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SORVETINHO

Sorvetinho


Autora:
@heydebee_ | Beta: @heydebee_

O teto de seu quarto nunca parecera tão... sem graça? Ele ainda vestia a camiseta preta do show e estava jogado em cima de sua própria cama. Sentia-se ofegante e confuso: o que estava acontecendo e por que estava acontecendo? Há apenas dois dias tudo estava ótimo e agora, nada mais fazia sentido.
- Vim dar uma olhada em você. - Porsche abriu a porta e sentou na cama. Third notou que seu cabelo estava molhado e que ele vestia roupas bem mais confortáveis que ele, que ainda mantinha as calças pretas e o sapato nos pés. - Você ficou calado a viagem inteira e você é o que mais fala quando a gente está viajando. Isso é quase um milagre católico.
Third olhou para o amigo, semi apático, voltando a atenção para o teto. Ele não sabia como explicar algo que nem ele sabia o que era!
Porsche bateu em sua perna. - Vai me contar ou eu vou ter que abrir sua cabeça? Fiz alguma coisa? Aconteceu alguma coisa? - Third permaneceu em silêncio, mas levantou-se e sentou na cama, coçando os cabelos. Ainda tinha um pouco do produto pegajoso que haviam passado pro cabelo dele não inflar com o calor dos refletores.
- Não é isso... - Third coçou o pescoço. - Na verdade, eu não sei o que houve. - Porsche mexeu as mãos, para que Third prosseguisse.

Tinha acontecido dois dias antes. Ele estava saindo da faculdade e havia decidido parar para tomar um sorvete antes de ir para a 4NOLOGUE ensaiar. Havia uma pequena fila na sorveteria e ele tranquilamente entrou, esquecendo por completo que era membro de um dos grupos de maior ascenção no país. Na verdade, o pessoal tinha tanto medo dele como se ele fosse algum tipo de bicho que apenas cumprimentavam.
Ele meteu a mão no bolso para pegar o dinheiro quando a fila andou e ele não percebeu que tinha uma pessoa na sua frente. Ela virou e bateu com o sorvete em seu queixo.
- Ai caramba, desculpa! - ela correu até o balcão e pegou um guardanapo, tentando limpar o rosto dele. Third até tinha gostado, estava calor, mas definitivamente não era muito fã de sorvete de chocolate. A menina na sua frente estava vermelha até a raiz dos cabelos, ele percebeu e, tranquilo, tentou dizer que estava tudo bem.
- Relaxa. - ele segurou o pulso dela e ela parou de tentar limpar seu queixo. Third pegou o guardanapo da mão dela e limpou o resto, tranquilo, mas ainda segurando seu pulso, usando de seu olhar mais sacana. Era o que fazia sempre, apenas por gostar de sacanear. Ele simplesmente não conseguia largar e ela ainda não havia dito nada. Third analisou seu rosto antes de soltá-la. - Você não é daqui?
- Estou passeando. - disse ela, finalmente tendo seu pulso de volta. -Third finalmente a observou, ou pelo menos o que conseguiu ver do topo de sua cabeça. Ela tinha sardas tão sumidas que chegava a ser fofo e parecia ser alheia ao fato de que ele era um quase popstar.
- Sou Third. - ele esticou a mão e ela a apertou. - E definitivamente você tem um péssimo gosto para sorvete. - ela ergueu a sobrancelha.
- e só falta me dizer que você prefere morango.
- Por acaso, prefiro. - Third deu um passo a frente e pediu um especial de morango, com muita calda. ficou observando calada até Third voltar e tirar um pedaço de sorvete com a colher e colocar na boca. Ela repetiu o gesto e, quase ao mesmo tempo, eles fizeram careta pelo gelado.
- Brain freeze, brain freeze! - Third colocou a mão na cabeça e procurou um banco.

