<

Dirty Work

Dirty Work


Autora:
@dance_monkey | Beta: @dance_monkey

Capítulo 1

Abrir os olhos para mais uma segunda feira tinha sido, até ali, o pior momento do meu dia. O grande copo de café gelado não tinha me despertado tanto quanto minhas unhas furando a palma de minha mão. Ah, como detestava Im Chang Kyun!

Ele não era apenas uma criatura detestável - ele era impossível! Eu só tinha aceitado aquele emprego de professora porque precisava da grana para me manter ali. E porque minha empresa havia me dito para o fazer, e estava lidando até muito bem com a situação. Minha carteira de motorista não funcionava lá, assim como qualquer pedido que eu fizesse para a minha colega de quarto. Acreditei seriamente que ela me odiava, até que ela me fez o favor de apresentar Lee Minhyuk, um profissional de eventos com uma língua perigosa.
Até onde eu entendia, minha colega era amiga deste rapaz e era completamente apaixonada por ele - e quem não seria? Alto, magro, loiro e com um sorriso encantador, Minhyuk era o sonho de qualquer mulher ao sul do pólo norte. Ele também era engraçado, divertido e tinha um senso de moda maravilhoso.
- Você precisa soltar esses cabelos. - me disse um dia, depois que Akemi, mais uma vez, tinha deixado o apartamento irritada, deixando fortes impressões de seus pés 35 no assoalho da sala. Virei-me de frente ao espelho, ao que Minhyuk parou atrás de mim e puxou meus cabelos para frente. - Eles são lindos. Você é linda.
- Obrigada, Minhyuk. - sorri. Ele tinha uma aura pura, o que me fazia acreditar que ele apenas tentava ser legal. - Você é um amor.
- Não há de quê. - e voltou para o sofá, com um pirulito na boca. Sua marca registrada. - Sabe, até agora você não me contou desse seu aluno que te trouxe à Coreia do Sul.
Mas por quê estou falando do meu amigo? Ah, sei lá!

Im Chang Kyun era uma pedra no meu sapato, pensei, enquanto apertava o botão do elevador. Ele me irritava tanto, mas tanto que muitas vezes cogitei largar tudo e voltar para casa. Mas de novo, o dinheiro era bom - ou pelo menos para aquele canto do planeta era bom, e eu queria passar mais alguns meses na Coreia do Sul. Era encantador. - Bom dia. - a voz profunda de Chang Kyun tirou-me da lembrança de Minhyuk e me trouxe à bruta realidade. Alto, magro e com rosto de criança, Chang Kyun era um dos jovens advogados da ISS Company. Ele ensinava termos jurídicos em inglês para os estagiários nas horas vagas e era conhecido por ser muito velho para sua idade. Eu era apenas um ano mais velha e ainda assim sentia como se ele fosse infinitos mais velho que eu.
- Bom dia. - respondi, a porta se fechando conosco lá dentro. Todos os dias de manhã, íamos do quinto ao décimo quinto andar juntos e nunca havíamos passado do "bom dia". Soube que ele havia morado no exterior, mas não sabia onde, o que rendia um certo grau de formalidade em falta nos coreanos.
Com um canto de olho, observei que Chang Kyun hoje estava diferente e senti um pouco de dó. A franja estava diretamente sobre seus olhos e seu terno estava um tanto desalinhado; seu semblante estava escuro e sua boca, avermelhada. Suas bochechas estavam arranhadas e então eu percebi que Chang Kyun havia sido pego pelo bichinho da insônia. Eu também estava estressada mas por outros motivos.
Na noite anterior, minha colega de quarto havia dado um ataque de ciúmes quanto a Minhyuk, e dito que estava deixando o apartamento fisicamente. E havia sido só naquela hora que eu tinha percebido que mais da metade de suas coisas já tinham sumido, deixando o armário do quarto como uma grande boca sem dentes. Liguei para Minhyuk, para tentar entender o que se passava, mas ele também não havia entendido, e insistiu em passar em casa depois do trabalho para ver se eu estava bem. Foi quando me abri sobre meus sentimentos: a falta de casa, dos amigos, do idioma. Minhyuk ficou meio assustado no início mas me embalou até que eu pegasse no sono.

Mas minha cabeça ainda doía miseravelmente e, combinados a uma crescente tensão pré menstrual, eu estava fervilhando de raiva.
E foi quando Chang Kyun entrou no elevador, em toda sua altura e beleza enigmaticamente cruéis.
- Está de tpm, ajumma?
- Perdão? - levantei a cabeça, após esmurrar o botão do décimo quarto andar pela milésima vez.
- TPM. Está de tpm, ajumma?
- Eu não sou sua ajumma! - corei. Mas com que audácia!
- Compreendo. - ele deu um sorriso de lado, antes de dar um passo e passar minha frente para apertar o botão do décimo quinto andar. - Devo então presumir que está entrando na menopausa. - abri a boca, incrédula.
Este era Chang Kyun. Uma pedra no meu sapato, sem papas na língua. O cara que tinha algum tipo de rixa pessoal e que me levava do carinho à raiva em poucos segundos. Como eu detestava Im Chang Kyun!

O elevador deu um solavanco e parou de repente. A luz piscou e eu me segurei na parede, tentando não cair, cruzando as pernas em ângulos estranhos por causa do salto. Troquei um breve olhar com Chang Kyun, também brevemente assustado, quando outro solavanco travou o elevador de vez entre os décimos quarto e quinto andares. Mais rápido, Chang Kyun tentou apertar os botões mas todos começaram a brilhar ao mesmo tempo. Apertou o botão da emergência, mas ninguém respondeu.
A crescente tensão estava começando a trazer meu pânico de locais fechados de volta. Eu já sentia as lágrimas chegando ao meus olhos e meu coração batendo como uma escola de samba. A bolsa escorregou do meu braço e eu a joguei no chão, tentando usar todas as técnicas de respiração que eu havia aprendido na terapia, mas nenhuma deu certo. Me joguei no canto, tirando o blazer e desafogando um pouco da minha blusa para que pudesse respirar direito.
- Não sou muito adepto a transar em elevadores, ajumma. - ouvi a voz grossa de Chang Kyun acima, mas não estava com vontade de me irritar ou responder à altura. Eu precisava sair dali o quanto antes, não gostaria que ele me visse naquela situação. Seria no mínimo ridículo.
- Qual é o seu problema? - ele se agachou na minha frente, as calças ficando justas em suas coxas. Eu sentia as gotas de suor na minha testa correndo para meu rosto, desfazendo minha maquiagem e encharcando minhas roupas. Maldito dia que tinha seguido as dicas de Minhyuk e usado uma blusa de seda! - Você está passando bem? - fiz que não com a cabeça, me permitindo levantar o rosto e olhar seus olhos. Os meus encheram-se de lágrimas, o que me deixou com muito mais raiva. Chang Kyun agora tinha todas as armas para me sacanear pelo resto dos dias. - Há algo que eu possa fazer?
- Só fica aqui. - puxei a manga de seu terno e ele se sentou paralelo a mim, as pernas longas esticadas até a porta do elevador. Trêmula, tateei sua mão e a apertei. - Só fica. Aqui.
- Certo. - ele ficou quieto. Fechei meus olhos e respirei fundo, sentindo que estava começando a ficar bem. - Você... tem isso sempre?
- Não. - respondi sinceramente, observando as luzes do painel sumindo de vez. - Já tem algum tempo que não tenho mas está tudo bem agora. Tudo bem. - completei, baixo. Observei-o de canto de olho. Chang Kyun me olhava curioso, os olhos bem abertos por debaixo de sua franja davam-lhe um ar angelical. Estiquei minha mão e tirei sua franja do olho. - Você dormiu?
- Não muito bem.
- Comeu?
- O que é isso, algum tipo de questionário? - mas ele riu, o que me fez sorrir também. Meu nervoso estava passando- Não tomei café, acordei um pouco atrasado. Digo, você sabe, quando você consegue dormir mas já é cedo e você precisa trabalhar.
- Você precisa comer. - comentei o óbvio. Ele fez cara de compreensão, mostrando, pela primeira vez, uma covinha que tinha no canto do rosto. Achei lindo e estiquei minha mão até tocá-la. - Poc.
- Poc. - repetiu e rimos os dois, nossas mãos ainda juntas.
- Você é uma criança legal quando quer, Chang Kyun. - falei, vendo as luzes do elevador se iluminando novamente. O telefone começou a tocar e Chang Kyun se levantou, levando consigo a mão que havia me tranquilizado. Era quase como perder um ônibus em um dia de chuva. Ou quase como quando seu sorvete de casquinha cai no chão e você usou todo o dinheiro que tinha. Era frustrante.
- Levanta, estão vindo nos buscar. - ele ajeitou o terno nos ombros e estalou o pescoço. O Chang Kyun sério estava de volta, colocando a franja na frente dos olhos para impedir que vissem suas olheiras.
Levantei-me com certa dificuldade, abotoando os dois botões abertos de minha blusa e colocando meu blazer. Infelizmente, teria de passar no banheiro para retocar a maquiagem. Mas essa nem era minha preocupação.
Observando Chang Kyun arrumar a gravata e voltar ao ar grosseiro me fez pensar no qua havia acontecido. De repente, eu tinha me sentido invadida por uma preocupação latente, uma vontade de cuidar de Chang Kyun e de colocá-lo debaixo do meu cobertor para que pudesse mimá-lo. Aquela não havia sido a primeira vez que eu tive a sensação. Era como se ele fosse duas pessoas em uma.
A porta do elevador se abriu e Chang Kyun saiu reto, sem olhar para mim. Bom, se era assim que ele queria que fosse, seguiria o jogo.

x.x

Encontrei Chang Kyun novamente uma hora antes do almoço. A sala estava geladíssima quando entrei e ele se levantou quando me viu. Seus olhos ainda estavam inchados, mas agora pareciam avermelhados. Puxei a cadeira e sentei-me na sua frente, abrindo minha pasta na cadeira ao lado e colocando em cima da mesa nossa aula.
Eu ensinava Português a ele cinco dias por semana e ele me ensinava coreano cinco dias por semana. As aulas eram intercaladas entre manhã e tarde, e aquele dia começava comigo. Ao que parecia, Chang Kyun iria passar uns meses no Brasil e eu pretendia fazer cursos de aperfeiçoamento profissional, mas precisava saber o mínimo de coreano para poder me virar. Chang Kyun era bom aluno. Eu que era uma pessoa complicada. Coreano era muito difícil.
- Posso pedir uma alteração hoje, já que é uma de nossas últimas aulas? - sua mão tocou a pasta de exercícios entre nós e Chang Kyun me olhou nos olhos. Mantive os meus em suas bochechas, era muito mais prático e eu ainda me sentia sem graça pelo que havia acontecido mais cedo.
Assenti com a cabeça.
- Será que poderia me ensinar a linguagem do dia a dia? Gírias, contrações, essas coisas.
- Bom, - pendi a cabeça para o lado, as mãos em cima de minhas pernas, tentando se aquecer no tecido da saia. - há várias gírias para ensinar, porque o Brasil é um país bem grande.
- Mas o mais utilizado. - ele piscou. - Você sabe, sou um homem jovem. Preciso de amigos.
- Amigos? - ergui uma sobrancelha. Chang Kyun não parecia ser o tipo de menino que tinha amigos, digo... ele era muito bruto, muito ácido, muito... escroto. - Você tem amigos?
- Tenho. Por que? Quer que te apresente um e te desencalhe, ajumma?
Respirei fundo ainda sorrindo de forma demoníaca, as unhas atravessando minha saia e cravando em minhas coxas.
- Estou ótima, Chang Kyun, obrigada, pela preocupação.
Seus olhos rolaram para cima enquanto ele umedecia os lábios com a língua e algo em mim revirou. Eu ainda sorria como uma possuída, mas um calor inexplicável corou minhas bochechas.
- Ficou excitada com isso? - ele ainda estava sério. Fechei meus olhos e respirei fundo, pegando as folhas e guardando dentro da pasta.
- Pare de ser idiota, Chang Kyun. - murmurei, séria. Não daria a ele esse gosto.

Ouvi o barulho da cadeira arranhando o carpete e a figura de Chang Kyun se levantando, dando a volta na mesa e puxando a cadeira ao meu lado. Minhas bochechas queimaram de leve novamente, as folhas amassando incontrolavelmente em minhas mãos. Por que eu estava me sentindo daquele jeito? O que estava acontecendo? Era o efeito Chang Kyun. Ele tinha o poder de me levar do amor ao ódio em alguns breves segundos.
E agora eu descobria que talvez mais alguma coisa mas preferia nem cogitar a ideia. Seria ridículo demais.
- Esqueça isso. - ele segurou meu pulso, tirando a pasta de minhas mãos e me fazendo olhar para ele. Mentalmente me pedi para olhar para o fundo da sala de reuniões e focar nos desenhos das ações ao fundo. Qualquer lugar seria melhor. - Minha voz te deixa excitada? Meu toque te excita também? É isso?
- Do que você está falando? - franzi a testa. Se ele queria que eu caísse naquela, estava há muito tempo na Coreia do Sul para conhecer as formas de conquista dos coreanos. Eram patéticas. Não existe uma forma correta de se chegar em uma mulher, mas eu tinha certeza de que aquela não era uma.
Chang Kyun aproximou o rosto do meu, puxando meu pulso para tocar sua coxa, encostando os lábios em meu ouvido. Senti um breve formigamento da ponta dos dedos até o último fio de cabelo e puxei a mão de volta.
- Se eu falasse coisas doces no seu ouvido, você iria gostar?
- Eu... - pigarreei, me levantando. - Eu vou almoçar.
- Bom almoço. - ele se levantou junto, prendendo uma risada. Encostou a boca no meu ouvido de novo e o simples toque de seus lábios em minha orelha me deixaram com calor. - Se você for bacana, talvez eu deixe você ser minha sobremesa.
Espalmei as mãos em seu peito e o empurrei. Que audácia, que desplante daquele moleque! Com que propriedade ele tinha esse direito?
Mas Chang Kyun só sorria, me dando um tchauzinho de covinhas, o que me levou a crer que ele estivesse brincando comigo. Novamente senti a raiva chegando nos meus olhos inchados. Como eu odiava Im Chang Kyun!

Capaz de incendiar, você é tão cruel...
(Chocante - Choque de Amor)

Capítulo 2
"Hey, ! ;) Tenho coisas para te contar! Conheci alguém! ;) Beijo beijo!"

Olhei para a mensagem sms que havia recebido durante o horário de almoço e precisei engolir em seco mais uma vez antes de entrar no escritório de advocacia. Será que já tinham criado formas novas para se dar o fora em alguém por sms? Eu havia recebido uma.
Enquanto abria a porta principal do prédio de vinte andares, situada em uma das ruas mais frenéticas de Seul, lembrei-me do encontro com Wonho. Ele era um espírito livre e Deus sabia bem o quanto eu não gostaria de impedí-lo disso. Havíamos nos conhecido em uma das inúmeras festas de Minhyuk, esta em especial ele teve de me convencer a ir. Eu não era muito fã de noites de caraoquê mas era um evento beneficiente e teria várias velhinhas lá para que eu pudesse treinar meu coreano formal.

Não correu como o esperado. Depois de quase ser espancada pelas velhinhas locais quando disse "ajumma" sem querer, preferi me contentar em apenas ajudar Minhyuk com as filipetas de chegada.
- Se elas soubessem quão fofa você é, garanto que não teriam te batido. - levantei meus olhos das contas do bar e vi um homem alto e loiro, sorrindo para mim. Ele tinha uma beleza não convencional, embora seu sorriso de propaganda de creme dental quase tivesse me deixado cega. - Estive te olhando dali do outro lado. Precisa de ajuda? - Oi? - falei em português, a boca aberta como se tivesse caído uma bigorna na minha mandíbula. Um deus grego falava comigo e eu, há alguns anos sem um bom encontro com o espécime, me comportava como a idiota da aldeia. - Ah, não precisa, mas agradeço se puder pegar um banco para mim.
- Você é de fora, não é? - perguntou, depois de prontamente voltar com um banco de pé alto. Comecei a corar como uma colegial e abaixei o rosto, fazendo com que ele buscasse o meu. - Meu nome é Shin Ho Seok. Mas pode me chamar de Wonho.
- Prazer. - apertei sua mão de dedos fortes e senti um pouco de dor em um ponto um pouco mais baixo.
O elevador marcou o décimo quinto andar e eu já entrava no ambiente das leis e livros e objeções, ainda com a mente em Ho Seok. Nós havíamos nos dado bem, era um bom rapaz. E beijava bem, meu Deus, como beijava bem! Mas eu sabia aonde toda aquela empolgação iria. Eu não sou idiota, embora minha cara e minhas atitudes às vezes transpareçam.
- Eu não quero me apegar. - disse, após nosso primeiro beijo no cinema. - Saiba que isso não se transformará em algo sério, mas eu te aviso quando o sentimento acabar.
Lembro de ter concordado veementemente com a cabeça, ainda corada pelo frio, querendo que ele calasse a boca e continuasse me beijando.

