esposa.
Sim, isso também era verdade, os dois estavam ali, tomando café juntos, juntos demais devo salientar. soprava o próprio café enquanto TaecYeon se debruçava sobre ela para tirar um cabelo do rosto dela. Naquele momento eu senti uma raiva muito, muito grande e anormal e praticamente corri até onde eles estavam, tentava em vão me acompanhar.
“Estou atrapalhando algo?” Perguntei parando na frente dos dois.
“Oppa! Claro que não!” sorriu “Oi -ssi.”
-ssi, TaecYeon-ssi.” falou já puxando uma cadeira e se sentando junto com eles. Eu fiz o mesmo. “O que vocês fazem por aqui?”
“Meu pai esqueceu uns papéis no escritório e me pediu pra trazer.” TaecYeon explicou parecendo aborrecido.
“E eu vim esperar a sua mãe oppa, nós duas vamos almoçar juntas.” falou dando um último gole no café “Mas vocês estavam em uma reunião, então eu resolvi esperar por aqui, então TaecYeon-ssi apareceu e nós ficamos conversando. Amanhã nós vamos ao parque, ele prometeu me ensinar a patinar!”
“Como é?!” Perguntei incrédulo.
“Eu sempre quis aprender a patinar e TaecYeon-ssi vai me ensinar amanhã de manhã, não é ótimo?”
“Isso mesmo -ssi, algum problema?” Ele perguntou debochado.
“Sim, porque eu já tinha falado que ia te ensinar .” Falei olhando decididamente.
“Tinha?” Ela perguntou confusa, eu me inclinei para perto dela “Ah sim, verdade, que esquecida eu sou não é? Mas obrigada mesmo assim TaecYeon-ssi.”
“Sem problemas.” Ele murmurou visivelmente irritado “Se me dão licença vou encontrar o meu pai, até mais.”
“E eu vou encontrar sua mãe, até logo rapazes!” Os dois se levantaram e foram em direções opostas – ainda bem.
, posso te falar uma coisa?” perguntou depois que os dois haviam saído “Você não sabe patinar.”
“Bobagem , qual é o segredo da patinação? Vai ser fácil.” Falei dando de ombros.
“Você que sabe, mas quando quebrar uma perna não venha reclamar comigo.”
?”
“Que foi?”
“Como se patina?”

