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::Unbelievable::


P R Ó L O G O


- disse que quer um filho. - mordeu um pedaço de bolo. Quer dizer, casamos mês passado, não tivemos uma lua-de-mel decente e ele já pensa em criança!
- Eu já acho que vocês casaram muito cedo. - comentou, pegando uma xícara de café. - Você só tem vinte e três anos, se tivesse uns vinte e tantos...
suspirou. Era tarde de domingo e as três amigas haviam se reunido na mesma coffee shop de sempre. sempre reunia os amigos para jogar basquete de tarde e preferia muito mais encontrar as colegas de faculdade do que aturar as piadas machistas dos amigos do marido. , namorado de , era um dos beberrões, o que sempre arrotava, no grupo. Geralmente a moça tinha que carregá-lo até o carro, jogá-lo no banco de trás e dirigir até em casa; arrastá-lo até a cama e lidar com o cheiro do alcool até mais ou menos metade da noite. E era a encalhada do trio: terminara havia seis meses com um ex-namorado idiota e decidira fechar para balanço. Isso sempre causava gargalhadas a , que dizia que ela ficaria para titia.
De qualquer forma, não demoraria muito para ligar, avisando para a esposa que estava querendo ir para a sacada e dançar "Ice Ice Baby" e elas teriam que fechar a conta e ir para casa. ofereceu uma carona e, quando chegaram na portaria do prédio onde morava , dançava kuduro como se não houvesse amanhã, com um cara magricela e alto. abaixou os óculos por alguns segundos enquanto , irritada, puxava o namorado pela blusa e o jogava no banco de trás do carro, soltando frases como "Eu não mereço isso!" e se despedia, roxa de vergonha, puxando pela mão para dentro do prédio.

Era mais uma tarde comum de domingo para as três amigas.

C A P Í T U L O 1



Vindas de três cidades diferentes, , e se conheceram na universidade,. Por serem as únicas brasileiras calouras, parte de seu trote foi imitar "As Empreguetes", de uma famosa novela brasileira; encarou o desafio numa boa, enquanto quase explodiu de vergonha; parecia uma retardada, fazendo a coreografia toda errada e trombando com as outras toda hora. No final do dia, elas ficaram conhecidas como "O Trio Ternurinha" e como sentiam falta de seu país, começaram uma amizade que se baseava em bolo de chocolate, coxinha de galinha e altas doses de cerveja amanteigada.
era a mais nova. Estudante de Publicidade, entrara na faculdade mais cedo que as outras porque era um gênio. Gostava de passar horas estudando e ouvindo música. Tímida, não sabia onde enfiar a cara quando ficava perto das outras duas. vinha logo depois. Pulou em quatro cursos diferentes, então ainda estava estudando Ciência da Computação. Era espevitada e não tinha papas na língua, falando o que achava em alto e bom som. E , a mais velha, parecia ser a "velha do saco", psicopata, sempre achando que tinha alguém tramando a explosão de uma bomba nuclear. Mas era a única que tinha namorado e se ele espirrasse, ela limparia o nariz dele.
No entanto, foi a primeira a casar. estudava na mesma faculdade que elas e era da turma de basquete, estudante de Administração. Eles se conheceram por acaso, quando ele e os amigos jogavam e tacou a bola na cabeça de . Quando a menina foi reclamar, e se apaixonaram a primeira vista. Ele jurava que demorou tipo uns dez segundos para tal feito mas o caso foi que eles ficaram juntos por pouco tempo antes do rapaz propor casamento. Apaixonada, aceitou e no mês seguinte, os dois casavam no civil. e foram testemunhas, assim como o ex namorado de e um amigo estranho de , que atendia pelo nome de . As diferenças entre ele e o Joey, de Friends, eram inexistentes, assim como a cara de pau da menina. Convidada para ser uma das madrinhas no casamento religioso, teve o pequeno "desprazer" de fazer par com , que apertou seu bumbum descaradamente enquanto entravam pela nave. As consequências foram um tapa no rosto na frente de cem pessoas, uma fotografia do momento, um convite de jantar e, na manhã seguinte, um grito de "Saia da minha cama!". terminara o namoro alguns dias depois, quando percebeu que o namorado era um panaca e um verdadeiro moleque. Irada, ela chegou a bater no ex, mas ainda topava com ele quando fazia seu voluntariado aos sábados. A vontade de capá-lo permanecia forte, mas, seguindo o conselho das amigas, resolvera ficar tranquila. E adotou o "celibato momentâneo", o que dizia que ela iria curtir a solteirice por um tempo.
No final de tudo, as três ainda se reuniam aos domingos para tomar o café da tarde na mesma lojinha de sempre. e não tiveram uma boa lua-de-mel porque estava enrolado com monografia, assim como todos os outros, então a noite de núpcias foi com o notebook ligado e livros espalhados pelo chão. curtia seu momento romântico regado a caipirinha com e gritava com o namorado, naquela linda noite de 20 de Outubro.

Na segunda feira, acordou assustada quando o marido a chutou sem querer de cima da cama, roncando tão alto que poderia acordar os mortos, mas não ela. Tinha um sono super pesado. Mas até que foi bom, porque era dia de apresentar um projeto. tinha jogo mas estava realmente destruído de tanto que havia bebido. A menina lavou o rosto, tomou banho, fez café e quando estava pronta para sair, ouviu berrando que estava atrasado.
Em silêncio, ela entrou no carro, furiosa, apertando o botão da garagem. veio correndo e aterrissou no banco traseiro pela janela, reclamando que não havia acordado ele. Ela respondeu dizendo que se chegasse cinco segundos depois, ele aterrissaria no chão. Era sempre assim que começava o dia seguinte, então, depois de muito cair no chão, aprendeu a cair direito. Mas no final do dia, o amor voltava.
mascava um chiclete e desenhava no braço quando tacou uma bolinha de papel em cima dela. mandou o dedo do meio; era colega de classe e completamente insuportável. Ele tinha um jeito meio esquisito de lidar com as coisas e também era meio excêntrico. Mas ainda assim era um bom garoto.
- O que tu quer, Lacraia?
- Aí - começou ele. - você sabe do ?
- Sumido, provavelmente bêbado, por que?
- Precisava falar com ele.
- Sobre?
- Papo de homem. - caiu na gargalhada. - Que foi?
- Papo de homem, onde? - rolou os olhos.
- Pede para ele me ligar. Ok?
- Hunf. Aquele ali tinha era que virar poeira cósmica! - piscou. - Até hoje não me pediu em namoro.
- Mas vocês estão juntos desde o casamento da , e isso já tem uns seis meses! - ficou confuso. - Além do mais, ele teria que pedir permissão a mim, caso queira namorar contigo!
rolou os olhos.
- Não me lembra disso, por favor? Aliás, eu nem sei por quê estou conversando contigo! - e saiu andando, furiosa. não ter chegado até o momento era indício de que ela teria que voltar a ligar para ele até o mesmo atender e como ele não acordaria, ela teria que ir até a casa dele acordá-lo. Mas como dizia , a encalhada, "Somente por amor, a gente põe a mão".
- Só se for na fuça dele! - esbravejava , tirando o sapato e cutucando a barriga do namorado com o salto. - Aí, gordinho, hora de acordar!
respondia com um resmungo e dava um pulo quando via o horário. balançava a cabeça tristemente; às vezes tinha uma vergonha quase absurda do meio irmão mas nada poderia ser feito.
chegou no pátio furiosa com o chute matutino do marido. Ainda assim tinha que manter a calma porque teria uma semana complicada.
- Ainda mato o !
- Ninguém mandou você casar tão cedo com alguém que mal conhecia! - fez cara feia. Era segunda feira, estava irritada porque teria prova de Agenciamento e não tinha estudado, ainda estava de ressaca do glorioso sábado, o qual conheceu um rapaz lindo mas que não dera sinal de vida até então. Ok que tinha ligado o "celibato momentâneo", mas precisava demorar tanto para ligar?
- Dá pra você ser menos grossa? - parou de pintar a estrela no pulso. - A está passando pela crise dos seis meses de casamento e estou pensando seriamente em terminar com o , não é porque um peguete não te ligou que a gente deva sofrer!
semi cerrou os olhos.
- Alguém já te mandou tomar no cu hoje? - e levantou, pisando forte. contonou a mesa de mármore antigo e se sentou no banco.
- O que deu nela?
- Falta de sexo. - suspirou. - Ela sempre foi popular, mas desde que aquele tosco do ex dela obrigou a bichinha a ser ruim, os caras ficam com medo de chegar perto dela.
- Meu Deus, será que ela não sabe os benefícios de um vibrador? - piscou. fez careta.
- Desde quando você precisa de vibrador?
- Você acha que é fácil conviver com um homem que fala sobre números no meio do sexo?
- Vai por mim, melhor do que escutar sobre maias e astecas. - , outra amiga do trio, aproximou-se ao ouvir o papo. Estudava Moda, era super descolada e muito bonita. Estava por dentro de todas as tendências e criava modelitos para uma sex shop nova da cidade. Namorava , um estudante de História que se empolgava facilmente quando o assunto era civilizações antigas. tivera um grande trabalho para tirar da cabeça dele que um tapete com mapas da antiga civilização asteca não era bacana no teto da sala, então ele trocou para o teto do quarto.
suspirou.
- Vocês não sabem a felicidade que seria se eu pudesse jogar aquela bosta no lixo, com todas aquelas coisas velhas e empoeiradas. - franziu a testa. - Eu grito toda vez que entro em casa e vejo aquela carranca perto da porta.
- E você ainda está com o porque...
- Menina, já viu o corpo daquele homem? - ambas fizeram que não. - É bom que não saibam mesmo. - deu de ombros. - é gostoso, inteligente e realmente me ama. Tirando essas manias grotescas, ele é demais e realmente o amo.
respirou fundo.
- Também amo , mas essa coisa de beber todo domingo me tira do sério!
- Pelo menos teu marido está aqui, amor, e o meu namorado não oficial, que sumiu de novo?
- Já ligou pra polícia?
balançou a cabeça, despreocupada.
- Nah, só depois de 48 horas. Além do mais, Carl me mandou ligar para a Philliphopos, disse que sempre encontram ele lá. - e se entreolharam, continuava a pintar estrelas no braço, com a língua pra fora. - A única coisa que queria era que demonstrasse que me ama e me pedisse em namoro.
- Vocês estão juntos há seis meses!
- Seis meses, dois dias, quarenta e quatro caipirinhas, aproximadamente sessenta e cinco camisinhas de uva, dois mil gastos em brinquedinhos eróticos, e duas camas quebradas. - deu uma risadinha. - Nós somos empolgados, sabe.
- Me poupe das suas experiências sexuais, ! - suspirou. - Mas hein, quem precisa de vibrador? Quando cheguei aqui, vocês estavam falando disso.
- Ah, a ! 'Tá precisando de um sexo bem selvagem, está numa seca tão grande que fica descontando na gente. - tampou a caneta. - em crise, eu em crise, você... bem, você em crise. Ela em crise porque está sem uma FC.
- Eu voto por arranjarmos um namorado pra ela. - comentou, séria. - Estou falando sério!
- Eu voto por arranjá-la com o Green.
- O Green, não! - fez careta. - Ele tem geliofobia! Medo de rir, gente! - completou, ao ver a cara de interrogação das duas.
- Olha, eu não quero saber. - balançou as mãos. - Só quero chegar hoje de noite e ficar numa boa com meu marido.
ergueu uma sobrancelha.
- Não te desejo sorte com o , vocês dois parecem coelhos. - riu. - E você, tira logo aquele troço da porta de casa, até eu tenho medo daquela bosta. E quanto a ... precisamos fazer algo.
- Vocês não conhecem nenhum solteiro, não? - catou o caderno dentro da bolsa. - Algum que seja engraçado, divertido, e de preferência, bonito?
- Solteiros, sim. - olhou em volta.
- Bonitos, nenhum... - completou .
deu de ombros. - Yep, vamos colocar um anúncio na internet e esperar algum bravo candidato aparecer.
- ! - gritou uma voz masculina, do outro lado do pátio. As três meninas olharam curiosas em direção ao rapaz alto, delgado, com uma bolsa do Keroro e óculos sem lente com armação preta. Seus jeans eram escuros e seu All Star estava milagrosamente limpo. Usava um lenço verde no pescoço e parecia curioso. - Você pegou minha caneta? - não respondeu, só piscou os olhos. - Anda, devolve!
- Ai, tá bom, tá bom, não precisa morrer por causa de uma caneta!
- Não é uma "caneta"! Lady Gaga autografou minha camiseta com essa caneta!
- Toma, seu monstrinho! - jogou a caneta. - Agora desinfeta daqui!
mandou o dedo do meio e pulou de cima da mesa.
- Detesto esse garoto!
- Só porque ele é seu...
- NÃO FALA! - berrou. - Argh, só de lembrar disso me dá urticária...
- gosta da Lady Gaga? - perguntou.
- Foi no show dela mês passado e se tornou fanboy. - suspirou. - Mas pouco me importo, realmente. Divertido foi ele, no dia seguinte, acendendo velas perto de um pôster que grudou na parede, endeusando a mulher e o poster pegando fogo. Nunca ri tanto!
e se entreolharam, perversas, enquanto catava outra caneta para pintar uma lua no pulso. apoiou-se na mesa com as duas mãos, apertando os seios, sorrindo falsamente.
- está solteiro, né?
- E vai largar o pra ficar com ele? Olha, minha filha, gosta de peitões, eu não, então não adianta ficar apertando suas melancias pra mim, não!
- Que? Tá louca? Largo o pra ficar com aquela lacraia ambulante não, minha filha! - tirou a franja da testa perfeita e sorriu. - Que tal o ? Ele é alto, magro, está solteiro...
- É, filha, mas esqueceu do fator "ser bonito"! - respirou fundo. - Olha, essa idéia de vocês é pirada. Nunca que e ficariam juntos, quer dizer, ele estuda Biologia! Biólogos são estranhos!
As duas fizeram bico, observando de longe. O rapaz mexia na bolsa do Keroro, puxava um bloco de papel amarelo e anotava sobre uma lagarta criando um casulo. Alguns caras passavam por perto, cutucavam com piadinhas, outros diziam "bom dia", mas ninguém tirava a concentração dele do tal bicho.
até cogitou a idéia brilhante de , já que estava solteiro e ela não tinha nada com isso. voltou a choramingar de seu casamento confuso e observava de longe o namorido passando, sempre sério, com os livros nos braços e na bolsa. Cumprimentou-o de longe, babando por um curto período antes de alcançá-lo, saltitando.
- , , cala a boca! - reclamou. olhou para os lados.
- Mas eu não estou falando nada!
- Preciso de um plano pra unir aqueles dois.
- Aaah! - cruzou os braços. - Então vai nos ajudar a unir a e o !
- Lacraia precisa beijar na boca. - pensou alto. - Ontem peguei ele com minha Barbie e o Hulk dele. Minha Barbie deixou de ser virgem.
- Ugh!- - fez careta e prendeu o cabelo. - Olha, eles seriam engraçado juntos, quer dizer, ele é tão alto e ela é tão baixinha, ele estuda Biologia e ela estuda Turismo, dois esquisitos juntos, ia ser fofinho.
meneou a cabeça momentaneamente antes de puxar a tampa de outra caneta para pintar outra estrela no braço. Era uma boa idéia, quer dizer, unir e parecia que seria divertido. Eles eram tão incompatíveis! preferia o dia e , a noite; preferia salgado e , doce; a única coisa em comum era a operadora de celular. Pelo menos se o namoro engatasse, eles poderiam ligar para o outro por menos de $0,03. Tava barato pra caramba!

C A P Í T U L O 2



passou grande parte da aula tentando descolar meios de voltar às boas com o marido, inclusive até pensara em chegar em casa mais cedo e preparar a comida predileta dele. Mas lembrou que não sabia cozinhar e que, da última vez, tiveram que chamar o Corpo de Bombeiros porque ela havia incendiado a boca do fogão. Ok que, mesmo inalando fumaça, os dois fizeram sexo em cima da mesa da cozinha, mas era uma das raras vezes que eles se entrosavam como um verdadeiro casal. Se amavam, de fato, mas a falta de romantismo era quase visível. Não dormiam juntos havia tempo porque ambos estudavam e trabalhavam muito, então casa significava comer e dormir.

"Está na aula?" - o celular de apitou.
"Não, estou na Grécia, ensinando Aristóteles a tomar banho!"
"Me desculpa, meu amor, não precisa ser tão grossa!"
"Estou chateada, , acha que não?"
"Eu sei que está. Por isso estou te pedindo desculpas."
"Por mensagem de celular? Espirituoso demais, !"

- Com licença, - alguém bateu na porta da sala e todos os alunos se viraram, a tempo de ver um grande buquê de rosas amarelas. - Sra. , é dessa turma?
ergueu o braço. O rapaz sorridente entregou-lhe o buquê, sorriu e saiu da sala. Vermelha como um pimentão, leu o bilhete, escrito a mão pelo marido e abriu um grande sorriso tímido. Alguns colegas tentaram ler, mas ela foi mais rápida em guardá-lo e avisar ao professor que poderia continuar a aula. Detestava ser o centro das atenções, mas talvez, naquela noite, gostasse de ser.

No intervalo maior, e se encontraram no pátio para resolver como iriam unir e , mas com a chegada do assunto em questão, mudaram o tema. Antes que alguém pudesse falar alguma coisa, apareceu , a caloura da faculdade, igualmente brasileira, do interior. Sentou-se na mesa do trio e tirou algo como cem barras de chocolate diversos; abriu um pequeno chocolate branco enquanto colocava um de nozes na boca. piscou, assustada.
- , você está... err... com larica? - olhou para a amiga e apertou os olhos, abrindo a boca e revelando dentes sujos de chocolate.
- me traiu! - , é claro, seu namorado há dois meses. Incrivelmente charmoso, divertido, com piadas horrorosas e uma voz doce. Na realidade, ele era um cafajeste de primeira, sempre cantando as meninas desacompanhadas... e acompanhadas. Ninguém entendia como poderia namorar com alguém como , tão pouco feminina, que não gostava de maquiagem, tão de interior e provavelmente mais virgem que uma garrafa de vinho do ano passado. - E acredita? Com aquela vaca da Christy! Eu não consigo acreditar!
- Calma, linda, vai dar tudo certo... - tentou amenizar.
- Quer dizer, amo tanto o , faço tudo por ele, eu ia dar minha flor para ele na sexta feira!
balançou a cabeça tristemente e deu um tapinha no ombro da mais nova.
- Queridinha, se você continuar falando "flor" é claro que ele nunca mais vai te procurar! - enfiou a cabeça nos braços, em cima da mesa.
- Meu mundo caiu!
- Olá, amores da minha vida, minhas melhores amigas! - apareceu quase flutuando, com seu buquê em punho. - Nossa, que caras são essas? Quem morreu?
- terminou com a . - comentou, balançando a cabeça. observava abrir mais dois pacotes de chocolates e enfiar tudo na boca, sem se preocupar com sabores, e esticou a mão.
- Arranje os seus!
- Eu só quero essa barrinha de chocolate branco! - ela se protegeu. - E se recomponha, mulher, homem não é tudo, não!
- Aí eu discordo! - fez bico. - Olha o que o me deu! - ela mostrou o buquê. deu um uivo. - Ele não é romântico?
- Ele quer te comer. - foi decidida. As quatro moças olharam para ela, assustadas. - Homens não dão presente para uma mulher se não querem comê-la. E como vocês estão em crise, ele achou que um presentinho fosse bacana para não ter que ficar na mão hoje a noite.
se jogou do lado de e fez bico.
- E eu achando que ele estava me pedindo desculpas!
- Os homens não valem nada! - abraçou e ambas começaram a chorar.
- Boa, , muito bem, agora temos duas choronas! - reclamou. - Alguém já te disse que você está precisando de sexo?
deu o dedo do meio. deu um sorriso de soslaio.
- Ah, aproveitando que todas estão aqui, querem almoçar comigo? Tenho que passar na loja e ver como estão as vendas da minha coleção nova. - ergueu uma sobrancelha. - Você também. Quem sabe assim você não compra logo teu vibrador!?