É desnecessário lembrar que as coisas não foram bem como eu planejei, porque eu também não queria algo sério. Mas me divertia tanto com Wonho, a gente ria tanto! Uma vez, fomos no show de um cantor que eu gostava, Peck Palit, que cantou uma música especial para nós porque parecíamos um casal apaixonado. Eu não queria desfazer das palavras de Palit, ainda mais com Wonho me abraçando de forma tão protetora. Lembro também de voltarmos meu apartamento (Akemi tinha viajado) e de dançarmos levemente alcoolizados no corredor antes de Wonho me tomar em seus braços e me beijar e, ali mesmo, no corredor, abrir minha blusa.
Quase não conseguimos fechar a porta do apartamento. Wonho me tomou em seus braços fortes e me encostou na geladeira, rasgando minha saia enquanto mordia meu pescoço e me dizia palavras lindas sobre como eu fazia com que ele se sentisse. Eu era especial.
Tomado por algum tipo de força descomunal, ele me virou sobre a bancada da cozinha, me penetrando por trás com força. A surpresa me fez gritar alto o bastante para que ele risse e colocasse a mão na minha boca, onde mordi seus dedos com raiva. Tinha doído, mas quando ele começou a se mexer, esqueci qualquer palavrão que viesse na minha cabeça. Eu queria machucá-lo como no minuto anterior, tão forte ou quase tão forte quanto, então mordi seu pulso, deixando meus caninos marcados profundamente em sua pele.
- Lembra de quando falei do sentimento? - perguntou ele ofegante, vinte minutos e vários orgasmos depois, deitado ao meu lado. Todos os imãs da geladeira tinham caído no chão, assim como as panelas em cima do fogão e a bancada da pia estava arranhada.
Fiz que sim com a cabeça, descabelada, suada, com batom na testa e algumas peças de roupa rasgadas e sem solução a não ser comprar novas.
- Acabou.

- Não olha por onde anda, não! - uma voz quebrou meu raciocínio, levando-me de volta para aquele mês quente de Junho. Chang Kyun estava na minha frente, um copo em mãos e o cenho franzido. - Você derrubou café em mim! - e saiu batendo os pés para o banheiro. Todo o compartilhado me olhou e eu, já cansada pela simples lembrança de Wonho, ajeitei minha bolsa no ombro e o segui.
- Ah, Chang KYun, me desculpa, estava com a cabeça longe.
- Provavelmente pensando no ponto de tricô que esqueceu de fazer no domingo, huh? - ele pegou um papel toalha e colocou debaixo da água. - Merda, minha blusa favorita.
- Se você passar sabonete, vai piorar. - tirei o papel de suas mãos, mas ele o pegou de volta.
- Aprendeu isso onde? Em algum tipo de programa matutino do lar? Ah, é, esqueci que você não é casada e que, por isso, não tem noções de como ser uma boa dona de casa.
- Eu não preciso de um homem para saber dessas coisas! - rebati, correndo até o frigobar da sala ao lado e pegando um cubo de gelo.
Chang Kyun ficou calado, enquanto eu passava o gelo em sua blusa, esfregando levemente até que a mancha começasse a sair. Onde eu estava com a cabeça quando resolvi me lembrar de Wonho, àquela hora da tarde? Ele havia conhecido alguém, e daí? Não era como se eu tivesse deixado crescer um sentimento, afinal, aquela estória tinha durado três semanas e um dia e eu ainda tinha a marca do dente dele no meu dedão do pé. Ele havia conhecido alguém. E eu tinha caído novamente no conto da irmãzinha. Ah, inferno.

O conto da irmãzinha era e é simples: o cara fica com você e de repente tudo acaba, mas ele ainda guarda um sentimento de carinho por você, mas não um sentimento qualquer. Anotem as palavras, gracinhas, é o sentimento de irmã.
- Porra, Jooheon, irmã? - perguntei, ao primeiro coreano com o qual tinha dormido. A gente se conheceu, novamente, em uma festa de Minhyuk. Às vezes queria acreditar que o intuito de Minhyuk era me desencalhar, porque todas as grandes festas que ele me levava à contragosto me fazia sair com alguém que me fizesse quebrar a cara. Jooheon me olhou, sério. Balancei a cabeça, furiosa.
- Não tinha nada de fraternal há dez minutos, quando você estava implorando para que eu gozasse, não?

- Ótimo, agora minha camisa está molhada e amarrotada. - novamente a voz de Chang Kyun me tirou do devaneio. Engoli em seco, sentindo as lágrimas vindo aos meus olhos. O poder que a mensagem de Ho Seok tinha sobre mim parece ter aberto a represa que eram meus sentimentos. Eu nunca fui do tipo de mulher que lamenta. Acreditava e acredito que, se não é para ser, não é. E talvez Jooheon e Wonho não eram para ser. Eu não iria chorar por eles, não depois de quase três meses.
- Não gostou, faça você mesmo. - taquei o gelo na pia e me virei de costas para Chang Kyun, secando uma lágrima que estava querendo sair. - Eu vou embora.
- Espera, eu estava brincando. - ele me virou meio a contragosto e eu continuei olhando para o chão. Seria a segunda vez que ele me veria naquele estado choroso e era tudo que eu não gostaria que acontecesse. - Desculpa?
- Aceitas. - engoli em seco, tentando me soltar de suas mãos fortes, mas meu pulso não parecia corresponder muito. - Será que agora posso ir embora?
- O que aconteceu? Eu estava brincando. - novamente virei o rosto, as lágrimas agora caindo livremente nas minhas bochechas. Chang Kyun colocou a mão no meu rosto. - Olha, eu não sou bom com mulheres chorando, mas posso ser amigo quando quero. Sou bom ouvinte.
Soltei-me de sua mão forte e olhei fundo em seus olhos. Estava com raiva por ter me lembrado de Wonho, mais raiva ainda por ter me lembrado de Jooheon e estava fumegando com a ideia de Chang Kyun querer me ajudar. Aquele sentimento de oito ou oitenta que eu sentia estava me enlouquecendo a cada dia e o que tinha acontecido naquela manhã tinha me deixado ainda mais confusa. Eu só queria ir para casa, ligar o ar condicionado, colocar meu cd do McFly no último volume e gritar que eu adoraria envolver meu coração em um plástico bolha.
- E a nossa aula de hoje?
- Foi cancelada. - funguei, indo em direção a porta do banheiro.

O ar condicionado estava no mínimo, "Bubblewrap" estava na terceira repetição e eu ainda olhava a mensagem de Wonho, sem saber se respondia ou não. Se não respondesse, seria uma confirmação de como eu ainda estava mexida; caso respondesse, daria meu aval para que ele seguisse a vida.
A campainha tocou e eu me levantei, puxando a manga da minha camisa e indo até a porta como pude. Quando vi Minhyuk do outro lado, com um saco enorme de chocolates e sorvete, eu sabia que tinha escolhido a pessoa certa para ser meu melhor amigo.
- O que aconteceu? - perguntou ao entrar, enquanto eu corria para minha cama e me jogava com tudo de rosto para baixo. - Ei, - senti seu peso no meu colchão e sua mão em minhas costas. - o que aconteceu?
Foi demais. Ver sua preocupação real me encarando, em todos os poros que ele tinha naquela cara de filhote canino, combinadas ao meu coração frágil e a voz de Tom Fletcher ecoando nas caixas de som, dizendo que era a última vez que eu deveria me preocupar com meu coração... foi o suficiente para que eu explodisse em lágrimas.
- Calma, calma! - ele se esticou e abaixou o som do rádio e eu agarrei sua camisa como se fosse um bote salva vidas. Eu chorava feio, da forma que a Oprah diz que é o choro feio, com direito a meleca saindo do nariz e caretas. Minhyuk me abraçou e beijou minha testa, enquanto eu tentava, em vão, contar o que tinha acontecido. Abri meu coração e contei como Wonho, Jooheon e até mesmo sobre o que sentia por Chang Kyun e como estava confusa com tudo aquilo. Como achava que Akemi me odiava porque achava que eu estava afim dele e de como eu achava que o One Direction nunca mais iria voltar.
Minhyuk me ouviu como o bom amigo que era. Tirou os sapatos, jogou o casaco em cima da minha mesa e se encostou na minha cama, ainda beijando minha testa, mas em silêncio.
Aos poucos, fui me acalmando e, abraçada à sua barriga, comecei a retomar o fôlego. Estava me sentindo exausta.
- Escuta. - Minhyuk levantou meu rosto e eu o observei, o rosto inchado. - Talvez não fosse para ser. Talvez você e Jooheon não fosse um caso certo, ou você e Wonho. Aliás, eu não gostei muito dele contigo, eu sabia que ele iria te machucar de alguma forma. Agora, esse Chang Kyun... eu não sei qual é a dele. Uma hora parece que quer só te incomodar e outras, que te quer ao lado dele. Fuja desse tipo de homem. Eles sempre arranjarão jeitos de destruir seu coração.
- Obrigada, Minhyuk. - funguei, voltando a abraçar sua barriga e me sentindo mais confortável. - Sabia que poderia confiar em você.
- Agora, sobre o que disse sobre mim... - ele parou de brincar com meus cabelos e eu me senti um pouco alarmada. Era como se meu coração tivesse descido em roda gigante até meu estômago. Só queria que ele não dissesse o que eu estava pensando. - Bom, é verdade. Eu gosto de você. - me ergui na cama, olhando seu rosto contraído. Suas bochechas estavam vermelhas e seu cabelo estava arrepiado nas pontas. - Mas sei que é um amor platônico e que nunca vai rolar, então eu... - me estiquei e beijei seus lábios.

Minhyuk me olhou confuso, provavelmente achando que eu estava variando pela confusão sentimental que eu sentia. Até fosse, mas alguma coisa me puxava para ele, todas as vezes que eu precisava de um colo e ele sempre estava ali para mim. Ele nunca dizia não e até mesmo tinha dado um soco em Wonho quando o encontrou, na semana que ele havia terminado comigo.
Minhyuk estava sempre do meu lado. Minhyuk era doce, carismático, divertido e ele sempre me colocava lá em cima.
Minhyuk gostava de mim.
- Olha, , é melhor não, você está frágil e..
- Shh shh, cala a boca, ok? - e puxei sua nuca, colando minha boca na dele com sofreguidão. Eu até poderia estar sofrendo da chamada "Síndrome do Coração Partido" e até pudesse estar jogando frustração em uma pessoa errada, mas eu precisava daquilo.
Minhyuk não se opôs, abraçando-me pela cintura e me puxando para cima de seu corpo com destreza. Seus dedos longos e finos percorreram minhas costas enquanto eu colocava minhas pernas ao seu redor e beijava seus lábios. Tinham gosto de sorvete de morango no verão.
Tirei minha blusa de manga comprida e o ajudei a tirar a camiseta do Ramones, vendo que ele não era o "menino" que eu julgava ser. Minhyuk era um homem, e, até então, eu tinha muita dificuldade de colocá-lo nesse patamar. E bem como um homem adulto, ele iria fazer coisas adultas, o que eu daria minha mão para colocar no fogo em afirmar que ele nunca tinha feito. Ele era tão bacana e agia tanto como uma criança que eu duvidava que ele soubesse o que a palavra "sexo" significava.
- Espera...
- Dentro da gaveta.
- Você realmente quer fazer isso? - perguntou alguns segundos depois. Meu coração estava batendo muito forte e eu sabia que tinha ido longe demais para parar com tudo. - Porque por mim, eu super vou entender.
Joguei uma almofada em seu rosto e ri.
- E eu lá sou mulher de dar para trás?
- Por trás também? - ele riu, abrindo os braços e me enlaçando. Abracei sua barriga e me senti aconchegada. Ele era tão bacana, tão doce! - Eu gosto demais de você.
- Eu também gosto muito de você. - levantei o rosto e beijei seu nariz. - Já imaginou que esquisito, nós dois?
- Quer que eu fale ou é melhor eu ficar calado? Porque eu penso em você todos os dias quando vou tomar banho. - bati em seu braço - O que é? Eu sou sincero! - rimos os dois.
Voltei a deitar em seu peito e comecei a pensar. Como seria se eu namorasse um cara como Minhyuk? Um cara que sempre me fizesse rir e sempre me cuidasse? Que chegasse com um pote de sorvete e várias barrinhas de chocolate quando eu estivesse mal? Será que algum dia eu teria essa sorte?
- Está pensando demais outra vez... - ele continuou a brincar com uma mecha do meu cabelo e senti seu peito levantando e murchando. - Você precisa aprender a desapegar.
- Falou o rei do desapego. - ri, abraçando sua barriga com mais força. - Eu te amo tanto, sabia? Eu poderia te morder só pra você entender o quanto!
- Se for fazer você parar de pensar besteiras, eu ofereço minha mão. - e esticou a mão. Ri, empurrando sua mão de volta. Ele era uma graça.
- Olha o que quase fiz, quase abusei de você, uma criança! - suspirei. - Eu só queria não estar me sentindo tão mal.
- Finge que nunca recebeu essa mensagem, . Wonho faz parte do seu passado. Você está comigo, agora. - levantei a cabeça, sem compreender, e me mexi, fazendo contato visual na mesma altura. Minhyuk retribuiu. - Será que...

Minhyuk colocou a mão na minha bochecha e voltou a me beijar de forma carinhosa. Fui levada pelo momento e deixei que sua mão esquerda acarinhasse minhas costas, abrindo meu sutiã com destreza. Engoli em seco quando subi novamente em seu corpo esguio, ainda sem parar de beijá-lo, minha mão desajeitada abrindo a gaveta do abajur e buscando um preservativo. Ele tinha deixado a caixa lá, "sabe, a gente nunca sabe quando essas coisas vão acontecer e se você ficar grávida, S/N, eu vou me sentir especialmente culpado por não ter te ajudado, sou muito novo para ser tio", alguns meses antes, quando eu ainda estava com Wonho. Ele sabia que as coisas com ele não eram fáceis.
- Você é linda. - disse, puxando meu short enquanto beijava meu ombro. Sentei-me novamente na cama enquanto ele fazia o que tinha de fazer. - Sério, você é linda demais.
- Só espero que você não me odeie pelo que vou dizer agora, mas - beijei seu pescoço novamente. - você é meu amigo. Apenas isso.
- Foda-se. - ele puxou meu rosto com certa força, enquanto puxava meu short de pijama para o lado e me buscava. - Você é a melhor amiga desse mundo.
- Você é meu melhor amigo. - ri, saindo de cima dele e tirando o short. Minhyuk segurou meu bumbum com ambas as mãos e ambos fechamos os olhos em êxtase quando ele me encontrou. Meu coração bateu ainda mais rápido; a barreira tinha sido cruzada.
- Se eu te dissesse que eu vim pra cá apenas para te confortar, você acredita? - riu, nós dois ainda parados. Sorri.
- Eu acredito. Eu sempre destruo a sua cara de bom moço.
- Mas você pode. É a única que pode. E é a única que deve.

Minhyuk e eu quebramos minha cama. Eu mordi sua orelha. Rolamos da cama para o chão do quarto e do chão do quarto para o chão da sala. Ele comeu sorvete de morango na minha barriga e rimos quando eu descobri que ele espirra quando goza. Tinha sido uma experiência divertidíssima, embora estivesse me sentindo como uma tremenda filha da puta por abusar de uma pobre criança (e que criança!).

Eu estava morrendo de medo de como seria o dia seguinte, afinal, a gente agora se conhecia de forma ainda mais profunda. Tinha medo de Minhyuk nunca mais olhar na minha cara, nunca mais ser meu amigo ou nunca mais vir na minha casa porque eu tinha quebrado seu coração ao afirmar que ele seria apenas um amigo para mim.
Mas quando o vi abrindo a porta da sala com a bunda, no dia seguinte, tirando os tênis com o calcanhar, enquanto tinha uma caixa de pizza nas mãos e sugeria que passássemos trotes para Chang Kyun e Akemi, senti que talvez eu tivesse me preocupando demais. Minhyuk era meu amigo.
E o melhor amigo que alguém poderia ter.

"Não sou Deus, não posso mudar as estrelas"
(McFly - Bubblewrap)


Capítulo 3

O final de semana havia chegado tão rápido que não tive como associar os fatos acontecidos. Dormir com Minhyuk, a aproximação tímida de Chang Kyun, a lembrança de Jooheon, a mensagem de Wonho. Tudo era uma confusão na minha cabeça e, perdida entre diversos documentos para traduzir, mal pude raciocinar os olhares de Chang Kyun.
Continuamos nossas aulas no dia seguinte à mensagem de Wonho. Cheguei no prédio com o rosto inchado, ja que tinha chorado a noite inteira - havia optado por não responder, mas então, Minhyuk abriu meus olhos; eu precisava expurgar o sentimento. Wonho acabou me ligando e foi só ouvir sua voz que eu percebi que não o amava mais. Ele era uma doce e bruta lembrança do meu passado.