X

Enquanto nós íamos até o rinque de patinação não parava de falar, ela parecia empolgada com a perspectiva de aprender a patinar. Claro que eu não disse pra ela que não tinha a mínima idéia de como me equilibrar nos patins, tinha esperanças de que se eu oferecesse uma ida ao shopping ela esqueceria a história de patinar, mas ela foi muito enfática quando disse que não, ninguém iria á shopping nenhum e que nós dois passaríamos uma manhã feliz patinando. Ou talvez eu caísse, sofresse uma fratura e tudo se resolveria. É, poderia dar certo.
“Eu estou tão feliz oppa, sempre quis aprender a patinar!” exclamou enquanto calçávamos os patins.
“Bom, agora você vai poder aprender.” Respondi tentando enrolar com o meu cadarço. É, ela aprenderia muito comigo.
“Já terminou?” Ela já estava de pé, olhando para o gelo.
“Já, vamos.” Respirei fundo e me levantei. Ela pegou na minha mão e esperou que eu fosse na frente. No primeiro momento que pisei no gelo senti que cairia, só não caí porque antes disso segurei com força na barra de ferro que estava ao meu lado.
“Certo, e por onde começamos?” me perguntou empolgada.
“Bem...” Cocei minha nuca, não tinha a mínima idéia de como começar “Você não sabe patinar mesmo?”
“Não.”
“Ah, certo... Então nós podemos começar colocando um pé atrás do outro e tentando não cair.” Falei com toda a convicção que eu tinha. Aquela fora uma das poucas coisas que me explicara sobre patinação.
“Tudo bem.” começou a caminhar junto comigo, se desequilibrando de vez em quando “É difícil.”
“Na primeira vez é, mas quando você é tão bom quanto eu não precisa se preocupar por que...”
Obviamente nesse momento eu deveria ter calado a minha boca e me concentrado em não cair, porque foi exatamente o que aconteceu. Meu pé foi com tudo para frente e eu caí. Estranhamente em algo macio, que segundos depois percebi ser . Ela fechou os olhos com força e depois os abriu, parecendo confusa.
“Você está bem?” Perguntei temeroso.
“Ótima, bati com a cabeça no gelo, mas estou ótima.” Ela murmurou.
“Me desculpe, eu estava desatento sabe? E daí eu não vi por onde andava e... Será que você está bem mesmo? Não quer ir ao médico? Talvez descansar? , você está me ouvindo? ?”
“Eu estou ótima!” Ela piscou demoradamente “Oppa”
“Sim?”
“Você vai sair de cima de mim agora ou vai esperar o gelo derreter?” Ela me perguntou tentando apontar para a nossa situação vergonhosa.
“Ah sim, me desculpe.” Me sentei no gelo enquanto continuou deitada por um momento. Depois ela bufou, se levantou sem nenhuma dificuldade e saiu pelo rinque patinando perfeitamente. Patinando perfeitamente
. “Sinceramente oppa, você é um péssimo mentiroso.” Ela falou enquanto me ajudava a levantar “Tudo bem?” Meneei a cabeça “Ótimo, agora fique sentadinho ali enquanto eu patino um pouco.”
E depois de me deixar na arquibancada ela foi patinar. Assim, como se já soubesse desde sempre. Eu estava me sentindo um completo idiota.
“Você disse que não sabia patinar!” Eu gritei. Ela riu do outro lado do rinque.
“E não sabia ,até completar oito anos e me mudar para o distrito de Kanto em Tóquio e começar a treinar lá.” patinava sem qualquer medo, como uma pessoa que treina desde criança deve realmente fazer. Eu saberia se eu não tivesse medo de gelo desde os sete anos.
“Então porque você disse pra mim que não sabia?”
“Eu não disse pra você, eu disse pro TaecYeon. Você é que foi inconveniente.” Ela parou de frente para onde eu estava sentado “Se ele tivesse me trazido eu poderia me aproveitar dele.”
“Como é?!”
“Vou ter que me contentar com você mesmo.” Ela suspirou “E então, vamos patinar ou não?”
“Eu não vou patinar com você!”
“Não seja bobo oppa, se você cair do gelo não passa.” Ela sorriu “Mas eu te ajudo a levantar. Ou talvez você só esteja com vergonha mesmo... O TaecYeon não teria vergonha.”
Aquilo era a gota d’água, me levantei num ímpeto e fui até o gelo, disposto a patinar melhor do que qualquer outra pessoa. Obviamente quando eu dei o primeiro passo caí de costas. Tudo o que eu ouvi foi rindo. Depois ela se aproximou de mim e me ajudou a levantar.
“Já disse, não precisa ter vergonha de cair.”
“Eu não estou com vergonha.” Talvez meu rosto vermelho dissesse o contrário, mas era por ter ficado tempo demais na superfície fria.
“Se você diz... Homens são tão complicados!” segurou na minha mão com força e patinando com uma certa velocidade “Agora eu vou te ensinar como se patina. E se você cair é só levantar e continuar, certo?” Estranhamente depois daquilo eu não caí tanto.
O resto do dia até que foi divertido. Nós dois patinamos e tirou muitas fotos minhas caído e em situações constrangedoras para o que ela chamou de “lembranças de porque -oppa era um bom marido”. Não gostei muito daquele ‘era’ no meio da frase. Me parecia que ela queria acabar com o nosso casamento o mais rápido possível. Mas, eu deveria querer isso também, não deveria?

X
Duas semanas depois...
Mais uma vez eu resolver levantar cedo para correr. Aquilo estava me fazendo bem, era relaxante me exercitar no frio, pelo menos isso afastava qualquer pensamento estranho da minha mente. Quando eu cheguei logo percebi que algo estava estranho. Havia um par de sapatos femininos na entrada e não pareciam ser da minha mãe. Será que tinha amigas?
Ouvi vozes da cozinha e fui em silêncio até lá. conversava com alguém que eu identifiquei rapidamente.
Jessica.
Mas, o que ela estava fazendo lá?



O fim.