E conforme o combinado, as cinco amigas saíram da faculdade por volta de uma da tarde direto para a Hot Shit, a loja que comprava os modelitos da futura grande estilista . A loja parecia simples por fora, com uma vitrine pequena, onde um pequeno divã exibia uma lingerie de duas cores. Muito simples. Muito discreto. Mas por dentro, a estória era outra. , , e ficaram boquiabertas ao ver tudo tão organizado, uma fantasia de policial reluzia em um manequim que parecia verdadeiro. O material quase cegou quando a mesma chegou perto para conferir o tecido. puxou para ver vibradores, cada um com formatos e tamanhos diferentes. Como uma colegial, estava vermelha e dava risadinhas a tudo que seus olhos batiam. agora entendia perfeitamente por quê havia terminado com ela; era tão ingênua, tão criançola!
e estavam no balcão, esperando o vendedor sair do depósito. Enquanto isso, riam ao ver, na vitrine do balcão, doces em formatos indecorosos, se perguntando qual seria o sabor de cada um deles. Logo, um rapaz saiu por uma porta, carregado de caixas fechadas e escritas "balcão nove".
- Oi, em que posso ajudá-las? - perguntou sorridente, mas então seus olhos bateram em que, também surpresa, fez careta. - O que faz aqui?
- O que você faz aqui?
- Nem todos trabalham em uma grande empresa, sabe. - rolou os olhos. - Que nojo te encontrar aqui! Nojo duas vezes, porque você veio onde estou trabalhando e é...
- Cala a boca, retardado! - quase berrou.
- Com licença, oi, eu sou a . - a mesma forçou um sorriso - trabalho para a loja, queria saber como tem sido as vendas.
- Ah, estão indo bem, sabe como é, a loja é nova, poucos conhecem, mas quem frequenta aqui tem gostado bastante. - fez um certo bico, se atrapalhou. - Err, se puder divulgar para suas... suas... suas amigas - olhou para , que prendia uma risada. - outras amigas. Quer dizer, nós estamos com umas coisas novas para divulgar a loja, mas muitas pessoas ainda ficam meio assim de entrar em uma sex shop.
- E agora sei por que! - riu. - Escuta, do que são esses doces? - ela apontou para um em formato de peitos. - Esse?
- Um peito é de morango e o outro é de cereja. Querem provar um?
- Seria bom. - sorriu forte.
se unira a e juntas, observavam em sua descoberta ao mundo do sexo. só vira alguém agir daquela forma em filmes de escolas muito rígidas, onde as alunas completavam trinta anos de casadas e ainda chamavam seus maridos de sr. Madison.
observava de longe as três moças risonhas, enquanto colocava um cinto estranho na cintura e fazia movimentos de caubói. Uma das meninas, a de tênis vermelho, chamara sua atenção. Não só pelo fato de ser bonita mas por usar tênis. Dificilmente encontrava uma garota que abrisse mão de se sentir bela ao usar tênis; e vira de longe no dia anterior, quando foi buscar na casa de . Conhecia de relance, porque vira uma foto dela com no celular do mesmo quando disse "É só uma colega", também no dia anterior. Mas voltando a , seus olhos focalizaram nos lábios com o sorriso meio torto e na blusa pouco decotada na região dos seios, um pouco curta e frisada na cintura, o que dava um certo ar de moleca. Ela podia não ter muito peito mas o que tinha o agradava, e muito.
- E quais são as novidades da loja? - olhou confuso para , que ainda ria com o outro bombom em formato pervertido. - Você disse que a loja tinha novidades.
- Que... ah sim, temos sim, quer dizer, eu não tenho, mas a dona disse que vai abrir um curso de pole dance e de dança do ventre, parece que com duas professoras que são expert no assunto.
- OI! - quase caiu em cima do balcão, rindo. - Ah, oi, cara do curso de Biologia, não sabia que trabalhava aqui! - corou de leve e deu um pequeno sorriso. e sorriram de soslaio, carregando e com a desculpa de que iriam ver as fantasias desenhadas por .
- Sabe como é, ainda não consegui estágio, preciso me virar como posso. - fez bico e sorriu. - Ah, quer provar um doce?
olhou para o balcão e começou a rir. Se estava no inferno, que abraçasse o capeta! E querendo ou não, estava se divertindo a beça. Mesmo que tivesse vinte e seis e estivesse agindo como uma adolescente de catorze que estava descobrindo o mundo.
- Quero esse aqui. - ela apontou. - Ele é de que?
- Licor de amarula. - colocou o doce em um guardanapo e quando o mordeu, beliscou a perna por cima da calça. O recheio caía pelo queixo da moça e ela mais ria que apreciava. engoliu em seco. - Gostou?
- Adorei! Ei, garotas, olhem! - chamou, visto que só tinha elas e na loja. - Acabei de comer a ponta de um pinto!
bateu com a mão na testa quando e começaram a rir alopradas. balançou a cabeça tristemente.
- , querida, definitivamente você precisa de sexo!
- Queria que eu falasse o que? Que desse nome aos bois? Quero dizer, é horrível um cara dizer 'oi, você quer comer um pedaço do meu pinto?', você diria isso a uma garota?
- E-eu, err... - corou quando olhou para ele. - Quero dizer...
- Viram? Olha, obrigada pelo doce, quanto te devo?
- Na-nada, é por conta da casa.
- É bom que seja mesmo! - berrou. - Porque até onde sei, foi você que fez isso tudo!
sorriu. - Você cozinha?
- Algumas vezes, quando estou entediado. Não que eu seja um mestre cuca, mas prefiro coisas salgadas...
- É um ótimo confeiteiro. - ela continou sorrindo. sentiu as bochechas queimando. - Bom, eu... preciso ir, tenho que ir trabalhar. - balançou a cabeça, sorrindo. - Desculpa, acho que não peguei teu nome.
- É , mas pode me chamar de...
- LACRAIA! - berrou. cutucou a amiga com o cotovelo.
- Sou a , pode me chamar de , quero dizer... caso faça outros peitos e outros pintos, me chame, a tem meu telefone.
- Pedirei a ela! - continuou sorrindo. - Mas por via das dúvidas, anote para mim. pode ser bem ruim. - pegou um cartão de dentro da bolsa e circulou um número.
- Certo, srta. , ligarei para você quando fizer peitos e pintos.
sorriu. começou a cutucar as amigas.
- Ligue quando quiser, vou adorar provar seu pinto. - de repente ela corou. - Quero dizer... Bom, preciso ir. Até.
- Até...
acompanhou até a porta da loja, sorrindo encantado. Ao perceber que nenhuma das amigas a seguiu, deu um berro, ao que todas correram para perto. Todas, menos , que encostou-se no balcão e tamborilou os dedos. ainda tinha os olhos fixos na menina que saía pela porta principal e sentia seu rosto um pouco vermelho.
- Vai um guardanapinho para limpar a baba? - colocou o papel na frente do conhecido e ele acordou de seu devaneio. - Gostou?
- Gostei do que?
rolou os olhos.
- Não se faça de idiota, , sabe do que estou falando!
ficou em silêncio. bufou, entregando um papel.
- Olha só, assim que sua chefe chegar, coloca esses nomes na lista do curso de pole dance. É um presente meu para minhas amigas, elas merecem. E não, não tem namorado.
- Eu não perguntei nada.
- Esqueceu que leio pensamentos, meu bem!? Preciso ir, preciso colocar comida naquela casa... que não tenha formato de um par de peitos. - e saiu pela porta da loja, deixando a ver navios.

.x.

- Nunca mais beberei!* - dizia mais tarde, jogado no sofá do apartamento de e . Ela demoraria para voltar para casa naquele dia, e estava com medo de voltar para casa. Não porquê sabia que provavelmente estaria esperando por ele com um taco de beisebol nas mãos, mas porque não tinha comida na geladeira. - Nunca mais...
- Você fala disso desde que estávamos no primeiro ano da faculdade! - riu, entregando um copo de refrigerante para o amigo. Ele unira todos os seus conhecidos cachaceiros e agora eles eram em cinco, e estavam mais inseparáveis que mosca na mussarela. - Bebe isso, vai melhorar.
- estava furiosa hoje. - não desgrudou os olhos da tv, onde jogava Super Mario com . - Disse que você deveria virar poeira cósmica.
gargalhou. Era costume que falasse isso, ainda mais porque nunca seguia; chegava final de semana, lá estava ele gritando "Mais tequila!". Pelo menos isso ele tinha em comum com a irmã de criação, ; ele viera morar com ela quando passara para a faculdade mas logo conquistou a independência. Conheceu de uma forma abrupta, tinham se apaixonado e moravam juntos, mesmo que não fossem, oficialmente, um casal de namorados. ficava possessa com o irmão por fazer a amiga de trouxa, mas como não ligava, ela não tomaria as dores da amiga. Ela sabia se defender muito bem sozinha.
conhecera na época de escola. Estudaram juntos da terceira série até o último ano da escola e eram como melhores amigos. Apesar disso, não pudera comparecer ao casamento do amigo, porque tivera aulas externas em outra cidade. ficou bem chateado com o melhor amigo, mas sabia que havia ralado muito para entrar em Biologia. Até a presente data dizia que era a fobia de relacionamentos de que o impedira de ir, mas a realidade é que nem sempre fora assim. Tivera apenas uma namorada séria, que dormiu com o professor durante um acampamento. Desde então, decidira não mais se apaixonar, e estava dando muito certo até aquela tarde.
- Você ama a ? - perguntou, desinteressado.
- Gosto dela.
- Perguntei se a ama.
- Gosto dela.
- De qualquer forma, acho que você deveria ser direto com ela, sabe - levantou os olhos de um livro. - Ela realmente gosta de você e sente que você está enrolando em assumir um compromisso.
deu um pulo do sofá.
- Compromisso? Eu não sou maluco como o , não!
- Ei! - reclamou ele. - Casei cedo sim, mas ao contrário de você, eu amo a .
- Não foi isso que me pareceu quando topei com ela no corredor, hoje. - coçou o nariz. - Ela parecia bem bolada contigo, disse que você a chutou da cama e que a impediu de dormir.
- Cara, pra que serve isso? - apontou para a carranca. - Parece minha tia Myrabel!
- Afastar maus espíritos! - se levantou, parando na frente da televisão e arrancando exclamações de . - Vocês precisam de um foco, uma... uma direção! , decida logo o que sente pela , porque ela te ama mesmo e acha que você não gosta dela; , por que não surpreende a hoje a noite?
- Você diz... como lavar a louça? - bateu com a mão na cabeça, respirou fundo e continuou.
- , o que a Christy tem que a não tem?
- Ela é muito gostosa! Cara, você tinha que ver como ela...
- Eu não quero saber, sou muito bem servido, obrigado. - esticou a mão. - E , você ainda está com aquela idéia de não se apaixonar?
- Estou e ninguém tira isso de mim! - ele cruzou os braços.
Fez-se silêncio por algum tempo até que gritou que sentia dor de cabeça; no minuto seguinte ele lamentou o fato de ter gritado. ainda mantinha os braços cruzados para , que se levantou e foi até a porta.
- Olha só, gosto de vocês pra cacete, são grandes amigos, mas deixa essa coisa de vida amorosa de lado, ok? E , faça comida japonesa pra , ela merece.
- Eu? Cozinhar? Está falando sério!? - balançou a mão.
- Tô caindo fora.
choramingou quando bateu a porta e ergueu uma sobrancelha, confuso.
- Por que ele fica tão sensível quando o assunto é mulher? Ele é gay?
- É uma longa estória. - ergueu as pernas de e se sentou no sofá. - está precisando de uma boa noite de sexo, ele anda meio carrancudo.
- Vocês não conhecem nenhuma garota, não? - ainda estava pensativo. - Sei lá, pelo menos para sair com ele algumas vezes, não como uma prostituta, ! - rolou os olhos, murmurando um "Droga!". - Mas alguma moça simpática, adorável, divertida, que o faça rir, que seja bonita.
- A tua irmã não tá solteira, cara? - olhou para , que tirou a toalha gelada da testa, assustado. - Talvez seria uma boa.
- Não é aquela garota que desceu a mão no ex-namorado, no teu casamento? - apontou. - Sei não, ela parece ser meio de lua.
- Não fala mal da minha irmã! - deu um pulo do sofá, franzindo a testa e ficando possesso. - Minha irmã pode ser tudo, menos de lua! E é melhor não falar nada, , senão te mato!
- Mas ela está solteira e parece ser o tipo ideal do - balançou a cabeça. - Ela é divertida, bonita e está solteira.
- E fora disso, eu não quero a namorando tão cedo! - cruzou os braços. - Estou falando sério!

.x.

No dia seguinte, entrou no carro pensativa. Tinha alguma coisa diferente e não era o banco para trás; não deixaria mais seu irmão dirigir o carro. Era algo mais profundo... dirigiu até a coffee shop que sempre ia com as amigas e pediu o maior pedaço de bolo de cenoura com chocolate que tinha. Sentou-se em uma mesa e colocou açúcar no suco de laranja, mexendo com o canudinho, pensando. Será que e estavam falando sério quando disseram que ela precisava de um namorado? Estava assim tão insuportável, quer dizer, ela estava bem sozinha. Podia dormir esparramada na cama, fechar a tampa do vaso sanitário e andar pelada pela casa, sem ter um tarado agarrando seus peitos.
- Me pergunto o que fiz para te encontrar tão cedo. - disse uma voz por trás e viu sorridente, com seu indefectível casaco jeans e pasta do Keroro passando pelo peito magro. Tinha olhos escondidos por grandes óculos escuros e seus cabelos estavam meio revoltos, para cima. - Bom dia.
- Bom dia! - apontou para a cadeira e se sentou. - Quer alguma coisa?
- Sempre tomo café aqui, mas geralmente passo correndo porque estou atrasado. - fez cara de entendida. deu um sorriso meigo. - E você?
- Fiquei com vontade de tomar suco de laranja sem bagaça. Sei lá, não sinto vontade de ir para a aula.
- Não vai!
- Cada aula são dois pontos e não ando com cabeça para estudar.
- Você estuda...?
- Turismo, mas só porque não tinha idéias. É legal mas a gente não fica viajando tanto quanto parece...
- Isso é bom, quero dizer, com você aqui perto vou ter mais chances de te chamar para sair. - corou.
- Está me convidando para sair? Sério? Quando?
- Não sei, talvez em um Dezembro próximo. - riu, reunindo sabe-se lá de onde forças para chamá-la para sair. Ela parecia divertida e bacana de se ter como amiga. - Sério, quer sair comigo hoje?
abriu um grande sorriso.
- Claro, pode ser. - corou.
- É que vou fazer uma nova leva de peitos e queria saber o que acha dos novos sabores.
murchou. Peitos? Ele estava convidando ela para sair porque queria que ela desse idéias de novos sabores para os doces dele!? Era isso mesmo? Sentiu-se muito triste. Já não bastava o carinha de sábado ter sumido, será que tinha cara de "serve para dar uma voltinha"? Mas aceitou, fazer o que! Talvez saber como é sair com um cara sem segundas e terceiras intenções fosse bacana para variar...
estava com vontade de se matar. Tinha outros planos mas tinha que falar uma besteira, claro. Era - o pirado, o esquisitão de Biologia. O cara que ficava horas acompanhando formigas até o formigueiro e até criara uma mini câmera para saber o que acontecia lá dentro. Não deu muito certo quando feza com abelhas e as marcas no corpo não restavam dúvidas de que ele era louco.
recebeu a comanda com a conta e habilmente tirou de sua mão.
- Posso pagar pra você? - ergueu a sobrancelha. - Digo, já que estamos começando a sair, acho que poderia fazer essa boa ação.
- , nós acabamos de marcar de sair. Nós não estamos "saindo" um com o outro e não há possibilidade de isso virar algo a mais, entendeu?
sentiu-se socado no estômago. - Ainda assim, quero fazer uma boa ação. Ensino para as crianças do meu voluntariado que elas sempre devem fazer pelo menos uma boa ação por dia.
- Você faz voluntariado?
- Faço. Era uma das crianças mas aí resolvi continuar na condição de adulto responsável. - arqueou a sobrancelha sentiu o rosto queimando. - Por que? Você também é voluntária?
- Sou, também cuido de crianças, mas minhas crianças são pré adolescentes. - ela puxou a carteira mas já estava entregando a comanda para a garçonete. - Obrigada, não precisava.
- Precisava. Seria injustiça encontrar uma moça tão bonita e não ser cavalheiro. Digo... - ele pigarreou. - É a coisa da boa ação diária, sabe, vira um vício.
se levantou e fez o mesmo; ela pegou a mochila e ele pegou a própria mochila, novamente do Keroro e começou a imitá-la. sentiu as bochechas queimando mas só ria, enquanto se adiantava em abrir a porta do carro para ela. Desejou um bom dia e partiu, observando-o ficando menor pelo retrovisor. Será que, raios, estava se sentindo interessada? Mas ele nem bonito era! Pelo menos cozinhava bem, fazia voluntariado e era simpático.
OK, poderia pensar em cogitar que estava achando bacana, o que de fato era verdade; ou talvez fosse hora de tirar o carinha de sábado de sua cabeça e seguir em frente. Não era namorado mesmo, e sair com alguém sempre fora divertido. Mas não entendia por que estava ansiando tanto encontrar de noite, aliás, nem sabia que horas iria encontrá-lo porque não tinham marcado horário nem local.

"Te busco às 20h."

sorriu forte.
Ou talvez fosse algum tipo de psicopata que gostasse de seduzir as mulheres com um jeito doce para poder levá-las para a cama e satisfazer seu desejo de ter uma senhora Entregadora de Requeijão! E talvez gostasse que ela usasse uma roupinha curta em formato de boneca de Entregadora de Requeijão para poder pedir para ela provar seu requeijão e aprovar para a nova fornada de doces pervertidos para a sex shop!
freiou o carro no meio da pista, irritando todos os carros que vinham colados atrás e quase haviam batido nela.
Ah, não... se ele fosse desse tipo, ela saberia se defender! Fora escoteira, sempre andava com um canivete na bolsa e sabia fazer nós e amarras como ninguém! Não fora com uma amarra japonesa que calara a boca de seu ex namorado, no casamento de ? Quer dizer, havia sido divertido prendê-lo em uma cadeira quando ele achava que era uma fantasia sexual. Mas quando começou a bater nele, é, saber nós e amarras tinha salvado sua reputação. "A má escoteira", era assim que ficara conhecida. Alguns caras curtiam essa coisa de ser escoteira porque achavam que poderiam diminuir em uns dez dedos o uniforme e essa coisa de amarras seria divertido para apimentar uma noite, mas depois que o cara apareceu parecendo um sapo de tanta porrada que havia levado, os meninos pensaram duas vezes.
terminou de mandar a mensagem e estacou, no meio da faixa de pedestres. não era aquela maluca que tinha batido no namorado depois do casamento de e ? E se ela resolvesse bater nele? Ele era magro, ok, era razoavelmente forte, mas em mulher não se batia nem com flor! Ah Deus, e se ela batesse nele caso, sei lá, não gostasse do sabor novo dos doces? Suas crianças do voluntariado ensinaram a ele como fazer nós bem fortes e duradouros, então a única coisa que tinha que fazer era treiná-los; sei lá, né, vai que tresloucasse e resolvesse jogar nele toda a sua fúria de TPM, mulheres podem ser estranhas...
- Com licença - disse ele, entrando em uma loja. - quero um rolo de sisal.

.x.