Chang Kyun penetrava seus adoráveis olhos castanhos nos meus todas as vezes que eu citava a frase "última semana". Era verdade que minha última semana na Coreia do Sul estava chegando. Meu contrato com a empresa estava finalizando e minhas passagens estavam compradas para o final do mês, ou seja, dez dias. Por um lado, eu me sentia um pouco aliviada, já que poderia voltar para casa, ver meus familiares e cachorros e deixar aquela péssima impressão para trás. Talvez a impressão não tenha sido minha, mas eu sentia que tudo que estava dando errado era culpa minha e que todos sabiam disso.
- Ei, você está ok? - a voz dele me tirou do transe. Era sexta feira. Não sei por quanto tempo fiquei olhando para o caderno em branco, o lápis repousando em cima da palavra 'comida'. Com a testa franzida, levantei o rosto e observei que Chang Kyun tinha pintas por todo o pescoço e rosto. Hoje, sua franja estava para o lado e sua gravata estava torta, o que significava que ele andara tentando fazer o nó. Eu sabia que ele era bastante ruim nisso e que pedia para a mãe deixar as gravatas semi prontas todo domingo (cortesia das fofoqueiras de plantão do escritório). E meu toc fazia com que meus olhos estivessem grudados naquele nó torto há meia hora, enquanto Chang Kyun me observava curioso. - Ei!
- Desculpa, perdi a noção do tempo.
- Percebi. - ele deu uma risadinha, meus olhos ainda no nó torto em seu pescoço. Se ao menos eu pudesse esticar minhas mãos e refazê-lo...!
Refazê-lo sem sentir tesão.

Finalmente eu havia entendido o que sentia por Chang Kyun: atração. Tesão. Vontade de que ele me jogasse na parede e me chamasse de lagartixa. Vontade que ele jogasse todos os objetos da sua mesa no chão e me possuísse ali mesmo. E eu odiava a sensação de ter de me controlar todas as vezes que ele estava no recinto, ainda mais porque ele era e é uma peste. Da mesma forma que eu sentia vontade de arrancar suas roupas e morder todo seu corpo, também sentia uma vontade incontrolável de encher seu lindo rostinho de tapas todas as vezes que me chamava de ajumma. Ou quando perguntava como era ter menopausa. Eu sabia que fazia para me perturbar mas não conseguia evitar de me irritar.
- Olha, não entenda como algo errado, mas estou ficando nervosa com sua gravata torta.
Me levantei e dei a volta na mesa, puxando um preguiçoso Chang Kyun pela gravata. Ele se levantou e eu estiquei minhas mãos para a gravata, tirando-a com destreza. Percebi que Chang Kyun me olhava de cima, já que era mais alto do que eu, e senti um arrepio na espinha quando ele colocou a mão na minha cintura. Minha cintura... há vários pontos erógenos em uma mulher e minha cintura, com certeza, é um. Engoli em seco enquanto puxava para baixo o pedaço de tecido. Chang Kyun puxou-me levemente para perto de si e eu senti uma gota de suor percorrendo minha espinha, enquanto meu coração batia forte.
- Olha pra mim. - me forcei a olhar para cima, sem saber o que estava por vir, quando senti sua mão esquerda levantando meu queixo. Seus olhos brilhavam tanto que me senti um pouco cega. - Eu não gostaria que essa próxima semana fosse a última. Não tem como você ficar mais uns dias?
- Não. - engoli em seco, fechando os olhos. - É que... olha, Chang Kyun ssi, eu tenho toda uma vida no Brasil. Vim pra cá com o intuito de...
- Eu sei por quê você veio. Queria saber o que posso fazer para você ficar mais.
- Eu... - ainda segurando meu queixo, Chang Kyun fechou meus olhos com os lábios e eu senti sua respiração perto do meu ouvido. Arrepiei dos pés a cabeça mas eu sabia que era errado. Ele era meu professor. E eu, professora dele. Era um ambiente de trabalho. E eu não sabia o que estava sentindo.
- Por favor. - sussurrou. Por um momento, tive a vontade de arrancar aquela gravata e estourar os botões de sua camisa branca e pedir para que me jogasse na mesa de reuniões e me comesse.
Sua bochecha roçou de leve na minha e eu já sentia o calor invadindo meu corpo quando Chang Kyun colocou seus lábios entre os meus abertos e levemente puxou meu lábio inferior com os dentes.
Também foi o momento que a porta da sala de reuniões B se abriu e nosso superior entrou, buscando papéis e mais papéis que somente Chang Kyun poderia saber onde estavam.
- Achou mesmo que eu fosse beijar você? - Chang Kyun pegou seus papeis, enfiando na pasta com uma risada de canto de rosto. Eu ainda estava tentando controlar a bagunça emocional que ele tinha me enfiado - estava suando e todo o meu sangue tinha partido para a virilha. Tinha de voltar a ser prática. Ele não iria me beijar mesmo, iria? - Não quero que sua dentadura chegue perto da minha boca, muito obrigado.

Tinha sido a única coisa grande relacionada a Chang Kyun que havia acontecido desde O Caso do Elevador. Eu acreditava firmemente que Chang Kyun existia para me tirar do sério, e, quando no dia seguinte abri meu coração novamente para Minhyuk, deitados no chão da sala comendo algodão doce, percebi que parecia uma adolescente de treze anos com um amor platônico. Era patético.
- Talvez você esteja pagando pelos seus carmas. - sugeriu ele, tirando o doce rosa das minhas mãos. - Você sabe. Wonho, Jooheon, eu... talvez sejamos todos carmas e você nos teve em sua vida para poder aprender algo.
- Mas aprender o que!? - perguntei, abrindo um chocolate com hortelã e mordendo. - Será que ele existe para me atormentar? E por que me sinto tão atraída por ele?
- Porque ele é lindo, é advogado em uma idade tão nova e é uma delicinha? - Minhyuk riu, olhei para ele, confusa. - Pode ser tantas coisas...
A campainha tocou mas os dois estavam com preguiça de levantar, então quando tive de me mexer, franzi a testa para Minhyuk.
- Você não convidou ninguém pra vir aqui sem consultar a mamãe primeiro, não é? - ajeitei a blusa e Minhyuk sorriu, seus olhos ainda fechados. - Já vai! - gritei, quando esmurraram a porta com força, e a abri. Uma garoto baixinho, de cabelos rosa e cara invocada entrou no meu apartamento sem ser convidado. Nem tirou os sapatos!
- Minhyuk hyung! Minhyuk hyung! - fez, olhando na cozinha e então chegando na sala. Segui seus cabelos esvoaçantes, observando Minhyuk já de pé, corado feito um morango, tentando falar alguma coisa. - Estou tentando falar contigo a semana inteira, o que está acontecendo que não me atende?
- E-eu... eu... - Minhyuk me olhou em busca de ajuda. O garoto virou o rosto para mim e apontou, em um tom que julguei ser incrédulo e nojento.
- Essa é a ? É ela, hyung? - o baixinho me olhou dos pés a cabeça, como se fosse um raio x, mas voltou sua atenção para Minhyuk. - Achei que teria um gosto melhor, hyung.
- Hey! - interferi. - Quem é você pra entrar na minha casa, me destratar assim e agir como dono do meu amigo?
- Eu sou o namorado dele!
Namorado?
A palavra me atingiu como um bofetão no meio da cara e na mesma hora, olhei Minhyuk. Seu rosto agora saía de morango para um tom de roxo sem igual. Então Minhyuk tinha um namorado, dormia comigo algumas vezes, o que significava que ele só poderia ser... - Você é gay?
- Bem, gay não é bem a palavra que eu diria que eu...
- Mas você dormiu comigo!
- Ele o que? - o baixinho ergueu as duas sobrancelhas. - Eu só te pedi para lavar a louça e você dorme com a primeira piranha que aparece?
Ergui minha mão e bati nas costas de sua cabeça. Afrontoso! - Você trate de medir suas palavras muito bem quando estiver comigo, seu Nanico!
- Por favor, não machuque ele!
- Você é bi, Minhyuk?
- Bem...
- É óbvio, só pode ser isso! - o baixinho rolou os olhos e ajeitou o capuz do casaco. - Se queria um túnel, querido, era só me pedir!
- Espera, isso tudo está muito confuso! - coçei a cabeça. - Primeiro de tudo: como se chama?
- Yoo Kihyun. Por que?
- Só pra saber, caso eu precise te matar. Segundo: Minhyuk - me aproximei da figura alta e loira, que estava se sentando no sofá. Minhyuk estava muito vermelho e senti dó. Parecia que ele estava lutando contra algo que não dava para negar e que aquilo doía. - Meu bem, por que não me contou? Achei que fosse sua amiga.
- Achei que não fosse mais gostar de mim. - confessou, deixando seus braços caírem em seu rosto. Pela primeira vez em alguns meses, estava vendo Minhyuk sem forças. Kihyun continuava em pé na nossa frente, os braços cruzados, mordendo a bochecha. Olhei para ele em busca de ajuda, mas talvez ter pintado o cabelo de rosa tivesse derretido seu cérebro. - Eu gosto de você.
- Ei, e eu? - Kihyun franziu a testa e tive de olhar para ele, arregalando os olhos. Será que ele não tinha noção do que estava acontecendo?
- Eu também gosto de você. E isso é confuso.
- Pense pelo outro lado, Minhyuk. - brinquei, tentando amenizar o clima. - Se um dia quiser fazer a três, você tem a gente. - Minhyuk tirou os braços do rosto e me olhou e depois para Kihyun, que prendeu uma risada. E então sorriu, transformando logo em uma gargalhada. Bateu no braço do sofá e Kihyun se sentou, umedecendo os lábios com a língua.
- Acho que preciso fazer isso direito. Yoo Kihyun, . , Yoo Kihyun. - estiquei minha mão e apertei a de Kihyun, tão pequena quanto sua estatura. Até que ele não era de todo o mal. Apesar da cara invocada parecer a de um hamster demoníaco, Kihyun parecia ser um cara bacana. Um porto seguro para a bagunça elétrica que era Lee Minhyuk. - E a ideia de fazer a três me interessou. Kiki? - e então olhamos os dois para Kihyun, seu rosto tão rosa quanto seu rosto. Ele torceu o nariz, percebi, não ficou muito contente com a ideia. Não que eu também tivesse curtido.
- Certo, devidamente apresentados, Kihyun ssi, deite-se no nosso leito da dúvida e me ajude a desvendar um caso. - escorreguei para o chão e bati no assoalho. Minhyuk se escorregou também e, depois de muito me olhar com aqueles olhos inquisidores, resolveu sentar no chão. - O caso se chama Im Chang Kyun.

- Consta nos autos que ele é advogado, uma graça e nossa aqui sente raiva dele. - Kihyun pegou uma das minhas barrinhas de chocolate e senti uma ponta de ciúmes. Será que seria assim com Minhyuk? Será que ele iria me roubar Minhyuk e eu ficaria sozinha novamente? Nunca tive muitos amigos homens. - Ele fica chamando a de ajumma e criando situações difíceis no trabalho pra que ela perca a cabeça. Mas ele também parece gostar dela, e ela descobriu que sente tesão nele.
- Não é tesão! - corei, abrindo a caixa de chocolates e torcendo o nariz. Estava comendo tanto doce que já estava ficando enjoada. Engatinhei em cima de Kihyun e peguei meu telefone em cima da mesinha. E, para que ele se acostumasse de uma vez comigo, disquei com o peito na altura de seus olhos. - Eu só acho que devo estar frustrada sexualmente.
- Eu não signifiquei nada? - Minhyuk abriu os olhos de forma dramática, enquanto eu pedia uma pizza recheada, meus peitos ainda em cima dos olhos de Kihyun e minha bunda, na altura dos olhos de Minhyuk. - Sua cretina! - Minhyuk bateu na minha bunda.
- Esse cara... Chang Kyun, certo? - perguntou Kihyun, quando voltei ao meu lugar e abri um pacote de chocolate com morango. - Vai ver ele é do tipo de cara que não sabe se expressar direito. Ah, poxa! - fez, trocando um breve olhar com Minhyuk, quando abri uma foto do Facebook para ele. - Ele é uma delícia, como você ainda não pediu a ele que te comesse?
- Ei, estou aqui! - Minhyuk fez bico.
- Você nem moral tem, dormiu com uma mulher porque não sabe levar bronca. - Kihyun mantinha os olhos em mim. - Eu realmente acho que talvez ele não saiba como chegar em você. Hyung, você não tem uma festa internacional na próxima semana? Poderia arranjar convites para eles. Talvez se a noona beber alguma coisa, se sinta um pouco mais solta. - e ergueu uma sobrancelha. - Só não seja solta com quem não deve. - e bateu na coxa de Minhyuk, que sorriu e segurou sua mão. Perto da dele, os dedos longos de meu amigo loiro escondiam toda a mãozinha delicada com dedos perfeitos e rechonchudos de Kihyun.
E sorri. Eles pareciam perfeitos um para o outro.
A verdade é que Kihyun era apenas um garoto ciumento e reservado, mas que não se conteve quando a pizza chegou. Nós rimos, contamos casos de sucesso em relacionamentos (eles, não eu) (e o que pareceu que ajudou na relação deles), eu chorei algumas pitangas de saudades de casa e Minhyuk abriu minha conta no Spotify, descobrindo Anitta e Ludmilla. Acho que se eu fechar os olhos, ainda tenho a visão de Kihyun rebolando até o chão, com Minhyuk atrás, segurando sua cintura, e eu atrás de Minhyuk, segurando sua cintura. Sim, acho que se tivesse câmeras de vigilância dentro do meu apartamento, a imagem teria ido para "Os Vídeos Mais Idiotas do Mundo".

.x.

Depois que Minhyuk e Kihyun foram embora, envoltos em coraçõezinhos saltitantes, observei-os da janela do meu apartamento com uma ponta de inveja. Queria tanto estar apaixonada! Não que eu desejasse o que eles tinham mas queria algo meu, sabe?
Mas era tão azarada que o simples fato de ter uma caneta que pudesse chamar de minha já era muita coisa.

Eu era a filha do meio de uma família de cinco pessoas. Morávamos todos juntos em uma casa enorme no subúrbio quando minha irmã mais velha deu a louca e se casou, aos dezenove anos, com um cara que tinha conhecido na balada. Tinha sido pá-pum: ela saiu para comemorar a maioridade, ele estava do lado dela, tomaram uma cerveja juntos e o parabéns dele foi enfiando o pau nela. Eu tinha dezesseis anos quando soube dessa estória da balada e ainda assim achava pecaminoso a forma que ela me contava os detalhes. Eu era uma virgem que mal tivera um namorado, que diria ter uma transa, pensava. Quando ela chegou no dia seguinte, meus pais aflitos porque ela não tinha dado mais notícias, e, quando me encontrou no quarto, pintando mais um desenho da Magali no Almanacão de Férias da Turma da Mônica, achou por bem me contar tudo.
Minha irmã mais nova era um saco, mas também era bacana quando queria. Ela era seis anos mais nova, e gostava muito de chorar. Por tudo. Ela chorava com a propaganda da Parmalat, porque jurava que as fantasias eram feitas com pele de verdade, o que levou meus pais ligarem para a Parmalat e pedir para que eles explicassem para ela que nenhum bichinho tinha sido sacrificado. Ela também é a mais romântica as três, e costumava se apaixonar dia sim, dia não; um dia era um garoto na padaria, no outro, era o menino que jogava futebol de taco na rua de cima.
E eu sempre fiquei no meio termo. Não era romântica como minha irmã mais nova, nem tinha meu lado lógico aflorado, como a mais velha. Eu era prática. Fiz duas faculdades ao mesmo tempo porque tinha me esforçado muito e sabia que dava conta. Em teorias, porque no final, eu chorava todos os dias por clemência. Meu namorado na época não me ajudava, colocando mais lenha na fogueira ao dizer que eu tinha que ter feito só uma. Dei o pé nele pouco depois de descobrir que tinha sido aprovada no TCC de Letras; brigamos feio e, no meio de um acesso de raiva, quebrei o espelho de corpo inteiro da minha irmã mais velha. Ela ficou possessa e cortou metade do meu cabelo na madrugada.
Tínhamos vinte e um e vinte e três anos.

"Gata, estou em Seul e sedento para te ver. Vou tocar na Purple Line em meia hora, partiu?"

Meu telefone apitou às dez da noite, me fazendo engatinhar no carpete para buscá-lo. Kihyun tinha tirado umas fotos e deixado embaixo da caixa de pizza. A mensagem de Hyungwon era mais uma lembrança do meu passado sombrio. Será que universo tinha conspirado contra mim? Por que essas lembranças voltavam como mensagens de texto?

Hyungwon tinha sido a definição completa do pecado capital da luxúria.

Nos conhecemos em uma balada, logo que eu botei os pés em Seul. As luzes da cidade me encantaram de tal maneira que fingi que não estava com o jetlag atacado e enfiei um vestido preto e um salto alto, pedindo, em um bom inglês, que o motorista do taxi me levasse à melhor boate da capital. Ele me levou à Purple Line.
Ainda bem que eu estava vestida como o dress code pedia! Só se usava roxo ou preto e, depois eu soube, que a balada era de um grupo de cinco cantores internacionalmente conhecidos pelo hit. Na hora, eu não me toquei muito bem, eu só estava afim de dançar.