- O que um sorvete tem a ver com essa cara de bunda? - Porsche agora colocava uma meia fofinha no pé. Third tirou os sapatos e jogou longe.
A questão não era o sorvete mas sim a garota e ele não sabia dizer isso sem parecer um babaca. Era conhecido por se apaixonar cada hora por uma garota diferente, não seria diferente na cabeça de Porsche. Mas talvez fosse na dele, não sabia...
Bom, não sabia até a noite seguinte ao "caso da sorveteria".

Third não conseguira fazer uma boa prova. Com todas as viagens, ele não tivera tempo de estudar direito e sabia que teria que estudar o triplo para tirar os pontos restantes. Third não era muito de estudar...
No entanto, ao ir para 4nologue, ele passou pela mesma sorveteria e pensou, por um momento, se veria com seu odioso sorvete de chocolate em mãos. Não que ele tivesse sentido alguma coisa, mas ele havia achado ela legal. Era a primeira viagem internacional sozinha, a primeira experiencia fora da caixinha sem os pais, profissão legal, papo legal. Ele poderia treinar o inglês de uma forma bacana, mas ele sentia que não conseguira desenvolver muito quando ela perguntava as coisas. Era como se uma impotência preenchesse suas cordas vocais e seu corpo não respondesse. Era até meio ridículo a sensação do "olha só, me apaixonei pela garota da sorveteria, daqui a pouco será a da padaria" mas ela era divertida e ele havia rido por bons 15 minutos.
Mas, para sua tristeza, ela não estava lá.
- Será que a gente pensou igual, sorvetinho? - surgiu atrás dele, cruzando os braços. Third a cumprimentou e ela retribuiu. - Eu tinha que ir para Chiang Mai hoje mas perdi a hora e estou dando voltas.
- Como assim, perdeu a hora, dormiu demais? - ela concordou com a cabeça e Third sorriu. - Você é do tipo que perde a hora...
- Bom, experimente passar 20 horas em vôo e mais 7 horas de diferença de fuso. Para mim ainda é manhã. - ela suspirou e finalmente olhou para Third. A impressão continuava: alto e com cara de bebê. Possivelmente ainda era o "menininho da mamãe". Mas conseguia ser bonitinho de um jeito muito fofo. Ela olharia para ele duas vezes, mas ainda não sabia como agira depois do incidente da sorveteria. E nem sabia por quê ainda tinha tido a ideia de ter ido lá logo após perder o ônibus para Chiang Mai. Perdera dinheiro, tinha que se contentar.
- Hoje tenho uma apresentação no Siam Center. - Third cruzou os braços. - Se quiser aparecer, me avise. - concordou com a cabeça. Third corou de leve. - Se aparecer por lá, me procura que te consigo uma credencial.
- Pode deixar, famosinho, eu fico com suas fangirls histéricas. "Sorvetinho, sorvetinho, aqui!" - ela fez voz de desdém e Third riu. - Mas pode deixar que eu vou tentar aparecer...