O prato de havia acabado de chegar quando fixou o olhar em e em seu livro. Estudante de Literatura Estrangeira, passava muito mais tempo lendo do que cuidando de qualquer outra coisa. Trabalhava como telefonista de uma empresa de traduções e realmente tinha uma voz doce mas que contrastava com sua aparência. O jeans mudava a cada mês e meio, a blusa era quase todo dia e ninguém gostaria de saber quanto a roupas de baixo, mesmo que ela afirmasse que trocava todas as vezes que tomava banho.
- , posso te fazer uma pergunta? - tomou um gole do refrigerante sem açúcar ( e possivelmente sem gás, a julgar pelo sabor), e olhou para . assentiu com a cabeça. - Você é virgem mesmo mesmo?
- Sou. - ela corou. Falar sobre aquilo sempre a deixava sem graça. - Por que?
- Mas você sabe como funciona... a coisa, não é? - piscou. - Você sabe... como entra e como sai e... ah, você sabe? - piscou de novo.
- O que a está querendo saber é se você nunca...? - deu voz.
- Ah, não, não, onde eu estudava diziam que era impuro! - bateu com a mão no rosto. - B-b-bom, teve uma vez, sabe, que o - ela falou mais baixo e as amigas se curvaram para ouvir. - e eu ficamos na casa deles sozinhos e quase aconteceu, mas eu estava naqueles dias e ele não gostou muito. - novamente quase chorou.
- Você não sabe nada? Nadica de nada? - balançou a cabeça negativamente. respirou fundo e bateu com os talheres no prato. - Reunião na minha casa hoje, às oito.
- Hoje? Oito? - engoliu seu macarrão, assustada. - Ah, não posso, vou sair.
- Sair com quem? - cutucou com o ombro, toda serelepe. - O carinha de sábado?
- O jovem Lochinvar deu sinal de vida, é? - brincou e de repente todas olharam para ela. - Lochinvar, o galã de Marmion... ah, esquece!
- Ah, o me chamou pra ir ajudar ele com os doces e.... que foi? - corou, quando as outras fizeram "hm".
- Você e fazendo peitos e pintos!
- Querem parar de falar assim? Parece sujo! - fechou a cara.
- Só porque você é uma virgem tosca não quer dizer que todas devamos ser! - abriu a boca, chocada, e voltou sua atenção para . - O que vai usar?
apontou para a roupa que estava vestindo: jeans preto, blusa azul tipo regata, tênis All Star, cabelo em rabo de cavalo. se sentiu ultrajada.
- Você não vai sair para um encontro assim!
- Isso não é um encontro, se vamos fazer doces! Mexer com chocolate e recheio suja, sabia!
- Sempre tem um lugar para o recheio! - virou a página de seu livro e quando as outras meninas olharam para ela, corou e se escondeu atrás do livro. Só se via seus olhos. - Falei isso alto, foi?
- Olha, eu não sei vocês, mas preciso ir trabalhar. - se levantou e jogou uma nota de cinquenta em cima da mesa. - Depois vocês me dão o troco ou sei lá, comprem uma caixa de camisinhas e ensinem a como se faz.
entrou no carro alguns minutos depois se sentindo esquisita e nem fora culpa do tal Lochinvar descrito por , mas sim pelas borboletas que cismavam em fazer coreografia em seu estômago. Não estava assim tão nervosa para encontrar mais tarde, estava? Talvez fosse falta de beijar na boca. Talvez fosse falta de sexo. Mas sexo com deveria ser sem graça, ele era tão esquisito, tão biólogo e tão magricela!
Deu um pequeno sorriso. Ele definitivamente era estranho, com aquela bolsa do Keroro para cima e para baixo, aquele cabelo esquisito, sempre analisando formigas...
deu boa tarde para todos na agência e se sentou, ligando o sistema. Logo recebera a notícia de que um hotel tinha ruído por causa de um pequeno tremor de terra, na Itália e respirou fundo; o dia ia ser caótico.

A loja estava razoavelmente cheia naquela tarde, então corria de um lado para o outro, buscando caixas e mais caixas, mas a realidade era que a sua chefe precisava contratar alguém para ajudá-lo antes que pirasse. Seus docinhos tinham de ser repostos a cada vinte minutos e a coleção especial de já não existia às 14h. E ainda iria sair de noite com , mas estava quase pedindo arrego, ligando para ela e desmarcando.
- , essas são Gybzy e Giftza, as professoras que te falei. - o jovem colocou as caixas no chão e estendeu a mão para as professoras. Bonitas, interessantes, definitivamente tinham a aura de "gatinhas sexies", mesmo que fossem quase trintonas. Engoliu a seco ao apertar a mão da mais baixa, Gybzy e sorriu forte para a mais simpática, Giftza.
- Prazer em conhecê-las, senhoritas.
- Por favor, chame-nos de "você"! - riu Giftza, fitando com seus olhos alegres; não devia ter mais de vinte e cinco, magro, alto, cabelos... errrr. Sorriso estranho mas aparentemente um doce de rapaz. Olhar não tirava pedaço e Giftza sabia muito bem disso; seu namorado dava de mil a zero naquele rapaz magro que mais parecia uma... uma lacraia.
- Se me dão licença, preciso atender. - ele meio que apontou para o balcão e as moças saíram da frente. - Sra. Claire? - arregalou os olhos, pedindo ajuda. - Preciso de alguém para me ajudar aqui, se continuar nesse fluxo, não sei o que será de mim.
- Não tenho tempo de procurar uma ajudante, querido primo. - rolou os olhos para a mais velha. - Quer uma ajudante? Ótimo. Encontre-a sozinho! - e saiu de perto, deixando a mercê de sua própria sorte.



C A P Í T U L O 3

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tinha os olhos marejados quando entrou no carro, mais tarde. Recebera uma advertência por uma pequena falha na emissão de uma passagem, clientes irritados e dólar nas alturas. Seu dia tinha sido terrível e só queria chegar em casa, tomar um banho quente e ir para a cama, mas tinha que sair com ... e quase pediu arrego. Mas talvez sair com tirasse da sua cabecinha a possibilidade de perder o emprego, precisava rir...
E se lembrou das palavras de , "Você não vai sair com essa roupa!"; então abriu o armário e pegou o primeiro vestido que viu. Era preto, decotado nos seios e curto, e um par de saltos bem altos para compensar sua altura. Jogou tudo em cima da cama e ficou olhando. Estava tão cansada, tão chateada, que guardou tudo, pegou uma calça jeans mais limpa, saltos não tão altos e uma blusa que não era assim tão decotada, finalizando com uma jaqueta. Estava bem assim, bem simples, nada apertava, nada machucava. Não ia fazer maquiagem porque não tinha clima, ainda mais quando bateu pó de arroz no rosto e se assustou ao se olhar no espelho e constatar que parecia a noiva do Frankestein. Mas de qualquer forma, ela deixou um bilhete para seu irmão, dizendo que iria sair e que ele podia ir dormir sem esperar por ela. Sabia que ia dar um xilique e fazer interrogatório, mas como ultimamente ele andava mais bêbado do que sóbrio, era capaz que ele dormir na porta de casa, como da outra vez, segurando o saco por dentro do short. Era melhor deixar a pá grande do lado de fora, caso tivesse que arrastá-lo para dentro.
estacionou o carro na frente da casa de e por volta das 19h30. Era seu primeiro "encontro" depois de anos, então estava especialmente ansioso. Não que tivesse planejado alguma coisa, mas pelo menos havia tomado um banho demorado e penteado os cabelos. Desligou o rádio e respirou fundo, olhando para baixo e tentando arrumar, sem muito sucesso, seu casaco de moletom azul, ganho de seu primo, estudante de colégio americano. Que droga, não tinha planejado NADA! Quer dizer... havia pensado em levá-la ao seu apartamento e jogar videogame enquanto os doces endureciam na geladeira. Ou talvez conversar sobre invertebrados, eles era divertidos e rendiam muita conversa, a cadeia alimentar, os animais marinhos, o desmatamento e seus efeitos; refrigerante era bom, não pensava em beber tão cedo.
Ajeitou os óculos de armação preta no rosto, respirando fundo mais uma vez. Espera, ele estava suando? Cruzes, ele só ia encontrar a irmã mais nova de um de seus grandes amigos, quer dizer, quantas vezes a vira... de longe, em um biquini branco, se jogando na piscina, dançando na frente da churrasqueira ao fazer uma comida tipicamente brasileira, so de blusa, sem short, com os cabelos molhados caindo sobre seus ombros e seus peitos se apertando durante uma brincadeira esquisita com o irmão?
- Calma, cara, respira, respira, isso, respira. - olhou para a janela, onde uma luz brilhava por entre cortinas. Ele precisava mesmo fazer aquilo? Poderia fugir, dar aquela desculpa de "meu cachorro morreu" e voltar para casa, passar o resto da noite entre verificar se os doces já haviam endurecido, jogar videogame e tomar algumas taças de suco de uva sozinho. E de qualquer forma, ela sabia que ele não tinha cachorro; qualquer coisa era só perguntar para , que era sua...
- QUE NOJO! - ele fez um careta, olhando novamente para a janela. A luz se apagou e quando deu por si, já estava na porta da frente. Estralou os dedos, todos os dedos nas mãos e quando ia tocar a campainha, abriu a porta. Ela estava até bonita, não fosse pelo nariz branco feito papel e por um olho maquiado e o outro, não. - Bo-boa noite.
- Oi, . - ela tentou sorrir, sem muito sucesso. - Hmm... e aí?
- E aí? - ambos ficaram em silêncio por alguns momentos antes de apontar para o carro. - Vamos?
- Ah, sim! - trancou a porta e, como não poderia deixar de ser, tropeçou no próprio pé porque sempre se enrolava com saltos. abafou um pequeno sorriso mas ainda assim, abriu a porta do carro para ela. Era incomum um cara fazer isso nos dias de hoje, mas afogar o carro a cada trezentos era pior do que sair com metade da cara maquiada.
Aquele era um dos piores momentos da vida de . Estava sem idéias, não sabia o que falar, onde pôr as mãos. Bem, sabia onde gostaria que elas estivessem e...
- Não, , se controla, foca no trânsito!
- Que?
- Ah, nada, de vez em quando falo sozinho. - concordou com a cabeça e calou a boca. Se ele dizia isso, então...
Passaram a viagem em silêncio, pelo menos em grande parte. ligou para o celular de e, como a estilista não sabia falar baixo, conseguiu escutar trechos da conversa.
- Você comprou camisinhas? Espero que de morango, é super boa! E fez os exercícios pélvicos que te indiquei no Facebook? Aff, , você tem que treinar! Uma vez estava em Bangkoc e assisti a um show que...
- , cala.. a... a boca. - disse entredentes, corando de vergonha. - Olha só. Te ligo depois, ok, tchau. - e desligou, sem esperar retorno. Balançou a cabeça tristemente e deu com olhando para ela. - Minha amiga é escandalosa.
- É, percebi. - ele sorriu, fazendo uma pequena curva. Então desligou o automóvel e suspirou. - Chegamos.
focou o olhar nele, meio sem graça. Ah, como desejava uma piña colada naquele momento, para ficar tranquila! Havia saído com vários caras nos últimos meses mas não sabia por quê estava tão entusiasmada. Todos os outros nem chegavam a beijá-la, dizendo que era muito instável; sexo então, nem pensar! Por isso estava empolgada com o carinha de sábado mas ele tinha sumido para o universo paralelo de Bic e não dera mais notícias. Talvez fosse só mais um para sua lista de amigos estranhos, mas tinha alguma coisa que a deixava com uma ponta de esperança, ao menos de ser beijada.
Lançou um breve olhar ao rapaz magricela ao seu lado, que girava a maçaneta da porta e entrou na sala escura, logo clareada pela lâmpada e não por velas. Já começava por aí. Um apartamento até ajeitadinho, uma mesinha com uma televisão, um sofá, uma mesa de plástico e um armário.
- Me mudei faz pouco tempo, então ainda estou decorando. - explicou, puxando-a pela mão até uma porta entreaberta. Empurrou-a de leve e ligou a luz. Uma cama de casal bem arrumada, o edredon sem frisos e um armário de mogno alto, bem bonito até, e uma pequena mesa com um notebook em cima. Na parede, um quadro de uma foca gigante e um mural, com algumas fotografias de e seus amigos mas em sua maioria, fotos de bichinhos. foi direto neste, puxando uma fotografia onde estava , , e , há aproximadamente um ano, a constar pelo corte de cabelo de . até abriu a boca mas já tinha perdido a vergonha e se jogava na cama fofa de , de rosto para baixo. O garoto piscou algumas centenas de vezes, sem saber se era melhor ir para a cozinha ou ficar ali. Talvez ela quisesse já partir para os finalmentes, então abriu uma gaveta, sem fazer barulho, e pegou seu rolo de sisal, já tirando um bom pedaço; se fosse amarrá-lo, ele seria mais rápido. Tirou o casaco e a blusa que estava por debaixo, revelando o peitoral magro e branco - detestava sol. virou de frente, lembrando de alguns momentos de seu passado, que deveriam ter sido queimados e quando menos esperou, uma cara branca, magra, de cabelos para cima e olhos amendoados apareceu na sua frente.
Instintivamente, esticou um pé e jogou para trás, um pequeno golpe de artes marciais, dos tempos de ensino médio. voou por cima do corpo assustado de e bateu forte no chão, depois de bater com o queixo na mesinha de cabeceira. virou-se na cama grande, engatinhando até a outra ponta, de onde vinha os gemidos de dor de e perguntou se ele estava bem.
- Eu... me desculpe, achei que você fosse...
- Fosse o que? - ele se virou se frente, arfando e olhando o rosto emoldurado por cabelos pouco longos; eram na altura dos ombros.
Os olhos dele pararam exatamente no pequeno decote da blusa dela; deixava boa parte de seus seios a mostra. engoliu em seco e pôs a mão instintivamente no bolso, apertando o bolo de sisal que tinha.
- Sei lá, me agarrar.
- Achei que quisesse isso.
- É claro que não! - ela ergueu as sobrancelhas. Voltou a sentar na cama e ajeitou a blusa. se sentou no chão e pôs a mão na cabeça. - Desculpe.
- Não tiro sua razão. - fez um pequeno bico e puxou a camiseta de cima da mesa do computador, ao lado da porta. - Vamos começar de novo?
- É bom.
- Quer fazer sexo?
- Não. - fez pausa. - Você quer?
- Não. - suspirou. - Vamos para a sala?
- Você não tem televisão? - piscou.
- Não sou a favor de alienação imposta por emissoras de televisão. - piscou. - Mas tem o computador.
deu uma pequena risada e a acompanhou. Se sentia tola, infantil, envergonhada. Dera a sensação errada desde que saíra de casa. Era realmente uma panaca...
- Você não disse que ia me mostrar os doces? - coçou o nariz de leve e se levantou, enfiando a camiseta de qualquer jeito e tateando de leve o sisal no bolso. Colocou algo que se assemelhava a pantufas em formato de pinguim e esticou a mão para .
- Desculpa. Realmente, te chamei para me ajudar a criar os doces, acabei confundindo as coisas. Espero que possamos ser amigos e deixar o que acabou de acontecer no passado.
- Eu concordo. - riu de leve, segurando as mãos suadas de e sendo conduzida até a sala mal mobiliada, largando do dono da casa para que o mesmo pudesse trazer para o balcão seus doces pervertidos. Desta vez, as fôrmas eram de partes íntimas femininas e ao ato propriamente dito. A agente de viagens riu de leve antes de explicar e completou: - É que ainda não me acostumei em ver tantas coisas pervas na casa de alguém. Geralmente a guarda o que usa com .
sorriu, abrindo a geladeira e pegando dois sacos com conteúdos avermelhados, os novos recheios; alguns doces pela metade e levou para a mesa de plástico que tinha bem no meio da sala. o acompanhou e se sentou no sofá, puxando a mesa um pouco mais para perto.
- Primeiro faço o formato que quero. - ele mostrou a fôrma limpa, em formato de borboletas. "Talvez ele não seja tão tarado", pensou ela. - Derreto o chocolate, preencho os espaços da fôrma e levo para o congelador. Quando estão no ponto, tiro e coloco o recheio. - demonstrou, apertando um pequeno aplicador com um recheio que parecia doce de leite; preencheu o espaço da borboleta já fora da fôrma e procurou um pedaço sem recheio. - Geralmente faço duas fôrmas aomesmo tempo e uma coloco o recheio. No final, pego isso aqui - ele mostrou outro aplicador - e fecho os dois, com chocolate.
- Então, tem que deixar endurecer? - mordeu os lábios. - O chocolate!
- Isso. Te chamei aqui porque fiz uma experiência maluca e criei um sabor novo. - ele preencheu um pedaço de coração com algo esbranquiçado e viscoso, e entregou a . Seu rosto queimava. Ou melhor, o rosto de ambos queimava. - Chamarei esse de Explosão de Gozo.
- Nome interessante! - mordeu o doce e beliscou a coxa; o recheio caía por seu queixo e antes que ela pudesse limpar, caía bem no meio do decote de sua blusa. - Ah, que droga! - meteu o dedo por entre os seios e tirou o que tinha caído.
Cada minuto valia uma eternidade. nunca quis tanto ser um dedo indicador na vida, passeando por aquele par bem guardado, daquele corpo bonito e... , foco, , FOCO! Era a irmã de seu amigo , lembrou. E ele o mataria se soubesse que estivera pensando coisinhas com a irmã dele, afirmou. Então pigarreou alto, ao que olhou para ele com um jeito inocente, o dedo na boca.
Por Deus, se não se controlasse, ela poderia perceber sua... sua...
- Err, então, o que achou?
- Estava delicioso! Senti um gostinho de doce de leite, mas é branco, então... mais coco do que doce de leite?
- Isso aí! - estalou um dedo e apontou para a moça, piscando um olho. Pegou um chocolate em formato de chicote e pôs um líquido avermelhado, ao que mordeu, continuou. - Esse é de cereja com pimenta.
- Ui, sexy! Ficou maravilhoso, vai fazer sucesso. - corou apesar do sorriso. Aquela coisa de encher os doces de recheio tinha seus lados bons e ruins e agora, precisava cruzar as pernas para que não notasse sua felicidade. - E como chamará este?
- Paraíso Picante. - fez cara de entendida. - Sei lá, criei esses nomes agora, a julgar sua reação. - abriu um sorrisão. - E foram boas, aliás...
- Me ensina?
- O... o que?
- A fechar os doces. Parece ser difícil... - esticou o aplicador. - Não sei, tenho medo de cagar os doces.
- Larga de ser fresca, é só apertar com força que o recheio sai! - ele mordeu os lábios e ambos riram. - Anda, você consegue!
se levantou e seus saltos bateram no taco; suas unhas curtas e cor de café tatearam o aplicador e ela fez força para preencher um doce puro, sem muito sucesso, por isso riu.
- É duro.
- É, estou sim! - disse ele, sem perceber. Logo se recompôs. - Digo... eu te ajudo. - pigarreou e abraçou de leve, tentando não encostar sua cintura nela, foi muito difícil. Ela usava um perfume de morango tão gostoso que algumas vezes dava vontade de mordê-la. Ele novamente coçou a garganta e ajudou-a a apertar o recheio e quando viram o chocolate sendo preenchido com o doce, ambos sorriram.
- Rá, eu consegui! - ela virou o rosto.
- É, estou vendo. - seus olhos esquadrinharam o rosto da agente de viagens e ele engoliu em seco; no momento seguinte, ele tentava aproximar-se um pouco e quando estava quase beijando , a campainha tocou.
Não, a campainha não tocou. Simplesmente prenderam o dedo na campainha!
E tinha uma vaga idéia de quem seria.
- Cara, - uma voz alta e arrastada espancava a porta, pelo lado de fora. - me deixa entrar, eu preciso de você!
soltou os braços de de si e jogou o aplicador na mesa, quase derrubando um monte de chocolates semi preparados. continuava esmurrando a porta, choramingando ”Abre essa porta, cara!”, e finalmente se alarmou.
- O que ele está fazendo aqui? - perguntou baixo. esticou os braços numa atitude de “sei lá!”.
- Precisamos te esconder!
- É, bom, né, é ciumento pra caramba!
- , abre a porta! - se agachou no chão, ainda chorando, de costas pra porta. - Ninguém me ama... ninguém me quer! Até meu melhor amigo me odeia!
olhou para os lados e sabia que, do jeito que era, iria se jogar no quarto, então abriu a porta do armário da sala e apontou.
- Você ficou maluco?
- Isso ou teu irmão matando os dois. - franziu a testa e afastou algumas roupas do armário, sentando-se onde dava. fez um sinal de silêncio, mostrou o dedo do meio. Só faltava essa! Se esconder do irmão, porque ele tinha ciúmes de qualquer cara que chegasse perto! Tudo por culpa daquele ex-namorado cretino, que deveria estar agora ardendo no mármore do inferno!
guardou uma garrafa de vinho que tinha tirado da geladeira quando foi buscar os chocolates, mexeu a cabeça para os lados, sacudiu a camiseta, porque estava suando de nervoso (de novo!) e foi até a porta. Obviamente caíra para dentro do apartamento quando o amigo abriu a porta mas se recuperou logo, abraçou as pernas finas de e choramingou.
- Eu não sei o que fazer, a me expulsou de casa e a não atende o telefone, acho que ela foi abduzida e levada para o planeta dela de volta! - fez careta e tentou tirar o carrapato da calça.
- , desgruda!
- Meu mundo caiu! Perdi a garota que gosto e minha irmã nunca mais retornará ao planeta Terra! Quem vai cuidar do apartamento dela? Não tenho cópia das chaves e eu não guardei como abrir portas usando grampos! E se ela nunca mais voltar? Não quero voltar praquele fim de mundo que é minha cidade!
- Cara, o que você bebeu? - levantou o rosto para o dono da casa, que ainda tentava desgrudar o amigo de sua perna, com olhos de gato de botas. Fez um bico.
- Você não vai me jogar pra fora também, vai?
- Não, mas...
- MEU MELHOR AMIGO!
rolou os olhos, dentro do armário; agora entendia e suas caras feias quando ela começava a falar de seu irmão. Agora entendia todas as vezes que ela queria matá-lo e dizia para ela dar um jeito no irmão. Porque o amava muito mas essa coisa de beber realmente destruía tudo e, junto com o não saber que raios era aquilo, namoro, morar junto, juntar os trapos, juntar escova de dentes, dividir a mesma lata de lixo, casamento, noivado ou o que fosse - detonava ainda mais.
- jogou todas as minhas roupas no corredor do prédio e o cachorro da vizinha fez xixi na minha camiseta do Celtics. - fungou . esticou um copo de água mas foi direto no aplicador de Explosão de Gozo, jogando grande parte na boca. - E nem me deixou explicar que estava fazendo trabalho de final de faculdade na casa do ! Nossa, o que é isso, muito bom!
- Um sabor novo que criei. Quer parar de comer? Pretendo lançar isso amanhã! - fez cara de choro quando arrancou o aplicador de suas mãos e começou a afastar os chocolates de perto dele. - Daqui a pouco fica gordo e vai me culpar de novo. E não adianta fazer essa cara, cara, o que você bebeu?
coçou a cabeça.
- Sei lá. Mas não tenho teto. me expulsou.
bufou. Isso não era novidade...
- O que você disse pra ela?
- Ela abriu a porta, certo. Aí perguntou se eu tinha perdido minhas chaves e quando vi aqueles rolinhos de macarrão no cabelo dela, perguntei quando seria o parto, porque ela estava imensa. Mas aí eu percebi... que se teria parto, significaria que o filho seria meu, aí comecei a ficar nervoso. Ela me mandou calar a boca, me deu uns tapas realmente fortes, ó - ele mostrou o bochecha, onde tinha direitinho as marcas dos dedos de - começou a chorar, me chamou de insensível e tacou minhas roupas no corredor. Aí veio o Puff e mijou na minha camisa do Celtics e ela trancou a porta e agora estou do lado de fora, sem roupas e totalmente indefeso para o ataque dos elementos!
- Elementos?
- É, da natureza. Tufões, tsunamis, pombos cagando no meu cabelo, e você sabe que detesto bichos voadores depois daquele dia. E não venha me dizer que pombo usando seu cabelo de banheiro é sorte porque desde então só me meto em roubada.
- Eu não ia dizer nada.
- Ótimo. - sentou-se no sofá e agarrou uma almofada. Quando pensou que poderia encaminhar o amigo para seu quarto e cantar uma música de ninar qualquer, voltou a choramingar, dizendo que não poderia perder por nada. Quando indagado novamente se amava , berrou que precisava dormir. - E essa garrafa de vinho? - engoliu em seco. - Ia receber alguém? - começou a suar dentro do armário, e, consequentemente, ficou estabanada; deu uma cotovelada na porta. olhou para o armário e empurrou uma caixa de madeira que estava em cima da bancada, sem ao menos tirar os olhos de . - Cara, estou atrapalhando?
”Claro que está, , ai que vontade de contar tudo para a mamãe, seu bêbado inconsequente!”, pensou , entrando em fúria. Sentia as fumacinhas saindo de suas orelhas.
- Um pouco, err... mas tudo bem. - tirou a garrafa das mãos do amigo e deitou-o no sofá. - Olha, se eu cantar a música dos três porquinhos, você se acalma e dorme? Eu tento localizar a sua irmã no celular.
- Tem o número dela no meu celular. - puxou o aparelho do bolso e começou a discar; novamente sem tirar os olhos do amigo, tacou o aparelho longe. - Cara...?
- Prefiro que você descanse. Eu cuido disso. Quer dormir na minha cama? Eu durmo aqui na sala. Não tem problema. - ele tentou sorrir e assentiu com a cabeça. rolou os olhos. Pelo amor de Deus, quantos anos achava que tinha? Quatro? De qualquer forma, teria que procurar mais de uma história para fazer acalmar, ou então pegando uma panela e batendo na cabeça dele... como ela tinha o costume de fazer, até o dia que ele foi morar com e ela ficou sozinha no apartamento dos pais - eles haviam voltado para o país de origem do pai de . Ambos eram muito responsáveis, só que era meio canastrão, mentiroso e depois que completou vinte e um, adotou a marchinha da cachaça e da água. vivia escondendo as bebidas, trocando de lugar, mas sempre achava. Não que ele fosse um bêbado, mas quando bebia, não sabia a hora de parar. Muitas vezes eles brigaram mas era ficar nervoso com alguma coisa que tudo ia por água abaixo. Seu relacionamento com estava aos trancos e barrancos e, apesar de saber que aqueles dois se amavam muito, não conseguia entender a dinâmica da coisa, de viver junto há seis meses sem uma troca coerente de status no Facebook.
Assim que dormiu, correu até o armário; estava encostada em seus casacos mais fofos e quentes, cochilando. Por alguns momentos se sentiu um tremendo safado por ter deixado a menina esperar dentro de um lugar fechado por quase três horas; mas depois preferiu observá-la: parecia um anjinho sem asas, um par de peitos bonitos, bunda gostosa e lábios mordíveis - dormindo. Tirou um braço de cima de seu colo e colocou em volta de seu pescoço, segurando-a no colo logo em seguida. não se mexeu. deitou-a em sua cama, e foi então que ela acordou e deu-lhe um soco.
- ? - fez, quando coçou os olhos
- Acho que quebrei o maxilar, dessa vez. - ele mexeu o queixo devagar. - Ok, está tudo certinho. Sabe, você precisa controlar essa força, parece uma lutadora de artes marciais.
- Te bati de novo? - ergueu uma sobrancelha. - Perdão, é que me assustei. - E ?
- Apagado no sofá da sala. - se levantou e foi até a sala, observando o irmão vai velho todo arreganhado, dormindo. - Fiquei com medo de acordá-lo, deixei ele aí. - Você ouviu, é?
- Ouvi. é um bom rapaz, mas ainda é muito imaturo para certas responsabilidades. - sorriu para . - Acho que levarei ele para casa.
- Nah, deixa ele aí. Acordá-lo e explicar por quê você está aqui seria complicado. Queria te pedir desculpas, não tinha planejado isso.
- Não tem razão para isso. Conheço o irmão e a amiga que tenho. Te agradeço por ser um bom amigo pro , quero dizer, poucos abririam a porta no meio de um encontro para acudir um amigo bêbado. - deu um sorriso encabulado. - Você é bacana, . Se gosta de você e agora sei a razão, também gostarei de você. - ficou todo pimpão. Ela gostou dele, achou-o divertido e tinha passado bons momentos recheando doces em formatos penianos enquanto tomavam Soda quente. Isso só poderia significar o início de um belo fler... - Espero que possamos ser bons amigos.
Pontes que partiu, bons amigos!
murchou como uma Explosão de Gozo verdadeiro. Ela queria ser amiga dele? Não que ele esperasse alguma coisa a mais, mas por alguma razão aquilo o magoara fundo. Talvez fosse só fome, afinal só tinha um bombom no estômago desde quando saíra de casa, horas antes. Poderia fazer um sanduíche mas estava tarde e tinha de levar para casa. dormiria feito pedra até mais ou menos dez da manhã; então dava tempo.
Mas, em silêncio, colocara o irmão nos ombros, em toda a sua magreza segurando aquele mini tanque militar roncando e babando, e saiu do apartamento de , sem dizer uma palavra; ele a seguiu, claro, e antes que um taxi parasse, sugeriu uma carona. Foram até a casa de , onde a estudante relutou a presença do ex-não-oficial-talvez-quem-sabe namorado, mas diante dos olhos apertados e a aura negra invocando Bruce Lee de , ela abriu a porta e deixou que deitassem em sua cama de casal. Quando disse que iria dormir na sala, fez cara feia, e não falou mais nada.
atacou a geladeira. vivia fazendo isso na casa dele, por quê não um troco?
- Sinto muito por isso. - estava vermelha, momentos depois quando chegaram na porta de sua casa. - e tudo o mais.
- Sabe que até que foi bom? - pensou alto, coçando o queixo e abaixando a cabeça, lançando um olhar tenro para . - Assim, posso marcar outro dia contigo. O que acha?
- Seria bom. - sorriu forte, implorando aos céus para que, nessa segunda vez, ela usasse uma blusa bem mais decotada. - Boa noite, .
- Boa noite, .
- Ah, outra coisa. - virou-se, na porta de casa. - Devia cuidar melhor do seu mural. E aprender a esconder melhor certas coisas - riu, piscando um olho e jogando um beijo para o ar. franziu a testa. Do que ela estava...? - Minha foto do verão passado, na praia. Não deveria estar no seu mural. E tinha umas manchas estranhas, mas não vou entrar em detalhes. Está tarde. Mande-me uma mensagem quando chegar em casa... amigo. - e bateu a porta, largando bolsa, sapatos e roupas pela casa.
fez um bico; ainda estava com o ‘boa noite’ nos lábios, assim como o provável beijo de boa noite que tinha pensado. Não tinha mesmo lembrado da fotografia, mas que fosse... já era tarde.
Beijou de um estalo o vento frio da noite, antes de dar as costas e voltar para o carro. Super frustrado.

