::Sete Ondinhas::

Sete Ondinhas


Autora:
@heydebee_ | Beta:heydebee_ -

PRÓLOGO

E L A

Era uma daquelas primeiras vezes na vida que tudo dava certo, sabe? Eu tinha ganho uma passagem para para passar o reveillon em um dos melhores hoteis da cidade e eu poderia levar acompanhante. Na hora que meu nome foi sorteado, naquele evento, não levei muita fé que algo tão bom estivesse acontecendo com uma criatura tão azarada. Eu sou azarada; tropeço parada, bato nas quinas, derrubo tortas inteiras, pratos vivem quebrando em minhas mãos e se me recordo bem, minha última trapalhada havia sido quebrar um copo com a boca sem querer enquanto bebia água. Não que eu tivesse engolido o vidro, mas ele trincou bem a tempo de minha super amiga, , escutar com seu ouvido de x-girl e gritar "Larga essa porra!" antes de algo pior acontecer.
O fato de eu ter ganho as passagens, estadia e passeios mais famosos pela Embaixada tinha sido uma mão na roda. Eu sempre tive vontade de me aventurar para além do outro lado do arco íris e acho que isso ficou bem evidente quando achei interessante uma reportagem do Globo Reporter falando sobre . Nossa, que lindo, nossa, que legal, nossa, e se eu fosse? Tão cedo não iria, infelizmente; estava desempregada e o que eu tinha no banco não pagaria nem um décimo da passagem de avião. Eu vivia com meus pais, afinal, ainda era uma encalhada na terra das encalhadas. Minha mãe já estava desistindo da ideia de ter netos, não pra sair perambulando com um melequentinho por aí, mas porque ela é do tipo de pessoa que acha que eu mereço ter um namorico. Um trelelé. Uns xavecos. Uns paqueras.
Sabe aquela panaca que é obrigada a ouvir o "e os namoradinhos, fulana?". Sou eu.
Se bem que nos últimos anos eu não andava escutando, vai ver porque, da última vez que me perguntaram, dei uma resposta tão atravessada que dividiu a família em duas, como o Mar Vermelho na Bíblia. Ou então como Jim Carey dividindo uma sopa de tomate em "Todo Poderoso"...

Na noite anterior, e eu fomos na praia, pedir às forças do universo que nos desse uma boa viagem e boas lembranças. Resolvemos pular as sete ondinhas pra ver no que ia dar mas acabei pisando em uma concha e machucando o pé.
Que não fosse anúncio de coisa ruim.

E L E

A tela do jogo escureceria aos poucos, mas não porque eu havia perdido. estava desolado por ter perdido mais uma para mim; logo, a pizza seria por conta dele. Estalei as duas mãos aos entrelaçar os dedos, enquanto meu amigo lamentava e pegava o telefone, perguntando se poderia ser metade queijo e metade tripla de queijo. berrou da cozinha que fosse com quatro vezes mais queijo e coloquei a língua para fora: baixo, frente, baixo, x, a, b.
Kung Lao wins fatality!
- Será que entregam aqui? - largou o controle e começou a arrastar os pés pelo quarto gigante. Era mais uma noite tediosa de mais um dia tedioso. Sei que deveríamos aproveitar porque estávamos de "férias" mas você passa tanto tempo com as pessoas que esquece que "tempo livre" é chamado de "tempo livre" pra ficar longe de todo mundo. Eles eram meus irmãos de mães diferentes. E isso era fato.
Então estávamos na casa de , que sempre foi muito legal em pedir aos pais para nos deixar passar a noite. Na verdade, eu me sentia muito como um garoto de 12 anos, jogando videogame até tarde, falando de meninas que conhecíamos e quem gostaríamos de dar umas imprensadas na parede. Mas já estávamos mais para bem mais, não éramos inocentes e tínhamos o mundo de olho na gente.
Não contei? A gente faz parte de um grupo misturado. Acho que somos famosos, a julgar pelas cestas e mais cestas que deixam na porta do nosso dormitório em . Eu já estava enjoado de comer e beber banana; vitamina, bolo, torta, pavê, biscoitos. Eu deveria saber que dizer que gostava de banana poderia causar.
Não que fosse... Ah, que seja!
- Eles chegam em meia hora. - se jogou na cama de e pegou o telefone. pegou o controle do meu lado e me olhou de soslaio, sua típica cara de "te desafio".
- Vai perder. E se eu ganhar de novo, você vai ter que nos dar uma virada de ano diferente. - escolhi meu personagem e olhei para ele. havia largado o telefone e me olhava, rindo. - Algo diferente e bem tosco, algo bem brega. Tô cansado de passar o ano trabalhando. - não que pudéssemos escolher alguma coisa do tipo mas até então, não tínhamos nada na agenda até então e seria até uma boa já colocar alguma coisa. Quem sabe, se nos arranjassem algo, poderiam se apiedar.
- Algo brega! - deu risada. - Tipo baile de máscaras?
- Algo mais brega. - coloquei a língua para fora, destruindo na primeira leva. - Algo como ano novo em um hotel super famoso e com um monte de velhinhos de branco e dourado dizendo que não tem nada a ver comemorar dia 31. Como prefere ser finalizado? - deu de ombros, se levantando e se jogando na cama, abriu o google. Parecia chateado mas sabia que precisava ser algo memorável, porque era isso que a gente fazia. Transformava nossos momentos juntos em momentos envergonhados, como ir viajar vestidos como personagens de desenhos e usar roupas de baixo de mulher. Da última vez, eu tive que usar uma calcinha e já não bastasse o mico, ele ainda falou para todos os fansites que eu estava usando calcinha. Foi vergonhoso.
- Se é algo vergonhoso que você quer, pode marcar na agenda: dia 31 estaremos no , com vários tiozinhos e tiazinhas reclamando de comemoração, não sabendo falar reveillon e cantando aquelas músicas insuportáveis de ano novo.
Me recostei no sofá e olhei para trás.
- Do seu agrado, senhor ?
Não estava do meu agrado ainda. Eu ainda faria todos pagarem pela estória da calcinha.