- Mas ela não apareceu. - Porsche abraçou as pernas em cima da cama, dando espaço para que James agora pudesse ficar sob um braço. Jackie estava na cama de Third, de pernas cruzadas. Ele não lembrava em que ponto da estória tinha chegado mas pela primeira vez estava realmente prestando atenção numa das milhares estórias de romance de Third, que se apaixonava e desapaixonava mais rápido que as horas passando.
- Era por isso que você não tirava os olhos da entrada. - James ponderou. - Faz sentido.
- E daqui a pouco ela vai embora e eu não tenho o telefone dela nem nada. - Third se deitou na cama e olhou para o teto de novo. E isso é muito chato.
Porsche olhou para Jackie, enquanto James mirou nos pés de Third. Putz, ia ser um tremendo de um chulé quando ele tirasse os sapatos!
- A gente poderia ligar para os hotéis pra saber dela... você sabe... usar um pouco da fama que a gente tem. - Porsche olhou para Jackie sem acreditar que uma ideia tão maluca tivesse saído de sua cabeça. James franziu a testa e Third não se mexeu. - Eu posso ver com meu pai, ele pode ajudar.
- Eu ligo. - Porsche pegou o telefone e ligou para o hotel onde estavam. Tinham que ter uma base, pelo menos. - Oi, boa noite, eu gostaria de saber uma informação sobre uma pessoa...
E falou.
Falou, pediu, implorou, porque hotéis não podem dar informações de hóspedes. Third estava desesperançoso, embora feliz com a tentativa dos amigos. Eles eram mesmo muito bacanas de comprar sua estória, até mesmo Jackie, que sempre se mantinha calado. Sentiu uma onda de afeto tão grande que sentia vontade de beijar a todos mas estava prostado demais para qualquer coisa.
- Ela esteve aqui até às oito. - Porsche anunciou, se levantando da cama. Enfiou os tênis e pegou um para para Third dentro da mala bagunçada. James deu um pulo. - São dez horas. Daqui até o aeroporto dá mais ou menos uma hora de carro. Jackie, você avisa o P'Wutt, James, você me dá apoio emocional pra dirigir, Third, levanta a bunda e eu dirijo.
- Uau, uma perseguição, como naqueles filmes!? - os olhos de James brilharam.
- Ei, peraí, eu vou ficar pra trás por que? - Jackie reclamou. Porsche e James se entreolharam. - Se fosse ter alguém pra ficar, seria o James, ele vai abrir o berreiro naquele aeroporto. - James abriu a boca para reclamar quando Porsche notou que Third nem havia se mexido. - Você não vem?
- E dizer o que pra ela? Que achei a cor da unha dela legal?
- Poderia dizer que prefere sorvete de pistache! - Porsche puxou Third pelo pé. - Eu não perdi 40 minutos de um sono delicioso te ouvindo pra poder não ter um desfecho feliz nessa estória.