.x.

virava a página de um livro quando apareceu bocejando, na mesa de sempre, bem no meio da faculdade grande. Era dividido em cinco setores, grandes prédios, e no pátio principal contava com grandes mesas de mármore eo céu aberto. A mesa do quinteto era uma das mais disputadas porque ficava debaixo de uma árvore centenária. Muita gente já tinha caído na porrada por ela, mas depois dos boatos de e o ex namorado, ninguém se atrevia ao menos chegar perto, então, naquele momento, estudava para uma prova e tentava colocar na cabeça de que ela precisava mudar algumas atitudes, caso quisesse de volta. E ele parecia estar muito bem sem ela, porque já estava no meio de um grupinho de menininhas histéricas, uma igual a outra, com seus cabelos loiros platinados, cara muito branca, batom vermelho prostituta e rosa bebê e vestidinhos e saias curtas. De longe, só ficava analisando, se perguntando o que elas tinham que ela não tinha, e sempre repetia:
- Posso fazer uma lista agora mesmo, quer? - e continuava choramingando. - Pra começar, você não é nada fashion. Você parece um saco com essa calça, essa blusa esconde muito, cabelo preso não é legal, você faz sobrancelha?
- Nunca fiz...
- Talvez se você se cuidasse um pouco mais, e mexesse no cabelo e tirasse essa cor horrível e...
- Me deixa! - deu um safanão na mão de , que soltou um barulho estranho e voltou sua atenção ao bolinho de chocolate que tinha em mãos. - Eu só queria o de volta...
- Nada que uma saia, um salto e alguma mudança de atitude não resolva. - deu um oizinho e se sentou, ao lado de . Pegou um dos pães doce que tinha na mesa e começou a comer. - Bom dia!
- E aí, como foi ontem?
- Teria sido bacana se o e a não tivessem brigado de novo. - ela suspirou. - Mas foi bacana, foi bacana. Ele me ensinou como fazer os doces e me apresentou dois sabores novos.
- Ah é? - chegou por trás, erguendo uma sobrancelha, curiosa. - Quais?
- Explosão de Gozo e Paraíso Picante.
- Nomes interessantes... - se sentou do lado de e mexeu nas unhas. - Diferentes.
- estava contando que você e brigaram de novo. - foi direta. - Resolveram?
- Sempre resolvo meus problemas com ! - olhou feio para , que engoliu em seco mas mandou o dedo do meio. - Nós transamos.
- Tem alguma vez que vocês sentam e conversam como duas pessoas normais?
- Não... - ele fez voz de desdém, pegando um pão e comendo sem interesse. - E você e o ?
- Que tem?
- Como foi?
- Ah, foi legal. Tirando os momentos que bati nele. E espanquei ele. E deixei uns hematomas nele. Vocês sabem como fico quando me assusto. - virou outra página de seu livro e suspirou, chamando a atenção. continuava observando no meio de um monte de meninas bonitas, com um certo grau de nostalgia; mantinha os olhos grudados na amiga mais nova, pensando seriamente em pedir a para construir uma máquina embelezadora, mas espera, já tinha! arrancou um pedaço do pãozinho, comendo em pedaços.
- Meu final de semana vai ser um saco. - confessou a segunda mais nova, enfiando o livro dentro da bolsa. - vai viajar a trabalho e eu tenho um mega trabalho para fazer.
- Não, não, pode tirar o cavalinho da chuva que amanhã todas temos aula.
- Mas ! - fechou a cara. - Amanhã é sábado!
- E daí que é amanhã é sábado? - ergueu uma sobrancelha. - Estejam na Hot Shit às dez - e completou, sorrindo ameaçadoramente. -, inscrevi todas nós para as aulas de pole dance.
piscou algumas vezes; deu um grande sorriso e quase teve um infarto; fora criada sob vigiância constante, onde um simples batom era sinal de luxúria. Sempre prendera o cabelo em rabo de cavalo, usava saias com altura mínima nos joelhos e sapatos baixos. Vivia mais reclusa que Howard Hughes e a primera vez que vira um lápis de olho, usou-o para uma prova de matemática.
- Mas não precisa das nossas assinaturas? E pagar mensalidade?
- Relaxem, gatinhas, tia tem suas manhas! - ela se recostou na mesa com um braço. - E era a melhor aluna de artes da escola, copiar suas assinaturas foi moleza!
lançou um olhar perverso para . Ok que ela estivesse feliz por ter feito sexo na noite anterior mas não dava direitos de inscrevê-la em algo que nem sabia se queria fazer. Não que condenasse pole dance, mas não tinha nada a ver, e ainda iria topar com , ele iria vê-la subindo e rodando e era no mínimo constrangedor.
- Vou para a aula. Não poderei sair hoje a noite, tenho um gatinho para fisgar novamente. Beijos e beijoquinhas na bunda, garotas! - e saiu rodando a mochila.
- Dei a ela uma das peças novas da minha coleção de verão. - sorriu. - Pedi para fazer um teste. É a única com vida sexual ativa aqui, além de mim, nem vem! - defendeu-se, quando abriu a boca, incrédula. - As lingeries de vocês estão guardadinhas em casa, mas só quando vocês derem mais de uma vez por dia. Você, - olhou para . - bem, quando você resolver dar.
- ! - ela corou.

- E aí, como foi? - colocou o notebook do lado de , sozinho na biblioteca. Era tarde, todos os alunos já se preparavam para ir embora, e por algum acaso, ela o encontrou quando estava a caminho da cantina. Lá no fundo algo a incomodava, naquele caso todo em tentar uní-lo a , mas ela gostava muito dos dois, achava que se mereciam. Mas um lado muito grande da moça dizia para ela colocar em prática uma de suas várias vinganças contra , simplesmente porque ele merecia. Por tudo.
Mas o biólogo continuou a digitar fervorosamente seu trabalho sobre BioFísica. Pensava loucamente na noite anterior e no que poderia ter acontecido se não tivesse interferido daquela forma. Provavelmente teriam acabado na cama, mas de uma forma que não houvesse socos e chutes; provavelmente mordidas, mas...
- LACRAIA! - o assustou, jogando uns livros em cima da mesa. A bibliotecária pediu silêncio, então a estudante puxou uma cadeira e se sentou, desculpando-se por gestos.
- Por que você me chama de Lacraia? - perguntou ele baixo, porém irritado. - Tá me chamando de nojento?
- Não estou chamando, estou afirmando. - tirou a franja de cima de olho. - Nojento, asqueroso e definitivamente uma lacraia.
O biólogo cruzou os braços, depois de salvar o texto.
- Ok, ok, eu explico, quer dizer, já tinha te dito isso mas você é burro demais para lembrar. - ela abriu o Youtube, depois de tirar o notebook de suas mãos, e procurou um vídeo da dançarina Lacraia, em um programa de televisão, anos antes. Tirou o som. - Lembra daquela festa do grupo, há uns dois anos, que você bebeu demais, subiu no palco e achou que era a Lady Gaga? Você parecia isso aqui.
- E por causa disso você me chama de lacraia? - sorriu forçado, apertando de vez os olhos pequenos, mostrando todos os dentes.
- Há vários outros motivos mas esse é o principal. - fez bico; mas ele não se parecia mesmo com aquele cara de sainha rebolando no palco. Lembrava vagamente de subir no palco e de segurando sua cabeça, momentos depois, quando começou a vomitar. Mas não tinha rebolado... tinha? - E tenho vídeos que comprovam isso. Estão na minha conta do Youtube e posso fazer com que você vire a nova sensação da internet se você não fizer o que vou te mandar fazer. - estreitou os olhos.
- Você gravou? - perguntou ele, incrédulo, sussurrando.
- Acha que ia deixar passar, meu bem? - ela riu. fitou fortemente, alternando com a figura magra rebolando no computador. - Quero que faça algo para mim.
- E se eu não aceitar?
olhou para o computador, assoviando uma música de terror. Espalmou a mão para o vídeo já finalizado.
- Você é uma... uma...!
- Cobra? Vaca? Piranha? Perua? - deu uma risadinha de escárnio. - Somente, meu bem, somente. - fez-se uma pausa. - E aí? Vai ou racha?
- Você não teria coragem...
- Ah é? - sorriu, abrindo sua própria conta do Youtube e mostrando os vídeos: vai até o chão parte 1’; ‘Shake That Ass, Biatch!’, ‘ vai até o chão parte 10’, ‘Sou mais gostoso que a Búhdi... Cheng o que?’ - Agora, - ela coçou o nariz - devo te dizer que olha, se você se inscrevesse naquele ‘Dança com os Artistas’, seria um forte candidato ao ‘Maior Fiasco Dançante dos Últimos Tempos’!
- , achei que tínhamos deixado essa coisa de vingança no passado!
- Você sabe que não sou de esquecer as coisas rápido, meu amor. Além do mais, semana que vem a galera de Geografia está pensando em fazer churrasco. Se eu fosse você, concordava, se não, acho que o pessoal iria-
- Tá, ok, ok, é minha reputação que está em jogo!
- E seu bumbum peludo também, queridinho!


C A P Í T U L O 4


dormia placidamente, tendo sonhos muito colorido e com bóias, e era o salva vidas da piscina. Ela usava um biquini branco, cuja parte de cima amarrava no pescoço e, de repente, no meio de sua pequena exibição de nado nada sincronizado para , e ele parecia gostar, quando, vindo sabe-se lá de onde, uma onda a afogou. saiu correndo de seu posto e a resgatou, deitando-a no chão marmorizado; um filete de água saía da boca da agente de viagens. Ouvia as vozes ao longe e sentia os tapas nada singelos de em seu rosto quando começou a voltar a si.
- Eu sei fazer respiração boca a boca, deixem comigo!
- Você é uma lacraia, não sabe fazer as coisas!
- era a voz de , aos berros.
abriu os olhos bem devagar, vendo a fisionomia molhada de se aproximar mas quando ele começou a chegar mais perto, se transformou em , seu meio irmão, e deu um grito, sentando-se de vez no chão. Atingindo ou , não sabia, em cheio na testa.
Um gemido a fez perceber que não era bem um sonho; estava caído com a mão na testa, sua expressão era de muita dor. Também pudera! Não se batiam desde quando tinham sete e nove anos e se trombaram na sala de casa, cada um vindo de um canto, achando que poderiam virar os super gêmeos. Se bem que de gêmeos não tinham nada...
A pancada foi tão forte que desmaiou e ficou com um galo gigantesco no meio da testa. Depois disso, nunca mais assistiram o desenho dos Super Gêmeos.