No bar, pedi uma dose de vodca com energético, mas o barman não falava muito bem o inglês. Tentei português e até mesmo espanhol, mas nada feito. Muitas pessoas se aproximaram e de repente me vi lá trás da multidão de pessoas que buscavam uma bebida. Foi quando senti uma mão na minha cintura e uma voz doce no meu ouvido, me deixando arrepiada sem precisar pensar muito.
- Diga-me o que você quer, baby, e eu destruirei o mundo por você.
Olhei para trás e vi um homem magro e alto, com belíssimos lábios carnudos, implorando para serem beijados, e mordi os meus, erguendo os olhos até encontrar os dele. Ele sorriu de um jeito gentil e eu repeti o que desejava entregando o dinheiro, e ele o reproduziu em coreano sem se mexer muito. Era como se sua presença fizesse com que abrisse um mar de pessoas.
- Sua bebida, senhorita. - disse, as duas mãos cheias. Eu queria poder dizer que o olhar dele foi o que me fez decidir que, naquela noite, eu iria abrir minhas pernas para ele, mas não foi. Algo na tranquilidade que ele me entregava os copos me enfeitiçou. Ele esticou a mão com o troco e eu dei de ombros.
- Estou sem mão livre. - e apontei para o bolso que tinha no vestido. O homem colocou sua mão esquerda no meu bolso, seus dedos roçando levemente no osso do meu quadril, enquanto ainda olhava fundo nos meus olhos e eu estava certa de que eu não iria para casa sozinha. - Obrigada. É muito ruim ser baixinha, sempre aparece muita gente e fico para trás.
- Você não é baixinha. - ele sorriu, pegando o próprio copo de minhas mãos. - Sua estatura compacta é perfeita para mim. Sou Hyungwon.
- .- tomei um gole da minha bebida.
- Você é estrangeira.
- Sou do Brasil. E seu inglês é muito bom.
- Nunca achei que inglês fosse me ajudar tanto quanto agora. - ele deu de ombros. - A salvar a vida de uma mulher tão linda e com pernas tão perfeitas. - corei, mal percebendo que ele chegava perto de mim e sussurrava no meu ouvido. - O que preciso fazer para que você me dê a honra de te lamber a noite toda?
Corei novamente. Será que seria assim, todos os coreanos eram assim?
Virei todo o meu copo de energético com vodca, ou vodca com energético e tomei o copo dele. Hyungwon sorriu, me puxando para a saída da balada, onde pegamos as chaves de seu carro (ele tinha me garantido que não tinha bebido nada além de uma soda) e fomos para sua casa, onde ele não mediu esforços em cumprir sua promessa e me fez gritar seu nome a noite toda.

"Foi mal, gatinho, a semana foi foda. Fica para uma próxima! :)"

Eu não lembro muito bem de como decidi dar um ponto final nessa estória com Hyungwon. Ele era lindo, alto, dj, delicioso e, até então, tinha sido a melhor foda da minha vida. Com ele, eu descobri o que o corpo humano é capaz de fazer e também descobri que o limite que eu impunha na verdade era muito além do que eu julgava infinito.
A gente se dava bem demais para termos um relacionamento, e, como ele vive viajando, deixamos claro que era só sexo e nada mais. Foi assim logo na primeira semana, a qual ele viajou cinco vezes em sete dias.
Eu sabia que Hyungwon tinha outras mulheres em outros locais e, quando comecei a sentir que algo evoluía para ciúmes, decidi cortar nossa estória. Das últimas duas vezes que veio para Seul, encontrei com ele somente em uma. Foi maravilhoso. Pedimos pizza, comemos, vimos um filme horroroso e, no final da noite, quando ele disse que precisava terminar de arrumar a mala, meu coração se contraiu.
- Acho melhor não fazermos mais isso. - sugeriu, e eu abracei seu peito, sentindo as lágrimas querendo vir mas consegui me controlar bem a tempo. - Não quero magoar você.

.x.

Como se a vida já não estivesse me ferrando muito mentalmente, sonhei com Chang Kyun. Sonhei com o dia do escritório, o que teria acontecido se nosso superior não tivesse aberto a porta. Foi tão nítido e forte que, se eu fechasse os olhos, lembraria de todos os detalhes.
Chang Kyun mordia meu lábio e eu mordia o superior dele, enquanto minhas mãos subiam para a gola de sua camisa e desamarravam sua gravata. Ele colocava as duas mãos na minha cintura e me sentava em cima da mesa, passando a mão esquerda na minha coxa até chegar na minha calcinha. Ainda sem nos beijarmos, ele enfiava dois dedos em mim e eu me contorcia, preocupada com a persiana semi fechada da sala de reuniões, que dava uma boa visão de todo o setor. E o que dava um toque a mais na nossa pegação.
- Você sabe, eu sempre quis jogar você em cima dessa mesa e te pegar de jeito, mas nunca levei jeito. - dizia ele, usando a outra mão para desabotoar minha camisa, sem parar de mexer seus dedos. - Quero que você grite.
- Mas... o setor...
- O setor que se exploda, quero que saiba que você é minha. Que todos desse prédio saibam que você é minha e só minha e quando eu enfiar em você, vou te deixar seu forças nas pernas e você vai gritar tanto o meu nome que vai esquecer do seu.
- Ch-Chang...
- Me chama de oppa. - minha boca ainda estava aberta em total prazer, enquanto seus dedos massageavam meu interior e meu exterior com sofreguidão. Eu não iria conseguir chamá-lo de oppa, pensava no sonho, ele era mais novo que eu, seria loucura. Mas o que era loucura, se não aquilo?
Será que era um sonho?, pensei, olhando para trás da figura de Chang Kyun. As paredes não eram brancas e não tinha os vários relatórios em cima da mesa do café. De repente, tudo tinha ficado aberto e Chang Kyun sumia, dando lugar a Wonho, que sorria com os lábios de Hyungwon e tinha a voz de Jooheon.
- Nunca houve sentimento.

Acordei com o coração aos pulos às quatro da manhã, assustada demais com a possibilidade de voltar a dormir. Cogitei ligar para Minhyuk, mas ele devia estar com Kihyun e eu não queria ser a estraga prazeres. Então me recostei na cama, pensando em pegar o telefone e acabar com essa coisa de Chang Kyun de uma vez.
Mas quando peguei o aparelho e vi a hora, desanimei. Ele provavelmente iria me xingar por todos os meus últimos dias no país e eu não queria sair com uma péssima impressão.
Disquei.
- Alô? - ate dormindo sua voz era irritantemente doce. Senti uma vontade sem igual de dizer para ele vir para minha casa, que eu iria fazer carinho e cafunés nele até que pegasse no sono de novo.
Mas não o fiz.
Fiquei em silêncio, e ele também. Chang Kyun soltou um suspiro.
- Ajumma, volte para sua tumba.
E desligou na minha cara.

Capítulo 4

A segunda feira começou bastante chuvosa. Olhei pela janela do meu quarto, para os pingos impiedosos que batiam no vidro e me enrolei no cobertor. Teria mesmo de sair, às seis da manhã, para pegar a condução até o outro lado da cidade? Dois minutos depois, o despertador tocou, me lembrando que sim, eu teria.
Quarenta minutos depois, eu dizia bom dia para o porteiro e abria meu guarda chuva, para o que seria minha última segunda feira na cidade dos ventos bipolares. Tinha aprendido tanta coisa ali, que seria até difícil de enumerar. Mas o principal, eu ainda não aprendera: a realmente gostar de alguém. Em uma escala de homens que eu havia "pego" desde que tinha chegado, nenhum deles realmente havia me despertado algo.

Hyungwon era uma luxúria sem fim. Ele havia me ensinado que não se pode apaixonar por um cara de noitada, um dj. Um homem que não tinha amarras sentimentais.
Wonho, o típico gostosão. Acho que toda mulher precisa pagar um gostosão, para saber que a vida também pode ser boa.
Jooheon, o carente. Meu Deus, como descrever Jooheon? Ele gostava dessa coisa meio bruta mas também gostava de carinho. Mas também era medroso, então acredito que o fato de ter dito que sentia um carinho como de irmã comigo era puro medo.
Minhyuk era uma fagulha estranha. Ele era uma mistura de todos os outros três, mas com um toque de inocência que talvez os outros não tivessem.
E tinha HyunWoo, Shownu para os íntimos, que acho que não cheguei a comentar com as devidas palavras. Ele era tão, mas tão lindo! Não era musculoso como Wonho, mas tudo nele parecia perfeito, desde a linha de seus cabelos até a batata da perna. Diferente dos outros rapazes, conheci Shownu em um café. Ele era um dos atendentes e eu sempre passava lá depois das aulas com Chang Kyun para desestressar.

Shownu me conquistou no dia que eu tinha descoberto que o documento de cinquenta laudas que tinha recebido às quatro e meia da tarde precisava ser entregue às oito da manhã do dia seguinte. Eu estava tão irritada, tão frustrada, que tinha me escondido no banheiro até às cinco e chorado escondida. Ser tradutora tinha suas desvantagens, ainda mais em um país onde querem tudo para o dia anterior.
Quando cheguei no café, estava exausta, física e mentalmente um lixo. A noite já estava em seu pico e lugar funcionava 24h. Shownu trabalhava no turno da tarde/início da noite, então era como se me esperasse todos os dias. Sempre dava um sorriso de canto de boca e nunca me olhava nos olhos, era muito tímido. E eu achava uma graça, porque não sentia que ele também flertava comigo.
Sentei na mesa e abaixei a cabeça, tirando todo o ar comprimido dos meus pulmões, tentando me organizar mentalmente para poder ir no balcão e pedir algo para comer ou beber, quando ouvi um barulho na minha frente. Shownu tinha colocado um pedaço de bolo de chocolate com cobertura extra e um copo de suco de laranja na minha frente. Era como se tivesse lido minha mente. Olhei do bolo apetitoso para ele, que sorria para mim mais acima, em todo o seu rosto redondo e estatura alta.
- Presumi que estivesse cansada. E com fome. Então trouxe o que chamo de combo da felicidade. - e sorriu mais uma vez. Senti uma onda de carinho tão grande, como alguém se importando de verdade comigo que comecei a chorar. O pobre Shownu, que não tinha nada a ver com meus problemas, permaneceu de pé por alguns segundos, provavelmente sem entender por quê um bolo de chocolate tinha feito uma mullher chorar, mas logo depois se sentou de frente para mim e partiu um pedaço. Me cutucou e eu peguei o garfo, fungando enquanto mastigava. - Sorte sua que essa foi a última fornada do início da noite. Eu que fiz. Você vem aqui todos os dias, , e sempre me pareceu cansada. Qual é seu trabalho? O que faz? Seu chefe é tão ruim assim, que não te deixa relaxar?
- Sou formada em Contabilidade e Letras. - funguei, partindo outro pedaço de bolo, e voltei a chorar. Shownu esticou o braço e segurou o garfo para mim. - É só que... nossa, eu estou tão cansada! Seu idioma é difícil, ando trabalhando tanto sem parar, e meu chefe me pediu uma tradução de cinquenta laudas para até oito da manhã de amanhã e eu estou... ah! Me sinto exausta!
É verdade que Shownu se mostrou um ótimo ouvidos. E no dia seguinte, quando me convidou para dar uma volta depois de seu expediente e disse que eu precisava relaxar, e me levou para seu apartamento, eu achei que finalmente tivesse encontrado um bom homem para namorar. Quem sabe até casar. Mas Shownu era devagar. Muito devagar. Devagar demais. E eu, sempre acostumada com homens rápidos, que já chegam pegando em tudo e te beijando antes de você perguntar o nome, acabei me frustrando com a tranquilidade dele. Quase sempre, ele dizia que preferia ter certeza de que não estaria cruzando nenhuma linha. Eu queria que ele me pegasse de jeito e me dissesse que ele poderia acabar com todo o meu estresse com uma boa trepada na varanda, bem na linha de visão dos vizinhos, mas, com o tempo, eu entendi o que ele queria dizer.
Shownu era um romântico.
Ele acreditava em amor e casar na igreja, e todas aquelas coisas que, até então, eu julgava ser coisa besta de mulher. Eu queria, sim, me casar, ter filhos e um cachorro, mas um dia. Eu não tinha muita afinidade com a ideia de aproximação emocional, até porque todas as vezes que tinha tentado, tinha me ferrado; mas para ele, era algo transcendental. Comecei a entender que, caso algo rolasse entre nós, ele poderia se apaixonar. E, me conhecendo como me conheço, eu iria me sentir presa. Não ia dar muito certo.
Então mantivemos uma amizade, sendo que, de minha parte, envolvia também algo meio platônico. Eu tinha certeza de que Shownu deveria soltar todas as suas amarras na cama e eu queria que ele me mostrasse que ele não era só um menino tímido. Mas a vida tem dessas coisas. Uma hora você se apaixona e, se não rola algo mútuo, você tem que deixar ir. Uma hora, acontece.
Tinha que acontecer.

.x.

- Bom dia. - Chang Kyun entrou no elevador e apertou o botão do décimo quinto andar, parando ao meu lado, a pasta na frente do corpo. Olhei de soslaio para ele; a franja estava novamente nos olhos, embora sua gravata estivesse certa e em completo alinhamento com o terno. Ele parecia bem tranquilo consigo mesmo, então achei por bem repassar mentalmente os afazeres do dia. Para começar, eu tinha de terminar a tradução do primeiro de cinco enormes papelotes de processos, dar aula de Português para Chang Kyun, fazer mais algumas páginas e, com sorte, almoçaria às duas da tarde. Teria aula de coreano com Chang Kyun às duas e meia, e, às cinco e meia, Kihyun tinha me pedido para ajudá-lo a escrever uma canção. No domingo, a máscara dele havia caído e ele agora tinha me tomado como melhor amiga. Minhyuk não tinha gostado muito, e aquele papo de "a três" agora só precisava da confirmação de Kihyun. A ver.
- Como se sente, sendo sua última semana? - a voz grossa de Chang Kyun me tirou do devaneio, me obrigando a olhar para ele; ele ainda mantinha os olhos no mostrador luminoso.
- Bastante empolgada, para dizer a verdade. - respondi. - Quero dizer, para voltar para casa.
- Entendo. - ele pigarreou e olhou para baixo por um breve momento. Esticou o dedo e apertou o botão do andar com mais força, passando na minha frente. Sua cabeça de repente virou-se para mim e ele apertou os olhos. - Está feliz em ir embora, é isso?
- Q-que? - fiz, pega de surpresa.
- Está feliz em ir embora e deixar a todos aqui? Está feliz em parar de falar um coreano horroroso? - ele foi se aproximando de mim até que me vi entre a parede do elevador e ele. Meu coração estava saltitando e meus olhos, arregalados. Estava tudo tão bem, por quê! - De comer kimchi apimentado em quase todas as reuniões da empresa? Está feliz de ir embora e parar de me dar aulas?
- N-não... - respondi. Chang Kyun deixou a cabeça bater no meu ombro e suspirou. - Sabe, eu vou sentir falta daqui. Só falei que estava empolgada porque não vejo minha família e meus amigos há muito tempo, e...
- Você não pode mesmo ficar ao menos o domingo? Só o domingo. Gostaria de me desculpar caso, eventualmente, tenha sido ruim contigo.
"Eventualmente"? Minha vontade era de rasgar o verbo e falar o quanto eu conseguia detestá-lo mas ele estava tão perto que eu conseguia ver as pintinhas quase invisíveis perto de seus olhos. Seus lábos estavam tão convidativos que eu sentia uma vontade quase sobrenatural de beijá-los e ele estava tão lindo com aquela gravata de seda roxa que me senti violentada visualmente. Eu tinha inúmeros motivos para odiar Chang Kyun mas todos estes tinham outros lados mais interessantes.
A porta do elevador se abriu em nosso andar e ele se empertigou, ainda me olhando nos olhos e, com a língua para fora, fechou o terno, ajeitou a gravata e saiu do elevador, me deixando em um misto de confusão e pernas tortas, as mãos espalmadas na parede e o coração aos pulos. Se eu não me apressasse, ficaria para trás.