Me encostei na parede torcendo para que elas não percebessem que eu estava em casa. Mal respirava, tentando não ser visto. As duas pareciam estar em uma conversa realmente importante, porque sequer notaram a porta batendo e o idiota aqui escorado na parede.
“Então, pra que você me chamou aqui?” Jessica perguntou.
“Não se faça de idiota, você sabe o que eu quero. Quero que fique longe dele de uma vez por todas.” falou.
“Não te entendo, você já está casada com ele não é? Já vai pegar metade do dinheiro, o que mais você quer?” Jessica riu “E depois eu não preciso mais do , você pode ficar com ele, eu vou ficar com TaecYeon.”
gargalhou.
“Você acha mesmo que ele vai ser idiota como de cair nessa sua lábia de vadiazinha de quinta? Ele é mais malandro que nós duas juntas, vai te usar e te largar assim que cansar e você sabe disso” ela estava de costas para mim, mas eu sabia que ela estava com aquele sorriso presunçoso no rosto “Porque você não vai embora daqui? Eu te dou algum dinheiro.”
“Você acha que eu sou boba querida?” Foi a vez de Jessica rir “Ficando com um dos dois ou até ambos eu posso ter muito mais do que você pode me oferecer, você quer que eu vá porque sabe que o não te ama nem nunca vai te amar.”
“Ele pode não me amar, eu não ligo. Mas eu tenho um trato com a mãe dele e vou cumprir, você não vai chegar perto dele, está entendendo?”
“Você não pode me obrigar” Jessica sorriu “Eu faço o que eu quiser.”
Eu não sabia como estava me sentindo. Eu deveria estar triste, mas tudo o que eu sentia era raiva, raiva por ser tão idiota de um dia ter amado aquela mulher, de um ter acreditado que ela me amava também. Então era isso? Ela realmente só queria meu dinheiro? A minha vontade era entrar lá e gritar, dizer que ela não deveria estar ali, mas continuei em silêncio, era boa em batalhas verbais e eu queria saber até onde ela iria, talvez ela diria que me amava, só talvez.
“Vai ser melhor pra você desaparecer enquanto ele não sabe.”
“Eu não vou para lugar nenhum. Você acha que vai jogar comigo do mesmo modo que vem fazendo com ? Você não acha que eu não percebi que todas as vezes que nós nos encontramos, cada uma delas, foi você que o manipulou para que ele me encontrasse?”
ficou um tempo em silêncio, depois ela riu.
“Jessica querida, você se acha tão esperta que não percebeu que eu nunca manipulei o . Eu pensei em fazer isso sabe? Você e eu somos iguais nesse aspecto, nós podemos usar qualquer homem a qualquer momento e isso é divertido ás vezes, aposto que você divertiu muito usando o meu marido como um brinquedo” ela parou de falar e andou até Jessica, que recuou um pouco “Mas eu nunca fiz isso. Nesses meses todos eu fui verdadeira com ele e nesses meses todos a única pessoa que eu manipulei foi você.”
“O que você quer dizer com isso?” Jessica perguntou desconfiada.
“Chegou cedo da corrida, -oppa” falou sem sequer olhar na minha direção “Porque não se junta a nossa reunião?”
Eu fui tomado de surpresa, não imaginava que ela sabia que eu estava ali. Deveria saber, estava sempre um passo à minha frente. Saí do meu esconderijo, encarando Jessica com ódio. Agora era hora de dizer tudo o que eu queria, mas as palavras não saíam, então eu fiquei ali, olhando para a cara de espanto dela.
-oppa...” ela murmurou “Eu posso explicar, eu não sei o que você ouviu, mas...”
“Calada.” Eu falei.
“Bem, meu trabalho está terminado, vou deixá-los a sós, tenho certeza que vocês tem muito para conversar. Até mais” e sorrindo de maneira triunfal para Jessica, saiu da cozinha.
“Então era verdade? Tudo o que a minha mãe me falou era verdade não é? Você não presta!” Gritei.
Jessica parecia que ia chorar, mas no momento seguinte sorriu para mim.
“É, é verdade oppa. Você realmente pensou que eu te amava?” ela riu “Pobre garotinho, tudo o que você queria era amor, e eu teria te dado , teria te amado pelo resto da sua vida se você tivesse sido corajoso e ficado comigo. Agora o que você tem hã? Uma esposa que não faz questão de esconder que quer te trair com o primeiro que aparecer na frente dela. Vocês são patéticos, você e essa daí.”
“Não fale assim dela!” Senti a raiva dentro de mim chegar a um nível máximo. Eu não me importava de ouvir insultos, de ouvir o quanto eu fora idiota porque era isso que eu merecia por não ter aberto os olhos, mas não deixaria que ela ofendesse . Por quê?
Porque eu a amava.
Foi só nesse momento que eu percebi que todo aquele ciúme, aquela vontade de ficar com ela e a esperança de que ela dissesse que me amava era nada menos que amor. Eu estava apaixonado pela minha esposa de mentira.
“Você não merece nem ao menos falar sobre ela e sabe por quê? Por que a patética aqui é você, se vendendo por tão pouco. Viagens, jóias, roupas de marca... E sabe de uma coisa? Eu estou feliz por ter te largado, você não vale o chão que pisa. Agora porque não sai daqui? SAI!”
Jessica pareceu estar chocada, aquela era a primeira vez que eu gritava com ela. Primeira e última, porque eu não pretendia vê-la nunca mais. Ela me lançou um olhar de ódio antes de sair.