De qualquer forma, brincando ou não, agora apertava a testa com força em cima da cama e gemia de dor. também sentia dor de cabeça, mas esta era causada pelo sonho virando pesadelo; na realidade, era mais confusão: não conhecia , só tinha encontrado com ele pouquíssimas vezes e dentro dessas vezes, contabilizou duas vezes apenas falando mais do que “oi”. Não tinha nexo pensar nele daquela forma.
- O tempo passa mas você continua cabeça dura! - gemeu, agora vendo estrelinhas no teto do quarto. deu um tapa em seu braço, só entendendo o que tinha acontecido naquele momento.
- O que você está fazendo aqui, garoto? Você não tem casa? Brigou com a de novo?
- Na verdade senti saudades da minha irmã predileta e vim ver como você está. Faz tempo que não temos nossos papos de irmãos e sentia falta disso, mesmo você me batendo com essa arma letal chamada testa. - ele pôs a mão no galo. - Você não deixa de ser cabeça oca.
- O que quer, ? São duas e meia da manhã!
- Já disse que vim te ver e conversar. Porque preciso de um favor seu mas não quero que você tope.
- Espera. Você quer que eu te ajude... mas não quer que te ajude? - fez que sim com a cabeça. suspirou. - O que vou ter que aprender agora?
- Na verdade, queria que você saísse com um amigo meu. Ele não é um machista, prometo a você! - complementou rapidamente, quando a irmã fez cara de “Que?” - Ele tem 24, é universitário e muito aplicado. É o , você lembra dele, não...?
- Aquele esquisitão que conversa com as árvores?
- Sim. - ergueu uma sombrancelha.
- É que estou preocupado, sabe, ele anda meio pra baixo, acho que ele tá saindo com alguém. - engoliu a seco. - Mas a última namorada dele realmente foi uma vaca com ele. Então tenho medo. Ele é como um irmãozinho mais novo pra mim e quero que ele esteja com alguém que não maltrate. Como te conheço há anos - rolou os olhos - e sei que apesar de ser desse jeito, é uma garota muito legal e divertida, seria legal ter alguém que eu conheça e goste perto de alguém que conheço e goste. Entendeu?
- Hm. - franziu a testa. - E você não quer...?
- Porque não quero que você namore tão cedo! Vai continuar sendo minha irmãzinha pura feito uma garrafa de Tequila recém engarrafada.
- , se você acha que... ah, deixe para lá. Até faria esse favor pra você, mas estou saindo com alguém.
- QUEM É? Me diz quem é que eu pego de sopapo e... quer dizer. - pigarreou. - Eu conheço?
- Conhece. Inclusive já conversou com ele algumas vezes. - ela deu uma risadinha. coçou a cabeça. - E agora, se me permite, irmãozão, preciso dormir. Meus dias têm sido um caos total e quase implorei por esse final de semana.
não respondeu; apenas tirou os tênis, o casaco e puxou a coberta, Pegou um dos travesseiros de e colocou debaixo da própria cabeça, virando de costas. Mas não fechou os olhos, pensando no que tinha acabado de escutar. Amava a irmã da sua forma, mesmo que só pedisse ajuda para furadas e fizesse cagadas, mas ainda assim, ela era sua bebê desde que os pais haviam partido para outro País. Estava aterrorizado: sua irmãzinha estava saindo com alguém, beijando alguém, abraçando alguém, fazendo sexo com alguém! Não que o último caso fosse vontade dele mas todas as outras... ela o havia trocado!
- , você está namorando? - perguntou, sem se virar. puxou o cobertor para si.
- Não. Só vendo uma pessoa.
- Me apresenta, tá? Quero saber com quem você anda metida errr... - sorriu, sentando na cama.
- Está com ciúmes, ?
- Não!, é só que... - ela puxou o cobertor para ele e disse baixo, em seu ouvido:
- O seu posto de homem da minha vida, ninguém tira, ! Vou ter que repetir quantas vezes? - ele deu um sorrisinho de soslaio. - Agora vai dormir. - deu um beijo na bochecha do irmão e se virou para o outro lado. Francamente! era meio carente desde que tivera uma namorada, nos tempos do fundamental, e ela o tratava super mal. Com isso, ele se acostumou a ser dependente e o tratava meio mal, mas era pra ver se ele dava uma “sacudida”. Então ele bebia muito para ter coragem de fazer as coisas. E sempre acabava brigando com a peguete de seis meses. Ele gostava de , mas tinha medo de assumir.

não pregou o olho. Não porquê o irmão não parava de roncar ao seu lado, mas porquê não entendia aquele sonho estranho com . Não tivera nada mais do que uma noite engraçada, e agora ele povoava seus sonhos. Vai ver era porque fora o único que dera bola e realmente parecia estar afim dela.
estava afim dela?
- Vai dormir, , está imaginando coisas...

.x.

Havia amanhecido e já tinha tomado banho e arrumado a casa. provavelmente dormiria até tarde, então fez bilhetinhos em post it’s azuis e colou na parede; sinais que o levavam até o café da manhã que ela preparava para ele. Foi na rua e acordou o chaveiro, pedindo para fazer uma cópia de sua chave para ; comprou os ingredientes e fez o pão que iria comer, fritou os ovos que ele tanto gostava e até fez suco. Esse era seu mal; se deixasse fazer seu pequeno drama de “ninguém me ama, ninguém me quer”, no dia seguinte ela acabaria por fazer todas as vontades dele.
Teria aproveitado mais o momento só se o telefone de casa não tivesse tocado e , aos berros (como sempre), dizendo que estaria passando dali a trinta minutos para buscá-la para a aula de pole dance. não entendia como tinha conseguido o tal feito de inscrever todas mas preferia não falar nada. Subiu, pegou uma roupa no armário ( continuava com a boca escancarada, ocupando a cama toda) e se vestiu no banheiro.

Logo prendeu o dedo na campainha estridente e irrompeu porta adentro, aos berros, chamando pela amiga.
- Meu irmão está dormindo, pode gritar mais baixo? - pediu. colocou as mãos na cintura e estalou a língua.
- Sabia que ele estava aqui. Cadê? Cadê?
- Não briga com ele. - empurrou a amiga pela porta. - Vamos logo, não é melhor? - fez bico e uma buzina fez-se presente na rua vazia. Era , no banco do motorista de uma kombi amarela e branca. - Mas o que...?
- Meu carro quebrou e comprou uma kombi. Não lembra das lotadas lá do Brasil? - ambas riram.

Como ainda era cedo, e conversavam baixo, milagrosamente baixo, no banco da frente, enquanto , e , dormiam. Provavelmente as duas últimas nem viram a amiga solteira entrando, mas quando freiou de repente na frente da Hot Shit, caiu em cima da menor, . E então saíram da van, uma agarrada na outra, empurrando a porta de vidro e provocando o barulhinho do sininho japonês.
estava ocupado demais tentando resolver tudo sozinho. Sem ajudante e com sua queria prima e dona da loja derramando amabilidades para as professoras, logo cedo já estava correndo entre depósito e balcão, repondo os doces e respondendo as milhares de perguntas das clientes. até acenou mas não teve nem tempo de acenar de volta.
- Cheio hoje, não? - olhou em volta, os olhos brilhando feito dois faróis policiais perseguindo na escuridão. As clientes apontavam suas peças com boas recomendações e ela via levas de suas lingeries da coleção passada sendo levadas aos montes. Quase chorou mas manteve a pose, brincando com um par de algemas.
- Pois é. - olhava em volta, preocupada com a hora. Detestava atrasos.
se desprendeu do quarteto fantástico e seguiu com os olhos até o depósito, indo atrás. Não sabia muito bem o motivo, mas sentia seu coração batendo forte. Talvez fosse o cheiro do chocolate.
ficava na ponta dos pés e alcançava uma caixa na última prateleira e não teve como reparar em como o bumbum dele ficava perfeito naquela calça. Mesmo que fosse jeans e preta, e que estivesse mostrando um pedaço de sua boxer azul, ele ainda ficava charmoso, por esse ângulo. não era do tipo forte mas aquele pequeno exercício mostrava onde estavam seus poucos músculos.
- ? - ele se virou assustado, deixando uma caixa cair no chão e várias lingeries criadas por caíram no chão. - Ah, droga.
- Desculpa, não foi minha intenção te assustar. - ela deu um sorrisinho e se agachou para pegar o que havia caído. ficou vermelho. - Estava pensando se você não estaria precisando de ajuda. - Ela foi minha professora do último ano da escola, claro que concorda! Tenho coisas que dariam a ela um bom pedaço de tempo... bem, eu te ajudo. - ela puxou os cabelos para trás e fez um rabo de cavalo qualquer. só não engoliu em seco porque estava realmente ocupado.
- Certo, você se encarrega de trazer as caixas para o balcão e eu vou distribuindo?
- Se quiser também fico no caixa, já fui vendedora, sei usar o programa.
fez “joinha”.
- Certo, então vamos. Vou te erguer e você pega aquela caixa marcada em azul ali. - apontou.
- De qualquer forma vai diminuir quando a aula começar. - disse ela. riu, mas quando a abraçou por trás e a ergueu, ela pôde sentir sua “felicidade”. Ele pigarreou e ela esticou o braço para pegar a caixa. - Vai pra lá, eu arrumo o balcão.

A verdade na verdade é que nenhum dos dois teve mais tempo de conversar, de tão cheio que a loja estava. Mas quando a professora Giftza chamou as alunas de sua aula, tirou o avental, deixou em cima do balcão e acenou para , que nem reparou que sua ajudante havia escapulido. Mas até que ela ajudou bastante e tudo foi feito mais rápido; parecia que trabalhavam bem em equipe.
- Meu nome é Giftza. - disse a mais alta das professoras, com um grande sorriso nos lábios. A sala continha quatro ou cinco postes presos no teto. e ainda morriam de sono, e nem com as cotoveladas violentas de , conseguiam prestar atenção. - É, vejo que vai ser bacana essa nossa primeira aula. Gostaria apenas que vocês se apresentassem, só o nome mesmo. - continuou sorrindo. - Aí então poderemos começar a primeira aula.
- Se me arranjarem uma Coca Cola bem gelada, acordo rapidinho. - coçou os olhos, resmungando. Se apresentou e volto a bocejar.
- Quero apenas que tenham em mente que pole dance não é bem algo apenas sexual. É na verdade um exercício físico e essa coisa toda de roupas de baixo é só para dar um toque especial. Então, queria que vocês se dividissem em três equipes de cinco para podermos começar.
definitivamente estava de saco cheio da aula antes mesmo de começar. Sentia falta de . No meio da madrugada, ele a acordara com beijos no pescoço, sua forma de sempre de se despedir. abriu os braços e disse que não deixaria que ele fosse, sorriu, dizendo que era realmente necessário. Era o momento mais apaixonado dos dois em tempos, então se sentiam incapazes de deixar o outro. fez de tudo para não beijar a esposa, porque sabia bem onde aquilo tudo iria parar, mas não teve jeito. Por alguns poucos momentos ninja, ele não perdeu o avião, mas ao menos tinha uma boa lembrança de casa e de algo que poderia ter sido bem terminado se não fosse o horário do vôo.
Então dormira o resto da madrugada meio mal, com saudades daquele corpo quente e suado do marido em cima do dela, e que droga, até dos roncos e dos chutes dele para ela cair da cama!
dormira pior do que os outros dias. Se fechava os olhos, sonhava com ; acordava, olhava para o teto e via ; tomava leite e via a cara de na caixa de chocolate; estava virando um inferno.
passara metade da madrugada estudando para uma prova que faria no domingo de manhã. Não estava nada convicta e não ter por perto até ajudava a NÃO se concentrar. Sabe-se lá a razão, mas o fato de ele chamá-la a cada dois minutos a deixava mais concentrada do que nunca. Sentira falta dele, hora de admitir.
era, provavelmente, a única que não tivera momentos tensos na madrugada, aliás, foram até ótimos momentos. Com muitos arquejos e sussurros de “por favor não pare” vindos da parte dela. Ok, nem tudo eram flores. indicou seu ápice gritando “Independência ou Morte! Morte! Morte! Ah, morte! Morri!”. Como vingança, invocou seu lado Pokemon e pintou a cara do namorido com um batom vermelho. acordou grudado no travesseiro e choramingou, porque era o dia dele de lavar roupa.
E já não sabia de mais nada. era tão sem graça, tão magricela e estranho, com aquela bolsa mochila de Keroro, os cabelos no estilo Beakman, sempre para cima, aqueles óculos em armação preta e super grande, sem lentes. E aquele sorriso quase sendo mais gengiva que dentes! Tinha algo nele, na doçura e na simpatia dele, alguma coisa muito interior que a atraía. Talvez fosse o bumbum, já que gostava de bumbuns de homens. não tinha exatamente uma bunda mas ainda assim ela se via indo com a mão espalmada e apertando com toda a vontade do mundo aquela bundinha. Ah, e a parte da frente também não aparentava muito mas sentira-o algumas vezes, como na noite que irrompera pelo apartamento. Se o irmão não tivesse bagunçado tudo, teria sido uma boa oportunidade para ver do que os Biólogos eram capazes.
- ? - a agente de viagens ergueu uma sombrancelha para a professora, saindo de seu mundinho. Giftza sorriu. - Sua vez.
- Não tenho muita força nos braços, mais nas pernas. - confessou. As outras mulheres da aula cochicharam impressionadas; era difícil alguém admitir tão abertamente aquilo.
De qualquer forma, foi até o poste principal e olhou para cima, lembrando-se dos dias de escoteira, o qual tivera que subir em árvores e cordas para buscar algo para sua patrulha. Suspirou pesadamente e pulou no poste. Giftza começou a corrigir alguns erros, poucos aliás, e mandou focar nas pernas, na força das pernas; e foi o que ela fez.
E foi o que fez, do lado de fora, mordendo um doce em formato de peitos.


C A P Í T U L O 5


acordou confusa, naquela manhã. Suas pernas doíam como nunca, assim como sua cabeça. Abriu os olhos e deparou-se com alguns cacos de vidro no carpete do quarto. Espreguiçou-se de leve, tateando seu lado, a procura do marido, mas tudo que encontrou foi um edredom embolado.
Sentou-se rapidamente. Ah Deus, e se tivesse matado ...?
Será que aqueles cacos...?
Ergueu o travesseiro fofo do marido, em busca de algo que comprovasse que ela não tinha feito nada de louco e encontrou um papel amassado debaixo do mesmo.

”Meu amor, não vejo a hora de você se divorciar daquela baixinha horrorosa para que eu possa te ter todas as noites do meu lado e possa ch-“

estreitou os olhos. Quem era a vagabunda? Jogou o edredom para o lado e correu para o banheiro, atingida por uma bomba nuclear. Só não era pior que o embrulho estomacal que sentia.
Abriu a torneira e jogou água fria no rosto umas dez vezes pra ver se acordava, mas continuava cega feito um mamute manco.
”Bom dia, amor da minha vida! Te amo!

Homem era tudo cafajeste, mesmo!
Olhou rapidamente para a privada, o embrulho estomacal voltava.

.x

olhava tristonho para a loja fechada. O canto dos vibradores desligado, as caixas formadas em pilhas militares na prateleira. Ele não tinha o mínimo de saco de trabalhar e era sábado a noite. Queria se divertir, mas não tinha a mínima ideia de onde ir.
Puxou um chiclete do bolso e o colocou na boca, posteriormente discando para , seu melhor amigo e maior porra louca que já tinha conhecido. Demorou alguns toques até atender, e sua voz não demonstrava muita vontade de sair.
- Ah, qual é, Absorvente Interno, é sábado a noite! - insistiu , puxando o apelido mais nojento da vida de . O mesmo deu uma pequena risada.
- Sinceramente, cara, não estou muito afim. - desconversou. - saiu de novo e estou jogando videogame. Não quer vir pra cá, não? - ficou em silêncio, cogitando seriamente em largar sua vontade alucinada de sair em um sábado a noite e dançar até os pés torcerem para ficar jogando Super Mario no Nintendo 64 Relíquia de . - Se vier, traga BR*, eu tô meio duro, sabe como é...
- Sei lá, queria sair e tomar ao menos uma cerveja, ando tão cansado e...
- Ah, ok, ok! - se jogou no sofá, sujo com um pouco de calda de chocolate. Sabia que precisava limpar logo, antes que chegasse, senão, os vizinhos teriam que conviver mais uma madrugada com os berros da namorida. – Você passa aqui? Também preciso beber e não quero ser pego pela Lei Seca.
- Nem eu! Tô te chamando com a intenção de que dirija pra casa! - Então é melhor ficar em casa. – resmungou , fazendo bico. – Ou tu vem pra cá e traz cerveja ou nada feito! – deu um suspiro. Era incrível como conseguia inverter a situação, sempre conseguia.
- Escuta, Privada Entupida – deu uma risadinha. – se eu chamar alguém pra nos acompanhar, você vem comigo?
fez careta. – Quem?