Em meio a tantos papéis e termos que eu sempre esqueço, ouvi uma batida na porta de minha sala, mas o som era tão distante que só percebi quando Chang Kyun se sentou na cadeira em frente a minha mesa. Terminei de digitar mais três frases rápidas antes de salvar o documento e pedir um minutinho. Chang Kyun balançou a cabeça e eu esperei a lerdeza que era meu computador de mesa terminar de salvar e ainda mais um tempo para que ele desligasse. Comecei a juntar os papéis e canetas marcadoras e a empilhá-las em um canto quando percebi que era onze da manhã e eu estava exausta pelo dia.
- Você se importa se a aula for aqui hoje? - coloquei as duas mãos no rosto e suspirei. - Estou atolada de coisas pra fazer e seria mais rápido para mim.<>br - Sem problemas. - Chang Kyun tirou as folhas de cima da minha mesa e colocou seu caderno. Levantei da minha cadeira ultra confortável (mas que não estava sendo nada confortável) e dei a volta, pegando as folhas das mãos de Chang Kyun. O contato de meus dedos com os dele descarregou em mim um pequeno choque real, que correu meu antebraço e estalou no meu cotovelo, me fazendo derrubar mais da metade das folhas no chão.
Eu não sabia se eu estava mais chateada com o tempo que eu iria perder recolhendo aquilo tudo ou por ter sentido o choque. Eu sabia que Chang Kyun tinha sentido também, porque, quando isso acontecia com minha irmã mais velha, ela costumava dizer que tinha doído nela. Uma vez, ela tinha me mostrado um estudo (fajuto) que dizia que, quando isso acontece com pessoas que você sente algum tipo de atração, é porque a pessoa também pensa o mesmo. Eu não acreditava muito, mas, entre perguntar a ele ou tentar reavaliar todos os momentos estranhos que ele me colocava, desde a semana anterior, e pegar os papéis, eu preferia os papéis> - Eu te ajudo depois. Será que podemos, por favor, começar a aula? Assim, você não precisa ficar aqui até depois da hora.
- Agradeço sua preocupação, Chang Kyun ssi, mas eu teria de fazer isso mesmo. - e me agachei até ficar de joelhos, colocando cada papel nos braços. Chang Kyun permaneceu de pé, e, quando fiz menção de pedir que me ajudasse, ele sorriu. Apertei meus olhos, sem entender, até que percebi que a situação era no mínimo divertida. Eu estava literalmente a meio palmo de suas calças. - Será que você poderia...
- Sim?
Pigarreei. - Me ajudar a recolher esses papéis, por favor?
- Ah, sim! - ele se agachou e começou a engatinhar em busca de papéis, me dando as costas para buscá-las debaixo da mesa. "Ele tem uma bela bunda", pensei, tentando bater as folhas. "E belas pernas". "Belas coxas". Será que seu bumbum era firme? Era quase como uma força invisível me fazendo esticar a mão para perto de seu bumbum. Será que eu deveria? Não seria sacana demais da minha parte? Ele já me irritava e eu sentia que ele merecia um retorno, pensei, tomando coragem e apertando uma das bandas de sua bunda.

Chang Kyun levou um susto e bateu com a cabeça no tampo da mesa.

Me senti culpada da mesma hora, tirando as folhas que estavam próximas de sua mão e puxando-o para fora da mesa. Ele saiu e se encostou na mesma, colocando a mão em sua cabeça e fazendo cara de dor. Me senti horrível. Mesmo que fosse Chang Kyun.
Me levantei e abri o mini frigobar que tinha no canto da minha sala, pegando três cubos de gelo e colocando em alguns papéis toalha que estavam em um canto. Passava tanto tempo naquela empresa que eles haviam me dado um cubículo que eu chamava de sala. Lá, pude me "espalhar", colocando um mini frigobar, porque vivia enrolada com documentos e precisava de muito café e água para sobreviver. Chang Kyun mantinha a careta no rosto e aceitou de bom grado que eu colocasse o gelo em seu galo, franzindo o lindo narizinho quando o gelo tocou sua cabeça.
- Tinha um bicho voando e ele tinha pousado no seu bumbum. - tentei me explicar. Ele me olhou de soslaio e até eu saquei que a mentira era tão ruim quanto a do cachorro morto. - Sério, Chang Kyun, me desculpe. Se quiser brigar comigo depois dessa, eu super vou compreender. - Só fica quieta. - apertei meus lábios. Chang Kyun apontou para o espaço ao seu lado e eu me sentei. - Acho melhor a gente resolver isso antes que alguém se machuque de verdade.
- Também acho. - mas não tinha a menor ideia do que ele falava. A dor ainda estava estampada em seu rosto, e eu não via motivos para tamanha dor. Não tinha sido uma pancada forte.
- Minha cabeça dói. - ele fechou os olhos e eu senti um frêmito de colocá-lo no meu colo e fazer cafuné em seu rostinho, mas não me mexi. Como se me lesse, colocou a cabeça no meu ombro, me fazendo esticar para pegar o casaco jogado em cima da cadeira. O gelo estava pingando na minha blusa, tornando-a um pouco transparente. - Está doendo.
- Sinto muito, Chang Kyun. - pedi, de coração. Ele tirou o gelo da cabeça, fez uma careta e colocou o gelo de volta. - Eu não queria machucar você.
- Tudo bem. - disse suspirando, e o som de sua respiração tocou minha pele do pescoço, me arrepiando. Era só esticar a mão e fazer carinho em seu rosto. Era só fazer isso, vamos, , é só se fingir de besta.

Estiquei o braço e toquei seu rosto.

Meus dedos estavam trêmulos e gelados e, quando abaixei a cabeça, Chang Kyun tinha fechado os olhos. Ele era exatamente como eu havia imaginado: fofinho. Seria demais dizer mas eu esperava que ele ronronasse. Era óbvio que nossa aula havia ido para o espaço.
- Eu não me sinto com vontade de estudar hoje. - disse, ainda de olhos fechados.
- Sua cabeça ainda dói?
- Um pouco. - ele fez um bico. Desgrudei-o do meu ombro e tirei o gelo de sua cabeça, fazendo com que ele a abaixasse para ver se estava nascendo um galo. Não tinha nada, era pura manha. Mas eu estava gostando. Era como se a bipolaridade dele tivesse se convertido a uma só: a de alguém que necessitava de carinho e atenção. Alguém com quem ele pudesse ser um bebê. E eu gostava disso, de cuidar, de mimar. Mesmo que fosse Chang Kyun.
- Acho que nossa aula foi para o espaço. - suspirei, encostando na mesa. Chang Kyun colocou o papel com o gelo em cima do carpete e voltou a repousar a cabeça no meu ombro. Era como se a gente tivesse feito um pacto. Eu precisava de um descanso mental e fisico, já que meus dedos estavam doloridos de tanto marcar, colorir e digitar, e meus olhos estavam ardidos. Chang Kyun levantou o rosto quando os fechei e puxou meu rosto. Abri os olhos assustada e ele ainda me observava, parecendo preocupado. Seu polegar massageou minha bochecha e eu engoli em seco, esperando tudo. Desde um empurrão na cabeça quanto um beijo e qualquer que fosse, eu estaria ok com isso.
- Noona. - nunca a palavra "noona" tinha me soado tão bonita. Todas as palavras soavam bonitas, vindo dos lábios de Chang Kyun e era isso me arrasava.

Ah, merda. Acho que estava me apaixonando.

- Quando vamos poder repor a aula de hoje?
- B-bem, - gaguejei, seu rosto ainda próximo do meu, seu polegar passeando pela minha bochecha. Eu nunca havia me sentido tão esquisita em toda a minha vida e eu tinha vontade de chorar, e estava tão intenso que meu coração literalmente se comprimia. - po-pode ser hoje a tarde, eu não tenho muita preocupação em aprender coreano. - coloquei a mão em seu pulso, mas Chang Kyun não parou de me fitar. - Acho que a vivência já me fez aprender tudo o que precisava.
- Queria ter mais vivência com o português, mas só relembro o meu inglês quando estudo contigo. - e torceu a cabeça, quase sem piscar. Eu sentia minhas bochechas queimando, meu coração queimando. - Você se importa... - engoli em seco. Sim, Chang Kyun, pensei, sim, você pode me beijar! - se eu então voltar pro meu trabalho? Tenho petições pra fazer e estou agradecendo aos céus por não ter essa aula.
- Por mim, tudo bem. - mas nós não nos mexemos. Sorri um pouco forçado, massageando seu pulso com meu polegar. Ele sorriu também e eu senti que alguma coisa estava certa. Algo estava certo. - Vamos então, também estou cheia de coisa para fazer.
Nos levantamos, o gelo voltou para o frigobar e Chang Kyun entregou os papeis empilhados no chão. Eu queria sorrir mas não queria dar bandeira. Era tão ridículo, uma mulher da minha idade apaixonada por um menino mais novo! Chang Kyun era uma graça mas ele poderia ter quem quer que fosse. Eu era uma intrometida.
- Até mais então. - ele sorriu de covinhas de novo e começou a ir para a porta quando me lembrei.
- Hey, Chang Kyun! - ele se virou. - Meu amigo vai dar uma festa na Purple Line na sexta, e tenho um ingresso vip extra. Está afim de ir?
- Claro. - sorriu. - Vai ser legal. - e saiu da sala. Quase caí de joelhos, o encanto havia sido quebrado. O que Chang Kyun fazia comigo era algo de louco; ele me irritava demais mas, se ficássemos juntos, e ele fosse doce como nos últimos dez minutos, acho que conseguiria tolerá-lo.

Mas não o vi pelo resto da tarde e pelos próximos dois dias. A carga de trabalho havia duplicado na minha última semana em Seul, era como se quisessem deixar tudo traduzido para dois idiomas diferentes. A gente estava se comunicando por bilhetes; quando eu levantava para buscar mais documentos, passava pela sua mesa e ele nunca estava - então eu deixava um post it grande, me desculpando e que estava cheia de coisas para fazer. Ele me respondia da mesma forma: todas as vezes que eu voltava, tinha um post it pequeno escrito "ok". Eu me sentia invadida por aquele mesmo sentimento de segundaa feira. Era tão ridículo que eu não conseguia evitar em guardar todos os 'ok' na minha gaveta.
- Ele é meio seco, não acha? - perguntou Minhyuk naquela noite. Ele havia me chamado para comer uma pizza na noite de quarta, mas fiquei tanto tempo na empresa que perdi o horário. Mandei uma mensagem quando estava saindo, por volta das nove, e Minhyuk disse que iria transferir a comilança para meu apê (ele tinha uma chave extra). Kihyun limpou as mãos e se jogou no sofá na minha frente, encostando a cabeça no ombro de Minhyuk. - Ele poderia escrever mais alguma coisa, mas só esses 'ok' ? Ele não me parece interessado.
- Esse menino é estranho. - Kihyun cruzou os braços. - Ele parece não saber o que quer, uma hora te trata bem, outra, ele está seco e grosso...
- Uh, será que ele é grosso? - Minhyuk perguntou, sorrindo. Kihyun socou seu braço e eu prendi a risada, mordendo mais um pedaço de pizza.
- Ele é da , largue de ser fominha!
- Você sabe que sempre tenho fome.
- Como se eu não te alimentasse com meu amor...!
- Que amor...
- Eu vou desistir dele! - anunciei, antes que começassem a brigar. Minhyuk abraçou Kihyun e sorriu, enquanto Kihyun ficou com um bico enorme. - Antes que eu me apegue, embora já me sinta apegada. - repousei o pedaço de pizza no prato e anunciei: - Estou pensando em cancelar meu retorno ao Brasil e ficar aqui para sempre. - Kihyun e Minhyuk trocaram um olhar, mas não era chocado. Era quase que de... pena. - Vou ficar aqui, alugar o apê por mais alguns meses, vai ser dolorido, especialmente se não concordarem em me manter na empresa. Mas eu teria vocês dois!
- Você está pensando com o olho errado, . - Kihyun olhou de Minhyuk para mim. - Tinha que ser amiga do Minhyuk, mesmo. Dois babacas que pensam com o coração. Olha só, você não vai deixar de voltar pra casa. Por mais que eu goste de você, quero muito que volte pra casa. E talvez seja bom, ele vai sentir falta de você.

.x.

Era quinta feira e meu coração estava apertado quando apertei o botão do térreo, no meu prédio. Não sabia quando iria poder voltar à Coreia do Sul e aproveitar o país como uma turista. O tempo ainda estava feio, mas, como eu havia acordado cedo e sabia que já tinha gente na empresa desde às cinco, me permiti tirar uma hora antes do expediente para ao menos dizer adeus a Shownu.
Foi só depois de chegar que me lembrei que Shownu não trabalhava de manhã. Quase morri de tristeza! Ele tinha sido um colega bacana desde que havia chegado, e, mesmo que não tivesse rolado nada entre nós, e que nosso contato tivesse meio que se perdido com o tempo, eu gostava dele. Era um bom rapaz.
Abri minha agenda em cima da mesa e o dia trinta e um de julho estava marcado com uma caneta roxa e vários adesivos; o dia do meu retorno. Enquanto dava goles em meu café gelado, revisei todos os dias da agenda até aquela quinta. Eu havia colocado palavras chave do dia e me lembrava de todas as "tretas" que haviam acontecido. A partida de Akemi, o show do Palit, a primeira vez que Chang Kyun havia me chamado de ajumma (este marcado em caneta vermelha, a caneta da raiva). Tinha sido um dia engraçado até. Wonho recém tinha me dado o fora e eu ainda não tinha superado. Depois de anunciar nosso fim, Wonho se levantou, se vestiu, beijou minha testa, disse um 'Tchau, gata' e partiu, me deixando no chão gelado da cozinha, chorando meu coração em frangalhos. Eu não tive forças para me vestir, então engatinhei até o banheiro e só dormi depois de muito chorar, dentro do box. No dia seguinte, usei um óculos escuro de grau, porque meus olhos não aceitavam as lentes, e Chang Kyun ficou irritadíssimo porque eu disse que não iria tirá-lo, para a aula.
- Qual é o problema, ajumma? - disse, depois de muitos 'não' de minha parte. - Está com conjuntivite? Seu namorado te deu um fora, foi? Você não pode ter um namorado, é velha demais para isso.
Por algum motivo, as palavras dele me deram tanto ódio que arranquei os óculos do rosto, revelando o inchaço do meu rosto. Chang Kyun se assustou, se recostando na cadeira e dando um pigarro.
- Bom, - começou - paramos na estrutura gramatical do plural. "Ã" e "õ".

Duas vozes me tiraram do devaneio. Eu estava sentada perto da janela enorme, então pude ver um homem, com as costas parecidas com as de Chang Kyun, conversando com uma mulher mais velha; esta arrumava a gola de sua camisa e eu, curiosa, mantive meus ouvidos aguçados para ouvir, mesmo com o barulho dos carros. Chang Kyun havia caído da cama ou morava perto de mim? Era a dúvida.
- Você está se saindo muito bem, filho. - disse ela. Ah, era a mãe dele! Era muito mais despojada do que eu imaginava. Quer dizer, eu imaginava a sra. Im como uma senhora muito chique e esplêndida, mas ela poderia facilmente ser minha mãe; usava tênis, calças de ginástica e uma blusa branca grande. Me perguntei se ela também mandava Chang Kyun desvirar o chinelo virado. - Mantenha e você terá bastante sucesso. - e então apertou sua bochecha, o que achei doce. - Até mais tarde, Danielzinho! - e deu as costas, Chang Kyun ainda parado.

Danielzinho??

Quase cuspi o meu suco de laranja quando ouvi o nome "Daniel". Daniel? DANIEL?
Então me lembrei de uma das meninas da recepção falando que Chang Kyun havia morado alguns anos nos Estados Unidos e seu nome ocidental era Daniel. Mas eu estava tão preocupada com outras coisas que não me liguei. Agora tudo fazia sentido.
Eu ainda não tinha me recuperado do suco ter invadido meu nariz quando uma menina, que havia saído de onde eu estava, entregou um copo de café gelado para Chang Kyun e eles saíram juntos, para o outro lado da rua. Pareciam muito íntimos, a ponto de tocarem no braço um do outro com frequência e os sorrisos serem abertos. Meu coração se comprimiu.
Chang Kyun tinha uma namorada.