X
Aquilo era... Insano. Eu não sabia o que pensar. Eu amara Jessica por tanto tempo e agora que eu descobrira a verdade não sabia como agir. Eu simplesmente não conseguia mais me importar com ela porque nos últimos meses tudo o que eu tinha na mente era e seu sarcasmo, sua tara por roupas de marca e seus sorrisos bonitos. Houve um tempo em que Jessica era tudo o que tinha e agora ela não representava mais nada. Como isso era possível?
“Você deve estar me odiando mais do que nunca, não é?” apareceu na porta da cozinha. Ela parecia envergonhada.
“Não, não mais do que o habitual.” Eu brinquei e ela sorriu, se aproximando de mim e se sentando ao meu lado no balcão.
“Eu não queria que as coisas fossem desse jeito sabe? Eu...”
“Tudo bem, sério.” Eu a interrompi.
“Não, eu preciso falar. Eu queria fazer tudo certinho, te convencer de que você estava errado. Assim, sem dor nem nada, mas você... Você nunca me ouvia ! Você nunca prestava atenção quando eu dizia as coisas sobre ela e você evitava tocar nesse assunto e eu... Droga, eu estava tão cansada de te ver sofrendo e preso ao nosso casamento! Eu juro que se eu pudesse voltar atrás eu...”
“Quieta.” Eu a abracei e ela se surpreendeu, mas me abraçou de volta “Você fez o que tinha que fazer. Aliás, você foi paga por isso? Nunca te perguntei o porque de você ter aceitado se casar comigo.”
“Pelo meu pai. Sua mãe foi a única amiga que ele teve por muito tempo. Eu... Queria ser sua amiga também.”
“Amiga?”
“É. O que mais nós poderíamos ser? Marido e mulher?” Nós dois rimos.
“Obrigado. Você me chamou de idiota, mas me mostrou a verdade. Obrigado.” Eu falei.
“Você é um idiota e sabe disso” ela riu “Podemos parar com tanto sentimentalismo?”
“Claro. O que você acha da gente sair um pouco? Jantar fora, sei lá.”
“Me parece ótimo oppa. Comida japonesa?”
“O que você quiser , o que você quiser.”