- ... E então eu perguntei pro professor, “Mas e a mulher do National Geographic? Será que ela não seria uma mutante?”, por causa daqueles olhos verdes, entenderam? Mutante! HAHAHAHAHA – mirou , que tentava não fazer contato visual. abriu um pacote de chiclete e colocou uns quatro na boca. – São de menta, para refrescar. Hoje quero ficar sóbrio! – estalou os dedos e uma mocinha muito bonitinha, alta, esguia e com cara de urso de pelúcia, se aproximou com uma bandeja. – Mocinha, pode me trazer outro mate gelado?
- Belíssima ideia, Lacraia! – xingou , quase murmurando, enquanto pensava duas vezes antes de perguntar àquela moça seu telefone.
- Calma, tenho tudo sob controle! – ergueu a mão, pedindo calma, enquanto descia da cadeira alta do Flannigans, pub irlandês que ficava a alguns minutos da cidade universitária. Era basicamente frequentado por estudantes, tinha shows de bandas de rock todos os finais de semana e era bastante limpinho. Dispunha de algumas mesas altas, assim como seus bancos, e mesas rodeadas por bancos únicos. Era muito confortável, mas também frequentado por seguidores de Bob Marley, de forma que estragava a vibe no final da noite. Fechava às quatro, mas era normal que alguns estudantes bêbados passassem a noite nos puffs gigantes, acordando e pedindo paracetamol para suas dores de cabeça de ressaca. Os cabelos desgrenhados da mulherada contrastavam com os belos penteados de quando chegavam, então os donos decidiram que aquele pub também serviria de ‘centro de reabilitação pós noitada’, apelidado carinhosamente de ‘Quatro por Vinte”. Então, os funcionários recebiam treinamento médico para que pudessem lidar com a bebedeira dos frequentadores. Os mais antigos já tinham telefones de parentes e cópia do atestado médico. Por essas e outras, todo mundo curtia o Flannigans.
- Senhores, - deu um sorriso torto. – irei me ausentar por alguns minutos. – e seguiram os olhos do mais novo do bando, que mantinham o quadril da garçonete em mira. – Volto em dez minutinhos. – e sumiu, no meio das gargalhadas e fumaça de cigarro do pub. olhou ferozmente para .
- Calma, o plano C já está chegando.
- Plano C? – arregalou os olhos. – O ? Mas ele é um saco! Vai ficar falando do quão perfeita é a e de como o sexo é maravilhoso e de como ele nunca se cansa dela! Pelo amor de Deus, prefiro comer erva a ouvi-lo falar das lingeries da pela milésima vez!
riu. Era sempre assim. No início, era até bonitinho a visão de homerm apaixonado que tinham de . Não parava de recitar o quanto amava a namorada, o quanto ela o tirava do sério, de todas as transas o qual ele ficava com marcas fundas das unhas dela. e os outros morriam de inveja, mas como todos estavam namorando, o papo fluía bem. Mas depois que casou, começou a ter crises com , terminou com Warapon e deu o fora em Nina, virou um tremendo saco ver e disputando o posto de ‘Esse cara sou eu” do quinteto. As estórias de como a última transa tinha sido a melhor da vida do estudante de História ficavam tão repetitivas quanto especial do Roberto Carlos na tevê.
- sumiu de novo. - tomou um gole de sua bebida, total despreocupado. Sabia bem que não era o santinho que pintavam. Apesar de ser o mais velho da turma e ser também o primeiro casado, era safado e várias vezes pedira a um álibi. Mas não podia revelar um segredo tão forte. – Tive de chamá-lo.
entrou no pub enjoado, pálido. Deu uma rápida olhadela pelo lugar cheio, com uma banda de rock que mais gritava do que tocava, e localizou os dois amigos em um canto, com uma garrafa de tequila no meio. Acenou. se prometeu quebrar a cara esticada de assim que pudesse.
- E aí? – fez , erguendo a mão para bater na de , com um sorriso. – Fala tu, Plástico Bolha! Cadê o plano B?
- Serve aquele ali? – apontou para , que, de longe, estava lançando suas cantadas furadas para a garçonete, que implorava para que ele a deixasse em paz. O pub estava cheio, ela disse. Não podia paquerar ali porque era sinônimo de demissão. – Mas fale aí, o que conta de bom? - chutou de leve. – Ai!
- Ah... – deu de ombros, tomando o copo de cerveja que recém haviam pedido. – Coisas.
- Coisas?
- Coisas... coisas coisadas, sabe? – seu olhar se perdeu na garrafa de tequila, imaculada, atrás de dois limões e um guardanapo verde com sal, na frente. e se entreolharam. – É a ... está preocupada demais com a coleção ou sei lá. Nosso sexo têm ficado ruim. Essa noite, ela sequer me arranhou e terminando, virou pro lado e nem disse ‘boa noite’! Acham que ela tem um amante?
Esse era o ingênuo que eles haviam conhecido.
- Talvez ela esteja só cansada...
- É! – concordou. – Quando a começou a ficar assim, ela estava pensando em trocar de curso. E veja ela hoje!
- AH, MEU DEUS, ELA VAI TERMINAR COMIGO! - deu um berro, tirando os óculos e secando os olhos. se assustou de leve. se sentiu ofendido. – Ela vai me tacar pra fora de casa e meu apelido vai ser Merda de Cavalo! Eu pareço uma merda de cavalo? Hein, hein?
ia abrir a boca para rebater quando apareceu, com a mão no maxilar, verificando se o mesmo ainda funcionava bem. Se sentou e resolveu pedir uma dose de wisky, praticamente tacando no chão seu copo de mate gelado.
- Que bosta! Não só levei um tapa como ela não aceitou sair comigo! – reclamou. – Hey, , o que faz aqui? –comentou bem humorado. deu um grito e afundou o rosto nos braços. – Falei alguma coisa errada? – e lá estava sua indescritível cara de Ursinho Pooh confuso.
- O que houve, gente!?
- está com problemas com a . – tomou um gole de bebida. – Tipo você a ?
- e eu é caso passado. – franziu a testa, bolado. Ô garota feia! Parece que tem uma aranha no lugar das sobrancelhas e é estranha!
- Mas era a única que caía nas suas cantadas...
- Nisso tem razão. – ele ponderou. Apesar dos pesares, era divertida. Fazia piadas toda hora e era até bonitinha, no começo. Depois começou a ser relapsa, a vestir umas roupas e a deixar de se cuidar. Pensou em tirar a virgindade dela, mas estava tão esquisita que logo perdeu o interesse. Era um cara bonito, isso era fato. Era estalar os dedos que podia ter qualquer garota, e estava... obcecada por ele. Ligava toda hora, mensagens toda hora, impondo sua presença física a todo momento. Isso contribuiu para o fim do relacionamento, além de ter uma super modelo dando mole para ele. E entre uma garota bonita e um dragão com meio quilo de maquiagem na cara, roupas que nem Falcão usaria, ele optou por deixá-la.
O caso com Brandy não durou mais do que uma ressaca; logo ela terminou, deixando-o na rua da amargura, com uma tremenda dor de cabeça, jogado na maca de um hospital, recebendo glicose na veia. A única pessoa que não pensaria duas vezes em acudí-lo, mesmo que estivesse errado, não atendia seus telefones. "Brucutu!", pensou ele, entre uma alucinação e outra. tinha obrigação de estar ali, não era ela que o amava tanto? Talvez fosse aquelas amigas, fazendo sua cabecinha etérea. nunca largaria ele, , o Cara, em uma cama de hospital, porque estava em coma alcoólico, pelo contrário! Ela seria a primeira a aparecer com comida e muitos carinhos para ele, deixando as reprimendas para depois. Mas quando viu abrindo a porta da enfermaria, sentiu o peso do que aquela falta representava, mas agora estava tudo acabado.
Sentiu-se triste. As lágrimas vinham a seus olhos como uma diarréia pavor no meio de um seminário. Mordeu os beiços o máximo que pôde, escutando e sua versão real de "A Dama e o Vagabundo". Ergueu a mão e o garçom apareceu, um dos poucos que apareciam, e pediu dose quádrupla.
- Qual é o teu problema? - berrou , quando tomou tudo de uma vez.
- Eu sinto falta da ! Ela era meu Pokemón cagado! - berrou de volta. - Quero-a de volta!
- Mas cara, ela é um troço muito feio...
- Cala a boca, Diarréia de Macaco! - fez beicinho. Já tinha bebido o bastante para começar o estado "emo". - Se você fosse assim, tão feliz, estaria trepando com aquele troço de mecha verde que é a ! E cadê ela? Por aí e tu nem sabe onde! Eu te digo! Ela foi pra noitada com as meninas, porque elas todas estão de saco cheio da gente! Aí, cara, me traz outro quádruplo!
ergueu as sobrancelhas. A ideia inicial era só sair e conversar com os amigos. Agora, tinha , achando que ia terminar com ele porque não tinha frequentado mais a academia desde que começara o seminário de provas; , praticamente chorando porque não sabia onde estava; e , bancando o corno. Não que ele estivesse melhor que os outros, mas ele, ao menos, não tinha ninguém para chamar de 'sua', então ficava isento.
- E tu, tá olhando o que? - soluçou, abrindo a garrafa de tequila com os dentes. - Até parece que você não fica incomodado de estar só ficando com a irmã esquisita do !
- Ei, minha irmã não é esquisita! - apertou os olhos e fuzilou . - Como assim você está ficando com a minha irmã?
- F-f-foi só uma vez, cara! E além do mais... acho que ela não gosta de mim. - mexeu na pontinha do guardanapo, recostado em sua cadeira, os beiços querendo tremer. Gostava dela, tinha de admitir que ela mexia com ele. De vez em quando, estava na loja e se pegava olhando tempo demais para as lingeries masoquistas de , imaginando amarrando-o na cama e arranhando-o no peito com o salto de uma bota longa.
Ela era doce, inteligente e divertida. Meio ogra de vez em quando. Quando sorria, sentia que seu peito fosse explodir de felicidade e normalmente, acabava sorrindo também. Parecia interessada em como ele fazia os doces famosos da loja e levava tudo na piada. Quando a via no campus, sentia muita vontade de convidá-la pra sair, mas estava sempre rodeada das amigas e de alguns rapazes, era o centro da festa. Só poderia ser... linda, atraente, inteligente, divertida... com certeza já tinha um namorado, só não havia apresentado o sortudo para o irmão, apostava.
- Ela não gosta, por que? - se levantou, deu a volta na mesa até parar de frente para , que agora mordia os beiços.
- Porque sou estranho.
deu um tapa em seu rosto. - Responde, criatura!
- Porque sou magrelo.
- Anda, sua Carniça Andante! - outro tapa.
- Porque estudo Biologia. - fungou.
- Responde, cara! - mais um tapa.
- PORQUE... - começou a soluçar, as lágrimas grossas e abundantes caindo-lhe pelo rosto vermelho escarlate, diante de tanto tapa. - EU... SOU... UMA... UMA... UMA LACRAIA!
se apiedou, se levantando e abraçando o amigo, assim como . soluçava desesperado, enchendo quatro copinhos e colocando diante dos outros amigos. Cortou os limões com uma faquinha horrorosa que tinha na mesa, junto do prato de batata frita com queijo e calabresa e soluçou, erguendo seu copinho:
- Aos nerds apaixonados e seus corações partidos!
- A nós! - exclamaram os outros três, seguindo, assim o ritual da tequila, esquecendo por completo do sal.
Fizeram careta. Aquela seria a primeira de muitas doses...

"Querido John" estava nos créditos e segurava o lenço no nariz. trabalhava concentrada, socando as teclas de seu notebook com toda a fúria do mundo, pensando onde raios tinha se metido DE NOVO e que p* de mensagem tinha sido aquela. e davam gargalhadas altas na cozinha, cortando as frutas para o fondue e analisava seus desenhos. Nada de muito diferente do normal de uma noite de sábado a noite das cinco. Não curtiam muito baladas. E com as provas se aproximando, mesmo que não estudasse nada parecido, elas curtiam a presença uma da outra, mesmo que isso significasse que cada uma estivesse em um canto da casa.
- Tá pronto! - limpou os olhos e pôs os pés coloridos no chão. meramente ergueu os olhos de seu notebook, vendo as quatro meninas se sentando no chão, sabia o que viria a seguir. Todas no chão, divididas entre pintar as unhas do pé da outra, falando sobre sexo, homens bonitos, novela e o que mais viesse em mente. A boa parte daquela amizade é que elas eram compreensivas umas com as outras, se compreendiam como ninguém e podiam falar em Português, sem serem incomodadas. E podiam também brincar de "Língua do Pi", para serem quem queriam, antes de invadirem o armário de e se vestir de princesas e heroínas.
- Você assistindo ''Querido John" é como a assistindo "Titanic", sabe como termina e chora todas as vezes. - riu, espetando um pedaço de manga e encharcando-o de chocolate fumegante. - Muito bobas, vocês.
- Ok, mas ele morre, tá? - olhou-a com falsa raiva. - E isso é lindo.
- Aff, vocês e esse emocional estragado! - rolou os olhos, ainda digitando. - Precisam aprender a se apegar menos. Quanto mais você se apega, mais você sofre!
e trocaram um breve olhar.
- Calma, , estamos só brincando. - tentou amenizar, com uma risadinha. - Larga isso aí e vem comer antes que esfrie.
- Não tem queijo, não, é? Queria queijo com damasco.
- Queijo com damasco? - fez careta. - Nunca provei, isso é bom?
- Sei lá. Deu vontade.... Aff! - colocou as mãos na cabeça, bufando e coçando os olhos.
- Não acha que precisa descansar? - se levantou, puxando a amiga para o chão. Antes de se sentar, pegou um marcador e o livro. - Larga um pouco isso aí, é sábado! Dia de falar de sexo, comida, novela e... sexo!
- É, relaxa! - riu, trocando um breve olhar desafiador com e . - Do contrário, vamos ter que te expulsar do grupo!
- Se alguém tem que cair fora, esse alguém seria a . - comentou, marcando páginas com seu iluminador rosa, sem levantar o olhar. fez bico.
- ! - fez , abraçando a mais nova, que tinha os olhos marejados.
- É mais do que óbvio, né! Se fôssemos nos colocar em um seriado tipo The Big Bang Theory, teríamos a nerd, no caso, eu; , a fútil - abriu a boca, incrédula. - , a dura na queda entre nerd e lerda e a , a encalhada que tem medo de falar com o sexo oposto. - ergueu levemente os olhos para , que tinha um bico nos lábios. - Não têm nenhuma personagem chorona no TBBT, então você não faria falta, em absoluto.
abriu a boca para falar alguma coisa mas se calou, emocionada.
- Pronto, lá vem água...
- Mas eu não ia chorar... - a mais comentou, já chorando. - Eu só ia dizer... ia dizer...
- Ia dizer pela centésima vez que ama o e que não acredita que ele te largou. Escuta aqui, ô bolinha de queijo, - largou o iluminador, respirou fundo e literalmente tacou uma caixa de lenços para a outra. - você precisa mudar muitas coisas pra poder ter um cara como o de volta e poderia começar pela sua aparência. Não sei se reparou, mas estamos no século XXI e você parece que nunca viu uma pinça de sobrancelhas na vida. Suas roupas conseguem ser piores do que a galera anos setenta e dá pra parar de roer as unhas? Isso é nojento! - puxou o celular de dentro do bolso, enquanto e se entreolhavam, sem entender que raios tinha dado em para ser tão rude. Normalmente, quem choramingava as pitangas era ela e isso era muito estranho. Ou talvez fosse mesmo a pressão de ter um casamento desmoronando pela distância e pelo marido alcoólatra viciado em futebol e o TCC.
continuou de cabeça baixa, mas não fez mais nenhum comentário por um bom tempo. Para quebrar o gelo, começou a falar de novela mas o clima continuou bem ruim. começou a se sentir culpada, então achou melhor se dar uma chance de ser menos grossa. Nem ela sabia muito bem o que tinha acontecido para aquele surto temperamental, então se arrastou até a mais nova e a puxou pelo braço, beijando-lhe a testa.
- Desculpa, , eu não queria ter sido tão chata contigo, dizendo que seria ok se você saísse do nosso grupinho. Você é um dos orgãos vitais aqui e nós te amamos. EU te amo, mas sabe, às vezes cansa querer te ajudar e você fugir. Cansa o fato de dizer que é um canalha e você nem ligar, não tentar ver e principalmente... queremos te mudar porque sabemos que, debaixo desse cabelo oleoso de gel em rabo de cavalo, unha mal pintada e curta e essas roupas que nem um cachorro usa, tem uma menina linda e que precisa ser valorizada por quem é e não pelo que veste.
sorriu com compaixão. era tão doce, quando queria! Sabia tocar o coração de quem quisesse com o amor, tão raro diante de tantos ralhos e foras que dava.
- Tudo bem, , eu te desculpo. Mas ainda acho que quem fica comigo, tem que saber que não sou só isso, não acredito em cosméticos e essas coisas pra ficar se mostrando. Sou reservada, sabe...
contou mentalmente até dez. Ela não estava vindo de novo com aquele velho discurso ensaiado de "posso ser uma placenta por fora que o que vai interessar mesmo é a célula do cordão umbilical".
- Olha, amo muito todo mundo. - se levantou, decidida. Ouvira aquela ladainha ao menos vinte vezes por semana, e tinha triplicado desde que tinha terminado com . Dava vontade de enchê-la de tapa, pra ver se acordava, mas ela não era . Ah não.... definitivamente, não era. - Mas caraca, , pelo amor de Deus! A gente sabe que você é linda por dentro, mas estamos falando de homem, tá? HO-MEM. O sexo oposto, aquele que só pensa com a cabeça de baixo! te largou porque tu é feia exteriormente, sacou? F-E-I-A!
- ! - interveio.
- Ah, porra, cansei desse 'mimimi, amo o , mas ele quer que eu seja alguém que não sou, vocês que são lindas', ah, , vá te catar! Falo por todas aqui, nós te amamos assim... pra caramba, mas chega, né?
Silêncio sepulcral. O beiço inferior de tremia tanto e seus olhos estavam tão marejados que até sentiu pena de discutir com uma mulher que tinha cara de filhotinho de cachorrinho. Mas estava na hora, ela, ao menos, não aguentava nada. Provavelmente, aprenderia e até agradeceria depois, mas agora era o momento de jogar a titica no ventilador.
- Levanta, vai. - contornou a panela de fondue, comeu o morango com chocolate de , que estava atônita, e puxou pela mão com muita força. - Vamos todas pra minha casa. Empacotem tudo que agora quem vai rodar a baiana aqui sou eu!


C A P Í T U L O 6

Jinny abriu a porta do apartamento e se deparou com roupas espalhadas pelo chão, mas nenhuma coisa que remetesse a vida por ali. Gritou o nome da irmã, se abaixando e colocando nos braços as roupas, verificando as imundas, as sujas, as razoáveis e as limpas. não tinha mesmo jeito! Era tão bagunceira, essa era sua irmã mais nova! Não que ela fosse um exemplo, mas sabia ao menos pentear os cabelos.
"Ah, que horror!", pensou, cheia de culpa, arrumando o lençol lilás e a colcha de Minnie da cama. não era feia, ela só se fazia de feia. Sempre fora vítima de bullying e aquele namorado mulherengo dela, o tal de , piorava ainda mais a vida da criatura! A penteadeira tinha mais papel amassado do que maquiagem e apertou sem perceber a própria bolsa – temia pelo gloss rosinha claro, quase transparente, suas sombras divinas. Fora inteligente ao escolher a faculdade de Moda, pensou. Estava por dentro das tendências e sabia truques como ninguém. Conhecia a amiga de , a tal , a de cabelos coloridos, que era estilista, e sonhava com o dia que pudessem unir as forças e transformar a irmã na belezoca que era. Mas esta era muito puritana. Teria de ter uma camisa de força para prender e acabar com aquela cara de macaco de lavanderia.
Suspirou mais uma vez, ao observar o apartamento, agora apresentável, de . Ao menos uma vez por semana, passava por lá para ver a irmã e ouvir suas lamentações. Estranhamente, ela não estava. Esperava ao menos que estivesse viva.
"Apenas avisando que passei por aqui. Te amo demais, coelhinha! Beijos, Jinny" escreveu no espelho, terminando com um sorriso. Correu para a cozinha e colocou dentro da geladeira um pedaço de seu bolo maravilha – doce predileto de – e fechou a porta, com seu chaveiro gigante fazendo barulho.

.x.x.

– O que vocês vão fazer comigo? – perguntou chorosa, ao ver as quatro amigas cochichando ao longe. Tremia tanto que a cadeira onde a sentaram incomodava o vizinho do apartamento logo abaixo do de .
– Cale a boca! – ainda estava arisca. Não sabia se era TPM ou apenas irritação normal, mas estava irritada. sugerira camisa de força. concordava com a ideia e achava que era demais. voltou sua atenção à discussão, dando a palavra final.
, querida! – abusou assustadoramente de sua voz doce. se encolheu. – Vamos só usar uma coisinha para você não fugir, ok? – fez bico, erguendo as sobrancelhas o máximo que pôde. ergueu os olhos para , que aparecia com uma enorme fita grossa nas mãos.
– Vocês vão me matar? – perguntou a mais nova, com um fio de voz. não parecia à amiga doce de sempre, tinha um brilho estranho em seus olhos, quase como o velhinho de "Jogos Mortais". – O que farão comigo?
suspirou, puxando uma trêmula pela mão e a deitando na mesa de mármore, fria pela hora da noite. e ficaram do outro lado, enquanto mordiscava a unha, apavorada com aquele momento tenso.
– Sabe gatinha, tem certos momentos na nossa vida, que precisamos de uma boa c-c-c-c-hange! – cantarolou, rebolando como uma funkeira, em vez de parecer com a cantora coreana HyunA. – Sabe como é, aquela coisa que chamam de tratamento de choque? – ela puxou a fita grossa, que fez um barulho gigante e que tomou a sala toda. tentou levantar, mas a segurou pelos ombros, "delicadamente".
, relaxa. Estamos fazendo isso para o seu próprio bem, ok? – sorriu. – Confie em mim. Confie em nós. Não é como se fôssemos te matar, bom, talvez seja. – arregalou os olhos e retomou o tom doce. – Nós amamos você.
– É, você é nossa mascotinho! – sorriu com os olhos, pela primeira vez naquele dia, e só com isso, relaxou um pouco.
acenou com a cabeça para , que investia na geladeira em busca de um vinho suave. Pegou algumas taças e colocou na bancada da cozinha americana, enchendo-os do líquido escuro, e sorriu verdadeiramente.
– Que tal uma musiquinha? – arregalou os olhos. a segurara pelos braços e agora, e passavam a fita pelas pernas, braços, barriga e ombros da mais nova.
– Vocês vão me matar, não é? Olha, desculpa por te chamar de promíscua naquele dia, ! – começou , chorando, ao ouvir o som berrante de Nirvana no som de . Até cogitou perguntar como iriam escutar música tão alto, se já era quase oito horas da noite, mas o pavor a ameaçava bem mais. – E , desculpa te dizer que o era broxa porque ele parava na melhor parte do sexo, eu juro que nunca mais falo isso! ! , pelo amor de Deus! – apertava a fita nos ombros da mais nova. – Desculpa te chamar de mulher macho só porque você gosta de futebol! E , minha querida ! – tentou sorrir. ergueu uma sobrancelha. – Desculpa te chamar de encalhada e de idiota porque não tem cara de chegar de vez no , eu juro que só quis provar aquele doce de pinto pra saber se o gosto do negócio do homem era igual!
– Foi por isso que você fez tanto alarde? – indagou, debochada, arrancando um pedaço de fita com os dentes e prendendo na boca de . – Fica quietinha, vai, temos muito trabalho pra fazer e quanto menos você falar, melhor e mais rápido será.
E esta foi à última palavra de naquela noite.