Capítulo 5

Eu sabia muito bem que não tinha direitos de me sentir mal, mas ver Chang Kyun e aquela menina me doía, fisicamente doía. Eu tinha vontade de arrancar aquele sorriso idiota do rosto dele e dar um soco na cara dela, desfazendo aquele rostinho de boneca ao gritar que ele era meu e só meu. Mas eu tinha idade para ser a irmã mais velha dela. Deles. Eu não poderia mais me dar ao luxo de agir como uma criança birrenta, uma adolescente chorona. Cabia a mim apenas respirar fundo e "seguir o baile".
Quando entrei no elevador, por incrível que pareça, a menina estava lá. Ela realmente parecia uma boneca; tinha cabelos longos e castanhos, bochechas muito fofas e olhos apertados. Sua pele era branca como um papel e eu senti uma ponta de inveja por ela ter tudo simetricamente no lugar. Ela era linda. Eu não poderia negar que Chang Kyun tinha bom gosto. Mas eu ainda estava machucada ou achava que estava, então me mantive calada.
- Você é a , do setor internacional, certo? - perguntou, quando eu apertei o botão do meu andar. Fiz um esforço descomunal para olhar para ela, seu sorriso lindo e reto com a perfeição de artista de cinema. - Sou Bang Min Ah, vou substituí-la quando partir. - e esticou a mão. Não sei por quanto tempo fiquei observando até que a porta do elevador se abriu novamente e Chang Kyun entrou. E ficou entre nós. Fiz um breve aceno com a cabeça e voltei a observar o mostrador luminoso na nossa frente, os andares demorando o dobro para chegar.
Chang Kyun deu um pigarro e eu ajeitei o cabelo atrás da orelha. Me sentia incrivelmente desconfortável e minha vontade era a de encher os dois de sopapos, mas mais, ele. Por que me dera esperanças na segunda feira, com aquele sorriso de covinhas? Por que eu tinha me sentido carente na terça e finalmente adicionado ele no Facebook? E na quarta, por que eu ainda mantinha aqueles post-its amarelos dentro da minha gaveta, guardados a chave com outras coisas preciosas como a minha agenda? Era tão típico de Im Chang Kyun, não era, S/N? Você novamente tinha sido feita de trouxa! Ele não gosta de você. Ele nunca irá gostar, porque, já se ligou onde você está? Isso mesmo, Coreia do Sul. Onde os homens "passeiam" com você mas casam mesmo com garotas como Bang Min Ah, princesas de papai, com seus rostinhos cirurgicamente perfeitos e seus narizes arrebitados, onde o sexo é aquela coisa sem variações, uma risada atrás da mão.
Engoli em seco e apertei o botão do meu andar com mais força, arrancando um olhar de soslaio dos dois. Quando finalmente chegou, irrompi escritório adentro, batendo a porta atrás de mim e me prometendo que não iria chorar. Eu não poderia chorar, seria tão ridículo! Infelizmente meus olhos não concordaram e, mesmo mordendo os lábios, deixei grossas lágrimas caírem no carpete da minha sala. Olhei para a minha mesa traidora e respirei fundo mais uma vez, passando a mão no rosto e dando passos largos até minha cadeira, puxando-a com força e quebrando a unha ao apertar o botão para ligar o computador. Já estava quase descontando a frustração naquele computador de merda que não ligava.
- Com licença, . - a porta se abriu e vi meu superior. Levantei na mesma hora e ajeitei minha saia. - Gostaria que conhecesse sua substituta, vou apresentá-la para a equipe e gostaria de sua presença.
- Claro. - me forcei sorrir, ao que o sr. Kang abriu mais a porta e a boneca Barbie entrou. Eu queria dar um murro naquela carinha bonita, mas queria ainda mais era ME bater. Problemas pessoais, da porta do prédio para fora. - Acredito que tenhamos nos conhecido no elevador, certo? Sou , muito prazer.
- Ah, sim! - ela apertou minha mão, ah, suas mãos eram fofas como suas bochechas. Por um minuto, pensei estar apertando as mãos de Kihyun e imaginei se era a mesma sensação que Chang Kyun tinha ao apertar as delas. O bichinho do ciúme começou a me morder novamente. - Espero poder aprender com a senhora o máximo até amanhã.
- Por favor, me chame de você! - sorri, embora estivesse me rasgando por dentro. Em meus desejos mais secretos, eu estava voando em cima dela e tacando a mesma pela janela da minha sala depois de enfiar todas as minhas unhas para arrancar aqueles dentes perfeitos. - Espero poder tirar todas as suas dúvidas até amanhã. Por favor, não hesite em me perguntar.
- Srta. Bang, vou apresentá-la ao setor. Srta. , poderia nos acompanhar?

Acenei com a cabeça e sai da sala atrás deles. Ela era baixinha, analisei, pelo tamanho de seus saltos. Mas mesmo as moças baixinhas tinham seus atrativos. Não que eu fosse alta, mas meu físico em nada se comparava às coreanas. Eu não tinha uma cara de boneca; eu tinha seios, tinha bunda e, infelizmente, tinha uma pelanquinha chata debaixo do braço. Meus lábios não eram finos e meus olhos não eram tão apertados quanto os delas. Eu não tinha vergonha em gargalhar e achava o cúmulo do ridículo os apelidos de oppa e unnie. Aceitava ser chamada de noona por poucas pessoas e, definitivamente, Chang Kyun estava nessa lista; ele, Kihyun e Minhyuk, se bem que Kihyun ainda tinha um pé atrás comigo, a ponto de ainda não me chamar de noona com a propriedade. Eu já tinha aberto minha guarda para ele; dependia dele ultrapassar a linha ou não.

No bom sentido, é claro.

- ... que irá partir neste domingo. - a voz do sr. Kang me acordou. Estávamos no meio da recepção, vinte pessoas olhando para nós três, incluindo Chang Kyun, ao fundo. Ele era baixinho mas, como noventa porcento do setor era de mulheres baixinhas, ele conseguia ver com tranquilidade. Observei que olhava de Min Ah para mim, com uma certa ansiedade. Novamente respirei fundo. Eu não poderia me sentir pior, poderia? - Srta. , em nome do Setor Internacional da Empresa, agradecemos por todo o seu esforço e trabalho. Aprendemos muito com a senhorita nos últimos seis meses. - todos se curvaram para mim e me senti uma celebridade. Minhas bochechas queimaram ao ver que até Chang Kyun tinha se curvado. - Com sua licença. - e sumiu, me deixando no meio da recepção com Min Ah, que esperava que eu tomasse alguma atitude.
- Bom, acho que podemos começar seu treinamento, certo? - ela concordou com a cabeça e me seguiu até meu escritório. - Desculpa pelo elevador. Estava com a cabeça um pouco longe. - ela sorriu. Que raiva que eu senti! Então era assim que Chang Kyun deveria se sentir perto dela. Eu sentia raiva e ele, amor. Só poderia ser. - Certo, srta. Bang, é formada em quais idiomas?
- Japonês, mandarim, taiwanês, inglês e francês.
"Filha de uma...!" mas sorri.
- Que bacana! - me belisquei na cintura, os braços cruzados na barriga. - Não há muita coisa que eu possa te ensinar escrevendo, só se me observar. A biblioteca da empresa fica no décimo sexto andar, mas tenho essa estante aqui. Assim que eu partir, levarei a maioria dos meus livros de coreano, imagino que não precise...?
- Ah, não preciso, obrigada - outro sorriso-, coreano é meu idioma materno.
- CERTO! - sorri como um demônio. Por quanto tempo mais conseguiria aguentar? - O frigobar tem vários compartimentos legais para se esconder chocolates.
- Ah, eu não como chocolates. Dão espinhas, preciso cuidar da minha pele.
Eu jurava por Deus que ia enfiar meu punho naquele olho!
- Mas obrigada pelas dicas, serão de grande valia!
- Todas as segundas, quartas e sextas, você precisa ter os pedidos traduzidos, para que possa enviar para os afiliados internacionais. Por pedidos falo documentações, petições, essas coisas. - ela balançou a cabeça. - Seu superior direto é o sr. Kang, que você já deve ter conhecido. O assistente dele é o sr. Lee, que está de férias, ele volta semana que vem. E o assistente do setor jurídico, o sr.... o sr... Im... Chang Kyun.
- Ah, sim, conheço o sr. Im. - ela sorriu. "Aposto que conhece", pensei, cheia de azedume. - É um homem muito bacana.
- Sim, ele é muito bacana mesmo. - "fique os sentimentos, S/N", pensei. Os sentimentos. A raiva de Chang Kyun, não sinta mais amor por ele. Ele te deu esperanças, para poder pisar em seus sentimentos como um gigante descendo do pé de feijão. Ele era igual aos outros, se não pior. Pior que Wonho. Pior que Hyungwon. Mil vezes pior que Hyungwon e Wonho juntos! - A gaveta do meio dessa mesa é trancado a chave. Você pode guardar o que quiser nela. Geralmente guardo documentos mais sigilosos.

Trabalhamos juntas por duas ou três horas. Expliquei até como funcionava o Microsoft Word, porque eu queria ver até que ponto ela era sonsa. Mas a menina conseguia ser mais inteligente do que eu, era quase uma gênia. Ensinei como funcionava os jargões jurídicos e dos pedidos quando meu relógio apitou. Era minha última aula com Chang Kyun.
- Preciso dar uma saidinha agora. - falei, me levantando e pegando minha bolsa. Min Ah concordou com a cabeça, imersa em um livro. - Também sou professora e vou dar aula agora.
- Ah, para Im Chang Kyun? Sim, também me pediram para lecionar francês a ele.
Senti uma pontada furiosa no meu ovário direito e meus olhos queimando. Ela iria dar aula para ele também? Já não bastava ser namorada do cara, agora eles ficavam vinte quatro horas por dia, até no trabalho? E ela poderia realizar todos os meus desejos inconscientes por ele naquela sala de reunião? E ele iria aprender francês, uma dos idiomas do amor? Eu já imaginava os dois fazendo biquinho e dando beijinhos escondidos naquela sala e comecei a ficar com muito ódio. Não dela, coitada, porque não tinha nada com isso, mas por ele. Como eu era burra! Achava mesmo que Chang Kyun pudesse estar crescendo e que ele pudesse ser um homem e me tratar e me ver como um, mas não. Ele estava apenas planejando mais uma rasteira em mim.

Entrei na sala de reuniões espumando, jogando a bolsa em cima da mesa e me jogando na cadeira. Eu não conseguia parar de pensar na raiva que estava sentindo mas, dessa vez, era uma raiva piorada. Sabia que Minhyuk estava ocupado com os preparativos para a festa da Purple Line, mas eu precisava falar com ele.
"Ele fez de novo."
"Fez o que? o.o"
"Ele tem uma namorada! E essa namorada vai ficar no meu lugar, quando eu for embora! E ela vai ensinar francês para ele!"
"Uh, a língua do amor. Será que eles treinam a língua?"
"Para, Minhyuk! Estou mal! o que eu faço?"
"Aprende a lidar. Depois de amanhã, você estará voando de volta para casa e você nunca mais verá Chang Kyun. Você vai poder apagá-lo da sua mente facilmente"
"A não ser que você não queira..."
"Você quer, ?"
"?"

Meu queixo tremeu.

"Não"
"Ah, . Você quer almoçar comigo? Estou perto do seu trabalho."
"Tenho que terminar de traduzir umas últimas coisas para deixar tudo certinho. A não ser que você traga o almoço para meu escritório"
"Meio dia e meio estarei aí. Te amo"
"Também te amo, Minhyukkie"


Enfiei o telefone na bolsa e escondi o rosto nos braços. Os sentimentos de rejeição voltavam com força, assim como a ideia de que, finalmente, eu iria voltar a trabalhar em um local cuja cadeira confortasse bem meu traseiro enorme.
- Bom dia. - Chang Kyun se sentou na minha frente e cruzou os dedos na minha frente. - Acho que, como é nossa última aula, eu devesse te dar um parecer sobre tudo o que aprendi até agora.
- Faça o que quiser, Chang Kyun. - a raiva deu lugar ao cansaço e cocei os olhos ardidos. Ele meneou a cabeça. - Se você quiser que eu te explique palavrões em português, ou como chegar num garota em português, hoje a aula é sua. Faça o que você quiser.
- Palavrões seria interessante e chegar em uma garota...? Hm, acho que não preciso disso. - e deu um sorriso forçado, me fazendo rolar os olhos. De sua pasta saiu um envelope, que ele abriu e limpou a garganta para ler. Não sei se era eu que não estava com saco ou se a presença dele estava me sendo tóxica, mas me levantei sem os sapatos e olhei para o chão para calçá-los. Coloquei a bolsa no ombro e saí da sala, deixando-o sozinho, sentado na sala de reuniões B, com um pedaço de papel em mãos, me olhando. Era muito para mim. Eu precisava de um tempo.

Para minha eterna felicidade, Min Ah sumiu pelo resto do dia, provavelmente rebolando sua bunda inexistente pela empresa, conhecendo os setores. Devo dizer que eram vários; quando comecei, passei o dia conhecendo todas as pessoas e aprendendo quem fazia o quê. Era um prédio de vinte e dois andares, já dava uma prévia.
Me tranquei na sala e, em um ato súbito de cansaço, abri o compartimento secreto dentro de um livro, da antiga tradutora, e vi um pacote de cigarros. Eu nunca tinha fumado na vida e senti uma adrenalina absurda quando me vi segurando o isqueiro e o cigarro. Lembrei que ela tinha o costume de fumar como uma chaminé e durou quase duas semanas para o cheiro forte de cigarro sair do carpete.
- Mas o que você pensa que está fazendo? - Minhyuk bateu na minha mão, me assustando. Como ele havia entrado? - Você quer morrer? Já te expliquei um milhão de vezes como funciona o pulmão de um fumante!
Olhei para ele acima, e não me contive: me encostei na estante e comecei a chorar. O pobre Minhyuk nunca havia me visto chorar tanto, especialmente por causa de um homem. Nem quando tive minha decepção com Hyungwon, que, de todos, tinha sido o que mais tinha me tocado no sentido amoroso. Minhyuk abriu os braços e me abraçou, colocando o saco de comida em cima da mesa e passando a mão no meu cabelo.
- Vim mais cedo porque me preocupei. - disse, quarenta minutos depois, sentado no chão do meu escritório, mordendo um rolinho primavera. - Essa Min Ah é linda mesmo. - fechei a cara. - Mas sou mais você. Quer dizer... já se olhou no espelho? Você é maravilhosa!
- Não quero que amacie meu ego porque é meu melhor amigo, Minnie. - misturei minha comida na caixinha. Estava completamente sem fome. Se até Minyuk - MINHYUK!, achava Min Ah atraente, que diria Chang Kyun.
- Ei, quero que saia daqui do país sabendo de uma coisa. - ele tocou minha mão. - Eu nunca vou dizer coisas para fazer carão com alguém. Eu gosto de você. Te acho maravilhosa. Fim. - suspirei. - Se eu não achasse, não teria deixado você abusar sexualmente de mim.
- Mas foi você quem quis! - retruquei.
- Se você não estivesse carente, eu teria me segurado mais.
- Você me ama, Lee Minhyuk, admita!
- É óbvio que eu amo você. - e rimos os dois, Minhyuk se aproximou para me dar um beijo quando a porta se abriu e Chang Kyun entrou.
Minhyuk retesou no ar a alguns centímetros do meu rosto, a caixinha de comida chinesa entre nós, meu rosto levantado para receber seu selinho de amigo. Eu sabia o que poderia estar passando pela cabeça de Chang Kyun mas ele merecia. Se por algum segundo ele gostasse de mim, se por um pensamento delicioso ele pensasse que poderia me fazer de gato e sapato, eu provava ali que eu sabia brincar de sacanear.
- Ah, perdão, volto depois. - e saiu, batendo a porta. Troquei um olhar breve com Minhyuk, que tentou não rir, voltando ao seu lugar.
- Menina, ele é mesmo uma delicinha, até mesmo bolado! - comecei a rir, ao que Minhyuk também riu. De vez em quando ele dava umas desmunhecadas muito engraçadas. - Não conte à Kihyun, que, a propósito, te chamou para ir jantar lá em casa.
- Ah, Min, vou ter que declinar! - franzi a testa. - Tenho que terminar de arrumar as malas, lembra?
- Poxa, é verdade. Eu levo Kihyun e a comida pro seu apê. Assim, nós podemos te ajudar e podemos ficar fazendo vários nadas até amanhã.
Depois que Minhyuk me contou as últimas peripécias de Kihyun (a saber: compôs uma música para ele e preparou um verdadeiro banquete para o aniversário de dois meses deles - detalhes sórdidos impróprios), achei que fazia bem ao levar Minhyuk até o elevador. Sendo alto, loiro e irresistível, Minhyuk atraiu a atenção de toda a recepção. Eu sabia que, logo mais, eu seria convidada ao covil das titias para dar informações sobre Minhyuk. Como dizer a elas que Minhyuk era bi, era um problema.
- Obrigada por ter vindo hoje, Minhyuk ssi. - agradeci, ainda abraçada em seu braço. Ele sorriu.
- Por nada, meu anjo. - e tirou o cabelo do meu rosto, segurando minha mão. - Te vejo às sete?
- Nos vemos às sete. - Minhyuk beijou minha testa e entrou no elevador, fazendo caras de "eu te amo" com a boca, a mão no bolso, encostado de qualquer jeito na parede. Sorri, acenando enquanto a porta se fechava. Quando me virei, dei de cara com Chang Kyun me observando, no fundo do escritório. Eu sabia que ele sabia ler lábios e me senti triunfante por um momento.
Até ele cruzar a recepção e eu ver a decepção em seus olhos.

A aula de Chang Kyun foi desmarcada pelo próprio e eu achei até bom. Quando voltei do elevador, Chang Kyun tinha deixado um bilhete em post it amarelo, dizendo "Hoje não.". Com o ponto e tudo. Eu não sabia se tinha ou não a ver com a presença de Minhyuk no meu escritório ou com o começo de Min Ah na empresa, mas quando o covil das tiazonas me chamou e o vi, saindo para o elevador com Min Ah, a mão em suas costas para que ela passasse na frente, senti que o placar estava três a dois.

.x.