X

Parece estranho de dizer, mas depois de todo aquele drama digno de novela mexicana as coisas entre nós dois se acertaram. Não do tipo “ei, vamos continuar casados e ser felizes para sempre”, mas sim do tipo “quer sair hoje à noite?”. e eu nos divertíamos juntos. Nós descobrimos vários interesses em comum, como filmes, música e livros. Esses últimos eram algum tipo de obsessão para ela, tinha várias coleções e às vezes tentava me converter em um leitor ávido lendo alguns trechos para mim em voz alta. Ela me esperava voltar do trabalho e não foram poucas as vezes que eu a encontrei dormindo no sofá, cansada de me esperar por tanto tempo. Eu gostava disso porque tinha uma desculpa para levá-la para o quarto. No bom sentido, claro.
Às vezes nós encontrávamos TaecYeon na empresa, mas estranhamente tudo o que ele fazia era sorrir e nos cumprimentar. Não que eu reclamasse disso, vejam bem. Às vezes nós saíamos para jantar junto com e mais alguma de suas conquistas e se mostrava bem crítica com as mulheres com quem ele saía, no dia seguinte ela olhava para ele e dizia “Ela só saiu com você por pena dessa sua cara de abandonado” ou então “Você poderia se casar com ela, vocês formam um casal bonito”. dizia que não pararia até encontrar a mulher perfeita para , que retrucava dizendo que não pretendia acabar como nós dois.
Era mais uma noite chuvosa quando eu cheguei e encontrei deitada no sofá, provavelmente já dormindo. Fiquei alguns instantes observando-a, depois tirei o paletó, joguei em uma poltrona e me aproximei dela, pronto para pegá-la no colo quando ela falou:
“Eu estou acordada, só estava descansando os olhos.” E apontou para um livro em cima da mesa de centro.
“Você sabia que pode ficar cega se continuar forçando a visão desse jeito?” perguntei descontraído, me sentando ao lado dela, uma mão apoiada no encosto do sofá.
“Sei, mas não pude evitar. Eu estava entediada e você demorou.” Ela abriu os olhos e pareceu não se incomodar com a nossa proximidade “Estava me traindo?”
“Como você descobriu?” perguntei em falso tom de espanto “Você sabe que eu não te trairia.”
“Aham.” Ela sorriu.
Eu observei aquele sorriso. Ela era tão bonita. Perversamente bonita. Passei a mão pelo rosto dela, que fechou os olhos, ainda sorrindo. Eu me aproximei de vagar, a beijando com cuidado, pensando que talvez ela me empurrasse, mas colocou as mãos no meu cabelo, me trazendo para mais perto dela.
“Por que você fez isso?” perguntou quando nos separamos.
“Não tenho a mínima idéia.” E não tinha mesmo “Se importa se eu te beijar de novo?”
“Não mesmo.”
Então eu a beijei de novo, pedindo que aquele momento nunca acabasse. Mas sabem, era difícil me concentrar em qualquer tipo de pedido com começando a abrir os primeiros botões da minha camisa. Eu me deitei sobre ela, uma perna de cada lado do corpo dela, ajudando-a a tirar a blusa. Me separei dela ofegante.
“Sabe, eu acho que nós vamos consumar o casamento.” Falei tentando me concentrar enquanto ela tirava a minha camisa e descia as mãos até o meu cinto.
“Isso seria bom.” Ela me respondeu por entre um beijo “Aqui?”
“Acho que o sofá é pequeno demais pra nós dois, vamos pro quarto.”
Eu me levantei no ato, trazendo-a comigo. Foi extremamente difícil subir as escadas com no meu colo e com as mãos passando pelas minhas costas, arranhando-as. Mas no fim nós conseguimos chegar ao quarto.
E eu nunca tive uma noite chuvosa tão boa.

X

Naquela manhã eu acordei muito feliz. Nem bem abri os olhos e sorri, era bom saber que estava ali comigo. Estiquei o braço para tocá-la, mas não encontrei nada. Abri os olhos e olhei para o quarto, ela não estava em lugar nenhum. Em cima do travesseiro dela um envelope pardo. Sentei na cama, passei a mão no rosto em um gesto nervoso e peguei o envelope. Dentro dele havia vários papéis que eu não conseguia identificar e um envelope branco menor. No verso dele estava escrito meu nome. Abri e encontrei uma carta dela:
-oppa,
Depois de vários meses eu cumpri a minha promessa para a sua mãe, fiz você enxergar quem aquela garota realmente era. Fico feliz que você conseguiu entender a verdade e nem ficou tão machucado quanto eu achei que ficaria, acho que você é mais forte do que eu supus. Desculpe por isso. Me desculpe também pelos meses de incômodo, mas nós tivemos momentos de diversão não é? Espero que você se lembre deles com alguma consideração. No final quem saiu perdendo foi a Jessica, sinto muito que ela não te ama como você sempre a amou, a vida é assim mesmo, de vez em quando a gente perde. Tenho certeza que na próxima você vai ganhar. Aliás, esses papéis no envelope são sobre o nosso divórcio, já está tudo arrumado, você só precisa assiná-los e entregá-los ao . Finalmente você ficou livre de mim! Tomara que na próxima vez você encontre uma boa esposa, se você tiver sorte vai encontrar alguém que te ame tanto quanto eu, mas isso eu duvido. Você deve estar se perguntando por que eu fui embora desse jeito, não é? Eu já te disse oppa, eu odeio sentimentalismos. Eu acho que vou tirar umas férias. Talvez a gente se encontre de novo, quem sabe. Até lá me prometa que vai ficar bem, não vai matar ninguém e não vai se matar caindo por não saber patinar. Deixei uma caixa de chocolates como presente, estão na cozinha. Coma uns, vão te fazer bem. Até mais
. Sua (agora ex) esposa,
.