Bem, pelo menos nas cinco horas que se seguiram. Ela conseguiu arrancar a fita da boca duas vezes com a saliva, prometendo ficar calada, mas a cada puxão, cada pincelada, cada corte, ela gritava como se estivesse sendo esquartejada viva. falava em reunir os pedaços em um saco plástico e desovar no rio mais próximo; era enfática a cada puxada, relembrando seus tempos de adolescência, e fazia gosto em tirar fotografias para postar mais tarde, no Instagram. Não poderia acabar com a surpresa tão fácil.
– Um dia, você irá nos agradecer por isso. – tomou um gole de vinho, sorrindo simpática para . – Não estou falando isso por estar ligeiramente bêbada.
E essas foram as últimas palavras proferidas em tom tranquilo, naquela noite.

.x.x.

sentia sua cabeça rodando como uma roda gigante sem controle. Ergueu o rosto, levando consigo alguns pedaços de papel, com uma péssima caligrafia. Ah, precisava de um café urgentemente! Como precisava! Estava cheio de coisas pra resolver, mas essa coisa de vida dupla não estava dando certo. E ainda tinha de inventar desculpas para que, na ligeira ingenuidade, achava que eram viagens de negócios!
Detestava mentir para ela, mas era necessário. Ou isso ou desistir de tudo. E assim, perder a grande oportunidade de prover esposa e futuros filhos.
As escolhas não eram prudentes. As cores e as letras dançavam quadrilha diante de seus olhos. Eram quatro horas da tarde. Talvez fosse melhor tirar um cochilo, já que a esposa não atendia ao telefone de casa.

.x.x.

acordou com a cabeça pulsando forte. Seu corpo implorava para ficar na cama, mas era domingo e ele precisava fazer sua corrida matinal. Tentou se habituar a claridade, mas estava difícil. O sol brilhava intensamente por entre as cortinas imundas de um apartamento que, notoriamente, não era o seu. jogou o braço em cima de , na cama improvisada no chão e então ele se lembrou da noite anterior.
, e , tequila, whisky e muita cerveja.
Pôs a mão na cabeça novamente, tamanha a dor que sentia, e, cambaleando, procurou o banheiro. Havia tênis espalhados pela sala. A porta do quarto de estava bem fechada, o que significava que o amigo tivera uma noite agitada, enquanto os amigos estavam jogados pelo chão da sala, pensou.
Não achou que fosse sentir inveja de . Sempre tão popular com as meninas, com um topete que nunca se desfazia, para compensar a época grotesca de cabelo Chitãozinho e Chororó. Tinha um estilo fashion, super próprio, um sorriso meio torto e que fazia com que nove entre dez moças da faculdade suspirassem por ele. Tinha uma vida sexual bastante agitada. Não era considerado uma abominação da natureza, um biólogo esquisito, magricela, como ele. Que não levava jeito com garotas e trabalhava em uma sex shop, o qual conseguira um emprego porque conhecia a dona e era uma maneira de exercitar seu lado confeiteiro. Ganhara especialidade nível três, quando era escoteiro, há milhares e milhares de anos.
Voltava para a sala quando a porta do quarto se abriu e uma mulher alta saiu, perguntando onde era o banheiro. Sonolento, nem percebeu a voz diferente da mulher, que tinha os cabelos bagunçados e batom pela testa. Entrelaçou-se por entre os cobertores, suspirando logo em seguida. Se sua cabeça não doesse tanto, poderia mesmo levantar e ir correr ou caminhar mas só queria mesmo uma aspirina e que alguém acabasse com sua ressaca.
Tirou um cochilo de mais ou menos duas horas quando sentiu alguém o sacudindo. Abriu os olhos com esforço, antes de ver e assustados na sua frente. Até pensou em pular do sofá, por causa da proximidade, mas sentia seu corpo doendo muito para ter alguma reação brusca.
– Você já viu quem tá no quarto do ? – sussurrou . fez que não. – Cara... Aquela mulher é estranha!
– Isso é, se for uma mulher, por que... – a porta se abriu.
saiu do quarto, com o cabelo para o lado, branco feito um papel, usando apenas sua cueca samba canção vermelha. Uma mulher bem alta saiu do cômodo, a calça jeans preta super colada nas coxas bem definidas e o top pouco preenchido pelos seios dela. se jogou no sofá na mesma hora, como se um protótipo de demônio estivesse instigando-o.
– Você é um bom rapaz, . – disse ela, com sua voz de trovão, sorrindo e, assim, tornando sua feição, mais dura. – Tudo dará certo para você. – e então para os três rapazes no sofá. – Bom dia. Meu nome é Lawanda.
, e engoliram a seco. Ok que existia mulher que tinha feição rígida, mas aquela ali era muito estranha, mesmo. As coxas eram muito malhadas e a barriga, muito tanquinho, tinha algo de errado.
sorriu de soslaio. – Venha cá. – disse Lawanda, puxando para sentar-se em seu joelho. – Menininho, deixe-me te dizer uma coisa. Tem certas coisas na vida que servem como uma porrada, te farão amadurecer. – e cochichou. – Espero que eu tenha feito parte da sua transição de moleque para homem.
ficou branco. Mas que porra...?
Lawanda deu um selinho em : – Certo, rapaz, cuide-se. Vocês também! – dirigiu-se até a porta e fechou-a atrás de si, deixando os quatro meninos de boca aberta, olhando para a foto pôster da cantora HyunA, em tamanho natural, na porta.
Com os olhos arregalados, o dono do apartamento, sem se mexer, observou os amigos, que o perguntavam que raios tinha acontecido, sem pronunciar uma palavra. Pigarreou. É, talvez não fosse hora, ainda...

.x.x.

Era segunda feira de manhã de novo. O sol insistia em brilhar e todo mundo sabia que ia ser um dia daqueles. Ainda mais que era começo de primavera e estudar a meia hora de uma praia não era uma coisa muito bacana.
– Larga de ser boba! – puxou a mão de para fora do carro. Todas iam para a faculdade juntas no carro de , que não era assim tão grande, mas cabiam todas. já estava do lado de fora, com os impecáveis óculos escuros, segurando a bolsa de . Esta ainda se agarrava na porta, relutando a sair. Estava se sentindo ridícula daquele jeito e tinha prometido que ia colocar as amigas oficialmente no seu caderninho do Death Note.
– Deixa que eu faço isso. – se enfiou dentro do carro. – Olha só, ou tu sai por bem ou tu sai por mal. – mostrou o punho fechado. engoliu em seco. – E aí, o que vai ser?
– Ok, ok, eu saio. Mas só se vocês tiverem um sobretudo aí.
– Não tem sobretudo aqui! – semicerrou os olhos. – Além do quê, está calor demais pra isso. Sai logo antes que te agarre pelas pernas e te puxe e você sabe que eu faço!
– OK, OK, NÃO PRECISA SER TÃO OGRA! – fez-se um silêncio, todas esperando a saída de do carro. – Certo, vai dar certo, respira, respira.
E saiu.
deu um sorriso de lado, colocando os próprios óculos escuros.
– Agora que a festa vai ser boa!

Desolação e ressaca expressavam bem as feições de e , naquela manhã. Sentados nos banquinhos que faziam jogo com a mesa de mármore do campus, olhavam sem alegrias para os copos de café forte que trouxera para eles. Estavam completamente transtornados por causa do final de semana. Foi dormindo com um travesti que percebeu o quanto ainda gostava de . Ela poderia ser estranha, criançola, muito "kawaii" e boba, mas talvez fosse isso que o atraía. Ela era doce, engraçada, simpática e muito queridinha, era só não irritá-la ou magoá-la. Talvez ele tivesse sido muito precipitado. Talvez esse período longe tenha feito com que ele percebesse que a amava, de seu jeito, mas a amava. Sabia que, se pedisse para voltar, ela não contestaria, então, assim que a visse, iria pedir para voltar. Ela era especial, e meu Deus, ele a queria de volta!
estava verde de tanto enjoo. Já acordara tomando meia garrafa de vodca e colocara tudo para fora antes de chegar à faculdade. Tinha escovado os dentes dez vezes antes de sair, mas ainda se sentia entristecido. Sentia falta de , era verdade. E talvez tenha pensado demais, quer dizer, ela só era muito atarefada, não era como se não gostasse dele. Estava decidido a conversar com ela e expor que estava sentindo, porque isso sim era amor.
estudava alucinado para a prova de logo mais. O calor em nada ajudava e ele queria tanto dormir! Passara a madrugada acordado, segurando a cabeça mole de , enquanto o mesmo vomitava e chorava, falando de a torto e a direito. Era assim que seus amigos se sentiam, quando ele bebia e falava de como se fosse o final do mundo? Porque estava determinado a parar com aquela porra.
– Bom dia, bom dia! – a voz sorridente e grossa de fez erguer a cabeça. Ele não aparentava estar muito ok, visto pelo roxo que tinha no olho esquerdo. Isso já era normal, levando-se em consideração as vezes que ele aparecia com um braço quebrado ou sem metade de um dente da boca. – Eita, gente, quem morreu?
– Digamos apenas que estão com dor de corno. – piscou os olhos algumas vezes, abrindo o próprio café e tomando um gole. se sentou. – acha que a vai terminar com ele e terminou com a e transou com um travesti.
– Isso, , fala mais alto que o pessoal de Berkley ainda não te ouviu! – afundou a cabeça nos braços. – Tsc. Que droga, cara...
voltou a observar as pessoas do campus, enquanto contava, pela milésima vez, que estava desesperado e então a viu. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, usava uma pequena saia jeans, um tênis e uma camiseta de manga, estava linda. Ainda mais que vinha com , e , aos risos, com uma garota nova. Deus, como ela era atraente! Como ninguém naquela faculdade de bosta não tinha convidado para sair? nem era tão brabo como irmão!
sorriu ao ver a esposa. Também usava uma saia jeans e uma camiseta azul escura, belíssima com os cabelos caindo no rosto, emoldurados pelos óculos escuros. Era sempre assim. Quando ele voltava de viagem, ela estava muito mais bela.
pulou de seu lugar e concretizou-se na frente de , de joelhos, beijando-lhe a mão.
– Bom dia, meu raio de sol, minha luz do luar, minha flor mais cheirosa! – ergueu as sobrancelhas. Estava um pouco cedo para beber.
– Levanta daí, seu bundão! – fez, embora sorrisse. se levanto, sim, mas seguiu o caminho até a mesa dos rapazes segurando a mão de e olhando-a encantado. Sentia tanta saudade dela!
– Bom dia! – tirou os óculos e lançou um sorriso manhoso para , que quase tropeçou em si mesmo ao levantar. – Como estão?
– Eu estou ótimo. – beijou a mão da esposa, olhando-a nos olhos. – Ainda mais agora, que você chegou. – a menina tornou-se radiante, todos os vestígios de raiva passando.
– Caham! – fez , cutucando com um dedo. – CAHAM!
– Bom dia, , não quero conversar. – choramingou , sem levantar a cabeça. – Estou triste.
– Por quê? – perguntou, assustando todo mundo. começou a cutucar , desesperado. Aquela menina não poderia ser , nem ali nem na China! não depilava as sobrancelhas; não usava maquiagem; não usava sandálias; não tinha um cabelo bonito; não sabia se vestir. – ? – ela tocou lentamente o ombro do ex-namorado, sorrindo-lhe de leve quando ele levantou a cabeça e teve uma reação tardia ao inesperado. Deu um pulo, literalmente, e arregalou os olhos. Meu Deus, aquela não poderia ser ... Poderia? Tão linda daquele jeito? – Oi.
– O-oi. – ele engoliu a seco. Aquela mal remendava a que havia conhecido e muito menos a que tinha namorado. Era como se tivessem feito nascer de novo! – – Bom dia! Por que essa carinha tão triste? Aconteceu alguma coisa? – abusou de seu olhar mais carinhoso. Aquele! Aquele que todo mundo derretia! Era um golpe baixo, talvez, mas, seguindo as instruções de domingo, isso era só o princípio.
– Nada! Você está linda!
– Obrigada. – ronronou. – Vamos, meninas? – chamou. – Precisamos passar na biblioteca.
, , , e deram as costas, mostrando as pernas totalmente perfeitas dentro de minissaias e jogando beijinho para o ar. começou a pular, tentando "segurar" o que seria de , mas percebeu que era o único babaca que não estava em transe.
– Foi bem, foi bem. – cochichou , olhando de leve para trás. – Acho que vão ficar babando por um bom tempo.
– Ah, como eu amo a primavera! – se esticou. – Época maravilhosa para unir os casais e mudanças radicais! – fez bico. – Que foi?
– Não sei, ainda não me acostumei, olha só o tamanho dessa saia! Dá dois palmos!
– Olha só, – virou a amiga, deixando-a apavorada. – perdemos um dia e duas noites pra te fazer ser uma mulher decente, você não vai voltar atrás. – ergueu o pulso. – Ou você quer?
– Não.
– Então cala a boca e siga nossas recomendações. Fazer o cara de gato e sapato vai ser bom pro teu ego. – fez bico. – Caso não tenha reparado, metade da faculdade está te olhando. E é bom que você coloque em prática o que nós te ensinamos.
– É, eu não quero que meu trabalho seja jogado fora desse jeito. – fez bico. Se bem que ela também se dera um trato. Na manhã de domingo, todas fizeram hidratação no cabelo e o dela estava super brilhante. A maquiagem estava perfeita, assim como toda a roupa. Estava feliz, mas não sabia por quê.
– Só de olho na babação do Lacraia pra você, ! – mexeu , ao que as outras começaram a encarnar. – Achei que ele tinha quebrado o queixo, não parava de te olhar!
– Não tem nada a ver! – corou. – Somos apenas colegas.
– Colegas que já se pegaram e que, se não fosse pelo teu irmão chorando por causa dessa batata frita aqui – apontou para . – teria acontecido bem mais!
– Ah, calem a boca! – ficou mal humorada, especialmente quando as outras começaram a rir. Mas não podia deixar de se sentir envaidecida. Tinha gostado do olhar secante de . E ninguém tinha nada com isso.

C A P I T U L O • 7


Pode-se dizer que teve um dia atípico: bilhetinhos que voavam, recadinhos obscenos vindos do outro lado do campus, moças lésbicas que assoviavam e levavam tapas de suas respectivas. Para as outras, tudo era brincadeira e zoação, mas só se sentia sem graça. Por várias vezes, olhava suas pernas, tentando puxar a saia para baixo, roxa de vergonha, o que rendia a mesma piada de :
- Filha, pare com isso! Parece que nunca viu suas pernas!
E respondia, colocando um casaco por cima:
- Mas não vejo mesmo! – com um bico, via seu casaco ser puxado por , que rolava os olhos. – Esta foi a primeira vez em três anos que raspei as pernas.
Fez-se um silêncio. ficou branca, atônita, sem acreditar. Que não gostasse de se cuidar, era uma coisa; mas não se depilar há três anos?
- Você não quer dizer que... – começou.
- Olha, não vamos entrar neste assunto, tá legal? – ergueu a mão, logo pegando uma batatinha frita. – Ser uma Claudia Ohana não é algo da qual eu possa me orgulhar.
- Eca! – fez careta, colocando o copo de milk-shake em outro canto da mesa. – Poderia ter ficado sem essa. Meu almoço, , meu almoço! – deu de ombros. – Se eu vomitar, a culpa vai ser sua!
Todas riram. Menos uma.
- Falando em vomitar... – e saiu correndo. Toda aquela mistureba de queijo com bacon e calabresa, milk-shake de morango com Ovomaltine e hambúrguer com molho de palmito estava dando reviravoltas em seu estômago. Talvez fosse só tpm, mas só a visão de comendo de boca aberta seria o bastante para passar mal. Não entendia, não entrava em sua cabecinha de nerd – como poderia ser tão aficcionado e apaixonado por ela. Talvez não aficcionado, mas apaixonado, com certeza!
- Sabe, estou preocupada com ela.... – desconversou, saindo de foco. – A anda estranha, tão estressada e esquisita e...
- Tão ! – rolou os olhos. – Conte-nos algo novo, bebê, ela deve ter nascido e usado um choquezinho.
- Agora que você falou, também estou achando estranha. – estreitou os olhos, mirando o vazio. – Eu acho que já sei o que é.
- E o que é? - fez-se silêncio. repetiu a pergunta mais duas vezes até que resolvesse se levantar, decidida.
- Tenho um plano. Mas só vai funcionar se me ajudarem.
- Ah, não! – largou sua batatinha com carinha feliz e catchup na boca (“pra simular sangue!” – completou, com um estranho brilho no olhar) – Ah não! Da outra vez, esses seus planos me fez sofrer por horas! HO-RAS!
pensou por dois segundos, analisando a situação. Antes, estavam contra e, agora, ela estaria junto. E, antes mesmo que alguém falasse algo, soltou seu sorriso maroto de Pestinha Endiabrada e esfregou as mãos.

já estava morrendo de sono. A loja estava entregue às moscas, o que era incomum, visto que Setembro se aproximava. Seus doces estavam ficando azedos, por causa do calor, mesmo com o ar condicionado ligado. Estava entediante, embora soubesse que a hora passaria mais rápido se criasse vergonha na cara magricela e começasse a estudar para as provas.
- E aí, Lacraia, qual é a boa? - abriu a porta da lojinha, provocando um 'fiu fiu' de um brinquedinho erótico da parede. Estava muito bonita, como sempre; os cabelos soltos, provocando ondas coloridas e suaves em seu rosto, a saia, curta e o corpo, perfeito. olharia duas vezes se ela fizesse seu estilo, mas respeitava e era muito marrenta para o gosto dele. - Credo, isso aqui parece um cemitério!
O empregado nem se deu ao trabalho de responder; chateado, abriu o tampão de vidro e começou a colocar em caixas seus doces. o observava atentamente. Nos últimos dias ele parecia distante, muito quieto, quase como se não existisse. Se tratando de e sua visibilidade corporal, não teria nada de diferente nos últimos quase vinte e tantos anos.
Mas havia algo nele que, concluiu mais tarde, o deixava apático. Sua pele estava mais branquela que o normal, e poderia facilmente trocar o apelido de "Lacraia" para "Lagartixa"; os cantos de sua boca não eram vistas para cima havia dias e seu cabelo estava extremamente seco. Se ela não tivesse o mínimo de elegância, diria que ele precisava de sexo, mas não era tão próxima assim. Poderia ser, disse uma voz em sua cabeça. Logo balançou a cabeça. Olha as ideias!
- Tudo indo. - apertou os lábios e forçou um sorriso rasgado, coisa que detestava. Havia algo errado. E, na condição da "amiga psicóloga", fez largar as caixas em cima do balcão e o sentou em uma pequena cama vibratória do canto da loja.
- O que está acontecendo? - foi direta. ergueu uma sobrancelha. - Anda, fala! Posso não te conhecer muito bem, o que acaba sendo bom... - mexeu em seu cordão em formato de borboletinha. - Está sofrendo, Paixão? É o que? Amor? Dinheiro? Aquela tristeza de que não podemos salvar o mundo?
- Eu tô bem - riu de leve, se levantando mas acabando por sentar na cama novamente. - Só estou um pouco preocupado com as provas. Não ando tendo tempo pra estudar muito.
- Ahan, e eu sou uma Coelhinha da Páscoa perdida em pleno Pólo Norte, anda, o que houve? - como não respondeu, ela analisou-o de cima a baixo. Seus cabelos espetados, seus olhos distantes... - , você... está... apaixonado? - a última palavra foi dita muito baixa, quase em sussurro. corou feito um morango tomando sol e se levantou, tentando fugir.
- Eu... não sei do que está falando.
- , eu te entendo. Também me senti assim quando me descobri apaixonada pelo . Foi difícil, sempre foi muito arisco e difícil de lidar. Para ele se descobrir apaixonado por mim, tive que deixá-lo e arranjar outro, olha só! - ambos deram uma risadinha. - Mas agora é sério. - tocou no braço de , se levantando. Teve que manter a cabeça em um ângulo de quase oitenta graus, tão alto ele era - É a ?
- ? Pffff, quem te disse isso, tá doida? Nah, ela é só uma amiga e gosto muito dela.
- Amiga?
Ambos ficaram em silêncio por alguns minutos, encarando-se por alguns momentos. apertou os olhos.
- Você não me engana. Meu décimo sentido nunca falha. - mas a verdade é que seu pescoço já estava doendo. - Olha, posso te propor um acordo. Eu te ajudo a conquistá-la e você me ajuda com um negocinho.
- Que negócio? - perguntou ele, desconfiado.