CAPÍTULO 1

acordou no dia 31 com pulando freneticamente em cima de sua cama. Ela era dessas; não precisava de café para entrar em modo coelho, pulando feito uma bolinha pula pula. Se estivesse empolgada, primeiro que não dormia e segundo que não deixava ninguém dormir.
Havia conhecido há dois anos, aleatoriamente no Twitter e, desde então, havia se tornado melhores amigas. Tinham muitas coisas em comum, embora não morassem na mesma cidade e, quando ganhou as passagens, não pensou duas vezes. Conhecia muitas pessoas a quem poderia convidar mas era a pessoa ideal para dividir o melhor momento de sua vida. Ela também nunca tinha saído de sua cidade e já partir para o outro lado do mundo logo de cara era um sonho. Ok que elas só tiveram uns dois meses para se organizar e engolir os livretos de frases prontas, dando altas gargalhadas com a parte de relacionamentos.
era tudo que não era: linda, maravilhosa, incrível. Quando sorria, seu nariz se franzia e ela parecia um coelhinho feliz. Seus cabelos eram brilhantes e seus olhos irradiavam felicidade. Tinha um corpo lindo e bronzeado porque vivia na praia e tinha todo aquele charme de surfista que levava caldo atrás de caldo. Quanto a ... bem... ela sabia fazer musse de limão com duas camadas diferentes e passara dois meses sem roer as unhas, o que era muito.
- Levanta, levanta, levanta! - gritou, batendo na amiga com um travesseiro. se encolheu debaixo do cobertor e gritou mais alto. - Se você não levantar, eu vou continuar GRITANDOOOOO E ACORDAAANDOOO TODO MUNDO!
abriu um olho, esticou a mão até a mesinha que dividia as duas cmas e colocou o óculos escuros. fez bico e desceu da cama, sacando o próprio celular e abrindo o Instagram para fazer um story.
- Hoje é dia 31 de Dezembro e são exatamente sete e meia da manhã e a minha amiga prefere continuar dormindo a sair comigo e aproveitar o último...
levantou metade do corpo, fazendo voz esganiçada ao cantar. - Bom dia pra você, bom dia pra você, eu já disse bom dia pra você-ê? Bom dia pra você! - e se jogou na cama de volta.
deu uma risada e postou o story antes que batesse com um sapato em sua cabeça. - Anda, levanta, precisamos comprar uma roupa nova para a virada do ano.
- São sete da manhã, não tem nada aberto! - fez que não com a cabeça, olhando pela janela. Mas o estrago já estava feito; por mais sonolenta que estivesse, não conseguiria dormir com pulando em cima da cama. - Tá! Você já me acordou, estou com fome, preciso comer.
sorriu; ao menos o fuso estava correto.

O barulho dos berros fez com que vários seguranças atravessassem a enorme recepção em menos de dois segundos. Matt, o chefe dos recepcionistas, já havia advertido o novo time para não se maravilhar com o final de ano mas foi impossível ao ver os membros do famoso grupo . Uma das recepcionistas começou a tremer quando viu andando na frente, vidrado no joguinho do celular e, quando viu vindo logo atrás jogando os cabelos, Matt teve que mandar a garota sair e se recompor. Era um hotel cinco estrelas, pelo amor de Deus! Não é como se ela não tivesse atendido gente famosa! Semana passada, Leonardo di Caprio resolvera dar uma passadinha por lá antes de seguir viagem e ela estava até muito ok, mas de repente voltara a ter quinze anos e a morder a mão.
Ainda jogando os cabelos para trás, ajeitou os oculos escuros e, sorrindo de forma sedutora, pegou das mãos de uma recepcionista o cartão chave, dando as costas e lançando um beijinho. A moça sentiu as pernas tremerem e deu uma risadinha, enquanto os outros integrantes do grupo se dirigiam para o elevador.
- Se eu fosse você, nem me apegava, é mais escorregadio que uma cobra pós banho. Ei! Olha pra frente. - bateu com seu cartão no telefone de , que concordou com a cabeça.
perdera todas as vidas no joguinho e estava inutilmente ressucitar o telefone. O trajeto até o hotel tinha sido ridiculamente longo devido aos engarrafamentos de final de ano. E olha que tinham saído cedo do dormitório para chegar de boas, mas agora, estava amaldiçoando a péssima ideia de passar o ano novo sendo brega. Mas bem, como sub capitão do grupo, seu dever ali era fazer todo mundo se divertir, mesmo que ele mesmo fosse o mais zoado.
Os gritos ficaram mais abafados quando entrou no elevador, ainda de olho no telefone. Deu bom dia ainda meio aéreo e, quando a porta fechou, desistiu. Teria que pedir a por favorzinho para emprestar o carregador.

colocou os óculos escuros apenas para se proteger da claridade quando topou com os berros e câmeras ao sair pela porta enorme do hotel. Provavelmente alguém muito famoso havia chegado no hotel principal, porque era muita gente chorando e gritando naquela temperatura completamente incomum para Dezembro: estava sol e ele chegava até a queimar um pouco.
- Dia lindo, não?
se espreguiçou o quanto pôde, estalando um dos ossos do braço. Sim, a manhã estava linda; sol mas friozinho para seu gosto. Mas tudo bem, pensou. Ao menos iria comer um misto quente no café que vira na véspera e se sentiria melhor antes de fazer compras para o ano novo.
Era o último dia do ano. Que fosse ótimo.


(continua)

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