Deixar a minha sala, no final do dia, foi muito triste. Coloquei todos os meus pertences dentro de uma grande caixa: fotos, minhas canetas coloridas, meus livros de coreano, meu cachorrinho que mexia a cabeça (presente de Minhyuk). Os post its de Chang Kyun amassei e joguei no lixo. Escrevi um bilhete carinhoso à Min Ah, porque, apesar do meu ciúme, desejava que fizesse carreira. Era muito inteligente e brilhante e ok... merecia.
Dei uma última olhada na minha sala, agora como uma grande boca sem alguns dentes. Foram os seis meses mais loucos da minha vida. Largar toda uma vida no Brasil pra ir para outro país, com uma mão na frente e outra atrás, onde não sabia o idioma, e me aventurar em contas e termos que sempre fugi. Lembrei do meu primeiro fim de semana; minha sala tinha papel para todos os lados, de tanto trabalho acumulado que o sr. Kang precisava e a antiga tradutora havia achado por bem deixar para mim. Lembro de dormir no escritório e, no domingo de manhã, o próprio sr. Kang ter aparecido com o mini frigobar. Tinha sido divertido.
Olhei o sol se pondo na janela atrás da minha cadeira e observei a cidade lá embaixo, esquecendo momentaneamente do meu pavor de alturas. Tinha vivido poucas e boas naquela cidade, algumas das aventuras eu iria contar aos netos, caso os tivesse, algum dia.
Mas mais do que tudo, eu me sentia em paz de poder tirar os saltos altos. Com os pés, me livrei do martírio e, com um misto de nostalgia e tristeza, fechei a porta da sala 514.

.x.

Cheguei no meu apartamento às sete e me deparei com Minhyuk na frente da televisão, jogando videogame. Kihyun estava na minha cozinha americana. O dia tinha sido uma mistura tão grande de sentimentos que tudo o que desejava era uma banheira cheia até a borda de água quente. Mas tinha feito uma promessa à Kihyun e Minhyuk e não poderia quebrar minha promessa, ainda mais com o cheiro maravilhoso que vinha da cozinha.
- Kihyun ssi, - chamei, jogando a caixa no vestíbulo. Ele olhou para mim, ainda mexendo a panela. - você já decidiu sobre aquele nosso papo de fazer a três? Bem que podia ser minha despedida, hein.
Kihyun se virou e bateu com a colher na minha cabeça (ou o mais perto da minha cabeça que conseguiu).
- noona, eu sei que sou irresistível, mas dá pra se controlar? - sorri, ao que ele sorriu também. - Vou sentir saudades.
- Já está me enxotando? Eu só vou embora no domingo!
- Você chegou! - Minhyuk me abraçou por trás e Kihyun sorriu, voltando a mexer a panela. - Contei ao Ki que conheci o famoso Chang Kyun. Como foi a aula com ele hoje?
- Não foi. - suspirei. - Estava sem cabeça pra qualquer momento a sós com Chang Kyun depois de Min Ah. O que? - Kihyun se virou para mim e me deu um fio de macarrão para provar. - Está ótimo, Ki.
- Então, qual é a estória dessa Min Ah? - perguntou. - Ela é tão bonita como Minhyuk hyung disse? Ele me mostrou uma foto no Facebook.
- Ela tem Facebook? - peguei meu telefone e pesquisei seu nome. Lá estava ela. Era amiga de Chang Kyun e já tinha até adicionado a empresa como local de trabalho. Cretina! E ainda dizia que estava em relacionamento sério, mas sem dizer com quem! Vi Minhyuk e Kihyun trocarem um olhar cúmplice (odiava isso!) e tirei os braços de Minhyuk da minha cintura. - Eu vou tomar um banho pra começar a arrumar as malas.
- Eu já arrumei! - Kihyun virou para a panela. - Coloquei um par de roupas por cada par de meias dentro de outras meias, e deixei quatro roupas de fora, uma para agora, seu pijama, uma para o dia de amanhã e uma caso queira sair para comprar os acessórios!
- Que acessórios? - perguntei, perto do portal. Minhyuk sorriu.
- Ora bolas, pra usar com o vestido da festa na Purple Line! A que você vai levar seu bonitão e vai fisgá-lo com esse par maravilhoso de coxas!
- Qual é a parte do "ele tem namorada" que você não entendeu, Minhyukkie? - balancei a cabeça. Kihyun veio para a sala e Minhyuk se jogou no sofá, torto.
- E você vai deixar que isso te impeça? Pode ser que ele nem seja o namorado dela, já pensou nisso? - Kihyun franziu a testa. Ergui uma sobrancelha. Ah tá. AH, TÁ! - Se eles forem namorado e namorada, eu tiro a roupa agora mesmo e fazemos a três. - Minhyuk e eu prendemos uma risada. - Estou falando sério! Querem que eu ligue? Porque eu ligo, hyung, você sabe que eu ligo!
- Não precisa, Kihyun ssi. - me aproximei e abracei-o de lado, apertando minha bochecha na dele. - Só preciso ficar com vocês e tenho certeza que logo ficarei bem. Beijei sua bochecha rosada e ele colocou as mãos no meu antebraço. - Vou morrer de saudades de vocês.
- Nós também vamos. - Kihyun bateu no meu braço. - Nós também vamos...
- Nós vamos, sim. - senti Minhyuk me abraçando, tornando um abraço por altura.
- Eu amo vocês. - comentei, chorosa. Eu bem que queria mas sentia que minha tpm estava chegando antes da hora e meu coração estava se apertando novamente. Como disse, eram muitas emoções.
- A propósito, - Minhyuk colocou o queixo no meu ombro. - Kiki e eu temos um presente de despedida para você. Está em cima da sua cama.
- Vocês não precisavam me dar nada. - ri, apertando a bochecha de Minhyuk, sem soltar a mãozinha de Kihyun, dando grandes passos até meu quarto. Havia duas grandes caixas retangulares, uma rosa e outra, amarela como o sol. Cruzei as pernas quando sentei na cama, Kihyun parado na porta e Minhyuk se sentando na minha frente.
Quando abri a primeira caixa, um belíssimo vestido vermelho curto saiu de dentro dos papéis de seda. Era... era... era estonteante! Era tomara-que-caia e franzido na frente, e cheio de bolsos escondidos. Eu poderia esconder celular e documentos ali. Seria perfeito, se não fosse tão curto. Só de colocar na frente meu peito duplicava de tamanho, já estava até vendo.
- Eu que escolhi esse. - Kihyun sorriu. - Acho que você se apaga demais com preto e branco, então um vermelho bem chamativo. Realça o tom da sua pele.
- Gay, gay, gay! - Minhyuk rolou os olhos. - Esse é meu, abra! - desfiz o laço e puxei o vestido preto, igualmente curto, de alcinhas. Se não fosse a fenda que nem deveria existir porque o vestido já era curto, teria sido perfeito. - Esse é o meu. Você tem todos os atributos que uma mulher coreana quer ter mas a nossa sociedade não permite. Você é bonita, é gostosa e tem pernas maravilhosas. Mostre para o mundo e agarre Chang Kyun com elas!
- Vocês são tão gracinhas. - estiquei a mão para Kihyun, que se sentou na cama ao meu lado. Minhyuk engatinhou até meu lado e colocou as caixas em cima das duas malas enormes no chão. Kihyun me deu um abraço desajeitado e Minhyuk colocou a cabeça no meu ombro. - Não precisavam ter se preocupado comigo, eu nem sei se Chang Kyun vai. E, se ele foi, aquela namorada dele deve ir.
- Não pensa assim, noona. - Kihyun deu um meio sorriso. - É porque ele não te viu em um desses vestidos. Foi como eu falei: você precisa sair das cores básicas. Você é linda. - Kihyun era uma graça, quando queria. Ele tinha o poder de ver tudo pelo lado negativo e pelo lado positivo com a mesma intensidade de um cartão postal. Completamente contrário a Minhyuk, que nunca via o lado negativo. Sentiria falta dele, queria ter convivido mais. - Você é muito gata, sim.
- E, se ele não te quiser, tem gente muito melhor nesse mundo que vai querer. - Minhyuk completou, e nos jogamos na minha cama, olhando o teto. Desde que eu havia me mudado, tinha me prometido pintar o teto com alguma cor legal, mas meses haviam se passado e as cores da parede em nada combinavam com a do teto.
- Já que estamos aqui, queria perguntar algo muito sério a vocês dois. - comecei, tentando manter a calma. Apertei a mão de Minhyuk e entrelacei meus dedos com os de Kihyun, o que foi meio difícil, porque a mão dele era muito pequena. - Kihyun ssi, será que, por favor, podemos pensar naquele a três como forma de despedida?
Minhyuk prendeu uma risada, escondendo o rosto no meu braço, enquanto esperávamos uma resposta de Kihyun. Ele passou a língua pelos lábios e fez uma careta, tudo isso ainda olhando para o teto, e eu me perguntei se a minha piada tinha sido demais. Eu já gostava tanto de Kihyun que esquecia que ele não era Minhyuk e que, por causa disso, não poderia fazer certas brincadeiras. Afinal, Minhyuk era um dado; Kihyun, por outro lado, era incrivelmente reservado.
- Bom, se é voto vencido... - e se sentou, desabotoando a camisa. Mihnyuk se sentou também e eu, assustada, pulei do meio deles.
- Eu estava brincando!
- Você não queria tanto? Agora vamos. Você quem vai sair perdendo, eu sou demais!
- Eu estava brincando, Kihyun, sua panela, a comida vai queimar! - Minhyuk pulou da cama e se colocou entre a porta e eu. Levantou a sobrancelha e disse, sério:
- Lembra quando comi sorvete de morango na sua barriga, ? Pensa que agora o sorvete de morango é o Kihyun.
Kihyun já tinha tirado sua primeira camiseta e eu estava sem saber onde enfiar a cara. Era para ser uma brincadeira, e eu esperava que Minhyuk estivesse do meu lado, não que ele concordasse! A estória do "a três" era só uma piada! Eu sabia que Kihyun nunca concordaria, acho que eu mesma nunca concordaria, mas agora estava ali, entre meu melhor amigo e seu namorado, querendo que eu fizesse a três com eles.
- O que foi, ? Não sabe brincar? - Kihyun começou a beijar meu pescoço e eu comecei a ficar incomodada. Me tremi toda quando Minhyuk foi para o outro lado do meu pescoço e começou a me beijar. Era tudo esquisito demais, então me tremi mais e saí porta afora, ouvindo Kihyun e Minhyuk gargalhando, aos berros, que era uma piada.

"
Eu não esperaria nada a mais de você
(FFK - Hate U)


CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

As luzes da cidade passavam como flashes pela janela do taxi o qual Chang Kyun e eu estávamos. Era como se fosse um deja vu ao contrário; eu não iria voltar tão cedo. As pessoas rindo, as filas do lado de fora, tudo me era nostalgico demais.
Olhei para o lado de soslaio, vendo Chang Kyun igualmente preocupado, olhando pela janela. Será que aquilo era um erro? Quer dizer, eu tinha finalmente conseguido o que eu queria e tinha sido maravilhoso. Chang Kyun era maravilhoso. Mas eu tinha medo de quebrar a cara, como em todas as outras vezes que tinha saído com alguém.

Minha vida sexual, até então, tinha sido uma viagem alcoólica - eram raras as vezes que eu saía com um carinha sem ter alcool no sangue. Não que eu bebesse ou saísse muito, na verdade, eu pouco saía - mas, as poucas vezes que eu concordava e dizia "sim", estava levemente embriagada. Meu ápice tinha sido a Coreia do Sul, dito como o país dos caras de pintos pequenos. Em seis meses, eu saí com quatro caras diferentes e Chang Kyun estava sendo o quinto. É claro que eu sentia falta de ter um namorado, quem não! - mas o que eu realmente sentia medo era de me machucar. Eu descascava em cima da minha experiência ilusória de duas noites com Jooheon, mas eu mesma tinha o medo dele; o de se apegar e de se machucar.

Chang Kyun abriu a porta do meu lado e se agachou. Foi quando percebi que tínhamos chegado ao nosso destino, e meu estômago deu uma cambalhota. A rapidinha da festa tinha sido só uma prévia do que estava por vir e, sinceramente, agora a dúvida me pegava. Eu não sou do tipo de mulher de balada, que se pega uma vez e acabou. Eu sempre vou tentar transformar em algo que seja vida pós balada.
Chang Kyun me segurou pelas coxas e eu encostei o rosto em suas costas, meus braços ainda em seu pescoço. Ele cheirava tão bem! Apesar da cara de menino, algumas partes de seu corpo eram bem másculas, como seu pescoço. Embora eu estivesse um pouco assustada com a situação, eu não via a hora de poder beijar a curva de seu pescoço.
- Você está bem? - perguntou, apertando o botão do terceiro andar. Concordei com a cabeça. - Você está tão... séria.
- Estou legal.
- Quer ir para casa?
- Não. - sorri, minhas bochechas queimando. Eu queria mas não queria aquilo. Eu queria desesperadamente ficar com Chang Kyun - só Deus sabia o quanto desejara aquele moleque pelos últimos seis meses! Mas também não queria, porque seria uma despedida. Chang Kyun não iria para o Brasil tão cedo, ao menos não para minha cidade e, até lá, eu poderia me afeiçoar mais por uma saudade. A coisa de se gostar de alguém que mora em outro país, outro Estado, é que você fica apegado às memórias. E quando a pessoa não segue seu imaginário, segue a própria vida, você sofre. E eu não queria sofrer.
- Noona, - ele se agachou e eu desci, ao que ele então me segurou pela frente, de modo que nossos rostos estivessem próximos. - eu gosto de você. De verdade. Mas se você não quiser, eu vou entender.
- Não é que eu não queira, Chang Kyun. - falei, encostando minha testa na dele, suas mãos segurando minhas coxas com força. Sentia seus dedos trêmulos, mas talvez fosse meu nervosismo. - Eu tenho medo de...
- Eu também, eu também. - ele beijou meu nariz e eu engoli em seco. - Mas se for pra ser, vamos fazer isso direito, certo? - como não respondi, ele começou a bater com a ponta do próprio nariz no meu. Sorri. - Hein? Vamos?
- Você quem manda, patrãozinho. - dei-lhe um selinho, ao que ele não me deixou fugir, me prendendo com os lábios. Passei minha mão pelos seus cabelos e apertei-os devagar, nossas linguas roçando levemente. Ele era mais do que eu havia imaginado.
Chang Kyun destrancou a porta do vestíbulo e me colocou no chão finalmente, tirando os sapatos e correndo para a sala antes que eu pudesse perguntar o que tinha acontecido. Quando subi o degrau, vi que ele corria para pegar camisetas em cima do sofá, revistas espalhadas e tigelas em cima da mesa de centro e jogava tudo dentro de um baú no canto da sala. Esta sala era... normal. Eu imaginava que Chang Kyun morasse em um castelo, ele sendo o rei da cocada preta, onde tudo era feito de ótimo gosto e caríssimo. Mas era uma sala tão normal quanto a minha. Se não fosse pelos tons de azul, se fossem roxos, diria que estava no meu apartamento.
Me aproximei do vidro da varanda, no canto oposto, e observei novamente as luzes da cidade. Seria minha última noite ali e estava finalmente com Chang Kyun. Por que as coisas precisavam ser tão rápidas? Será que ele não poderia ter investido antes?
Com um pequeno assombro, percebi que o carma havia agido e, agora, era eu quem partia. De todos os meus pseudo relacionamentos coreanos anteriores, eles partiam sem que eu pedisse, porque estavam assustados, com medo, não estavam interessados ou porque sentiam que eu iria me apegar à eles, tão inconstantes quanto a bolsa de valores.

Por um momento, me senti com a idade que realmente tenho. Entendia que coisas aconteceram para meu crescimento pessoal e emocional e, pela primeira vez, senti-me grata por todos os caras que tinham estado na minha vida. Hyungwon poderia até ser "do mundo", mas era uma graça quando chegava com um chaveiro diferente de viagem, porque sabia que eu colecionava; Jooheon poderia ser meloso mas ele sabia fazer um cafuné maravilhoso. Wonho poderia ser meio meio bruto às vezes com aquela dualidade, mas as risadas dançantes no corredor sempre foram divertidas, mesmo quando não tinha motivo. Shownu podia até não ter dado em nada, mas era um ouvinte maravilhoso. Minhyuk nunca me deixava sozinha, mesmo que eu atirasse coisas nele.
Mas eu não queria que Chang Kyun fosse "apenas mais um". O que eu estava sentindo naquele momento era muito mais do que eu havia sentido por todos eles juntos e era aquilo, aquilo! - que me assustava.
- No que está pensando? - Chang Kyun me abraçou por trás, colocando o rosto no meu ombro. Encostei minha cabeça no seu e suspirei.
- Eu gosto de você, Chang Kyun. - revelei, quase como se tirasse um peso de dentro de mim. E era verdade. Eu gostava mesmo dele, não como uma pessoa que estava na minha vida por acaso ou como alguém do meu dia a dia. Eu gostava dele a fundo, no duro mesmo. No quesito sentimental mesmo. Eu tinha até aprendido a lidar com os "ajumma" de uma forma menos animê! - Gosto mesmo. Mas...
Chang Kyun me virou e olhou fundo nos meus olhos.
- Mas você está com medo de eu ser mais um cafajeste na sua vida? - olhei para baixo, consentindo. - Eu tambem gosto de você. E eu não sou muito de falar essas coisas porque eu não sei falar o que estou sentindo. Então... será que eu posso demonstrar?