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passou as costas da mão na boca, sentada inutilmente ao lado do vaso sanitário do escritório. Todas as colegas já tinham batido na porta mas não era para querer ajudar e sim porque queriam fazer xixi.
Com muito esforço, a profissional se levantou, apoiando-se na pia, e olhou-se no espelho: os olhos estavam injetados, estava pálida, os cabelos estavam desgrenhados e ainda tinha vômito no canto da boca. Foi o bastante para voltar ao vaso e recomeçar todo o convulsivo vômito.

.x.

- Ligaremos assim que conseguirmos um retorno!
- Ahn... certo, obrigada. - desligou o telefone, decepcionada, pela décima vez só naquela manhã. Arranjar um emprego não estava sendo fácil, ainda mais quando o antigo fizera sua caveira para todo o setor de viagens. Já tinha três semanas que estava parada e sentia-se subindo pelas paredes. Até tinha limpado a casa, quatro vezes por dia, contou depois. Fizeram tantos salgadinhos de frango que poderia abastecer toda a Universidade e deixá-los cheios. Depois fez bolos. Sentia-se um próprio Cake Boss da vida, mas, depois do terceiro murcho, desistiu da ideia. Fez empadinhas, mas não tinha queijo ralado; então fez de frango. A situação estava preta. Logo as contas chegariam e não teria como pagar. O seguro desemprego já tinha sido usado em grande parte para seus pais, lá longe. Não gostaria de pedir o dinheiro de volta.
Desanimada, ligou a televisão. Não passava um desenho que fosse, só programas de auditório com gente estúpida, barraqueira ou confusa emocionalmente. Não que não fosse o caso dela, mas, quando passou a mão no notebook para se inscrever em um programa de barraco emocional, percebeu o fundo do poço. Até lacrimejou um pouco ao passar os canais, mas algo chamou sua atenção.
- Não consegue emprego? Seu namorado te largou? - dizia o homem na televisão. -Acabe com a urucubaca agora! Ligue para o número que aparece em sua tela e faça os cosmos virarem a seu favor! Mas ligue agora! Os telefones estão bombando!
A propaganda da Microshop não era de todo o mal. Era algo relacionado a porta retratos que emitiam raios ultravioletas e prometiam energizar o ambiente. Tentou-se a digitar os números no aparelho celular, mas tinha trocado de plano para pré pago; então pegou o fixo – algum momento, teria de cancelá-lo.

Talvez fosse loucura, mas passou metade da noite pensando na proposta de . Aah, eram tantas coisas nos últimos tempos que ele estava ficando louco! de um lado, de outro, ... ah, ! Ele não conseguia parar de pensar nela, de fato. E era estranho, porque nem haviam ficado de fato e tudo que sabia dela eram coisas aleatórias que as meninas deixavam escapar. Sabia que estava solteira (duh!), que pulara de curso algumas vezes, que não curtira a adaptação de “Mascarados e Infames” para o cinema e que curtia um sexo violento (palavras de , entre um chope de vinho e uma dose tripla de tequila, há duas semanas).
Talvez devesse convidá-la para um suco...
Naah, convidara pra ver seus doces e acabaram se engraçando por duplo sentido.
Queria conhece-la, de verdade. De saber quais eram as coisas que a alegrava, a entristecia, deixava encucada. Quem sabe, um dia, pudesse evoluir para um namoro!
Mas não era um namoro que ele queria... O que, raios, então, ele queria?
Confuso, perdeu o ponto do molho de tomate e acionou o alarme de incêndio do apartamento. irrompeu porta adentro, com um cabo de vassoura nas mãos, gritando feito condenado. nem se importou; era normal que ele fizesse isso, especialmente se estava sonâmbulo, então nem ligou. sentou-se no sofá, murmurando qualquer coisa que lembrava , mas permitiu-se deitar e abraçar o cabo de vassoura, pegando no sono logo em seguida.
Dividido entre refazer a comida e comprar no restaurante, decidiu-se por pegar o telefone.
- Oi! – disse, quando atenderam do outro lado. – Estava pensando... quer ir comer uma pizza?

.x.

estava incomodada. Batera na porta e tinha esfolado o dedo na campainha de e ninguém atendia. Era até meio estranho porque a) elas não eram tão amigas assim, a mais nova e a segunda mais nova (o que dava às outras o títulos de ‘encalhadas comprometidas’) e b) ela dissera que era urgente. O que poderia ser mais urgente do que uma maratona de FRIENDS, sem cortes e sem propagandas?
Bateu na porta e espancou a campainha de novo, com toda a sutileza de sua baixa estatura e sua carinha de coelho. Era só isso mesmo, porque era fofa feito um coice de mula, mas só com quem não a conhecia. Uma vez batera num garoto porque estava calor e, no primeiro pingo de chuva, ele achou que estava em um clipe dos Backstreet Boys. Não era o tipo de coisa que ela aguentaria.
- , abre a porra da porta! – berrou. – Se você não fizer isso, eu vou arrombar sua porta e não vou pagar conserto nenhum, não!
A porta destrancou na hora mas não foi aberta por completo. empurrou a porta devagar e se encontrou em um local tão clinicamente limpo que uma simples poeirinha se sentiria culpada em cair. estava sentada no sofá branco, em frente a parede branca. Se não fosse pela blusa vermelha e o rosto esverdeado, ela sumiria na decoração.
- Você me ligou? – perguntou , cautelosa. balançou a cabeça. – Que houve?
- Olha, se eu morrer, quero que você cuide de todos. – despejou , de uma vez.
- Mas que porra...?
- se levantou e correu para segurar a mão da recém mulher na sua frente. Levou-a na barriga e fez uma pausa. – Cuide pra mim.
- Ah, meu Deus, você tá...
- Sim! – tinha os olhos marejados.
- Com dor de barriga e quer que eu cuide da sua merda? – abaixou a cabeça. e sua cabecinha...! – Credo, amiga, que nojo! Meu departamento não é esse, não!
- Não, sua criatura nojenta! – apertou a mão de novamente. – Estou grávida. E quero que seja a madrinha.
não reagiu como o esperado; não deu ataque, não gritou, nem nada. Só fechou a boca, sentou-se no sofá e cruzou as pernas.
- Juro que tentei manter em segredo, mas eu sei que vocês já estão desconfiadas e não quero uma guerra nuclear na minha casa por uma madrinha! E você não estava no meu casamento, então...
- Então você achou bacana me convidar pra ser madrinha do pequeno aí dentro...
- Isso! – ainda tinha os olhos marejados. - Sei que não somos grandes amigas, mas gosto de você e quero tê-la mais efetivamente na minha vida. - ela deu uma grande fungada. - Você aceita?
- Tá, mas... como aconteceu?
bufou por dentro, espancando com toda a potência de sua direita, mas sorriu para a menina.
- Sabe, , - começou, tentando invocar seu lado maternal - quando duas pessoas se amam, elas se casam. Aí um dia, o marido põe uma sementinha na florzinha da esposa. Nove meses depois, a dona Cegonha aparece com um bebê.
teve que invocar todo o seu lado zen pra não encher de sopapo. Ok que ela era leiga em muita coisa, mas não era tão besta assim, afinal... era amiga de e , por Deus!
- , eu sei o que é sexo, só nunca fiz. O que eu quero saber é como isso aconteceu, se o mais têm viajado que estado em casa. - estacou, olhando pro chão. Seus olhos se encheram de lágrimas e , por mais confusa e lerda que fosse, ela sacou o que estava acontecendo no momento que apertou os lábios. - Puta merda... - soltou, se recostando no sofá.

.x.

estacionou o carro na frente de uma lanchonete em silêncio. Já passava das duas da madrugada e era sábado, poderia facilmente ser confundido com um encontro. Era só um encontro de amigos, pra colocar o papo em dia, rir um pouco e...
Ok, era sim um encontro: eles não se conheciam direito e tinham decidido ficar amigos.
Mas quem sabe? Monica e Chandler eram amigos antes de casar...

abriu a porta da lanchonete já procurando por . Por um lado, tinha curtido a própria iniciativa de chamá-la pra sair mas por outro condenava-se por tirar a menina da cama tão tarde. Fora um tiro na água, talvez ela nem estivesse em casa. Mas estava e era isso que importava.
acenou da última mesa, no canto. Usava moletom e tênis, porque estava tão desanimada que nem pensara em vestir algo sexy. E, pelo visto, também não. Os óculos sem lente não estavam presos no rosto dele e ele parecia cansado, constatou. Todas as meninas tinham coisas melhores pra fazer e os rapazes que conhecia, para pedir um colo de amigo estavam com suas amigas. era um ótimo ouvinte, mas recentemente tornara-se um pouco chato, meio emo, meio incomodado. Ele era seu melhor amigo homem e dissera na cara dele que estava chato. desligara o telefone chateado e, dois segundos depois, ligara. Poderia ser um aviso, sei lá.
- Sinto muito por ter telefonado tão tarde. - ele sentou-se a frente dela, verdadeiramente envergonhado. Ela não aparentava estar bem e seus olhos estavam um pouco vermelhos. - Aconteceu alguma coisa?
- Nada de mais. - ela fungou, chamando a garçonete e pedindo um pedaço de bolo de cenoura. - Algumas coisas chatas andam acontecendo, só isso.
- Quer desabafar? Sou ótimo ouvinte. - ele tentou. E parecia mesmo interessado em saber o que estava acontecendo com ela. Se fosse um cara, quebraria sua cara; se fosse uma garota, seria cretino com ela. Se fosse a vida, assumiria o posto, só para não chorar mais.
- Tudo bem, relaxa. - forçou um sorrisinho. - Logo passa. Mas e você? Que te deu pra me ligar tão tarde?
- Precisava rir um pouco com alguém, sabe... falar e escutar coisas legais. Também ando levando umas pancadas da vida.
- Bem vindo, querido... - comentou ela, sarcasticamente. Mas foi o suficiente para corar. - Mas então, sr. divertido. Conte-me algo legal.
- Eu não sou divertido, sabe. Sou alto, magro, estudante e faço pintos e peitos nas horas vagas - riu. - E ei, nem vem, porque você provou meu pinto e gostou!
A garçonete, que colocava um prato com um grande pedaço de bolo na frente de , estacou, reprimindo-os com o olhar. Ambos prenderam o riso.
- Sabe, moça - tentou puxar papo com a mulher. Alta, gorda, meio matrona - essa mocinha aqui é a maior tarada que já conheci. Não satisfeita em comer meu pau, resolveu provar meus peitos. Se deliciou com os recheios e esqueceu de me ajudar a finalizar o trabalho!
- Só parei porque meu irmão chegou bem na hora, tá, não foi porque eu não quis! - ela se defendeu. A garçonete olhou o relogio do pulso e o da parede, e mirou aqueles dois jovens universitários, às duas e meia da manhã, falando obcenidades. Tudo que ela queria era fechar o estabelecimento e ir pra casa mas ainda faltava meia hora. - Moça, pode colocar em um pote, por favor? Vou levar pra casa.
- E vai comer tudo sozinha, como naquele dia? - se sentiu ofendido, colocando uma nota de dez na mesa, controlando a risada. olhou-o com certo desdém. - Precisa ser menos controladora, meu anjo... do contrário, não deixarei que você prove a Explosão de Gozo hoje!
- Explosão de Gozo? Não gostei desse, não! Você me falou de um que estava sem nome, então batizo agora de Tesão Alucinante.
- Mas você nem provou!
- Então me leve pra sua casa agora e me mostre.
- Jesus! - a garçonete deu meia volta, largando o pote com o bolo na frente de e se recostando no balcão. No tempo dela não era tão escrachado. A intimidade de um casal pertencia a eles e não era necessário jogar tão aos quatro ventos.

e então mal ficaram na lanchonete. Ao colocarem os narizes pra fora, o vento gélido fez com que capuzes de casaco fossem puxados. E foi nesse momento que perceberam que não estavam vestidos muito diferentes; só o moletom era de outra cor. Logo, não poderia ser considerado um encontro..
Ou poderia?

- Achei divertido como conseguiu deixar a garçonete vermelha. - riu. - São poucos que conseguem fazê-la corar, ela é super dura.
- Não estava pensando muito bem. - ele deu de ombros. BAM! Mentira. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Só queria qualquer motivo tolo pra fazê-la rir e tinha conseguido. - Mas que bom que curtiu.
- Sobre o Tesão Alucinante... - ele começou a corar - eu inventei.
- Eu sei. Porque me lembro que não te mostrei esse. - continuou a andar ao lado dela, as mãos dentro dos bolsos do casaco. Ela estava até engraçada com aquele nariz vermelho. - Você está parecedo a rena do nariz vermelho. - comentou, de forma patética. apertou os olhos em uma falsa ira mas riu, depois de alguns segundos pensando.
- E você parece uma lagartixa de tão branco.
- Você não sabe ofender nem de brincadeira! - ambos riram. se apressou e parou na frente dela, proibindo-a de seguir. - Você é muito ruim. Lagartixa e Lacraia são meus apelidos desde sempre. Já estou acostumado.
- Nossa, como eu iria prever? - ela foi levemente sarcástica. - te chama de tanta coisa que fica impossível de acompanhar tudo!
- E você? Qual é seu apelido especial? - ele começou a andar pra trás, enquanto ela andava pra frente.
- Vamos ver... já me chamaram de enfezada, esquentada, maluca, esquisita...
- Nunca de interessante? - riu e começou a se espantar com o excesso de atitudes que estava tomando. Bem que sentira um gosto estranho no café que fizera... - Desculpa.
- Já. Mas foi há bastante tempo e não é legal trazer isso. Não por agora.
parou de novo, o que fez parar também. Sabia que ela era enfezada e irritadiça, mas sabia também que há um quadro específico de elogios que uma mulher gosta de receber. E era um absurdo, ao menos na concepção dele, que tivesse tempo desde que alguém dissera a ela que era interessante.
parou de novo, o que fez parar também. Sabia que ela era enfezada e irritadiça, mas sabia também que há um quadro específico de elogios que uma mulher gosta de receber. E era um absurdo, ao menos na concepção dele, que tivesse tempo desde que alguém dissera a ela que era interessante.
- Só que... você é. - ele se pegou dizendo. sentiu as bochechas queimando e nem era por causa do vento gelado. Já achara estranho que o cara ligasse às duas da manhã pra "jogar papo fora". Agora fazia alusões razoavelmente desnecessárias. - Você é bonita, sabe. E parece ser muito legal mesmo. - começou a corar. Vai ver era o efeito do café de passando. - E engraçada, pelo que pareceu. Inteligente, interessante e...
Não era muito do feitio de puxar um rapaz pelo cadarço de um casaco e especialmente, de enforcá-lo. até tossiu mas ela não se sentiu impedida. Sentia tanta falta de um carinho masculino, de um elogio e de uma proximidade que cravou seus olhos nos de e empurrou seu capuz.
- Repete.
- B-b-bom, olha, se você quiser, eu não falo mais, sei que falei demais e que você deve estar irritada mas por favor não me bata! - ele apertou os olhos, se protegendo, quando tirou seu capuz. Mas, diferente do que achava que fosse acontecer, ela puxou seu casaco e selou seus lábios nos dele.
Foi tudo questão de dois segundos. O ar estava frio, o cabelo dele estava espetado e o nariz dela, vermelho. Lágrimas preechiam seus olhos mas não caíram.
- Não era pra eu ter feito isso, des...
- Shh. - pôs um dedo na frente dos lábios dela, ainda com os olhos fechados, saboreando aqueles dois segundos como se fossem eternos. - Algo que nós dois precisamos aprender é que nós dois falamos demais.
- Certo - ela engoliu em seco, mantendo o olhar nos lábios dele, agora em um tom mais vermelho. Eram bonitos, até, muito bonitos. E faziam um conjunto esquisito com os cabelos espetados e a atitude nerd. Seu corpo tremia loucamente por dentro e não era por causa do frio. - Você acha que a gente devia...
- Calar a boca? - ambos balançaram a cabeça. - Certo. Também acho.

puxou pela nuca e continuou aqueles dois segundos como se tivesse apertado apenas um botão de pausar. Ao mesmo tempo que achava que tinha sido louco o bastante de chamar a garota pra ir comer pizza às duas horas da madrugada, estava feliz porque tinha virado um bolo e uma queimação estranha, que não ficava presa em um só lugar. Também estava contente de não ter tropeçado ao andar de costas ou ter falado alguma coisa que realmente a magoasse. E ainda mais feliz porque não era um devaneio. Não acordaria no meio do expendiente com o telefone estridente tocando no balcão.
- Me chame de louca pelo que vou dizer agora - começou ela, ainda esquadrinhando o rosto de . - mas você não quer subir e tomar um chá... ou algo... assim?
olhou em volta e só então percebera que tinham chegado no prédio dela sem perceber, tão perto era a lanchonete. Um vislumbre de que escolhera um perto da casa dela voltou à sua mente, pensando que poderia ser difícil para ela voltar sozinha caso ele falasse alguma bobagem. Totalmente sem segundas intenções.

Mas o que seriam segundas intenções, diante daquele momento?, cogitou, em alguns segundos antes de responder que "sim". Toda a sua vida amorosa tinha sido um inferno e era o que tinha transformado em uma pessoa completamente aleatória e sem noção das coisas. Ele havia se fechado por completo. Mesmo chamando algumas meninas pra sair, as que aceitavam, ele não fazia mais do que levar ao cinema e deixar em casa. Achava que tinha até esquecido como era a coisa do beijo, mas estar ali com revivera um sentimento nostalgico. E, pela primeira vez na vida, não se sentiu um perdedor completo. Tinha sua passagem para fora de Loserville.
estava começando a se arrepender. Parecia atirada demais, louca demais, estranha demais. Era a primeira vez que chamara um cara para seu apartamento assim, do nada. Mas sentia-se como se fosse chorar a qualquer momento, até porque uma vez lera que determinados relacionamentos têm o poder de mudar todo o emocional de uma mulher.
Mas eles eram só amigos, pelo amor de Deus!
De qualquer forma, só esperava que não estivesse em casa...

- Olha, desculpa se pareço muito atirada com isso, mas sério, só quero que você tome um chá. O tempo está meio maluco.
- ?
Ela se virou na escada, segurando a respiração. - Sim?
- Cale a boca. - pressionou seus lábios nos dela e ambos riram. - A gente fala demais.
- Irei.

Ao colocar a chave na fechadura, reparou que a porta estava aberta. Isso era coisa de e suas irresponsabilidades. Praguejou, abrindo a porta e chamando pelo irmão.
Mas uma outra figura saiu de dentro do quarto. Era um belo pouco alto e estava comendo uma maça. Olhou de para e vice versa, antes de sorrir, razoavelmente alegre.
- Oi, querida!
Era .
O ex-namorado de .

(continua)

Desculpa MESMO por esse quase 24 meses sem atualização. A inspiração miou e voltava aos capengos :(
Espero que tenham gostado do capítulo =D não esqueçam de comentar aqui embaixo e me fazer feliz xD ^^



Fic dedicada ao meu Monkey Hero fake e ao verdadeiro... e em especial ao @koen1kotic porque ele conseguiu arrancar de mim meu lado aloprado adormecido.