Eles bem que correram mas o trânsito, mesmo a noite, estava infernal. O manager quase espancou o pobre Jackie pelo telefone e, em algum momento da noite, Jaylerr foi acionado. Logo depois, Captain. Em menos de cinco minutos, os meninos do 9x9 em peso tinham pulado da cama e saído correndo de seus eventos como se tivessem acionado o bat alarme. Third não sabia onde enfiar a cara mas era o problema de ter um grupo de amigos tão unidos; lidou com um, lidou com geral.
- Só faltava essa! - Porsche ergueu as duas mãos após chegar no aeroporto internacional de Bangkoc. Todas as vagas pareciam estar preenchidas e eles deram duas voltas em busca de um cantinho, Porsche com o bilhete preso na boca. James olhava ansioso para todos os lados, em busca de vagas, assim como Jackie. - Desce e corre. Pelo menos um de nós consegue.
Third abriu a porta do carro quando Porsche nem havia parado e Jackie gritou "ali", e saiu capotando por dentro do estacionamento, posteriormente entrando no aeroporto. Olhou para os lados, em busca da KLM, e correu o quanto pôde para a esquerda. Seus tornozelos doíam como se tivessem batido com bastões de beisebol mas ele sentia que não podia parar para recuperar o fôlego.
Até que a viu. . Tomando alguma coisa da Starbucks enquanto lia um livro, próximo do portão de embarque. Correu ao máximo e parou na frente dela com um arranhão de tênis no chão.
ergueu os olhos do livro a ponto de ver Third segurando os próprios joelhos, respirando pesado. Não imaginava ver Third tão cedo, aliás, ela nem tinha pensado muito nisso. Ela sabia que tinha dado bola fora em não avisar a ele que iria no evento do shopping e ficou do andar de cima, atrás de um casal muito alto, observando-o se apresentar. Apesar de ser um carinha normal, ele também era relativamente famoso na Tailândia e ela sabia onde isso iria dar. Ela lia muitos casos no kpop pra saber o que acontecia com um artista famoso quando esse se apaixonava.
- Eu... eu... - Third estava sem ar. descruzou as pernas e ofereceu o banco do lado mas ele recusou, ainda segurando os joelhos. Ele precisava falar, estava preso. Ela precisava saber, tinha que saber, era vital que soubesse! - Eu...
- Você...? - ela ergueu uma sobrancelha, tentando acompanhar o fôlego de Third.
- Eu adoro sorvete de chocolate! Eu só falei aquilo pra implicar com você!
- Você implica com desconhecidas assim? - Third fez que não. - Eu te pedi desculpas pelo sorvete, não foi intencional.
- Eu achei você legal mas precisava saber se meu charme te atingia. - rolou os olhos, no mesmo tempo que via James correndo desesperado. - Ah... Ah! É, ele veio comigo.
- Ele e a torcida do Flamengo? - Third olhou para trás, a tempo de ver Ice e Jackie se jogando no chão gelado do aeroporto. - Bem, sim, seu charme me atingiu. Mas eu não ia deixar barato pra você, eu sei como as coisas funcionam, mocinho. Você vai lá, faz a garota se apaixonar, sua legião de fãs dizem que vão matá-la porque vocês tem um relacionamento e você é obrigado a terminar.
- Mas por que você pulou de "se apaixonar" pra "terminar" tão rápido? - ele botou as mãos na cintura e fechou a boca. - Não acha que deveria ter uma coisa no meio disso tudo?
- Deveria? - Third fez que sim com a cabeça e puxou para abraçá-la. Ela ficou dura feito um pedaço de concreto, vendo de relance Porsche sorridente. Ela lembrava dele, parecia que ia descer o cacete em alguém em algum momento pela forma que cantava. Ryu olhava de um para o outro satisfeito. Ele e Jackie poderiam ser os mais quietos mas sabiam aproveitar os momentos. - Você meio que está me sufocando...
- Você precisa ir embora mesmo? - perguntou ele, ainda achando que iria morrer. Já tinha feito a cagada, não é? Agora tinha medo de se mexer e piorar as coisas.
- Preciso. - ela empurrou-o com delicadeza e apontou para a mala. - É meu trabalho.
- Vou comprar todas as passagens aéreas dessa empresa só pra te encontrar.
- Não seria mais fácil pedir meu telefone ou meu instagram? - riu, abrindo a mochila e pegando o telefone. Colocou a mão na mão de Third e pegou seu telefone, aproximando-os para o aplicativo fazer o reconhecimento. - Te aviso quando chegar na Itália.
E então, ficando na ponta dos pés, deu um beijo na bochecha de Third e um tchauzinho para o paredão de rapazes ao fundo. Eles cumprimentaram de volta, observando sumir pelo portão.
- Eu não acredito que perdi uma hora da minha noite de sono pra não ter nem um beijinho na boca. - Jaylerr balançou a cabeça, indignado.
- Nosso bebê está crescendo! - James abraçou Captain. - Está apaixonado!
- Parem com isso! - Third observou a sombra dela sumindo pela baia transparente. Talvez fosse só mais um crush de sorveteria mesmo.

Dois meses depois...

havia sido chamada na galley da frente. Estava tão acostumada a cuidar dos alimentos e bebidas que era até uma surpresa que lembrassem dela para os procedimentos de segurança, então se posicionou.
- Psiu! - ouviu, e, quando olhou para a fileira na sua frente, Third acenou. Ao seu lado, James estava muito animado com aquela reviravolta romântica: o mocinho em busca da mocinha, viajante pelo mundo em um negocio mais pesado que o ar. Contanto que não caísse, ele estava feliz.
corou ao puxar o terninho para baixo, tentando manter a compostura mas era impossível. Third havia colocado a mão no queixo e a observava, seus olhos vidrados e brilhantes, enquanto ela desejava que o vídeo de procedimentos não tivesse dado pane no voo anterior.
- Me disseram que a Itália é linda. - Third segurou seu pulso levemente, quando ela começou a andar para a parte de trás do avião. corou.
- Sim, senhor, a Itália é linda.
Third esticou um pedaço de papel por entre os dedos para e ela apertou a mão, seguindo sem olhar para trás.
"Podemos tomar sorvete?"
Bom... ao menos agora poderiam tomar sorvete de verdade.

FIM




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