Chang Kyun começou a me beijar devagar, começando pelos ombros, desamarrando a parte de trás do meu vestido. Coloquei as mãos em sua cintura e finalmente pude apertá-la, sentindo que ele não era tão malhado mas do jeitinho que eu gostava. Chang Kyun deu uma risadinha, enquanto mordia carinhosamente o lóbulo da minha orelha.
- Te dou duas opções. A "a" e a "b". Qual você prefere?
- O que quer dizer?
- Escolha um.
- "B".
Chang Kyun sorriu mostrando os dentes, se agachando e me pegando pelas coxas novamente.
- Foi você quem escolheu.
E me encostou na parede, mordendo levemente meu pescoço, enquanto sua mão esquerda passeava pelo interior da minha coxa e seus dedos enrolavam em minha calcinha. Eu estava começando a sentir que talvez tivesse escolhido a opção correta quando três de seus dedos entraram de vez em minha intimidade já molhada, seu dedão massageando levemente um ponto mais acima. Puxei seus cabelos violentamente para frente, a ponto de ver o sorriso novamente estampado naquele rostinho infantil e senti a raiva me consumindo. Porra, Chang Kyun, você teve seis meses para fazer isso e só resolve...
- Ah! - gemi, quando ele aumentou o movimento dos dedos mais abaixo, e joguei meu pescoço o quanto pude para trás, batendo com a cabeça na parede.
- Você deve estar se perguntando, não é? - sussurrou, enquanto movimentava seus dedos ainda mais rápido. - Por que eu demorei tanto para investir em você, , mas sabe qual é a melhor parte dessa pergunta? - eu estava prestes a explodir. Sim, eu sentia muito tesão em Chang Kyun e, combinados aos seus movimentos e àquela voz grossa em meu ouvido, eu teria o orgasmo mais rápido da minha vida. - É que eu não vou te responder. - ele tirou os dedos de dentro de mim e colocou-os na boca, soltando-me da prensa na parede. Deu um sorriso safado e me puxou pela alça do vestido tomara que caia, enlaçando-me em seu abraço. Sua respiração estava começando a ficar ofegante, e a minha aumentava. Eu nunca fui do tipo de deixar que um homem me comandasse nisso, mas ele tinha todo o controle sobre mim.
Chang Kyun me empurrou por uma porta e me jogou em cima de uma cama, e, olhando-me acima, desafivelando seu cinto, continuou com o olhar engraçado - em outros momentos, diria que era um olhar sexual, mas era engraçado, sim. Sorri de antecipação, fazendo menção a tirar meu vestido, mas ele me parou.
- Ah, não, não, fique com o vestido. - ele jogou o cinto para o lado e abaixou as calças, onde pude ver que ele já estava duro com aquela esfregação na parede. Engatinhando, deitou-se em cima do meu corpo e engatinhou os dedos em cima dos meus seios. - Escolheu muito bem esse vestido.
Sorri. Quase disse que tinha sido um presente de um grande amigo, mas, quando fiz menção a abrir a boca, seus dedos entraram novamente em mim - não apenas dois, mas três novamente, massageando-me em todas as minhas paredes. Engoli o gemido, rolando os olhos, ao que Chang Kyun acompanhou meu olhar até que não pude mais aguentar e desci minha mão até suas cuecas boxer e toquei-o. Definitivamente a estória de que asiático era pequeno era uma mentira; se todos fossem como Chang Kyun, as mulheres seriam bem mais felizes.
- Sabe, , - disse, enquanto aumentava o movimentos dos dedos novamente. Comecei uma pequena viagem até o universo e sabia que seria uma estrela se ele não parasse. - todos os dias, eu sentia vontade de te jogar em cima daquela mesa de reuniões e de te comer até que você não conseguisse mais andar. Mas ficava todo preocupado, porque você não é qualquer mulher que eu já tenha fodido. - ele beijou meus lábios com raiva e segurou-me pela nuca. De seus olhos saíam algumas fagulhas, que faziam par com os meus olhos revirantes. - Olhe para mim senão eu paro. - me obriguei a olhar para frente. - Todas as vezes que eu te chamei de ajumma foi porque eu tinha um desejo quase animal de pegar você e de fazer isso. - ele intensificou as investidas, me arrancando pequenos gritinhos entrecortados por gemidos. Eu estava quase lá. - Mas sabe a vida, ... - ele parou de repente, me deixando frustrada. Mas que porra...?

Chang Kyun tirou minha mão de sua cueca e se movimentou para o final da cama, levantando minhas pernas até dobrá-las. Meu vestido já tinha virado uma enorme blusa, deixado a mostra minhas pernas, agora sem nada que protegesse minha parte íntima. Chang Kyun me olhou com um sorriso esperto nos olhos e eu comecei a sentir raiva dele de novo. Já era a segunda vez, desde que havíamos chegado, que ele me deixava chupando dedo.
- Sabe, a vida. - ele se deitou, me observando ao abrir bem minhas coxas. Ele não iria...? - Ela nem sempre é como a gente espera que ela seja. - e me lambeu de uma só vez.
Dei um grito.
Chang Kyun deu uma risada, enquanto sua língua sumia e seus dentes mordiam todos os cantos da minha coxa. Por dentro, por fora, pelos lados, mas não onde eu queria. Não onde eu precisava, necessitava que ele a usasse.
Segurei sua cabeça, seus cabelos, empurrando-o para onde eu queria que ele fosse, mas Chang Kyun nunca ia. Ele parecia ter todo um plano diabólico para me fazer sentir raiva na cama também. Eu não sabia mais se sentia carinho, aversão ou tesão, mas eu estava começando a ficar frustrada. Qual era o problema dele? Será que nunca tinha realmente dormido com uma mulher? Para quê tanta preliminar? Será que ele poderia, sei lá, só me foder de uma vez?
Eu queria sentir raiva, juro que queria, mas suas mordidinhas eram são sublimes que eu comecei a pensar em curtir o momento. O momento que eu tanto havia esperado, mas era inevitável. Todas as vezes que um pedaço de sua língua encostava onde eu mais precisava, ele fugia, me fazendo gemer de frustração.
- Faz. - puxei seus cabelos, em determinado momento. Chang Kyun olhou para mim inocente, meus olhos soltando fagulhas de ódio por tanto prazer negado. - Faz agora!
- Fazer o que? - perguntou, seus olhos bem abertos, o retrato da inocência. Era muito mais do que eu poderia tolerar.
- ME FODE! - quase gritei entre dentes. Chang Kyun sorriu.
- "Nossa, minimi, me fode, nhe nhe nhe" - ele balançou a cabeça. - Se é isso mesmo que você quer, meu bem, vai ter que aprender a pedir direito.
Fechei o semblante. Ele só poderia estar de brincadeira com a minha cara!
Tentei empurrá-lo com os pés, mas ele foi mais rápido, segurando-os com as mãos e empurrando minhas pernas até ele mesmo ficar na minha frente. De seus olhos emanava luxúria. O que eu realmente queria, o que eu realmente precisava, era que Chang Kyun parasse de graça e acabasse com aqueles seis meses frustrantes de uma vez.
Chang Kyun deitou seu corpo contra o meu e mexeu levemente seu quadril, acho que apenas para me provocar, colocando a cabeça de seu pênis em minha entrada e tirando com a mesma rapidez. Eu estava sentindo tanto ódio que seria capaz de chorar, mas então, ele passou a mão no meu rosto. Meus lábios tremeram do choro contido e ele beijou minha testa.
- Desculpa se te fiz esperar tanto. Mas é que quero aproveitar cada momento que puder com você, já que você vai embora amanhã. - de dentro da fronha do travesseiro, ele puxou um preservativo e me mostrou, junto com seu sorriso de covinhas.
- Você já estava planejando me trazer para cá, seu filho da puta? - franzi a testa. Ele sorriu. - Ou qualquer uma que te desse mole naquela boate?
- Na verdade, pretendia trazer você desde que me convidou para a festa. Se não fosse você, eu teria voltado para casa sozinho. - e então se levantou. - Mas já que estamos aqui, você está aqui, acho que é melhor a gente estabelecer algumas regrinhas. - ele arrancou um naco do pacote e abaixou a cueca.

Como explicar Chang Kyun? Como explicar em toda a sua... extensão? Grossura? Temi por mim.

- Um, eu vou foder você a noite toda e eu gosto de gemidos bem altos. - ele desceu o preservativo e eu engoli a seco. - Dois, - Chang Kyun se virou para mim, tirando o que restava do meu vestido por baixo. - você só vai gozar quando eu disser que você pode. - ele jogou meu vestido no chão e voltou a se deitar em cima de mim. Eu só fui deixando, porque estava sem ação, mesmo. - E três - ele passou a mão no meu rosto. - vai valer a pena. Eu vou fazer meu melhor para fazer valer a pena. Porque você vale a pena. - sorri. Me senti invadida por um sentimento tão bom que, quando Chang Kyun tornou a me beijar, eu derreti como um sorvete no sol.
Com a mão, ele passou a ponta de seu membro pela minha abertura e, quando ele me penetrou, foi como se todos os problemas do mundo tivessem sido resolvidosente incrível. Eu já sentia que ia ter um orgasmo antes mesmo de ele se movimentar, pelo simples fato de ser ele, um desejo realizado.

Chang Kyun me olhou e apertou os olhos quando gemi.

- Esqueceu do passo dois? - riu. Fiz que não com a cabeça. - Ótimo. Vamos começar logo com isso. - e pôs-se a se a movimentar, atingindo meu ponto erógeno principal. Rolei os olhos em êxtase; ninguém tinha conseguido achá-lo ainda, nem eu mesma. Mas eu sabia que era ali. Só poderia ser ali. - Opa! - e sorriu.
Ele era tão maravilhoso! Cada vez que ele voltava a me penetrar em estocadas longas e fundas, dizia palavras lindas no meu ouvido, entrecortando com beijos. Eu era linda, era maravilhosa, era perfeita. E eu, novamente, não queria acreditar que ele poderia ser mais um cretino que fosse arruinar meu coração.
- Mais rápido! - pedi e ele aumentou as estocadas. Eu já sentia a contagem regressiva para meu orgasmo. Mas, quando estava chegando no momento certo, ele parou de se mexer. E riu. Apertei meus olhos.
- Segure. Só segure. E confia em mim. - beijou-me os lábios docemente. - Você confia? - fiz que sim com a cabeça. - Trabalho com consentimento verbal, . - ele segurou meu pescoço com um pouco de força, o que achei delicioso. Wonho tinha me ensinado os prazeres de uma segurada no pescoço. - Você confia? - depois do meu "sim", ele sorriu novamente, me beijando de uma forma mais bruta, mais violenta.
Chang Kyun começou a ir mais rápido, muito mais rápido, em movimentos mais fundos e brutos, eu mordia meu lábio para não gritar muito alto, contrária a ele, cujos gemidos me enlouqueciam. Chang Kyun me beijou, fazendo com que eu soltasse meus dentes e pudesse gritar o quanto quisesse. Era muito difícil segurar, mas eu sabia que iria valer a pena. Tinha que valer a pena.
- Chang Kyun, eu não consigo mais segurar! - quase gritei, cravando minhas unhas em suas costas e cruzando meus pés em sua cintura, com a intenção de trazê-lo para mais fundo. Nossos corpos tinham uma fina camada de suor, o som indistinto de nossos corpos se batendo com sofreguidão estava sendo demais. - Por favor!
- Deixo apenas se me chamar de Chang Kyun oppa. - riu, ainda sem parar de se mexer, indo cada vez mais rápido.
- Chang Kyun oppa.
- Mais alto.
- Chang Kyun oppa!
- Essa é sua última chance, - ele me beijou bruto novamente e segurou meu rosto com carinho. - Me chame de Chang Kyun oppa de uma forma que ecoe pela cidade, que ecoe pelo país, pelo mundo.
- CHANG KYUN OPPA!

Soltei um grito quase que no mesmo momento que Chang Kyun, talvez uns momentos depois, não sei. Quando abri meus olhos, vi pequenas estrelas em meio a escuridão, mas sabia que estava na Terra, já que Chang Kyun tinha perdido as forças e deixado sua cabeça bater no meu ombro, escondendo-o no travesseiro atrás de mim. Ofegante, ele começou a se mexer e eu só acompanhei, porque não estava mais agindo por mim.
Chang Kyun jogou-se ao meu lado e, comigo, olhou para o teto. Eu jurava juradinho que não iria me apaixonar ou apenas me apegar. Eu não iria sequer fechar os olhos.
Mas quando Chang Kyun me puxou para perto de si e me encaixou em seu corpo, beijando o espaço entre minha orelha e meu pescoço, me senti tão protegida quanto um bebê. Chang Kyun colocou sua perna entre a minha e a outra, em cima da minha coxa e me apertou forte.
- Eu acho que estou apaixonado por você.
Foi tudo o que ouvi antes de o cansaço do dia bater no meu corpo e eu fechar os olhos.

.x.

- Hey, N - ouvi baixinho, vinte minutos depois. Chang Kyun beijou meu ombro mas eu não abri os olhos. - Aish, você deve estar mesmo em um sono profundo. - ele suspirou e eu suspirei fundo também, meus olhos bem fechados, ao contrário dos meus ouvidos. Eu não sabia por quanto tempo mais iria aguentar, e, se ele beijasse meu pescoço, meus olhos iriam se abrir. - Só queria dizer que não sou um cretino. Eu não quero partir seu coração, embora você vá quebrar o meu. Quando falei que estava me apaixonando por você, eu não estava mentindo. Passei os últimos seis meses fingindo que era só uma atração, dessas que as pessoas têm quando vêem algo ou alguém diferente do cotidiano, mas eu sempre soube que era mais. Aish, eu gosto de você. Estou apaixonado por você e você vai embora. Não sei se iremos nos encontrar novamente, gostaria que sim. Nem sei se você me ouviu, mas mesmo assim, falei. Boa noite. Meu amor. - e beijou minha bochecha, antes de me abraçar e colocar a cabeça no topo da minha.
Eu queria chorar, então abri os olhos.
- Eu também gosto de você, mesmo que você seja incrivelmente implicante.
- Você... escutou.
- Escutei, pirralho. Eu gosto demais de você e sinto muito por isso, mas talvez tenha de ser assim. - Chang Kyun me apertou em seu peito e eu me senti um pouco sufocada. Sem ar pela aproximação. Sem ar pelo sentimento.
- O que eu faço com você? - balbuciou, levantando meu queixo e me beijando. Suas mãos se perderam em meus cabelos e minha perna se abriu instintivamente. Eu sabia o que eu queria que ele fizesse e acho que ele deve ter sacado, especialmente quando rolei para cima de seu corpo e enfiei a mão na fronha. - Então você descobriu meu esconderijo.
Rimos os dois, enquanto eu rasgava o pacote com os dentes e o ajudava. Chang Kyun manteve seus olhos abertos quando escorreguei-o para dentro de mim, e, quando coloquei suas mãos em minha cintura, aproximei meu rosto do dele.
- Talvez essa seja a opção "A".
- A opção "A" também era ser um pouco ruim. Ah! - fez, quando comecei a me mexer devagar, apertando-o a cada investida.
Ele era tão lind, agora que eu podia vê-lo de cima! Seus olhos ficavam mais escuros quando sentia prazer e suas mãos, o que falar de suas mãos? Elas percorriam meu corpo com tanta delicadeza e apertavam minha cintura quando queria que eu fosse mais rápido.
Eu mordia seu pescoço, como sempre queria e Chang Kyun passava as mãos pelas minhas costas, apertando-me apenas ali, enquanto a minha pélvis fazia todo o resto.
- Gostaria de compartilhar algo. - sussurrei em seu ouvido, aumentando o movimento muito devagar. Sua respiração subia e descia com o meu comando e eu sabia que ele iria acabar rindo. - Quais são as possibilidades de você voltar a me chamar de noona?
- Você gosta disso? - riu, como o esperado. Ri de volta.
- Na verdade, eu ia pedir para que me chamasse de ajumma mas não quero machucar você, então, pode ser noona.
- Noona, - ele tirou meu queixo de seu ombro e me olhou nos olhos. - noona. Noona. - me movimentei um pouco mais rápido, sentindo que Chang Kyun estava começando a estremecer. Eu não estava ligando muito para mim - achei que ele já tinha me dado o bastante até ali. Eu sabia que iria descer dali a pouco mas... - Ah, noona!
- Pirralho! - chamei aos sussurros em seu ouvido. - Ah, pirralho!
- Ajumma, acho que eu vou.. - quando pensou em completar a frase, eu tripliquei a minha movimentação e ele soltou um gemido alto, torcendo todo o corpo para trás.

Mas eu mesma não parei de me mexer, sabendo que isso iria machucá-lo. Se eu tinha algum lado masoquista, ele dizia para dar a Chang Kyun um pouquinho da dor que ele me fizera passar nos últimos meses, especialmente nos últimos dias. Chang Kyun até que tentou me parar, mas eu bati em suas mãos, deixando meu rastro alguns segundos depois.
- Sabe o que falei antes? - perguntou, tateando minha mão debaixo do cobertor. Continuamos olhando para o teto e ele a apertou. - De estar apaixonado? Então. Gata, acho que te amo.
Apertei os olhos, sorrindo.
Finalmente.

Dizem que os homens, quando apaixonados, são os piores
(HIT 5 - Loving You Every Second)



Capítulo 8



Comment Box is loading comments...