Eu devo ter lido aquela carta umas três vezes a procura de qualquer pista do paradeiro dela. Não conseguia entender porque ela tinha ido, não conseguia me perdoar por não ter dito que a amava. “se você tiver sorte vai encontrar alguém que te ame tanto quanto eu, mas isso eu duvido.” Eu não queria outra pessoa. Queria minha esposa de volta. Me levantei rapidamente, vestindo a primeira coisa que vi pela frente e fui até o quarto dela, abri o guarda-roupa e nada, estava vazio. Ela tinha ido embora.
Corri até o telefone e liguei para o celular dela, mas caiu na caixa-postal. Eu estava desesperado, não conseguiria deixá-la ir, não agora que tudo parecia tão bem. Disquei outro número, ficando impaciente com a demora para atenderem.
“Alô?”
“Mãe, onde ela está?”
“Querido, do que você está falando?”
“Você sabe mãe, PRA ONDE ELA FOI?!”
“Acho que é tarde demais querido, mas eu sei onde você pode tentar ir.”
Eu estava disposto a ir atrás dela em qualquer lugar.
sua idiota, por que você teve que ir?



Nós dois



Eu estava parecendo um louco e sabia disso, podia notar pelo olhar das pessoas, mas e daí, o importante era chegar a tempo. Obviamente eu poderia ter me dignado a colocar uma roupa melhor, mas até que aquela camiseta do pijama não era tão ruim. Eu provavelmente teria saído de cueca se não tivesse me lembrado que é proibido andar assim na rua. Dirigi como um louco e tenho certeza de que atropelei alguma coisa no caminho – Deus queira que tenha sido um esquilo – mas as pessoas tinham que entender, minha mulher queria me abandonar!
Estacionei o carro de qualquer jeito e saí correndo pelo aeroporto, toda vez que eu olhava uma mulher de preto parava e olhava com calma para me certificar de que não era , mas nunca era ela. Aquilo estava começando a me deixar nervoso, ela ainda estava ali, não é? Quer dizer, eu achava isso, eu queria que ela ainda estivesse ali, assim nós poderíamos fazer como nos filmes: Eu a veria quase entrando no avião, gritaria, passaria por vários seguranças e turistas atordoados só para ficar de frente com ela, beijá-la e dizer que eu a amava, que não suportaria a partida dela e que nós deveríamos ficar juntos para sempre, então ela se emocionaria com a minha declaração e me abraçaria, rasgaria a passagem e voltaria para casa comigo enquanto todos á nossa volta nos aplaudiriam.
Era nisso que eu pensava enquanto olhava de um lado para o outro, ia até os balcões, perguntava por ela e nada. Eu estava mesmo parecendo um louco, isso ficou ainda mais evidente quando a atendente de uma companhia aérea ameaçou chamar a polícia se eu não parasse de gritar. Eu quase fui preso por uma garota que simplesmente me deixou. Eu sou patético.
Eu ouvia o anúncio de novos vôos e tudo o que eu conseguia pensar era que ela poderia estar em qualquer um deles e eu ali ridiculamente com uma calça jeans rasgada – eu caíra na frente de casa enquanto corria até o carro – e uma blusa do pijama. De novo: Eu sou patético.
Me sentei em um banco qualquer e liguei para ela de novo e de novo nada, apenas caixa postal. , você realmente foi embora?
“Procurando alguma coisa?” Ouvi alguém falar atrás de mim e me virei imediatamente: Era ela. vestia um vestido azul e um sobretudo bege por cima. Eu realmente nunca a acharia, estava sempre procurando por mulheres vestidas de preto “O luto acabou ontem.” Ela me falou ao perceber o meu olhar espantado.
“Você...” Foi tudo o que eu consegui dizer antes de abraçá-la. me abraçou de volta “Eu não entendo...”
“Jura?” Ela riu “O que acontece é que...”
“Antes me diz se é verdade aquilo que você escreveu na carta.” Eu a interrompi.
“O que? Que eu deixei chocolates na cozinha? Sim, eles estão lá.”
“Não, se você me ama.”
“Ah, isso? Claro que sim.”
Eu sorri antes de beijá-la.
“Eu te amo.” Sussurrei.
