::Shine on Me::

Shine on Me


Autora:
@dehlefebvre | Betas: @dehlefebvre

Você não estava na minha vida, oficialmente, há cinco anos, mas era só fechar os olhos que as lembranças daquele cinco de Dezembro voltavam fortes. Eu gritei, você gritou, eu tirei meu anel e joguei no rio, esquecendo apenas que eu não era ninguém ali. Ah, me desculpe, “para você” eu não era ninguém. Se eu realmente fosse importante, você não teria me trocado por um modelo de olhos enormes, no estilo que sua mãe gostaria. Se eu realmente fosse importante, você não teria medo de me “mostrar” para todos.
Anos se passaram e onde estamos? Eu nem sei onde você está. Não sei se está bem, vivo, morto. Se seguiu carreira em alguma coisa ou se ainda lembra de mim.

Eu lembro de você todos os dias. Quando abro os olhos pela manhã e não te vejo ao meu lado, é como se eu estivesse entorpecida de saudades e, a depender do dia, choro. Quando coloco meu prato na mesa da cozinha e observo o sol entrando pela fresta da janela, me pergunto se o mesmo sol esteve te esquentando mais cedo.
Não há ninguém que me peça para mastigar de boca aberta ou para que maneire na cobertura de chocolate no meu sorvete.
Quando procuro uma vaga para estacionar o carro, eu não tenho mais você para que tire a mecha da franja que insiste em cair no meu olho, para que me diga para adiantar enquanto estaciona. Não tenho mais você para que me diga que a roupa certa para minha reunião de negócios é exatamente aquela.
Não tenho mais alguém para me receber quando chego tarde da noite em casa, para que me abra os braços e me acolha como uma criança em busca de carinho, deixando que eu chore todos os problemas do dia enquanto como brownie direto da panela.

Eu te amei, amei como nunca havia amado ninguém e, agora, observando o sol se pondo ao longe, me fez pensar que talvez eu nunca tenha realmente te esquecido. Eu só achei mais prático não pensar com frequência em você.

Em como você parecia outra pessoa quando colocava os óculos de grau e lia o jornal, ou de como seus chinelos estavam sempre alinhados perto de onde estava. De como o sol brilhava cada vez mais forte quando eu estava ao seu lado e, se caso estivesse frio, de como você me abraçava perto da janela e me ajudava a contar as gotas que batiam na janela.
De como você sorria quando nosso cachorro voltava com a bolinha que você jogava ou de como você simplesmente me abraçava quando eu estava irritada por motivos menores.
De como você me amava após uma longa discussão, o qual você se perderia soltar algumas lágrimas enquanto que morria de medo de me perder.

E bom, estamos aqui, cinco anos depois… perdidos um do outro.


Joguei uma pedrinha do chão no rio, tentando fingir que o vento gelado não estava me cortando os lábios e ressecando meu rosto. Talvez tenha sido melhor voltar ao local do nosso primeiro encontro para que pudesse fechar esse capítulo.
Lembra-se? Esbarrei em você quando minha bicicleta perdeu o freio. Yang Fan riu bastante e Yu Feng estava mais preocupado nos meus machucados do que com você.

- Perdeu alguma coisa? - ouço uma voz atrás de mim, me deparando com Zi Yu todo coberto em casacos. A touca cobria metade de seu rosto e ele soltava fumaça pela boca. - Eu não sabia que viria para Hong Kong.
- Eu não… Não vim. - gaguejo, voltando a atenção ao rio, agora escuro.
- Estou vendo um holograma? - rimos os dois. - É… Faz alguns anos que não venho aqui.
- Cinco. - relembro. O local de nosso primeiro encontro tinha sido palco de nosso término. - São cinco anos.
- Verdade. - fazemos uma pausa, observando (e sentindo) o frio cortando nossas peles, as luzes da ponte começando a brilhar ao longe. - Acho que nunca te pedi desculpas apropriadamente.
- Veio de burro, esse pedido. - rimos os dois. Me permito olhar para eles. Seus olhos ainda eram puxados e seu sorriso, rasgado. As pernas eram o dobro das minhas mas continuam magras. Ele aparentava estar mais gordinho, embora magro. Talvez tivesse seguido meu conselho e parado de fumar. - Pedido aceito.
- Posso te convidar para um café? - ele se balança nas pernas, ainda sorrindo. - Sabe, está realmente frio aqui e estou um pouco doente.
- Claro. - tento sorrir, observando - o novamente, prendendo meus olhos aos dele. Por alguns segundos, a sensação de dejavu me invade e, como rebobinar uma fita cassete, todas as nossas memórias voltam e se embolam em um canto da minha cabeça.
Zi Yu se aproxima de mim e tira a mecha de franja que insiste em cair sobre meus olhos e a proximidade faz meu coração dar uma cambalhota. Se ao menos eu conseguisse perdoá -lo, eu poderia pedir que me beijasse.
- Você está linda.
- Obrigada. - passo a mão no rosto, pigarreando, e abaixo os olhos. O nosso contato, qualquer que seja, me arrepia. Zi Yu sorri de lado e dobra o braço, palhaço, como fazia quando brigávamos e ele queria fazer as pazes.
- Que tal ir na pizzaria dos Yao? Ouvi que o pequeno JianCi agora faz pizzas.
- JianCi? - rio. - Mas ele só tem seis anos!
- Está velha, ! - bato em seu braço, enquanto começo a caminhar com ele. - As crianças crescem, menos você…
- Pare com isso! - faço careta, vermelha.
Talvez certas coisas nunca fossem mudar…

FIM

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