“Eu sei disso seu bobo.” Ela riu antes de me puxar para mais um beijo.
“Então porque você me deixou?” Eu perguntei atordoado depois de nos separamos.
“Só pra te ver correr atrás de mim, sou sádica.” riu enquanto se sentava, eu me sentei ao lado dela, ainda chocado demais para dizer qualquer outra coisa “Eu te vi procurando por vôos que iam para Paris. Você realmente achou que eu seria tão óbvia? E além do mais eu disse que ia tirar umas férias, não disse que ia sair do país.”
“Eu vim aqui porque a minha mãe...”
“Ah é claro! Aposto que se você não tivesse ligado pra ela estaria em casa chorando.”
“Provavelmente.” Eu admiti. balançou a cabeça em sinal de reprovação.
“Então que bom que você ligou pra ela, eu já estava ficando cansada de te esperar.” Ela falou.
“Como você sabia que eu viria?”
“Eu já te disse oppa, você é um livro aberto pra mim.” sorriu.
“Alguém já te disse que você é uma megera?”
“Na verdade, já me disseram isso muitas vezes.” Ela riu.
“Eu continuo não entendendo, eu achei que você tinha me deixado e fugido com o TaecYeon.”
“TaecYeon?” Dessa vez ela gargalhou “Sabe, quando eu contei pra ele do meu plano ele concordou em me ajudar na hora.”
“Plano? Que plano?”
“O de desmascarar a Jessica, claro. Toda a coisa dos dois, dele querer se casar comigo, de causar ciúmes em você, tudo foi idéia minha. Com ajuda dele, do Siwon e da sua mãe, é claro. Ele nunca teve interesse algum em mim. E depois ele não faz meu tipo, orelhas grandes demais.”
Eu gargalhei.
“Então você tramou tudo e eu era o único que não sabia?”
“É.”
“E você ainda me faz correr até um aeroporto de pijamas só pelo prazer sádico de me ver desesperado?”
“É.”
“E você me manipulou desde o começo e me fez me apaixonar por você. Droga, você é mesmo uma megera.”
“Com certeza. E você me ama.”
“É. Isso é o pior de tudo.” Ela sorriu e me beijou no rosto.
“E os papéis do nosso divórcio?”
“Quais? Esses?” Perguntei tirando os papéis do bolso interno do casaco “Acho que nós podemos dar um jeito neles.” E os rasguei “Sinto muito, mas quem não quer acabar com esse casamento agora sou eu.”
“Tão diferente do começo.” rasgou um pedaço dos papéis “Vamos voltar? Eu estou cansada de ficar aqui.”
“Claro. Mas antes o que você me diz de passarmos numa agência de viagens e escolhermos um lugar pra lua-de-mel? Alguém uma vez me disse que a França é linda nessa época do ano.” Eu passei um braço pelos ombros dela, que me abraçou pela cintura.
“Ah é? Essa pessoa deve ser bem esperta. Eu aceito, ainda quero aquelas férias.”

Agora olhando tudo isso eu acho que a história nem foi tão incrível assim, mas é minha mesmo assim. Apesar de tudo não foi nem um pouco comum e eu gostei disso. Quem diria que um casamento forçado me renderia algo assim? Estranho como a megera acabou virando a mocinha, só poderia acontecer algo assim comigo. Não que eu esteja reclamando, vejam bem. E eu nunca poderia reclamar de alguém que eu amo tanto.
A vida é irônica, não acham?
E daí? Se a continuar comigo ela pode ser irônica o quanto quiser.


FIM





Acabou! *joga confete* Quando a gente termina de escrever uma fic assim é uma sensação ótima, de serviço cumprido. Obrigada a todas vocês pessoas lindas que comentaram, foi muito importante pra mim, de verdade. Eu amei escrever essa fic e espero que vocês tenham se divertido lendo. Quem quiser conversar comigo ou dizer que odiou o final e/ou a fic é só me achar no twitter: @_hoooshi sério, estou curiosa sobre o que as leitoras acharam do final. Nós nos vemos na próxima fic, no próximo fandom ou sei lá onde. You know you Love me, xoxo, Leta


Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por Email ou Twitter. Dolphin. :x


• Dica: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e a estimula a escrever cada vez mais. ♥



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